Consigo ver pelas janelas o tempo claro e limpo quando saio pela porta, o barulho dos meus passos ecoando pelo corredor do prédio. Meu rosto arde pelo tapa e meus olhos pelas lágrimas, mas me recuso a chorar; não preciso de mais uma razão para ser chamado de fraco. No momento, tudo que eu preciso é chegar até onde Taehyung está.
Passo reto pela porta de seu apartamento, ouvindo os gritos abafados vindos de lá, pois sei que ele não está ali. Tento ignorar o olhar desconfiado do porteiro quando passo pela porta que vai me levar até o terraço, fingindo não ver a pena que toma conta de sua expressão quando vê meu rosto machucado.
Vou pelas escadas, sem paciência para esperar pelo elevador velho. Subo correndo os degraus, lance após lance o nome de Taehyung repetindo em minha cabeça como um mantra.
O vento quente e abafado me atinge em cheio quando chego no terraço, o cheiro de plantas e terra úmida fazendo meu nariz arder. Procuro Taehyung pelo espaco aberto, avistando-o a poucos passos de mim, perto da mureta. Metade de seu corpo pendendo para fora enquanto observa algo lá embaixo.
Já o encontrei nessa posição várias vezes e em todas elas meu estômago embrulhou, não sei se é pelo jeito perigoso com o qual ele se apóia ali ou pela expressão em seu rosto enquanto ele olha para baixo. Me pergunto o que ele pensa enquanto o faz. Me pergunto se ele pensa em se jogar.
— Eu sei que você 'tá aí, Hoseok — Diz antes que eu me aproxime, rindo baixo. — Você devia parar de deixar a Sook passar perfume em você.
Reviro os olhos e caminho até ele, me apoiando do seu lado.
— Ela chora quando eu não deixo.
— Você é muito molenga.
— É você que chora quando assiste O Pequeno Príncipe.
Espero que ele retruque e me viro para olhá-lo quando ele não o faz, encontrando-o com os olhos fixos em mim.
— Foi ele? — Pergunta de repente. — Por quê?
— Ele o quê?
Taehyung não responde e eu me assusto quando sinto seus dedos tocarem minha bochecha em um carinho delicado. A pele está sensível e o toque dói, mas eu não me afasto.
— Por quê? — Pergunta novamente.
— Não consegui uma bolsa para aquele curso de administração — Engulo em seco. — Aquele de verão e ele... Ele disse que não estava criando um fracassado.
Olho para baixo, observando os pontinhos movendo-se de um lado para o outro na calçada, piscando rápido para afastar as lágrimas.
— Eu tentei, mas não consegui — Minha voz sai trêmula. — Não importa se eu fiquei em primeiro lugar na competição de dança, não importa se eu fui chamado para me apresentar em outros estados. Nunca é o bastante pra ele.
Só percebo que estou chorando quando Taehyung me abraça, um de seus braços envolvendo meus ombros enquanto o outro aninha minha cabeça em seu peito. Sua camiseta tem o cheiro cítrico, típico do sabão que sua mãe usa e eu me repreendo por estar ensopando o tecido.
Sinto quando ele deixa um beijo suave em meu cabelo e então no meu rosto, beijando minhas lágrimas.
Seus lábios descem pela minha bochecha, deixando beijos suaves por toda parte até chegar em meus lábios. Mas ele não me beija; Taehyung fica parado, os lábios a centímetros dos meus.
— Seu pai é um idiota. — Sussurra, sua respiração fazendo cócegas na minha pele.
Seu comentário me faz rir por entre as lágrimas e minha voz sai embargada e feia quando respondo.
— O seu também é.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.