- Mas… Kyuhyun! Preciso de falar contigo!
Onde é que ela está? Já passou mais de quinze minutos. Eu estava a arrumar os meus materiais e nem sequer dei conta que ela se tinha ido embora, apenas ouvi a sua voz. Apesar de a ter escutado poucas vezes, o meu cérebro foi capaz de perceber quem era a dona.
Já perto do portão da escola, eu continuava à sua espera. Provavelmente, ela queria agradecer-me, isso não me importava muito, apenas ajudei, mas já que ela me chamou vou ouvir o que me quer dizer.
- Kyuhyun-ah... Vamos embora. – disse Sungmin puxando-me pelo braço.
- Hyungs, vão primeiro. Preciso de fazer uma coisa antes de ir. – respondi retirando a mão de Sungmin do meu braço. Ele olhou-me de uma maneira insatisfeita, com aqueles olhos castanhos.
- Mas nós combinámos ir juntos. – retorquiu Donghae fazendo um bico com os lábios. Ele gosta imenso de agir como uma criancinha.
- Eu sei, eu sei. Eu depois vou lá ter. – disse já me afastando deles e caminhando apressadamente em direção à porta de entrada.
- Mas tu nem sabes onde é!
- Eu depois arranjo maneira de descobrir! – falei sorrindo e fazendo um sinal de adeus com a mão.
Sungmin continuava a olhar-me insatisfeito enquanto Donghae aparentava estar bastante confuso, o que é normal vindo da parte dele. Acho que Sungmin percebeu o eu iria fazer, mas não me interessava.
- Hana
- Quanto tempo já passou? Talvez uns quinze ou vinte minutos... – pensei em voz alta, encostando bruscamente a cabeça num armário de bolas, o que me magoou um pouco.
O armário estremeceu e uma bola de basquete caiu mesmo em cima da minha cabeça.
- Aish!! – gritei chutando-a com raiva. A bola não tinha culpa nenhuma mas eu precisava descontar em alguma coisa. Apenas sentia - raiva, tristeza e medo.
Pensei em gritar por ajuda mas provavelmente ninguém ouviria pois a maior parte dos alunos e professores já teriam ido embora. Podia ser que passasse algum funcionário mas mesmo assim nem me dei ao trabalho de gritar.
- Estou a ver que vou passar aqui a noite... Pelo menos tem uns colchões, não preciso de dormir neste chão frio. – e novamente uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
Não... Não posso ser fraca e desistir sem pelo menos tentar, preciso ser otimista pelo menos uma vez.
Limpei a lágrima que escorrera pela minha face, levantei-me e corri para a enorme porta de metal que dividia a escuridão em que me encontrava da luz do dia já um pouco alaranjada do fim da tarde.
- Alguém?! Alguém está ai?! Socorro! – gritava enquanto batia desenfreadamente com os punhos na grande porta metálica.
Continuei a pedir ajuda durante uns dez minutos, mas em vão. Nenhuma resposta vinda do lado de lá.
Sentei-me novamente no chão e encolhi-me por causa da sua frieza. Eu sabia que não ia resultar. Pensei que este ano iria ser diferente. E mais uma vez, os meus olhos encheram-se de lágrimas. Não era muito de chorar, sempre sofria em silêncio, mas como desta vez estava sozinha deixei que tudo saísse.
Já tinha desistido de voltar a pedir ajuda quando ouvi passos.
- Hana! Lee Hana! Onde estás?!
Hana... Estavam a chamar-me.
Levantei-me e comecei a gritar enquanto batia novamente na porta.
- Aqui!! Aqui!! Estou presa na arrecadação!! Alguém!!
- Hana! – a voz estava perto. Percebi de quem era a voz.
- Eunji?!
- Sim! Aguenta só mais um bocado, vou buscar as chaves!
Finalmente alguém me tinha encontrado. O meu medo desaparecera.
Não passara muito tempo quando voltei a ouvir passos, desta vez muito apressados, e o som de chaves a chocarem umas contra as outras.
- Deixa que eu faço. – ouvi uma voz masculina vinda do outro lado. Onde está a Eunji?
- Eunji?! – chamei-a assustada.
Ouvi o som do trinco e a enorme porta de metal foi aberta.
Senti o meu braço esquerdo ser puxado mas não consegui ver quem era por causa das lágrimas que se tinham acumulado nos meus olhos castanhos.
- Está tudo bem agora.
Aquela voz... Limpei os olhos e reparei em quem segurava o meu braço.
- Kyuhyun?...
Ele ofegava.
- Hana, está tudo bem agora. Eu estou aqui.
Fui envolvida num abraço caloroso. Senti uma das suas mãos passar pelos meus cabelos, acariciando-os.
- Não te preocupes, a partir de agora irei proteger-te para sempre.
Sorri. Para além do meu irmão, ele era o único em quem confiava.
- Obrigada... – aconcheguei-me mais nos seus braços.
Estas imagens do passado... Já não me lembrava delas, mas ele... Não consegui ver o seu rosto...
Fui acordada do passado quando Kyuhyun virou o meu braço.
- Estás a sangrar.
- Hana! Estava tão preocupada. – senti Eunji abraçar-me fortemente. Com o braço que Kyuhyun não segurava, abracei-a com receio.
- Anda, tenho pensos na mala. – disse Kyuhyun olhando para o meu punho.
Desprendi-me da sua mão com vergonha e olhei para as minhas.
- Oh, não! Dói muito? – perguntou Eunji preocupada.
- Ah, nem por isso... – com aquilo tudo nem sequer tinha reparado. Devo ter batido tanto na porta metálica a ponto de sangrar.
- Idiota... – murmurou Kyuhyun enquanto caminhava em direção ao edifício onde tínhamos aulas.
Eunji e eu seguimo-lo. Ele não pronunciou nenhuma palavra o caminho todo enquanto a Eunji perguntava-me quem me tinha feito tal coisa. Respondi que foi aquele grupinho do outro dia.
- Temos de falar com o professor! Quando eles atiraram a borracha não foi necessário contar pois foi uma pequena coisa, mas eles trancarem-te na arrecadação já é muito mau! – refilou irritada.
- Mas se contarmos, eles podem fazer algo pior...
- Ou podem parar. – Kyuhyun finalmente falara alguma coisa.
- É! Ele tem razão! – exclamou Eunji apontando para ele.
- Ele tem nome, é Kyuhyun. – retorquiu Kyuhyun olhando para trás.
-Sim, sim. Não interessa. Hana, tens de contar!
- Mas eu... – murmurei. Tinha medo do que eles poderiam fazer a seguir. Já não seria a primeira vez.
- Pronto. Deixa estar, logo vemos isso. Ela deve estar cansada. – disse Kyuhyun entrando na sala e indo em direção à sua mochila.
- Ok, entendi... Mas se eles fizerem mais alguma coisa temos mesmo de contar! – falou Eunji cruzando os braços.
- Está bem... – acabei por concordar, mesmo com receio.
Kyuhyun aproximou-se de mim já com os pensos. Agarrou na minha mão esquerda e colocou-o.
- Deixa ver a outra. – disse segurando a minha outra mão. Também estava a sangrar e por isso colocou outro penso.
Olhei para as minhas mãos.
- Pororo...
- É, guardei-os na minha mala e acabei por não tirar. Mas pelos vistos é melhor não os tirar já que tens tendência para te magoares. – respondeu colocando novamente a caixa na sua mochila.
- Do que é que ele está a falar? – perguntou Eunji.
- Não é nada. – respondi.
- Sei que és tímida mas não precisas de esconder isso! – reclamou fazendo um biquinho com os lábios. Foi a primeira vez que a vi comportar-se assim.
- Desculpa... Eu depois conto.
Agora tinha três pensos do Pororo. Parecia uma criança que tinha ido brincar no parque e que acabou por se magoar. Sim, pôde ter passado um dia desde que ele pôs o penso no meu joelho mas eu não cheguei a tirá-lo, já não deveria estar a sangrar mas mesmo assim não o retirei.
- Oh não! Esqueci-me deles! – exclamou Kyuhyun depois de olhar para o relógio branco e preto que se encontrava mesmo no meio da parede, por cima do enorme quadro de ardósia mal apagado.
Olhei, também, para o relógio e já era tarde. Eram 18:30h. Aquele incidente todo havia demorado uma hora.
Kyuhyun fechou a sua mochila, pegou nela e dirigiu-se apressadamente para a saída da sala. Sem pensar, corri atrás dele.
Já no corredor, agarrei uma ponta do seu blazer azul-escuro para o chamar.
- O que foi, Hana? Estou com pressa. – disse virando o rosto para mim.
- Ah... Obrigada... por tudo. – finalmente ganhei coragem para falar o que já queria ter dito há algum tempo.
- Não foi nada. Das próximas vezes tem mais cuidado. Não quero estar sempre a gastar dinheiro em pensos. Idiota... – murmurou a última palavra virando-se novamente para o seu caminho.
Voltei para dentro da sala de aula onde Eunji me esperava.
- Queres que te acompanhe até casa?
- Mas tu não precisas de ir também para a tua? Já está tarde...
- Não faz mal! Vives muito longe daqui? – perguntou sorrindo.
- Uns quinze minutos.
- Eu vivo a uns dez, por isso não há problema!
Pegámos nas respetivas mochilas escolares e dirigimo-nos para a porta, mas Eunji de repente parou e olhou para mim.
- Tens uns elásticos?
- Não, porquê? – perguntei confusa.
- Para te fazer uns totós, já que com esses pensos do Pororo pareces uma criança. – respondeu rindo e fazendo o seu habitual eye smile, sempre muito fofo.
Não pude deixar de rir, eu parecia mesmo uma criança.
- Acho que é a primeira vez que ouvi a tua gargalhada! É estranha!
- Sério?! – perguntei preocupada.
- Não! Estava só a brincar. – respondeu novamente rindo, agarrando no meu pulso e puxando-me para irmos embora da escola.
Sorri.
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