História I Can Make You Happy - Fogo e gasolina

Pov. Camila 

Encaro qualquer ponto do céu pela sacada do quarto, enquanto a brisa gelada do mar bate em meu rosto deixando meu cabelo desarrumado. Olho em meu relogio de pulso e percebo que o sol vai demorar para nascer. Estou com tão preocupada com Lauren que mal consigo respirar e que dirá pegar no sono. 

Ela já está com um pouco mais de sete meses e de uns tempos pra cá vem sentindo tanta dor que mal levanta da cama. Noite passada fiz questão de leva-lá ao hospital e os médicos passaram alguns medicamentos e recomendaram repouso absoluto, mas nada tem adiantado. Eu estou pirando, já liguei três vezes para o médico e na última ligação ele disse: " qualquer coisa pode acontecer a partir dos sete meses Srta. Cabello. E certamente as dores que sua namorada está sentindo é porque está entrando em trabalho de parto".

Desgraçado! Tudo que fez foi me deixar maluca.

É por isso que estou assim. É por isso que meu coração está batendo em minha gargante, e minha cabeça, meus ouvidos, minhas mãos, todo meu corpo estão trêmulos. Eu estou apavorada, não sei oque fazer. Já liguei até para minha mãe e ela me pediu calma, se Lauren me visse chorando provavelmente não ia ajudar na situação então é por isso que não estou lá dentro, deitada com ela. Ve-lá com sofrendo me deixa profundamente triste.

–Camz? – Virei meu rosto na direção da voz e respirei fundo vendo Lauren parada com a mão apoiada na porta de vidro e a outra na barriga. 

–Lolo, por que não está deitada? – Fui até ela e a puxei com toda delicadeza do mundo para dentro do quarto.

–Você não estava comigo. Fiquei preocupada! – Respondeu enquanto eu arrumava seu lado da cama de um jeito confortável. –Camz! Eu não consigo dormir. Eles estão muito agitados e todas as posições que eu fico parece não se encaixar.

Droga! Pela primeira vez eu não queria encarar aqueles olhos verdes brilhantes para não me descontrolar. Minha mãe disse que eu precisava ficar calma e olhando pra Lauren tão tristonha e o rosto contoecido por dor eu não conseguia.

Maldito médico que disse que essas dores eram normais. Normais uma porra. Normal era ter a minha Lauren sorrindo, os olhos brilhando, e feliz. Como estávamos nessas últimassemanas depois que voltei de Nova York. Lauren estava tão radiante, planejamos o casamento, uma viagem para Madri, curtimos cada momento como nunca fizemos. Transamos, saímos em jantares românticos, dançamos na praia, comemoramos o sucesso que foi a campanha da marca que eu estava representando. Pela primeira vez em muito tempo estávamos felizes, até ela sentir fortes dores durante a noite, que com o passar do tempo foi se estenderam e agora só o recomendado é ficar deitada, sem nenhum esforço. 

–Você estava chorando? –Suas mãos tocaram meu rosto quando estendi o macio edredom até seu tronco. –Camz! Eu estou bem meu amor.

Disse com a voz calma fazendo um delicioso carinho em meu rosto.

–Logo vamos estar com nossos lindos bebês nos braços e tudo vai estar bem... vamos ser uma linda família. 

–Eu sei. Mas eu estou com tanto medo, odeio ve-lá nessa situação. Se eu pudesse trocaria de lugar com você. –Digo e beijo sua mão. 

–Camila... eu já falei o quanto te amo? –Sorriu me olhando nos olhos. –E o quanto é linda? Perfeita?

–Hoje não. –Respondi com um sorriso contido e ela se inclinou para me beijar.

–Não? Nossa que péssima noiva eu então. –Respondeu brincando. –Então vamos lá... Eu te amo Karla Camila Cabello, você é mulher mais linda desse mundo, meu presente de Deus.

Uniu carinhosamente nossos lábios dando início a um beijo romântico, calmo e lindo.

–Não fique desesperada, eu estou bem e feliz. Vamos ser mães e isso deve ser motivo de alegria, festa para nós. –Sussurrou baixinho. 

–Mas...

–Sem mas. Vamos mudar de assunto, e já que não pode trocar de lugar comigo faça algo útil e cante pra mim. – Disse mandona.

–Lauren! –Reviro meus olhos. – Você não se cansa nunca? Todos os dias me pede para cantar.

–O que posso fazer se esse é o único jeito que faz seus filhos me dar um minuto de sossego? Acho que eles gostam da sua voz tanto quanto eu.

OK. Lauren sempre consegue me convencer falando dos nossos filhos e que só assim consegue dormir. E eu até acho que seja verdade, até porque esse foi um costume que ela adquiriu desde que cheguei de Nova York.

–Algum pedido em específico futura Sra. Cabello? –Perguntei pegando o violão que já estava ali pro tô para atender os desejos dela.

–Não. Só quero ouvir você. –Sorriu animada mordendo o lábio.

Ao menos ela gostava de me ouvir e isso era a única coisa que me dava motivação... por ela eu tocava até meus dedos sangrarem e a minha voz se perder.

Pessoas dizem que nós não deveríamos estar juntos

Somos jovens demais para saber sobre "para sempre".

Mas eu digo que eles não sabem o que estão falando

Porque esse amor só está ficando mais forte.

Então eu não quero esperar mais

Eu só quero dizer ao mundo que você é minha, menina.Ohh.

Eles não sabem sobre as coisas que fazemos

Eles não sabem sobre os "eu te amo".

Mas eu aposto que se eles soubessem

Eles ficariam com ciumes de nós

Eles não sabem sobre todas as noites em claro.

Eles não sabem que eu esperei a minha vida toda.

Apenas para encontrar um amor assim tão certo.

Amor, eles não sabem sobre

Eles não sabem sobre nós

Tirei minha atenção dos meus dedos que deslizavam pelas cordas de aço e olhei de relance para Lauren. Sorri encantada vendo a calmaria que seu rosto se encontrava com apenas algumas acordes e pequenas estrofes.

Apenas um toque e eu era um crente

Cada beijo fica um pouco mais doce

Está ficando melhor

Está ficando melhor o tempo todo, garota

Eles não sabem sobre as coisas que fazemos

Eles não sabem sobre os "eu te amo"

Mas eu aposto que se eles soubessem

Eles ficariam com ciumes de nós

Eles não sabem sobre todas as noites em claro

Eles não sabem que eu esperei a minha vida toda

Apenas para encontrar um amor assim tão certo

Amor, eles não sabem sobre

Eles não sabem sobre nós

Eles não sabem o quão especial você é

Eles não sabem o que você fez ao meu coração

Eles poder dizer qualquer coisa que quiserem

Porque, eles não sabem sobre nós

Eles não sabem o que fazemos de melhor

Isso é você e eu, nosso pequeno segredo

Mas, eu quero dizer a eles

Eu quero dizer para o mundo que você é minha, garota

Nem precisei terminar a música e Lauren já estava inerte em seus sonhos, dormindo tranquilamente. Era sempre assim! E nada me deixava mais feliz do ve-lá tranquila, e saber que ela ama tanto me ouvir que me tornei sua válvula de escape para a dor.

Deixei o violão de lado e me encostei melhor na poltrona. Assim como Lauren adquiriu um vício de só dormir depois de me ouvir cantar, eu adquiri um de ficar observando-a por um longo período de tempo. Eu faço isso com tanta admiração que quase sei de cor todos os seus detalhes. O cabelo preto, caido sobre a cama, a sobrancelhas grossas perfeitamente desenhadas, características perfeitas e esculpidas, sua boca rosada e sensual agora comprimida em uma linha reta.

Somos duas loucas apaixonadas, nossas amigas sempre nos diz isso. Essa mulher é tudo que eu pedi na vida, não a nada que eu ame mais do que Lauren e nossos bebês... Eu faria qualquer coisa por eles, arriscaria qualquer coisa... Para ve-los felizes. Pois eram a minha família.

[...]

–Camila! 

Acordei assustada com o chamado de Lauren e rapidamente abri meus olhos para olha-lá. 

–O que foi amor? –Falei roucamente vendo seu rosto se contorcer pela dor e ela se encolher apertando meus dedos com uma força brutal. – Lauren?

–Camz! –Choramingou com a mão sobre a barriga e eu levantei abruptamente da cadeira.

–O que foi amor? –Tirei o edredom de cima do seu corpo e meu estômago embrulhou com o intenso arrepio que percorreu meu interior ao ver sua calça moletom manchada de sangue.

–Esta doendo Camila. –Chorou com as mãos na barriga e aquilo me quebrou.

Esmagou meu coração. Eu não era uma chorona, mas não pude evitar as lágrimas que encherem os olhos ao ver Lauren chorando de dor. 

–CAMILA.  –Lauren gritou mais um vez e foi aí que me toquei que eu tinha paralisado ao invés de ajuda-lá. –Por favor.

Rápido e com cuidado a peguei em meu colo e ela se encolhe em meus braços, mole e indefesa. 

–CHARLES... CHARLES... CHARLES... –Gritei o motorista seguidas vezes enquanto descia com Lauren em meus braços e a levava até a garagem.

–O que foi Cam... –O motorista apareceu afoito com e arregalou os olhos vendo a roupa de Lauren com sangue.

–ABRA A PORTA CHARLES.  –Gritei, rapidamente ele fez e enquanto eu prendia o corpo quase desfalecido de Lauren no cinto de segurança ele já deu a volta e ligou o carro.

–Aaaahhh... –Um grito de dor sai dos lábios de Lauren e isso me deixa bem mais nervosa que já estava. 

– Leve-nos para o hospital agora! –Falo desesperada e Charles sai da garagem com o carro cantando pneus.

Meu coração revira em meu peito, eu posso ver e sentir as contratações de Lauren através da fina camisa de dormir que ela vestia. 

–Respire fundo meu amor. –Digo quando sua mão aperta a meus dedos com tantá força que alguns estalam.

–Camilaaa...– Engasgou com suas próprias palavras sem força para gritar.

–Quanto tempo ainda falta para chegarmos nesse hospital, Charles? –Eu grito.

–O hospital é longe da ilha Camila acho que em vinte minutos.

–O QUE?

–Camila, não grite. –Lauren diz tentando me acalmar. –Se acalme. Toda vez que grita amplia minha dor.

Tento controlar minha ansiedade durante o caminho, mas já perto do hospital sinto uma pequena quantidade de água derramar em meu colo. Era a bolsa. A prova que nossos filhos estavam vindo ao mundo.

Quando chegarmos na entrada de emergência do hospital uma maca e o medico já estava a nossa espera, ainda bem que Charles teve a idéia de ligar para o hospital no caminhou. Lauren foi levada para um quarto onde uma enfermeira a preparou vestindo uma camisola de hospital e colocando os devidos equipamentos em seu corpo. Alguns minutos depois o médico apareceu sorridente, colocou as luvas nas mãos e espalhou um gel pelos dedos.

–Srta. Jauregui escorregue para baixo um pouco, coloque as pernas para cima sobre os estribos e relaxa. –Ele só foi examinar o colo do útero dela, mas isso não me deixou nada satisfeita.

– Você está com cinco centímetros de dilatação Sra. Jauregui. Para um parto normal você precisar dilatar dez, mas não se preocupe porque até aqui tem dado tudo tranquilo para um parto normal...

–O que? –Me desesperei. –Normal? Lauren, você não pode fazer um parto normal. São gêmeos.

Meu corpo tremeu de medo e eu passo as mãos no rosto tentando espantar o terror que inunda minha mente.

– O que diabos pensa que está fazendo?Tá entando se matar? São dois bebês, vão exigir o maximo de força do seu corpo e você passou as últimas duas semanas em uma cama, fraca. E eu ainda vi você sangrar antes mesmo da bolsa se romper. – Me virei para o médico. – Não podemos apenas fazer uma cesária e livrar ela de toda essa dor?

– Srta. Cabello é bsolutamente normal ocorrer um sangramento durante um trabalho de parto então não fique preocupada, não tem nada de errado. –Disse o médico sorrindo. – Eu senti a cabeça de um dos bebês. Srta Jauregui está quase pronta para um normal. Eu não recomendo cesárea a menos que os bebês estejam em apuros oque não é o caso.

–Mas e se...

– Se é com a dor que está preocupada, posso garantir que uma cesária será bem pior. –Apoiou a mão em meu ombro. – Fique tranquila vou fazer o possível e o impossível para que sua noiva e seus filhos estejam em seus braços até o sol nascer.

Então Lauren se vira pra mim é respira fundo.

– Camila, eu quero um parto natural. – Ela geme e em seguida dá um grito de dor apertando minha mão. –Já tomei minha decisão.–Diz ao médico e ele nos deixa para conversar com a enfermeira que irá ajudar Lauren a chegar nos dez centímetros precisos.

Lauren fazia com que eu me sentisse confusa, tonta e fora do controle com suas teimosias. Eu não queria que ela fizesse normal, mas o corpo era seu e minha opinião não afetaria em nada na sua escolha. Era isso que muitas vezes nos transformava em "o casal problema"... o fogo e a gasolina. Lauren era teimosa e eu preocupada, ela não se importava com as consequências e eu sou desesperada. Eu sabia que não tinha mais alternativa então simplesmente balancei a cabeça em silêncio concordando com a escolha feita por ela.