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História I am the Target - Preciso falar com você


Escrita por: Hawtrey

Notas do Autor


Um outro capítulo que todo mundo estava esperando...
Boa leitura!

Capítulo 24 - Preciso falar com você


Fitou Clyde sem realmente prestar atenção, a pequena tartaruga estava em cima de suas pernas comendo um pedaço de alface, mas a mente de Joan estava bem longe dali, presa a infinitas possibilidades de resultados que aquela conversa ganhara.

Sherlock estava atrasado. Marcara com ela no Sobrado, mas avisara que teria que sair por alguns minutos para resolver algo com Alfredo. Quase uma hora havia se passado e ela já estava considerando a possibilidade de sutilmente ir embora. Mas usufruindo do seu melhor lado insistente, permaneceu ali imóvel tentando não pensar nos piores resultados daquela conversa.

Havia um bilhete em sua mão, muito bem dobrado. Enquanto se aproximava do Sobrado lhe surgiu a ideia de que, de fato, Sherlock também estava sempre na visão de Holloway. Pouco importava os policiais na porta se havia escutas eletrônicas ali dentro, duvidava que Sherlock estivesse ignorante a elas – considerando sua habilidade singular de ter os olhos de uma águia, mas não custava garantir. Só por precaução. Tudo seria mais fácil se Holloway não soubesse de sua gravidez.

― Desculpe o atraso Watson ― ela se sobressaltou assustada, nem ouviu a porta ser aberta ― Alfredo estava eufórico por informações, faz algum tempo que não conversamos.

― Tudo bem ― Joan se forçou a dizer, recuperando-se ― Sobre o quê quer conversar?

― Está com pressa? Podemos tomar um chá?

Joan estreitou os olhos e observou as mãos de Sherlock, os dedos agitados, e em seguida notou sua respiração forte. Sabia que era algo que ele não conseguia esconder, uma descarga elétrica que o irritava muito. Colocou Clyde sobre o sofá e virou-se para encará-lo melhor perto na porta que dava acesso à outra sala.

― Sherlock... o que aconteceu? Por que está nervoso?

Sherlock comprimiu os lábios, irritado, e desviou o olhar.

― Voltarei para Londres.

 O quê?

― Como é?

Mas ele já tinha lhe dado as costas e sumido até a cozinha. Joan imediatamente se levantou e foi atrás dele.

― Sherlock. Do que está falando? Por que voltará para Londres? Disse que essa era sua casa!

Sherlock não voltou a fitá-la.

― Meu pai precisa de ajuda em Londres e eu aceitei ajudar.

― E desde quando aceita ajudar seu pai tão facilmente? ― Joan questionou descrente ― Ainda mais tendo que abandonar tudo aqui. Sherlock o que está acontecendo? Conte-me!

Joan sabia que Sherlock ir embora do país para voltar ao lugar onde ficara no fundo do poço era estranho e incomum. Ele tentara uma vez e concordou que Londres não era mais seu lar e que não conseguiria mais ter uma vida ali. E agora estava voltando. Abandonando-a. Ela aceitaria ficar longe, mas somente se fosse necessário, se não pudesse mudar tal decisão. Então precisava saber o motivo.

― Meu pai acha que vai ser melhor... ficar longe ― Sherlock revelou com cautela, parecendo temer a própria voz.

Joan voltou a ficar ereta, perdendo completamente a vontade de fazê-lo ficar. Compreendeu Morland e pela primeira vez concordou sem hesitar. Era uma decisão necessária, era uma viagem necessária e não iria mudar isso. Ter Sherlock longe das teias de Holloway seria divino, não teria com o que se preocupar e exatamente por isso optou não dizer que o verdadeiro alvo era ela. Se Sherlock soubesse, não iria embora.

― Quando você vai?

A mudança de tom surpreendeu tanto Sherlock que ele se virou para ela em só impulso, o cenho franzido pela confusão.

― Amanhã... ― respondeu desconfiado.

Joan engoliu seus gritos de negação e discretamente amassou o bilhete em suas mãos. Sherlock não teria conhecimento desse filho agora, isso complicaria tudo. Contaria a ele um dia, antes da criança nascer de preferência e lhe daria o direito da escolha.

― Ouvi dizer que seu pai vai a uma festa amanhã à noite... você não vai? ― questionou tentando soar indiferente.

― Não, vou pegar o avião do inicio da tarde e ele só vai no outro dia.

― E quanto ao caso de Holloway?

― Acredito que Holloway vai parar quando eu for embora e talvez me seguir, isso dará algum tempo para o Departamento formar um caso sólido contra ele. Não vou interferir.

Ela queria dizer que isso não era típico dele, deixar um caso assim... mas isso seria uma discreta insistência para que ele ficasse.

― E quando volta?

Precisava saber, precisava se preparar para o tempo que ficaria sem ele e para quando ele voltasse. Explicaria tudo e tentaria fazê-lo entender que tudo o que fez era estritamente necessário, diria o quanto o ama e esperaria pela reação... e a aceitaria sendo boa ou desastrosa.

O problema é que o olhar dele já lhe respondia, aquele olhar escuro e que silenciosamente lhe pedia perdão já lhe dizia que Sherlock não esperava voltar.

Por um momento se sentiu magoada. Não ter uma data para retornar significava que Holloway não era o único motivo para Sherlock ir embora, ela também era um motivo. Por Deus, como seria capaz de revelar que estavam presos por filho?

Joan precisava de um tempo.

Afastou-se de Sherlock e no caminhou para a porta pegou sua bolsa que estava perto de Clyde sobre o sofá. Daria um jeito sozinha até poder ser completamente sincera com ele, e claro, contaria sobre o filho um dia, preferencialmente olhando em seus olhos e temendo sua reação, mesmo que tivesse que voar até Londres. Mas naquele momento... precisava de um tempo. Para pensar, reorganizar sua mente e refazer seus planos. Seus malditos planos onde iria arrancar Sherlock e adicionar alguém muito mais frágil no lugar.

― Aonde vai? ― ouviu Sherlock perguntar.

Ignorou-o, as palavras de Lin voltando a sua mente:

Ei, é nisso que está pensando? Ainda não entendeu que agora seu filho é prioridade? Se esse exame der positivo e você sabe que vai dar, pegue suas coisas, arrume suas malas e suma! Suma até tudo se resolver.

Ela estava certa. Seu filho era prioridade agora. Joan não tinha que ficar naquela confusão até o fim, não era? De certa forma já teria ido embora, mas sua falta de confiança no Departamento de Polícia a impedia. Seguiria a sugestão de Lin se Sherlock ficasse ali, garantindo que Holloway teria seu merecido fim... mas o consultor também iria embora.

— Watson!

Ela sentiu seu braço sendo puxado e logo seus olhos encontraram com os dele.

― Por favor, perdoe-me ― Sherlock pediu com toda a sinceridade que conseguiu transmitir.

Joan engoliu em seco e sutilmente se aproximou:

― Se eu pedisse para você ficar... se eu dissesse que é fundamental que você termine esse caso... você ficaria? Faria isso por mim?

― Eu faria qualquer coisa por você Joan... mas não sei onde estou me metendo. Você está em um mundo completamente desconhecido para mim. Um mundo de tiroteios e segredos, onde já está casada, onde não estou incluído. E revendo todos os fatos até agora, não sei como posso ajudá-la sem me afastar.

 Os olhos de Joan arderam, mas tentou permanecer com a voz firme.

― Mas não quero sua ajuda, quero que se sinta motivado a tirar Holloway da nossa vida. Quero que saiba que eu... nós precisamos de você.

Viu os olhos de Sherlock se agitarem pela confusão, mas contrariando todas as suas linhas de pensamento e todas as suas decisões, Joan decidiu ser apenas espontânea. Então espontaneamente pegou a mão de Sherlock e a levou até sua barriga, em um ato puramente simbólico.

― Nós precisamos de você ― repetiu com mais firmeza.

Lembrou-se daquelas cenas de filme onde a mulher usa esse mesmo ato simbólico para revelar sua gravidez com um enorme sorriso no rosto, mas Joan só tinha lágrimas em seus olhos preocupados e a reação de Sherlock não foi agradável, apesar de já ser esperada.

De olhos arregalados Sherlock retirou suas mãos rapidamente do local e se afastou, expressando um horror que magoou Joan mais do que qualquer outra coisa que ele já tenha feito.

― Não... você está mentindo...

Joan deixou as lágrimas caírem. Pensou em gritar, xingá-lo de todas formas que conhecia e criar outras logo em seguida, jogar aqueles malditos objetos antigos que ele tanto prezava em sua cabeça. Entretanto, apenas respirou fundo e mesmo quebrando por dentro, voltou a olhá-lo nos olhos e se despediu:

― Tenha uma boa viagem Sherlock, adeus.

Imaginou ter ouvido alguma palavra dele, mas depois de tudo achou melhor ignorar e seguir seu caminho. Fechou a porta com força e pegou o primeiro táxi que viu, quase se jogando na frente dele. Queria se afastar de Sherlock o mais rápido possível.

***

Arrume suas coisas e vá embora.

Arrume suas coisas e vá embora.

Arrume suas coisas e vá embora!

Não importava a quantidade de vezes que Joan repetia aquela frase, não conseguia obedecê-la.

Assim que chegara em casa correu até seu quarto, jogou sua mala sobre a cama e começou a jogar todas as suas roupas dentro. Completamente frustrada e furiosa. Em algum momento entre uma roupa e outra ela desabou no chão, sentindo todas as suas forças a abandonarem. Era normal, não era? Era normal se sentir tão mal quando uma noticia tão boa, como um filho, era aceita de forma tão desastrosa?

O que mais ela poderia esperar de Sherlock Holmes afinal?

Permaneceu ali por longos minutos, permitindo-se ruir sem culpa ou limitação até o som de seu celular ecoar pelo quarto. Era Kitty que disse que estaria em seu apartamento em dois minutos depois de ouvir a voz embargada e irreconhecível de Joan. Cumprira com a palavra. Agora ambas estavam lado a lado, sentadas em sua cama após uma longa conversa envolvendo Sherlock, a criança e suas decisões.

Um audível e estridente grito foi ouvido, provavelmente em todo o bairro, quando Joan revelou sua gravidez. Kitty ficara tão feliz que por um tempo a contaminou sem qualquer impedimento. Então xingamentos e palavrões foram ouvidos na mesma altura, Kitty ficara furiosa e custara a acreditar no que Joan dizia.

Mas por que Joan mentiria?

― Não entendo o motivo de ainda estar aqui ― Kitty comentou com sinceridade ― Se eu estivesse no seu lugar já estaria em outro planeta se fosse possível. Holloway é louco, você não pode arriscar!

― Eu sei Kitty...

E sabia mesmo, Joan sabia que era ridículo e estupido não conseguir ir embora.

― Então o que ainda está fazendo aqui?

Arrume suas coisas e vá embora!

― Não consigo, não consigo Kitty.

― Por quê? Nem Sherlock estará aqui!

― Não é por ele, é por Holloway.

Kitty lhe lançou um olhar estranho, mesclado entre descrença e confusão.

― Holloway?

Joan se levantou e começou a andar um lado para o outro, incapaz de continuar quieta.

― Não posso ir embora e deixá-lo livre. Ele vai atrás de mim, claro que vai! E quando descobrir essa criança vai matar nós dois.

― E vai arriscar a vida do seu filho agora?

― Prefiro arriscar agora enquanto essa criança ainda é um mistério para ele.

Joan Watson arrume suas coisas e vá embora!

― Não posso deixar você fazer isso sozinha ― Kitty anunciou em tom sério enquanto se levantava.

― Não vou, não se preocupe ― Joan garantiu com firmeza ― Amanhã terá uma festa, Morland irá. Será a última. Pedirei ajuda dele e logo em seguida irei embora. Não importa o que aconteça, eu irei embora Kitty.

― Promete?

― Prometo.

Joan nunca quebrara uma promessa e não começaria com aquela. Entretanto, não poderia dizer que estava sendo totalmente sincera com Kitty, mesmo que esta merecesse. Deixou que ela arrumasse sua mala de modo civilizado e escreveu todas as mensagens que precisava para Forllet, ligando sempre que necessário para ele ou Joshua. Não lhes deu escolha, até onde sabiam Sherlock ainda era prioridade. Eram pagos para isso.

― Para onde vai? ― Kitty perguntou quando fechou a mala.

― Londres talvez ― mentiu forçando um sorriso.

Provavelmente iria à China visitar o túmulo de seus avós antes de se aproximar de Londres novamente. Era para lá que Sherlock fugiria.

Mesmo assim deixou o rosto de Kitty se iluminar pela resposta, deixou que criasse uma possível reconciliação mesmo que esta, de fato, fosse impossível. Naquele momento concluiu que teria que forçar a si mesma a ter uma vida sem Sherlock, que teria que se acostumar a ficar sozinha por um tempo e que teria que reconstruir sua vida depois que tudo acabasse. E acabaria antes daquela criança nascer, disso tinha certeza.

 



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