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História I After You - 08


Escrita por: Yeul

Notas do Autor


Essa foi rápida não foi?

Capítulo 9 - 08


Fanfic / Fanfiction I After You - 08

I was too young to understand what it means

*

 

Às vezes sua mente lhe pregava peças, e ele as odiava, porque pareciam-lhe muito reais.

Mordiscou seu lábio inferior, o sonho ainda estava fresco em sua mente, para se lembrar das sensações. Se se concentrasse, podia ainda sentir suas mãozinhas sobre seu peito, e sua cabeleira rósea pousada próxima a sua clavícula. Poderia sentir sua respiração, e até seu perfume doce, o calor de seu corpo delicado, mas logo a imagem se perdia, e ele ouvia seu melhor amigo gritar, o típico sorriso fácil de sempre estampado em seu rosto.

"Hora de acordar!", sua voz era estridente, um tanto desafinada e o irritou sem motivos. SoonYoung piscou devagar, a mão sobre seus olhos se afastando para ver aquele quarto amarelo se projetar, a lâmpada centrada no teto apagada, e a sensação de estar quente, abaixo de uma coberta. Piscou, e em seguida, sentiu algo fofo bater contra suas pernas.

Soltou um grunhido, era o Lee lhe batendo com o travesseiro, várias vezes, como se fosse uma criança, e não o adulto que era. SoonYoung rolou na cama, até encontrar outra pessoa dormindo nesta. Teve um sobressalto, e se ergueu com a ajuda de seus braços, reconhecendo que era HanSol, o cabelo claro bagunçado, a boca aberta, o cenho franzido como se estivesse tendo um sonho ruim. Ele parecia ouvir SeokMin de certa forma, pois se virou, e começou a resmungar contra o travesseiro.

"E-eu", soltou preocupado, suas palavras se enrolando na garganta, os olhos arregalados em choque, sua mente tentando voltar ao dia anterior, mas ele não se lembrava muito do que havia feito após começar a dançar. Lembrava-se de vagas sensações, e nada mais, não era impossível que estivesse louco o suficiente para dormir com Vernon sem saber. SeokMin riu, e jogou o travesseiro contra sua cabeça, lhe chamando a atenção.

"Relaxa, nós só te carregamos pra minha casa, e o HanSolie capotou na cama junto com você, não aconteceu nada, eu acho", ele sorriu malicioso, a sobrancelha se arqueando de forma sugestiva, e o Kwon franziu o cenho, devolvendo o travesseiro da mesma forma que recebeu. Relaxou o suficiente para se sentar. Suspirou, passando as mãos pelo rosto, e em seguida por seu cabelo, sentindo a irritação voltar sem motivos. "Tem remédio no banheiro, se troque logo, JunHui disse que você tem que trabalhar", avisou, enquanto saia do quarto.

SoonYoung ainda se espreguiçou preguiçosamente, bocejando durante o processo, sentindo alguns ossos estalarem, e sua mente começando a funcionar. Ele precisava de seu celular, e o mesmo estava em seu bolso, o incomodando. Seu amigo não havia nem tirado para que pudesse dormir bem. Bufou, sentindo sua perna dolorida, e assim que a foto se acendeu, seus olhos se arregalaram.

Se levantou em um pulo, o Vernon ainda se arrastando para acordar, primeiro as pernas se dobravam, e ele tentava de uma forma bizarra se sentar. SoonYoung correu para o banheiro, que ele conhecia tão bem quanto o seu próprio. Já havia passado muitos dias na casa de SeokMin, o que o deixava cem porcento familiarizado com tudo que tinha ali. Usou seu banheiro da melhor forma que pode, e correu até seu armário para roubar algumas roupas, as suas fediam a bebida e suor, e ele não podia trabalhar com estas.

Trocou sua camisa ali mesmo, embolando-a e jogando no chão, mas quando percebeu que o Chwe o encarava sem entender o que acontecia, com uma cara de confusão, resolveu trocar a calça no banheiro, checando sua aparência. As roupas ficavam um tanto largas, visto que seu amigo era maior, mas nada que pudesse parecer estranho. Sua aparência de alguma forma estava boa, e ele abriu um pequeno sorriso para si mesmo, satisfeito, saindo de lá já pronto para correr para o estúdio. Enfiou o celular no bolso traseiro, e segurou na batente da cozinha, espiando o local e encontrando o Lee abrindo uma Coca-Cola.

"Já vai hyung? Não quer nem comer?", perguntou SeokMin, lhe oferecendo o copo que encheu, e o Kwon recusou prontamente com as mãos.

"Se eu não correr agora, o pai do Junie me mata", respondeu, e o mais alto concordou, deixando a garrafa de lado para tirar a chave do bolso, e destrancar para seu amigo. "Aliás, você podia ter me acordado antes para que eu não tivesse que sair correndo agora", seu tom era de falsa raiva, e o mais novo riu, antes de dar de ombros.

"Antes ou depois de você ficar chamando pelo JiHoon?", perguntou irônico e provocativo, o tom baixo o suficiente para que apenas SoonYoung ouvisse. O mesmo já estava saindo de sua casa, e se virou com os olhos arregalados, a boca se abrindo em descrença.

"O que?", murmurou, a voz morrendo em sua garganta, seu coração se esfriando, e ele levou sua mão até o bolso da calça, apertando involuntariamente o celular em um ato de proteção.

"Quando você estava bêbado, e a gente tava te carregando, você ficava falando o nome dele", seu tom saiu sério, quase como uma repreensão, e ele encostou a porta atras de seu corpo, para que a conversa não chegasse para o Chwe. Olhou-o no fundo dos olhos, e os lábios do mais velho tremeram, antes de se fecharem com força. "Não acha que está carregando culpa demais, hyung?"

SoonYoung abaixou os olhos, focando-os no chão abaixo de si, o sol quente do meio dia lhe esquentando o corpo, e iluminando o asfalto. Mordeu o tecido interno de sua bochecha, e resolveu que estava atrasado demais para discutir isso. Deu meia volta, e ergueu a mão como um cumprimento para o mais novo, saindo a passos lentos a princípio, antes de acelerar e correr, parecendo mais que fugia do Lee, e não que estava atrasado para o trabalho.

SeokMin comprimiu os lábios, e abriu a porta, encarando seu amigo sumir, como se esperasse uma reação diferente além da fuga. Viu HanSol parado em meio ao corredor, sem saber o que estava acontecendo, com as roupas amassadas, e a gola larga mostrando o início de sua clavícula.

 

*

 

Conseguiu dar a aula bem, mesmo que estivesse mais desgastado que o normal pela sua corrida até ali, tenha quase torcido o tornozelo, e já estava suado ao adentrar na sala.

Ele se abanava com a mão, isolado no canto da sala, as costas grudadas na parede escura, a outra mãos sobre seu joelho, massageando o local inconscientemente, tendo apenas o seu reflexo no espelho do outro lado para lhe fazer companhia. Às vezes ele evitava se olhar por parecer demasiadamente solitário, em meio a uma sala tão grande e tão clara devido às luzes fortes, e ao mesmo tempo, o encarava como se se perguntasse: quem é você?

Às vezes não reconhecia-se, e pensava que era alguém totalmente diferente. Alguém que não havia errado tanto, quem sabe? Iria gostar se fosse alguém assim.

Não havia ligado para sua casa ainda, não sabia como seu irmãozinho estava, nem se estava apenas com o Wen, ou se tinha mais gente, mas, de certa forma, ele sabia que o mesmo estava bem. Confiava em MingHao, então, não havia com o que se preocupar, embora sempre tivesse a pulguinha atras da orelha lhe dizendo: vá conferir, ele pode estar precisando de ajuda. Tirando que seu irmãozinho parecia ter crescido tanto nos últimos meses, que lhe era muito mais maduro que si, e estava longe de ser apenas uma criança em um corpo de adulto.

Embora por vezes fizesse algum tipo de pirraça ou agisse como uma, principalmente quando fazia bico, cruzava os braços, e batia o pé.

Riu de seu pensamento, puxando o celular de seu bolso para confirmar a hora, e logo seus olhos o traíram para a foto de JiHoon, e por instantes, seu coração sentiu falta. Olhou para cada detalhe que tanto amava, e logo sua mente o avisou do quanto era errado, que deveria mudar logo o fundo, pois já ultrapassava os limites do patético. Ouviu as batidas na porta, o que o fez se levantar na hora, temendo ser o senhor Wen. Jogou o celular no bolso, e arrumou suas vestes, assim como seu cabelo, tentando parecer bem. Quase bateu continência, e a porta abriu lentamente, revelando um JunHui que parecia exausto, as olheiras visíveis daquela distância.

Se SoonYoung não soubesse que ele tinha ido a festa também, diria que ele havia virado a noite toda vendo filmes, mas aquela era a cara dele de resseca, mesmo. Sorriu para o mesmo, relaxando sua postura, e o Wen se escorou na parede, parecendo mole, ou apenas irritado demais para ficar de pé apropriadamente, quase beijando a parede no processo, o rosto rente à esta.

"Parece que um caminhão passou por cima de mim", murmurou ele, seus lábios quase roçando na parede, e seus braços pendidos ao lado do corpo, mais parecendo um fantasma do que um ser vivo, e o Kwon se aproximou, contendo o riso. "Três vezes, e na última ainda saiu cantando pneu", acrescentou, soltando um risinho amargo, e o mais baixo lhe deu alguns tapinhas nas costas, tentando compartilhar de seu mal estar.

"Ao menos, a festa valeu a pena?", perguntou o mais novo, fechando a porta que ele deixou aberta, e instantaneamente o Wen pulou, seus olhos brilhando em entusiasmo, o que o assustou, sua mudança de humor era mais rápida que a dele, beirando ao bizarro.

"Ô se valeu!", respondeu ele, um sorriso largo surgindo em seus olhos, e ele gesticulou com seus braços, como se o Kwon fosse entender o que ele sentia daquela forma. "Eu fiquei na mesa por um bom tempo, mas aí me sentou um cara, que caaara", ele fechou os olhos, um sorriso safado surgindo, e SoonYoung riu. "Eu não lembro muito, mas foi bom, mas não lembro, mas foi", ele gesticulou novamente, tentando se explicar, e parecendo se perder mais.

"Já entendi", disse o Kwon, gesticulando para que ele se contivesse, antes que começasse a contar detalhes demais, e ele não gostaria de ouvir. O rosto do Wen se tornou mais sério subitamente, e ele soltou um gemido de dor, passando a mão em sua cabeça, onde provavelmente doía, bagunçando seus fios claros.

Ele se sentou em um canto, parecendo depressivo ou apenas irritado, e SoonYoung resolveu ensaiar sem música, para não incomodar o mais velho. JunHui parecia derrotado no canto, e apertava o próprio estômago, com as olheiras visíveis até do outro lado da sala, como bolsas pesadas. Tentou não fazer muito barulho, e o chinês fechou os olhos, na esperança de que sua dor fosse embora daquela forma.

"E você?", perguntou o Wen em um tom fraco, depois de algum tempo, fazendo o mais baixo parar o movimento para lhe encarar através do espelho. "Eu nem te vi lá cara".

"É, tava lotado né?", comentou SoonYoung, levando as mãos à cintura, e soltando o ar pela boca. "Eu me diverti, o Minie e o HanSolie também", deu de ombros, e o mais velho assentiu devagar, como se até aquilo o machucasse.

"Ele foi também? Faz tempo que não o vejo, digo, o SeokMin", respondeu, gesticulando com uma mão, antes da mesma cair derrotada no chão ao seu lado. "Nem os meus amigos eu vi muito, todos sumiram, aish, nem sei se estão vivos", comentou, passando a mão na nuca em falsa preocupação.

SoonYoung riu de seu drama, e voltou a praticar mais um pouco, desta vez com os olhos do chinês sobre seus movimentos, analisando-o como se fosse o júri de alguma competição. Depois ele se ergueu, cansado de apenas ficar sentado, e espiou do lado de fora por uma fresta da porta, conferindo que estavam sozinhos.

"Não quero ter que limpar nada hoje", confessou JunHui ao trancar a porta, e o mais baixo apenas assentiu, não iria contraria-lo, pois imaginava o quanto sua ressaca deveria estar ruim. "E parece que o efeito finalmente começou, vamos treinar?", perguntou animado, dando alguns pulinhos onde estava para esquentar seu corpo, antes de se alongar devidamente.

O Kwon concordou, e desviou os olhos enquanto ele retirava seu casaco moletom de forma desajeitada, deixando suas costas expostas, assim como sua cueca vermelha. JunHui era alguém sem muito pudor, e não se importava em trocar de roupa na frente de ninguém, o que era engraçado, mas ao mesmo tempo constrangedor e desnecessário.

Caminhou até o som, e o ligou, pegando o controle até achar alguma música, que ambos conheciam, e o Wen já se movendo, animado, sem esperar por ele. Sorriu, encarando-o através do espelho, se animando com a cena, e foi até o seu lado, tomando uma distância segura para começarem sem que se atrapalhassem.

 

*

 

Demorou um pouco para que eles percebessem que era o celular de JunHui que tocava. MingHao e Chan haviam acabado de sair da sala, após levarem a janta deles em sacolas plásticas de super mercado, tampando o buraco enorme que eles chamavam gentilmente de estômago. SoonYoung ainda passava o pano no chão onde estavam sentados há pouco, e também onde havia deixado cair o caldo de seu Cupnodles, resmungando que devia ser mais cuidadoso e que aquilo felizmente não iria deixar o lugar melado.

Havia dado a missão para que os mais novos jogassem tudo no lixo sem serem pegos pelo senhor Wen, já que estavam ainda se escondendo deste, e eles saíram como duas crianças brincando de agente secreto, com direito a óculos escuros e arminhas imaginárias. O Kwon riu deles, a música alta da sala ecoando em sua mente, enquanto ele limpava, e o Wen deitado sobre o piso, as mãos sobre a barriga, e os olhos fechados, totalmente confortável onde estava. O casaco estava levemente levantado, revelando o topo de sua cueca, assim como um pouco de pele.

A música do celular de JunHui era de algum desenho antigo, SoonYoung reconheceu depois que era de algum Kamen Rider, e lhe deu um leve empurrão no ombro, para avisar que o mesmo tocava, apontando para seu bolso. O chinês despertou assustado, e tateou seus bolsos até achar o eletrônico, puxando-o de forma afobada.

"Alô?", atendeu, e fez careta, não conseguindo ouvir nada que vinha do outro lado. Gesticulou para que o mais novo desligasse o som, e revirando os olhos, o Kwon o fez às pressas. JunHui se levantou assim que ouviu a voz de JeongHan, e seus olhos denunciaram que alguma coisa havia acontecido, e não era boa. "Ele o que?"

SoonYoung comprimiu os lábios, se aproximando preocupado, com o cenho levemente franzido, querendo saber o que acontecia. JunHui parecia tenso, seus ombros se contraíram, e ele engoliu a seco antes de responder, parecendo até suar de nervoso.

"Eu já estou saindo, pode deixar Hanie", soltou o Wen, seu tom nervoso, e ele olhou para o Kwon, antes de finalizar. "Se eu encontrar JiHoon em algum lugar, eu te aviso, não se preocupe", desligou levando o eletrônico até o bolso de forma desajeitada, empurrando-o de qualquer forma até ele entrar.

O mais baixo arregalou os olhos ao ouvir o nome, e seu coração acelerou com a possibilidade. Então ele realmente havia o visto na festa? Não foi a sua mente? Ou era outro JiHoon? Não era um nome tão incomum assim, poderia ser outra pessoa, qual era a probabilidade de seu namorado ter vindo para a capital, ter se matriculado na mesma faculdade sem saber, e ter os mesmos amigos que ele? Era quase impossível.

JunHui pareceu não ter percebido o conflito interno pelo qual SoonYoung passava, e apenas avisou que JiHoon havia sumido, e que iria procurá-lo, mas as palavras mal entravam em sua mente para serem processadas. O chinês saiu correndo desesperado, deixando-o para trás, sem saber o que fazer. Não pode ser a mesma pessoa, não pode, pensou, tentando se assegurar, e olhou para seu reflexo no espelho.

De repente ele não estava tão bem assim. As roupas de SeokMin estavam amassadas, seu rosto estava mais pálido, e os olhos pareciam cansados, assim como a sua expressão corporal. Engoliu a seco, novamente não se reconhecendo no espelho, e não soube por quanto tempo ficou se encarando, até que a porta se abrisse, e as crianças entravam de volta.

"Voltamos hyung! Missão cumprida!", Chan avisou em um tom animado, e SoonYoung rapidamente se recompôs, abrindo um sorriso forçado para eles. "Demoramos porque tivemos que esperar o pai do Hao sair do meio do corredor, mas conseguimos", ele parecia convencido, e sorriu para o chinês, que tinha a mesma expressão.

"Vocês foram bem", respondeu o Kwon, visivelmente cansado, e se aproximou dos dois a passos lentos. Segurou cada um pelo ombro, deixando-os nervosos. "Hao, eu preciso ir pra casa, e Chan vem comigo, você pode trancar a sala pra mim?", pediu, e o mais alto assentiu, com o cenho franzido.

"Está tudo bem hyung?", perguntou Chan receoso, enquanto o acompanhava para a porta, lançando um pequeno olhar de despedida MingHao.

SoonYoung não respondeu, apenas abriu um sorriso forçado, lhe dando alguns tapinhas nos ombros, como se dissesse: vou estar. Eles não conversaram enquanto voltavam lentamente para sua casa, embora seu irmãozinho o tenha encarado diversas vezes, esperando por alguma resposta.

Ele apenas se jogou na cama, ainda pensando sobre tudo que JunHui havia dito, sobre a festa, e a vaga lembrança de tê-lo visto. Seu coração se apertou, e ele se sentiu nervoso, sem saber ao certo por quê.

O que faria se JiHoon realmente estivesse na cidade?

E se ele quisesse falar com ele, o que diria? Ou se não o quisesse, o que faria?

Pressionou as mãos contra os olhos, subitamente se arrependendo por nunca tê-lo respondido, nem ouvido a SeokMin, enquanto ainda havia tempo. Trincou seus dentes, e em sua mente, tentou dizer a si mesmo que era impossível ser JiHoon, era outra pessoa, uma coincidência de nomes, tudo, menos o rapaz que ele deixou para trás.

 Mas algo em sua mente, bem no fundo desta, lhe dizia que ele sabia que era ele, e que, cedo ou tarde, o encontraria.

 

*

 

O encontrou chorando, e ele ainda segurava sua mala na mão. Chan estava chorando no sofá, a casa estava uma bagunça, como se um tufão tivesse passado por esta, e além de seu irmãozinho encolhido ali, não havia mais ninguém. Seu coração se apertou, e ele soltou sua mala no mesmo instante, correndo até o menino, e levando suas mãos até seu rosto, querendo saber o que havia acontecido.

Chan o negou com um tapa na mão, e se encolheu mais, abraçando seus joelhos, os soluços altos o suficiente para que seu irmão os ouvisse com o coração partido. Queria dizer algo, mas não sabia o que diria. Ergueu as mãos, e passou em seu cabelo, mordiscando o lábio inferior. Olhou para trás, e reparou que deixou a porta aberta.

Fechou-a no mesmo instante, trancando com uma volta, e olhando a bagunça. Haviam roupas espalhadas, algumas latas em um canto, e vidro quebrado. Seu coração se apertou com a cena, e ele tratou de correr para o outro andar, reparando que a porta de seus pais estava escancarada, a haviam ainda mais roupas caídas por ali, como se alguém tivesse feito as malas com pressa, e saído.

Sentiu um arrepio percorrer por seu corpo, e ele se aproximou a passos lentos, com certo medo de confirmar suas suspeitas. Não precisou muito para perceber que faltavam as roupas de sua mãe, e que as de seu pai permaneciam perfeitamente no armário, quase intocadas. Alguns flashes se passaram em sua mente, e ele teve certeza de que foi abandonado.

Sentou-se na cama perdido, e sentiu seu celular vibrar em seu bolso. Puxou-o automaticamente por hábito, e viu que era JiHoon. Comprimiu os lábios, e até pensou em lhe dizer que havia chegado, tudo que havia visto, mas, ao mesmo tempo, achou que o Lee não precisava saber dessas coisas. Era melhor que ele não ficasse se preocupando com ele, e apenas mentiu de forma simples, dizendo a si mesmo que, se a mentira fosse para o bem de alguém, ela poderia ser contada.

Mas não se tornado um hábito.

SeokMin de vez em quando roubava seu celular para fuçar, e mesmo que SoonYoung se sentisse exposto, ele o deixava. O mesmo ia direto para suas mensagens, e franzia o cenho quando via a conversa com JiHoon.

"Hyung, você tem que responder", murmurou ele, mostrando o aparelho na sua cara, e o Kwon suspirava, antes de fazê-lo como se fosse obrigado, e não algo que todo mundo faz.

Com o tempo parou de deixá-lo fuçar, e quando ele perguntava, apenas dava respostas evasivas, e nem ele sabia do que estava fugindo. As vezes pensava em responder logo, em outras achava que era melhor deixar para depois. Apenas sabia que precisava de um emprego urgente, porque o que seu appa deixava, não dava para os dois sobreviverem.

Conheceu JunHui pelo Lee, e não demorou muito para que conseguisse um bico, e sua vida parecer melhorar levemente, mas apenas deixá-lo mais ocupado. Nos horários livres ele estudava, depois tinha de buscar Chan na escola, aturá-lo o dia todo de boca fechada, de cara feia, tendo medo de deixá-lo sozinho em casa, o que o fazia levá-lo para o estúdio.

Às vezes pensamentos sombrios lhe viam a mente quando Chan ficava sozinho. Achava que ele poderia fazer qualquer loucura, com toda a raiva que ele passava. JunHui sugeriu que ele apresentasse ao seu irmão, e então, eles melhoraram um pouco.

Mas foi tão lento que parecia se arrastar. E aos poucos JiHoon foi entrando no segundo plano, no terceiro, e em pouco tempo, principalmente no vestibular, ele foi quase esquecido.

Era sua culpa de qualquer forma, e quando deu por si, não tinha mais como voltar, ou ao menos, em sua mente, não tinha.

Olá amor, desculpe o tempo sumido, eu apenas tinha coisas mais importantes para fazer e te esqueci, mas agora podemos conversar de novo, vamos fingir que nada aconteceu nesse meio tempo?

Ridículo, ele sabia, e por isso não respondeu. Porém, o natal chegava, assim como o ano novo, e ele sentia muito falta. Pensou em ligar várias vezes, mas em nenhuma delas ele tinha coragem o suficiente, acabava apenas encarando sua foto e pedindo desculpas mentais, desistindo após algum tempo.

Tudo apenas piorou quando sua irmã voltou para casa, com aquela criança em mãos, junto de sua mãe.

 

*

 

 JiHoon tem a respiração lenta, suave, seu peito sobe e desce em um ritmo tão calmo, que nem parece que o baixinho estava chorando até aquele momento. A mão do Yoon lhe afagava os fios castanhos, remexendo-os de um lado para o outro, embora o movimento fosse delicado, sua expressão era dura, e sua mente se perdia em perguntas, que ele sabia que o Lee não responderia. Já havia tentado, e o máximo que conseguiu foram respostas vagas.

O celular dele estava no bolso do casaco, pendurado na cadeira da escrivaninha de JiSoo, logo ali. Se esticasse sua mão, conseguiria pegá-lo, e então, descobriria algo. Mas parecia tão errado, por mais que estivesse curioso, algo lhe dizia que, se fizesse isso, era pior do que traição. Ah, a tentação, é tão grande, que ele cessou o carinho no mais novo para recolher sua mão devagar, e observá-lo por mais uns instantes ou dois.

Ele se manteve quieto, a boquinha entreaberta deixava o ar sair de forma suave, ele estava descansando bem, provavelmente não acordaria se deixasse a cama. JeongHan olhou para o colchão, e levou suas mãos até o local, iria substituir o peso de seu corpo com elas, e enfraquecer gradualmente – tudo para não acordá-lo. Retirou uma perna por vez, fazendo pressão contra o colchão, e quando conseguiu ficar de pé, foi suavizando. Olhou receoso para o mais novo, como se esperasse que uma hora ou outra ele fosse abrir os olhos e perguntar o que estava fazendo.

Contou até três, e como o mesmo não se movimentou, ele resolveu arriscar. Seria rápido, apenas o necessário e nada mais, ele jurava. Tentou por isso em sua cabeça enquanto se abaixava para caçar os bolsos, sem que mexesse na posição do casaco – algo lhe dizia que, ao menor movimento, JiHoon perceberia que ele o havia pego. Suspeitas tola de quem sabe que está fazendo algo errado.

Seus dedos delicados deslizaram pelo tecido frio e levemente úmido, adentrando no bolso largo, e achando a capinha fofa que o envolvia. A borracha se modelou aos seus dedos, e o puxou com extremo cuidado, a outra mão segurando a barra do mesmo para que ele não se movesse. Retirou com um suspiro, e sorriu vitorioso, antes de lançar um olhar para o Lee, conferindo que ele permanecia na mesma posição, de costas para si. Não tinha como ele o ver, estava seguro.

Apertou o botão superior, e avistou a hora se projetar, o fundo de notas musicais – algo que ele não esperava dele –, e a senha em seguida. Torceu os lábios, e olhou sorrateiro para JiHoon, xingando-o por ser esperto, e ao mesmo tempo, se lembrando que ele desbloqueava com a digital. Sua boca se abriu em surpresa, e se aproximou devagar. A mãozinha do mais novo estava sobre o colchão, um pouco à frente do rosto, os dedos vidrados para cima, de uma forma perfeita para ele usar.

Se tomasse cuidado, conseguiria. Debruçou-se com cuidado, desejando não balançar muito a cama, e prendeu sua respiração, enquanto levava o eletrônico até a mão. Percebeu que a sua tremia, mas precisava apenas encostar, e já conseguiria. Pressionou o metal com cuidado, olhando fixamente para seu rosto, esperando que ele acordasse. Quando não o fez, ele se afastou subitamente, o coração a mil, e a tela desbloqueada.

Soltou uma pequena exclamação, e conferiu que ele tinha mensagens pendentes, mas após uma rápida conferida, viu que eram apenas propaganda. Suspirou, não podia perder tempo, jurou que veria apenas o básico, então o que. Enquanto se decidia entre a galeria ou as conversas, a porta se abriu, e seu coração quase saiu pela garganta de susto, o celular por pouco não escapando de seus dedos e indo ao chão.

"Hanie? O que está fazendo?", perguntou Joshua, sua voz era sonolenta, e seu cabelo ainda estava perfeitamente penteado, embora já tivesse trocado de roupas. "JiHoon-ah já dormiu?", ele olhou preguiçosamente para o corpo sobre a cama, e o Yoon assentiu.

JeongHan aproveitou a deixa para sair do quarto, a passos leves, e empurrou seu amigo para fora, encostando a porta atras de si, seus dedos finalmente decidindo que fuçaria as fotos para saber a cara do infeliz que deixou JiHoon daquele jeito. JiSoo franziu o cenho, e ficou ao seu lado, esticando o pescoço para ver.

"Por que está fuçando no celular do JiHoon?", questionou com um tom de indignação, e o mais velho revirou os olhos, balançando o eletrônico entre os dedos

"Pra ajudar JiHoonie, precisamos saber mais sobre ele, não acha?", retrucou em mesmo tom, apontando para a tela. "Ele nunca nos diz nada, então a melhor forma é esta", defendeu-se, abrindo o rolo de câmera, e seus olhos se arregalando no mesmo instante.

Sua mãos tremeu, e ele levou a outra para se impedir de derrubar o celular, enquanto olhava descrente para as fotos, o Hong o encarava com um olhar reprovador, mas após ver sua expressão, resolveu checar, e abriu a boca em descrença.

"Mas esse é", soltou incrédulo, apontando para ele, próximo demais que abriu a foto.

Era uma foto dos dois na rua, Hoshi segurava o aparelho e JiHoon estava tímido ao seu lado, mas sorria e fazia pose. JeongHan não acreditou no que estava vendo, e JiSoo tomou o aparelho de sua mão para checar por si mesmo. O mais velho levou as mãos à cabeça, pensando no quanto aquilo era impossível, como poderiam se conhecer se Hoshi... Ah, espera.

"O Hoshi era o namorado do JiHoon? Como isso é possível, nós o conhecemos", disse Joshua, e sua fala foi cortada pelo outro.

"O conhecemos meio ano atrás, não parece, mas faz pouco tempo", ele apontou para o Hong, e o mesmo assentiu, ligando os pontos.

"Junie havia dito que ele era do interior, não disse?", perguntou, e JeongHan assentiu, levando a mão ao queixo. "Uma coincidência e tanto, quem diria que".

"Abra as conversas Shua, eu quero ver o que aconteceu", mandou o Yoon, e já fora lhe puxando em direção ao sofá, o mais novo o obedecendo sem pestanejar, tão curioso quanto ele.

Eles começaram a procurar, e não foi muito difícil de achar. JeongHan não se contentou com apenas aquilo, e foi subindo a conversa, lendo alguns trechos, e não achando nada de ruim, nenhum acabou ou algo assim, pareceu mais que ele foi esquecido. As últimas mensagens deixavam bem claro quem foi que parou de responder, e a ultima lhe partiu o coração.

Lembrou-se de quando havia perguntado vagamente para o mais novo se já havia namorado, e como ele havia reagido, seu coração se esfriou, e ele segurou o pulso de JiSoo, como se precisasse de um apoio para si mesmo

"Eu não entendo Hanie, o que aconteceu? Eles não parecem que terminaram ou algo assim, apenas parece que ele foi", murmurou o Hong com o cenho franzido, brincando com a conversa, quando eles ouviram a voz fraca atrás deles.

"Esquecido?", sugeriu JiHoon com a voz fraca, e os dois deram um pulo no sofá, o rapaz baixinho estava com a camisa larga mostrando o início de sua clavícula, emprestado por JiSoo. O short também largo o deixava mais infantil, e seus olhinhos vermelhos pareciam que ele havia tido um pesadelo e acordou chorando.

"JiHoonie nós não queríamos", tentou se defender o Yoon, e o Lee pediu o celular de volta, esticando sua mão com uma postura levemente autoritária. Joshua devolveu como um cãozinho, e JiHoon apertou seus dedos com força contra o eletrônico. "Só estávamos preocupados com você", insistiu, vendo o mais baixo dar as costas, parecendo irritado, ou talvez traído.

"Eu odeio que mexam nas minhas coisas", respondeu, seu tom beirando a raiva, mas ainda carregado de choro, que estava difícil de disfarçar.

"Nós queremos te ajudar Hoonie!", disse JiSoo, querendo ajudar seu amigo, e JiHoon parou na batente da porta, segurando a mesma com força, os nós de seu dedo ficando brancos.

"Eu não preciso de ajuda, apenas esqueçam tudo isso, amanhã eu vou estar".

"Então nos diga porque está fugindo", acusou JeongHan, dando um passo para a frente, o baixinho parando onde estava, com os olhinhos arregalados.

"Eu não estou", respondeu como uma criança, um pequeno bico se formando nos lábios, e os olhos ficando cada vez mais brilhantes, marejadas, estava a ponto de desabar novamente.

"Acho que precisa se abrir Hoonie, ou só irá piorar", aconselhou, se aproximando um pouco mais, vendo-o se encolher, mas sem recuar, as unhas fincadas na madeira. "Sabe que sentimentos são como uma bola de neve, não sabe? Se você ficar acumulando, eles vão apenas aumentar e aumentar até que você...", gesticulou, e o menor encarou o chão por alguns instantes, antes de erguer os olhos brilhantes para ele.

"Não me chame assim", murmurou como um bebê, a voz arrastada de choro, soltando a porta para tentar se impedir.

"Assim como? Hoonie?", perguntou JeongHan confuso, antes de ligar os pontos, e se aproximar um pouco mais, antes de se curvar minimamente, vendo-o assentir. "Era como Hoshi te chamava?", arriscou, e o viu congelar, antes de o encarar confuso.

"Hoshi?", sua dúvida parecia genuína, e JiSoo se aproximou cauteloso.

"É, o seu namorado, ele é Hoshi, não é?", questionou o Hong, olhando para JeongHan, percebendo que não sabia seu nome verdadeiro.

"SoonYoung?", murmurou JiHoon com a voz fraca, reparou no quanto a mesma estava estranha, e seu nome soou pior ao sair de sua boca.

"Oh, eu não sabia o nome dele, mas é certeza que é Hoshi", disse JeongHan, gesticulando para Joshua, que confirmou.

"Vo-vocês o conhecem?", perguntou o Lee, engolindo o choro, seu coraçãozinho se apertando, ao mesmo tempo que sua barriga esfriava, e calafrios lhe passavam o corpo. "Como?"

"Em uma festa, há alguns meses, JunHui nos apresentou", explicou JiSoo, e o Yoon apenas assentiu.

"Ele trabalha no estúdio da família do Junie", acrescentou JeongHan, e JiHoon desviou os olhos para o chão, seus dedinhos finos se unindo à frente do corpo. Seus lábios se apertavam com força, e os outros dois se entreolharam, sem saber o que deveriam dizer ou não.

"Oh", soltou o menor, e se encolheu, os olhos voltando a marejar.

"Acho que já é o suficiente por hoje", ditou JeongHan, abraçando-o com força, como se fosse um bebê, e JiSoo assentiu, sentindo o mesmo. JiHoon começou a chorar contra seu peito, e o Hong se aproximou devagar, para afagar seu cabelo, querendo mostrar que ele podia confiar em si.

O Lee soluçou, mas apertou as vestes do Yoon com mais força, tendo certeza de que ele ficaria consigo.

 

*

 

JiHoon acordou primeiro, seu corpo levemente dolorido, mas ainda assim, parecendo ter descansado, como há muito tempo não fazia. Ele reparou que havia um corpo ao seu lado, a mão tímida sobre seu ombro, e reparou que era JeongHan. Lembrou-se vagamente de ter dormido em sua companhia, sentindo suas bochechas esquentarem de vergonha. Deveria ter parecido uma criança, e odiava agir fora de sua idade.

Levantou-se com cuidado, conferindo a hora, e sabendo que eles não levantariam tão cedo, o que lhe daria tempo de fazer um pedido de desculpas. Foi a passos rápidos até a cozinha, visto que estava descalço e o chão era frio, parando no meio desta e olhando confuso para todos os armários. Ele poderia fazer algo, só tinha de saber o quê.

Vasculhou com cuidado, não querendo atrapalhar, ou causar algum incomodo, embora a ideia de que mexer na casa dos outros fosse errado lhe pairasse a mente. Ignorou os pensamentos, pensando que, depois, compraria algo para o Hong como desculpas por usar suas coisas sem permissão. Achou apenas farinha, e concluiu que na geladeira tinha ovos o suficiente. Inspirou fundo, tomando coragem, e resolveu que iria fazer panquecas para os dois.

Suas mãos trabalharam hábeis, e assim que começou a fritar, ouviu os primeiros passos em direção a cozinha, tentou disfarçar, sabendo que estava sendo óbvio, e vendo JiSoo parar na batente com a boca aberta em surpresa.

"JiHoon-ah? Já está acordado?", perguntou, se aproximando para ver o que ele fazia.

"Eu achei que vocês estariam com fome", mentiu, sentindo suas bochechas esquentarem, e tentou não desviar os olhos da frigideira.

"Ah", soltou o maior, e ele estalou os dedos, percebendo que o mesmo precisava de pratos, correu para lhe ajudar. Separou alguns, e o Lee depositou a primeira com cuidado, ainda havia massa para uma quantidade considerável, o que fez seu estômago roncar em antecipação. "Vou chamar Han hyung", avisou, saindo às pressas dali, deixando o baixinho com a sua massa.

JiHoon olhou com um pequeno sorriso para a frigideira, sabendo que havia feito a coisa certa, no final. Seu coraçãozinho se aqueceu mais ao ouvir a voz do Yoon elogiando o cheiro, e ele alargou seu sorriso, subitamente, sentindo-se parte daquilo. Sua mente demorou para achar a palavra, mas ele realmente sentiu-se parte da família, enquanto comia as panquecas sentado entre Joshua e JeongHan.

 

*

 

JiHoon demorou para sair, JeongHan não queria expulsa-lo da casa que nem era dele, mas ele precisava ir até a casa dos Kwon, antes que Hoshi fosse para o estúdio, e ele não iria fazer cena no meio de tanta gente - não quando poderia arruinar a reputação dos Wen.

Trincou os dentes assim que SeungKwan saiu com o Lee, os dois parecendo bebês aos seus olhos, indo para a escola pela primeira vez juntos, e ele até se emocionaria, se não estivesse tão zangado. Não sabia o que havia acontecido ao certo, mas sabia o que tinha que fazer.

Girou as chaves do apartamento de Joshua nos dedos, e foi bater em sua porta, para saber se ele já estava pronto. O mesmo saiu confuso do quarto, com o cenho franzido e roupas simples, o que deveria bastar.

"Onde vamos hyung?", perguntou JiSoo curioso, seguindo-o para o elevador, o Yoon se encostando a parede com o cenho franzido em raiva.

"Tirar satisfação", respondeu simples, como se fosse algo extremamente comum, embora seu tom carregasse irritação ao final.

"Não me diga que vamos", ele se interrompeu, pois sabia que sua pergunta era idiota, e JeongHan assentiu, abrindo um sorriso sínico para ele.

"Ah se vamos", soltou, seus olhos parecendo queimar.

Joshua engoliu a seco, a porta do elevador se abrindo, e ele nunca havia visto seu melhor amigo daquela forma, tão furioso. Rogou pela alma de Hoshi, enquanto adentrava no carro para dirigir.

 

*

 

Chan o acordou com um sorriso bobo, e antes mesmo de raciocinar, lhe deu um beijinho docinho na bochecha, avisando que iria sair, e SoonYoung não conseguiu processar para onde, enquanto se mantinha deitado. Encarou o teto por algum tempo, seus olhos pesados não o permitiam focar cem porcento, e sua mente lutava para desembaralhar, e ele finalmente começou a pensar.

Soltou um gemido ao sentir suas costas doloridas. Devia ter dormido de mau jeito de novo, ou havia exagerado no dia anterior, ou os dois juntos. Não saberia tão cedo, só sabia que não podia perder tempo procrastinando, tinha de treinar, dar aulas à tarde para velhinhas que queriam manter a forma e não tem mais o que fazer em um domingo.

Riu de seu pensamento estupido, imaginando que quando ficasse velho, ele seria o velhinho chato das aulas de domingo. Tomou um banho demorado, esperando que a água fria levasse toda a sua tensão, junto de suas preocupações para o ralo. Não pode deixar de pensar que seu pai voltaria no dia seguinte, e se aquela cena se repetiria. Desviou seus pensamentos, não querendo se desanimar, ou não conseguiria dar aulas apropriadamente.

Secou seus fios azuis, que precisavam de cuidado especial agora que pintados, e trocou-se como sempre, usando roupas leves e escuras, sorrindo para sua imagem no espelho. Gostou de se ver tão bem, e tentou ignorar os pensamentos sobre o que JunHui fora procurar na noite anterior. Apenas coincidência, SoonYoung, mentiu a si mesmo em pensamentos, enquanto descia as escadas devagar, já planejando o seu desjejum.

Seu irmãozinho não havia feito nada, o que o desagradou e o fez gemer de preguiça, mas logo se contentou em comer frutas, embora o gosto da maçã estivesse mais para isopor do que fruta. Enquanto jogava fora a mesma, segurando o lixo com a mão livre, ele ouviu a campainha. Seu cenho se franziu, e ele questionou se algum amigo seu avisou que iria aparecer, e ele havia se esquecido.

Depois que jogou, pensou se não poderia ser alguma espécie de vendedor, mas como o toque insistiu, ele imaginou que fosse algum amigo desesperado. Talvez fosse um trote de SeokMin para lhe irritar em plena manhã - não duvidava de brincadeiras idiotas como essas feitas pelo Lee, ele tinha manias e ideia estranhas.

Caminhou devagar, porque, quem quer que fosse, poderia esperar no seu tempo. Tinha até um pequeno sorriso nos lábios, imaginando que provavelmente seria o Lee, ou talvez seu irmãozinho - teria esquecido a chave? O celular? Precisava de dinheiro? - ou até mesmo JunHui, lhe cobrando algo que pegou emprestado.

 Mas nunca em sua vida, iria imaginar que, ao girar a maçaneta da porta, encontraria Yoon JeongHan, com a cara fechada, não fazendo jus ao seu apelido de anjo entre seus amigos, os olhos parecendo lhe queimar a alma, e suas mãos delicadas, mas que se tornaram fortes ao lhe empurrar e quase fazê-lo cair.

O cabelo comprido estava preso em um rabo de cavalo baixo, e sua jaqueta de couro parecia combinar com seu look de delinquente, deixando-o mais assustado. SoonYoung recuou bons passos para trás, com o mais velho e mais alto avançando em sua direção como um animal selvagem, a fúria estampada em suas orbes escuras, parecendo que seria capaz de matá-lo apenas com o olhar.

JeongHan infelizmente o alcançou, e o empurrou segurando na gola de sua camiseta cinzenta, prensando-o contra a parede, mas de uma forma ruim, que fez o ar escapar de seus pulmões, e seus olhinhos minúsculos se arregalaram de medo. Os punhos lhe machucavam na altura da clavícula, e ele pode jurar ouvir um rosnado vindo do mais velho.

"O que caralhos você fez com JiHoon?", questionou o Yoon aos berros, balançando-o como se ele fosse um brinquedo ruim, suas costas desgrudando da parede por milímetro para baterem com força novamente. "Hein? Seu cretino! Quero saber como diabos você terminou, para deixá-lo assim!", insistiu, a mente do mais velho ficando em branco, enquanto ele tentava captar o que estava acontecendo.

A verdade é que ele entrou em pane quando ouviu o nome de JiHoon, e seus pensamentos se voltaram para a noite anterior, a ligação, sua mente trabalhando rápido para ligar os pontos e fazer seu corpo tremer, antes do estômago esfriar, e ele levar suas mãos até os braços do Yoon.

"JiHoon? Onde ele está? Ele está bem?", começou a perguntar, ignorando completamente as perguntas de antes, e recebendo um soco forte em seu rosto.

Sua mente apagou por segundos, assim como sua visão, e ele demorou para processar que havia recebido um soco, antes de ser desencostado da parede, para ser forçado com ainda mais força contra, fazendo-o arfar, seus pulmões implorando por ar.

"Me responda Hoshi!", gritou, chacoalhando-o mais como se o fizesse pensar direito daquela forma, ficando mais irritado ao ver seus olhos pequenos apenas assustados, sem reação nenhuma, quase como uma bichinho que vê seu predador prestes a dar o bote. "Me diga Hoshi! Que merda você fez para ele!"

SoonYoung sentiu seus olhos marejarem, tanto pelo soco, quanto pelo peso das perguntas, que parecia acertar a fundo em sua mente, deixando-o em uma crise interna. Sua boca tremeu, a resposta subia por sua garganta, e ele sentiu seu coração bater devagar, totalmente culpado, as lágrimas quentes escapando, sabendo que havia fodido com tudo.

"Eu-eu", tentou formular, mas sua voz morria, os soluços pareciam atropelar as palavras e escapar, sua visão se tornando mais turva, que ele mal viu o segundo soco.

 

*

Guess I'll be patient


Notas Finais


Obrigada a todos que leram~


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