História About Sun And Soulmates (Let's Be Happy) - The Universe Is A Bitch (Why It Has To Be Like This)

Quando Namjoon ouviu o estardalhaço vindo da sala e da cozinha ele supôs que Taehyung tivesse finalmente vindo para a limpeza de geladeira semanal.

Ele sempre dizia que era porque a comida deles era melhor, mas Namjoon sabia que na verdade Taehyung simplesmente tinha sentido falta deles e queria uma desculpa para aparecer no apartamento. Bom, e a comida era realmente boa, considerando que Jin tinha graduado em nutrição e agora estava começando um mestrado em nutrição infantil.

- Acho incrível o fato de que você sempre consegue manter o Soonshim alimentado enquanto você falha astronomicamente nessa tarefa na hora de se manter alimentado. – Ele gritou do quarto, indo em direção à sala quando ouviu Seokjin reclamando.

Mas a pós graduação do Jin não era realmente relevante, o que importava era que Taehyung estava aqui e Namjoon tinha recém abastecido o estoque dele de Comidas Que O Jin Não Podia Saber Que Ele Comia. E embora Seokjin não soubesse desse estoque – Namjoon torcia para que ele nunca descobrisse -, Taehyung sabia exatamente onde ele ficava e se Taehyung comesse todos os Peperos dele de novo Namjoon teria que fazer uma intervenção.

Toda via uma intervenção não foi necessária, porque assim que ele chegou no corredor ele se deparou com olhos castanhos, cabelo loiro alaranjado – que parecia tão, tão macio – e lábios que conseguiam rivalizar os das Kardashians qualquer dia, enrolados em um suéter fofinho.

Nesse momento o coração dele talvez tenha parado um pouco.

Talvez.

- E você honestamente tá surpreso com isso? – Jin perguntou retoricamente enquanto Taehyung dava de ombros e replicava com:

- Prioridades.

Namjoon sabia que na tinha dito alguma coisa pouco antes de chegar ao fim do corredor, ele tinha quase certeza disso, mas as orelhas dele pareciam cheias de algodão e os sons ao seu redor abafados e distantes, além de que agora estava há aproximadamente vinte segundos encarando fixamente o amigo novo do Taehyung e isso provavelmente era meio estranho, mas ele estava o encarando de volta e Namjoon não sabia exatamente como proceder, o mundo parecia estar virando no seu eixo de uma forma um pouco estranha. A cabeça dele que geralmente ficava pulando em todas as direções ao mesmo tempo parecia completamente em branco, e agora aqueles lábios grossos estavam se movendo mas Namjoon não conseguia ouvir nenhum som saindo deles e wow é normal a pulsação dele estar tão rápida?

- Namjoon? – Uma mão se enfiou no campo de visão dele e Namjoon deu um passo para trás engolindo e sentindo a garganta seca. – Toda aquela física finalmente derreteu o teu cérebro?

- Deve ter sido todo aquele café instantâneo que ele bebe como se fosse água – Jin murmurou da poltrona, o tom extremamente debochado, e Namjoon sentiu lentamente as suas funções cerebrais voltarem a funcionar.

- Eu nem bebo tanto café assim. – Namjoon protestou fracamente quando ele finalmente conseguiu fazer a sua língua se mover, ela parecia grossa na boca dele e a sua voz falhando um pouco ao sair.

- A tá. Diz isso pras sete xícaras de café que eu sei que eu vou encontrar se eu entrar no teu quarto agora. – Jin rebateu com uma risada irônica e Namjoon não podia discordar, realmente tinha umas sete xícaras de café no quarto dele e ele sabia que teria que se livrar da evidência antes que o Jin descobrisse que estava realmente certo.

- Como se o Yoongi não fosse três vezes pior. – Namjoon respondeu automaticamente esperando que com isso ele conseguisse desviar o assunto porque as sinapses dele ainda não estavam funcionando, ele conseguia sentir os olhos dele o fitando e o coração dele ainda estava batendo rápido demais para ser considerado normal (e, sim, talvez ter tomado sete xícaras de café tenha sido realmente uma ideia muito ruim porque toda aquela cafeína provavelmente não estava ajudando em nada a esse ponto.)

- O Yoongi é um caso perdido, o dia que a alimentação dele parar de ser uma bosta o inferno vai congelar. – Seokjin revirou os olhos, e Namjoon soltou uma risadinha, sentindo a gravidade voltar ao normal lentamente agora que ele tinha algo novo para ocupar o cérebro e ele não estava mais olhando para o novo amigo do Taehyung.

- Na verdade o terceiro e o nono círculos do inferno já são congelados, mas tudo bem. – Ele disse sem tentar disfarçar o tom de deboche, apesar de ainda estar sentindo-se um pouco desnorteado, quando Seokjin o fitou com um olhar nem um pouco impressionado.

- Isso é a Divina Comédia, né? – Taehyung finalmente voltou a se manifestar cuspindo pedaços do “sanduíche” enquanto falava. – Jimin disse que fez uma apresentação de dança contemporânea baseada nela ano passado.

Namjoon estava prestes a perguntar quem era Jimin quando a pessoa ao lado de Taehyung sorriu, e concordou animadamente, lançando Namjoon em uma nova espiral de problemas cardíacos.

- Ah! Sim! Cada círculo tinha uma coreografia, eu participei da do segundo e do sétimo, se eu não me engano...

Com isso Taehyung perguntou com uma expressão desinteressada no rosto que era mais artificial que a cor do cabelo dele qual era o tema desse ano, e Jimin fez uma careta, reclamando que o tema era segredo e mandando Taehyung parar de perguntar sobre, finalizando com um soco no ombro do outro, que quase derrubou o prato.

Namjoon não era realmente muito bom com poesia, formulas matemáticas e lógica vinham com muito mais facilidade, mas Jimin sorria como o sol surgindo por entre uma camada de nuvens e o coração dele estava fazendo uma série de coisas que ele definitivamente não deveria fazer.

Espalhadas pelo mundo existiam milhares de lendas, ninguém sabia exatamente quando e onde elas tinham começado, mas os relatos sobre almas gêmeas datam desde 3000 a.C., provavelmente ainda antes. Namjoon amava isso, almas gêmeas o fascinavam e ele já tinha gastado uma quantidade de tempo obscena pesquisando sobre. A teoria favorita dele era de que quando o universo foi formado, quando a massa inteira do universo se condensou num único ponto, antes de se expandir numa explosão, as partículas e átomos se reorganizando em coisas novas, moldando-se nas estrelas e planetas, alguns desses átomos estavam próximos uns dos outros, e agora eles tendem a sempre se aproximar. Namjoon gosta de acreditar que as almas gêmeas são essas partículas de pó de estrela tentando se reunir novamente.

Namjoon não particularmente acreditava na infalibilidade das almas gêmeas, como os filmes e livros às vezes tentavam empurrar a ele, mas ele acreditava em alguma coisa. E algo que Namjoon acreditava, nesse exato momento, era que se alguém nesse mundo era a alma gêmea dele, esse alguém era Jimin. Não havia outra explicação plausível para a forma que ele estava se sentindo ao redor dele.

Mas por que Jimin parecia tão inabalado?

-

Jimin não sabia o que estava acontecendo.

Ele sabia que Taehyung estava tentando arrancar dele informações sobre a apresentação do meio do ano do estúdio de dança e que Seokjin parecia um pouco irritado com a presença deles – ou talvez só com o excesso de barulho e o fato de que Taehyung estava comendo o equivalente a três dias de comida em um único sanduíche –, mas ele não sabia por que os olhos de Namjoon estavam correndo entre o chão, a parede e ele, nem porque ele conseguia sentir grandes mãos invisíveis apertando o seu coração.

Jimin tentou agir normalmente, mas havia algo fundamentalmente errado em tudo aquilo, e ele não sabia o que fazer.

Em algum momento Seokjin pareceu ter redirecionado o assunto e dito algo sobre todos eles saírem para fazer alguma coisa, mas Jimin apenas negou e disse que precisava ir para casa porque ele sentia como se tivesse engolido três quilos de chumbo e a visão dele estava embaçada nas beiradas. Jimin não sabia explicar exatamente o que era, mas algo estava errado, errado, errado, e simultaneamente fogo e gelo pareciam correr pelas veias dele.

Jimin precisava sair dali e precisava sair agora antes que o pânico levasse a melhor e ele não conseguisse mais manter o sorriso falso no rosto.

Taehyung pareceu confuso com a sua fuga repentina, mas o deixou ir, pedindo que ele o ligasse quando chegasse em casa.

Jimin não ligou. Ele precisava de um tempo para respirar e tentar fazer o mundo voltar aos eixos, mas era tão, tão difícil com o vazio estalando no peito dele como se de repente ele fosse se tornar côncavo e consumir todo o resto do seu corpo.

Ele não sabia o porquê de ele estar passando por aquilo, simplesmente não fazia sentido. Ele não tinha uma marca. Ele não tinha. E desejar por uma não mudaria nada. O Universo decidiu que ele não merecia uma porque os seus pais não seguiram as regras e se apaixonaram pela pessoa errada, e era tão, tão injusto porque ele não tinha culpa disso. Não era justo que ele tivesse que ser punido por um erro dos seus pais.

Jimin odiava isso, odiava a raiva feia e crua que ele sentia dos seus pais de vez em quando. A culpa não era deles também, eles não sabiam – eles eram jovens apaixonados – mas era difícil não sentir o remorso amargo e pegajoso quando Jimin sentia que estava sendo partido ao meio e que o seu coração talvez fosse literalmente quebrar ao meio.

Ele estava tão cansado de sentir dor, tão cansado de procurar com os olhos toda vez que ele se encontrava diante de um espelho por uma Marca que ele sabia que não existia.

- Eu não tenho uma alma gêmea. Eu não tenho. – Ele gritou para si mesmo, fitando o reflexo nú no espelho. A voz úmida e rouca. Ele tinha procurado de novo, e de novo, e de novo, mas não havia nada a não ser pele, lisa e limpa como uma tela em branco. – Não devia doer tanto. – Ele murmurou uma última vez antes de sentir uma lágrima escorrendo pela sua bochecha, por fim virando as costas para o espelho.

-

Depois que Jimin saiu às pressas do apartamento Seokjin fitou Taehyung confuso e perguntou se estava tudo bem.

Se Taehyung fosse ser completamente honesto ele não fazia ideia, mas Jimin não parecia muito inclinado a compartilhar pelo tom de voz agudo quando ele disse que ligaria para ele quando chegasse em casa, então Taehyung apenas deu de ombros e disse que provavelmente era só cansaço depois de posar por tanto tempo.

Taehyung não conhecia Jimin há muito tempo, mas ele percebeu que assim que Namjoon apareceu no início do corredor os ombros dele tencionaram e os olhos dele endureceram, apesar de o sorriso ter continuado no seu rosto. Era um sorriso forçado e de plástico, mas era bom o suficiente para enganar Seokjin e quase Taehyung também, isso se ele não tivesse visto os olhos de Jimin endurecerem de forma familiar já tantas vezes.

- Okay então. – Seokjin respondeu, dando de ombros e mandando uma mensagem para a alma gêmea dele, provavelmente convidando-o para sair também, apesar de Jimin, e Namjoon logo em seguida, terem recusado.

- Como ele lê mensagens de texto se ele... Você sabe. – Taehyung perguntou cautelosamente antes de se jogar no sofá.

- Se ele é cego? – Seokjin riu. – Você pode falar a palavra cego, ela não é uma ofensa. Jaehwan se irrita mais quando as pessoas ficam tratando ela como tabu. – Ele deu de ombros. – E o celular dele tem um programa que lê as coisas pra ele. Pede pra ele te mostrar, é muito legal.

Taehyung apenas murmurou em resposta. Ele estava perguntando mais para encher o espaço, a postura de Namjoon e a saída repentina do Jimin o deixando nervoso. Ele precisava de algo para quebrar o silêncio.

- Tem certeza que você não quer vir também hyung? – Taehyung perguntou voltando-se para Namjoon, mas ele só negou silenciosamente e voltou para o quarto.

Honestamente Taehyung não esperava uma resposta diferente, mas não custava tentar.

- Deixa ele Tae, provavelmente é só estresse.

- É... Provavelmente.

-

Algumas semanas depois do Acontecimento – como Jimin passou a chamar – Taehyung e Seokjin novamente o convidaram para sair. Dessa vez todos eles tinham decidido ir a um boliche que tinha acabado de abrir não muito longe do centro da cidade. Seokjin convidou Namjoon e Taehyung convidou Hoseok que o mandou convidar Jungkook também.

Jimin estava ansioso, ele não sabia o que esperar de um novo encontro com Namjoon, mas o ambiente público de um boliche acalmou em parte os nervos dele, além de que Jungkook e Taehyung estariam lá, fora Hoseok, era um grupo relativamente grande de pessoas e isso significava que Jimin não teria necessariamente que interagir com Namjoon.

Ficaria tudo bem.

Logo depois da aula de dança todos iriam para a casa de Hoseok, tomariam um banho, se trocariam, e de lá eles iriam para o boliche. Era um plano simples o suficiente, e a aula correu sem problemas.

Com a apresentação do meio do ano se aproximando cada vez mais as aulas se resumiam a ensaiar de novo e de novo as mesmas coreografias e calibrar alguns poucos erros aqui e ali. A esse ponto Hoseok provavelmente conseguia dançar de olhos vendados, Jimin sabia que ele conseguia.

No fim das contas Taehyung acabou voltando do estúdio com eles também, alegando que no carro do Namjoon não tinha espaço o suficiente para ele – não que o do Hoseok fosse muito maior, mas eles tinham lugar para mais um.

E Jimin não estava realmente muito impressionado, mas Jungkook e Taehyung se deram muito bem, se lançando num debate intenso sobre Marvel versus DC seguido por qual era o melhor filme de super heróis dos últimos tempos. Jungkook dizia que era a trilogia do Homem de Ferro, Jimin dizia que Jungkook tinha que parar um pouco com a obsessão por Tony Stark, e Taehyung era perseverante em afirmar que era Mulher Maravilha – no fundo Jimin concordava com Taehyung.

A conversa no carro e as brincadeiras bobas ajudaram a diminuir um pouco do nervosismo dele, e quando eles chegaram ao boliche Jimin quase não conseguia sentir o próprio estômago se contorcendo em nós.

-

Eles foram os primeiros a chegar, então a função de reservar as pistas e pedir a pizza ficou para eles enquanto esperavam os outros chegarem.

Jungkook não sabia o que era, mas algo no ar parecia carregado, era uma sensação estranha, quase como a tensão crescendo em um filme de terror, mas não exatamente. Ele não sentia a pulsação acelerando nem o medo, mas a atmosfera estava mais densa, mais pesada. Quando ele estava ainda no apartamento de Hoseok era quase um barulho de fundo, um som ambiente que ele podia facilmente ignorar, mas agora era algo tão forte e onipresente que ele não era capaz de não notar a tensão se construindo ao seu redor e ficando mais intensa a cada segundo.

E Jungkook devia ter percebido. Ele devia saber que o Universo nunca é gentil, e ele devia ter prestado mais atenção nos sinais, na familiaridade daquilo. Mas como ele poderia? Ele só tinha sentido aquilo uma única vez antes e honestamente ele preferia enterrar todas as memórias daquele dia e fingir que elas nunca existiram.

Parado ao lago de quem Jungkook supôs serem Namjoon, Seokjin e Jaehwan estava a pessoa que ocupava boa parte dos pensamentos acordados dele e praticamente todos os sonhos que ele tinha tido desde aquele dia na sala de música.

Jungkook sabia que tinha o visto primeiro, porque ele pode presenciar quase em câmera lenta o momento em que ele se virou na direção dele. Os olhos triangulares dele se arregalaram e a cor drenou do seu rosto. Jungkook estava longe demais para ouvir o que ele disse, mas ele viu claramente os lábios dele formando as palavras “puta merda” e não pode evitar a vontade de rir amargamente com a ironia de tudo isso.

Puta merda de fato, alma gêmea.