História I Do - Vinte

Jaebeom estava feliz

Agora que ele e Youngjae eram namorados, tinha permissão para enfiar o rosto no pescoço dele e se deliciar com o cheirinho bom que ele possuía, por horas.

Podia bagunçar o seu cabelo, este que já estava ligeiramente grande e cobria seus olhos; podia entrelaçar as mãos com as suas e brincar com os barulhos que os diversos anéis faziam quando entravam em contato.

Jaebeom também havia adquirido uma nova mania: distribuir beijinhos nas recém-descobertas pintinhas que o Choi tinha. Youngjae não gostava muito dessa mania em particular, pois lhe fazia cócegas e sua risada não era lá a mais discreta.

Suas crises de riso duravam mais do que ele julgava um período aceitável.

Mas o que Jaebeom podia fazer se elas lhe pareciam tão convidativas? Duas delas em especial: a que ficava na nuca (Youngjae sempre se arrepiava por inteiro quando ele deixava um selar ali, e praguejava variações de “Im Jaebeom está tentando me matar”); e a que ficava na clavícula, porque, bem, quando o Im descia os beijos da boca para lá, as mãos de Youngjae iam automaticamente – talvez possessivamente? – para seu cabelo.

Essa era a outra parte legal de estar junto com o Choi: poder finalmente beijá-lo o quanto quisesse.

Atenção ao “quanto” e não quando.

O mais novo era impecável com sua rotina e nem a desculpa engraçadinha “Seu chefe não vai ligar pro atraso” de Jaebeom o fez ficar mais uns minutos na cama de manhã.

Não que Jaebeom fosse assim tão relaxado e antiprofissional, mas uma vez na vida não ia fazer mal a ninguém, né? Afinal de contas, ele era o chefe.

O Im se sentia protagonista de uma comédia romântica na fase final. Ou era normal apenas ficar encarando o namorado e pensar que é a pessoa mais sortuda do mundo por poder chamá-lo de seu?

Com tanto tempo sem aquele sentimento gostoso o deixando inebriado, era como se fosse a primeira vez que estivesse apaixonado – com todo o significado que essa palavra contém.

Mal acreditava que seis meses atrás iria se casar com alguém por puro comodismo. Quatro anos com Inhyung não tiveram metade da cumplicidade e afeto que os meses com Youngjae trouxeram.

E agora que era oficial, Jaebeom iria se jogar com toda a imprudência que regem as mais calorosas paixões. Não estava em seus planos parar de falar do seu namorado tão cedo.

E isso incluía as, hum, agora oito pintinhas descobertas e catalogadas para fins puramente científicos.

Entre as mil e uma divagações, Jaebeom mal sentiu os dias, meses passando. Na verdade, só se lembrou do conserto em sua casa quando ligaram dizendo que iria atrasar mais umas semanas. Estava tão distraído que agradeceu o encanador ao saber da notícia, o pobre senhor ficou sem entender nada.

[...]

O final de semana no apartamento de Youngjae também seguia uma rotina; nas noites de sábado, geralmente ele e Jackson compravam uma pizza e jogavam conversa fora até Yugyeom chegar das aulas de dança, aí eles viam aqueles realities trash da MTV, já que nunca chegavam em um acordo sobre um filme.

Aquilo era sagrado, e mesmo agora que os dois não eram mais solteiros, seguiam o programa.

Youngjae retirava a pizza do forno quando Jaebeom apareceu do nada, lhe deixando um beijo na bochecha. Ele sinceramente não sabia se amava ou odiava aquelas surpresas. Jesus, num ritmo desses morreria do coração logo, logo.

— Jaebeom, seja sincero. – virou-se para encarar o outro, colocou as luvas na bancada e as mãos nos quadris. — Você 'tá planejando me fazer ter uma parada cardíaca?

— Uhum. – murmurou, se aproximando. — Mas de um outro jeito.

Jaebeom fez com que Youngjae se sentasse na mesa de jantar, lhe deixando leves mordidas pela extensão do pescoço e clavícula, esperando uma reação do mais novo. Iniciou um beijo lento até demais para o gosto do Choi, que fez questão de demonstrar sua insatisfação ao aproximá-lo mais com as pernas e morder o lábio inferior com mais força que o habitual.

— Bonito hein, Youngjae? – a voz de Jackson invadiu o ambiente. – Boa noite pra vocês também. — O Choi bufou e saiu de cima da mesa, indo ajudar o loiro e Jinyoung com as sacolas. — Olha, Jaebeom, seja bem-vindo à família e saiba da regra número um: preservar a inocência da nossa criança. – apontou para Yugyeom que vinha logo atrás, tendo os olhos tampados por Bambam.

— Jackson, um dia teremos que soltar ele no mundo. – Youngjae suspirou. — Contar de onde vem os bebês e essas coisas.

— Essa fase 'tá longe ainda. – Jackson bufou. — Você não percebe que ele ainda tem apenas 8 anos?

— Na verdade, acho que são cinco. – Jinyoung interveio. — Ontem ele me perguntou se os Estados Unidos ficam na América.

— Puxou pro Youngjae, certeza. – Jackson riu. — Jinyoung, acabei de perceber uma coisa. Desde que você chegou, não te perturbei nem uma vez. Como está o meu hyung favorito, hein?! – Perguntou enquanto apertava as bochechas dele.

— E depois minha tia ainda pergunta o motivo de eu não visitar vocês. – Jinyoung falou quando conseguiu se desvencilhar do aperto.

Desde que virou melhor amigo de Yugyeom, coincidentemente num feriado, no qual a família Kim se reunia para comer, fazer perguntas constrangedoras para os netinhos e falar mal do tio rico que nunca vinha, Jackson adotou como missão pessoal atazanar a vida do pobre Jinyoung, que só queria conseguir sobreviver ao ficar de babá de Yugyeom – que na época já tinha seus 15 anos, mas segundo todo mundo ainda era um bebê.

Nada mais encorajava Jackson do que as patadas que levava de Jinyoung, porque como ele mesmo dizia “Eu rejeito você rejeitar meu amor.”

E Yugyeom? Ria disso tudo, apreciando seu suco com gosto de vingança pelo primo ter lhe contado o final de Lost naquela noite fria de 21 de janeiro de 2009, justo quando estava prestes a ver a última temporada.

— A pizza já 'tá pronta? – Bambam indagou, logo direcionando o olhar para o amigo que ainda estava apoiado na mesa. — Ou a gente vai assar ela com esse fogo do Jaebeom?

— Olha, eu já passo vergonha sozinho, não sou obrigado a isso aqui. – Yugyeom fingiu indignação, recebendo risadas como respostas dos mais velhos.

— A pizza 'tá pronta sim, seu pervertido. – Youngjae resmungou, colocando as luvas novamente para pegar a pizza e pôr na mesa.

— Ué, vocês passaram o dia sozinhos e trancados aqui, queria que a gente pensasse o que? Era dia de faxina e cê 'tava arrumando o guarda-roupa? – Bambam cruzou os braços.

— O hyung faz isso mesmo. – Yugyeom comentou. — Eu fiquei surpreso de chegar aqui e ele não estar arrumando nada.

— Que casal mais chato, pelo amor de Deus! – o tailandês bufou. — Se fosse eu, já tinha saído pra exibir o boy. – fez uma pausa momentânea, ponderando se contava a próxima informação ou não. – Se bem que... – decidiu contar, puxando Youngjae pro sofá. — Vem cá, Jae, eu tenho que te contar os podres do seu namorado. – disse. — Jaebeom é o cara mais mão de vaca que você vai conhecer na vida. Uma vez ele deu uma bronca num ficante dele que tentou beijar no cinema! – riu, sendo acompanhado por uma risadinha do Choi. — A cara do garoto quando ele disse que não podia desperdiçar dinheiro daquele jeito foi uma das melhores coisas que eu vi na vida! – gargalhou com a lembrança.

— Ô Bambam, cê não tem um namorado pra beijar e parar de falar essas coisas desnecessárias? – Jaebeom reclamou, atirando almofadas no amigo e sentou do lado do namorado em seguida.

— Não me agride que eu ainda tenho as fotos de quando você, não satisfeito em ficar feio loiro, fez umas mechas laranjas e ficou parecendo o galinho chiken little! – ameaçou e os outros riram, se sentando nos sofás e Jackson deixando a pizza e os refrigerantes na mesinha de centro.

— Ah, se for por isso, eu também tenho as tuas, Kunpimook! – Jaebeom revidou.

— Pode mostrar, pois eu sempre fui lindo, isso não me atinge. – Bambam mostrou a língua, sentindo o braço de Jackson circundando sua cintura. — Vou guardar tuas fotos pra depois, Jaebeom, não quero ser o responsável por fazer o Youngjae perder o encanto por você.

— Que pena, agora a treta tava legal. – Youngjae suspirou.

— Estamos namorando oficialmente tem uma semana e você já me apunhala desse jeito? – Jaebeom formou um bico.

É, oficialmente. Depois daquele episódio memorável do primeiro beijo do elevador, os dois chamaram a fase de ficantes de “tipo namorados”, e durou um mês. Até Jaebeom ficar de saco cheio do lenga lenga e pedir Youngjae em namoro de verdade, real e oficial num domingo a tarde, daqueles que você se pega refletindo na vida e tudo mais. Nem é preciso comentar o quando Youngjae reclamou depois com ele por estar usando suas roupas de faxina numa ocasião tão especial quanto essa.

— Desculpa, – riu. — foi mais forte que eu. – Youngjae selou os lábios do namorado, ganhando um coro de “eww” por parte dos amigos, mesmo o casal que estava do outro lado do sofá.

— “Vai ser legal, hyung.” – Jinyoung imitou a voz de Yugyeom. — Ah, se eu soubesse...

— Se você 'tá achando ruim assim, a gente pode ligar pro Mark. – Bambam não conseguiu se conter.

— Mark? – Youngjae e Jaebeom perguntaram juntos, olhando curiosos pro Park.

— Meus contatos me contaram umas coisas bem interessantes, sabe? – Bambam comentou, casualmente. — Boatos que Jinyoung tem saído em encontros ao invés de cuidar do priminho.

Jinyoung olhou feio pra Yugyeom, uma expressão num misto de "não acredito que você disse isso" com "você não imagina quantos planos pra te fazer sofrer estão passando na minha mente nesse momento.", enquanto Jaebeom riu, colado ao pescoço do namorado, mal acreditando que o amigo não tinha contado aquilo. Aquele maldito. Riu novamente quando aspirou o cheirinho gostoso do namorado e ele se arrepiou.

— Eu vou pegar os pratos. – Yugyeom disse repentinamente, fugindo do olhar ameaçador de Jinyoung e fazendo os outros ali rirem.

E bom, talvez o apartamento de Youngjae não fosse grande o bastante para que tanta gente se amontoasse em um cômodo só, e talvez realities trash trouxessem discussões enormes sobre quem deveria ficar com quem, além de muitas risadas de reações escandalosas daquelas pessoas estranhas, e talvez nada disso importasse quando Jaebeom estava mais preocupado em aproveitar o calor que emanava do corpo de Youngjae contra o seu e em deixar selares curtos em seus lábios e pescoço a cada dois minutos, se divertindo um bocado com as reações do namorado.