O sol amanhecia, anunciando a chegada oficial da segunda-feira, que apesar de assustadora para uns, abençoava outros. O ar gélido acompanhava uma garoa fina, clima preferido de muitos dos moradores daquela cidade. Castiel fazia parte desse grupo. Não que ele ligasse muito para o tempo, mas o frio era sempre bem-vindo. Era seu primeiro dia de aula, e ele queria, pelo menos, estar apresentável. Apesar de ser um ambiente chato para o menino, ele era muito inteligente e maduro, dado sua idade: 16 anos.
O Novak não precisava de muito tempo no espelho, pelo menos era o que diziam as pessoas de fora. Seus olhos azuis contrastavam com sua pele pálida e seus cabelos negros. Sua boca era perfeitamente desenhada, com um piercing não muito discreto no canto dos lábios. Na verdade, aquele não era o único lugar que ele possuía piercings, eles estavam espalhados por todo o corpo do garoto. Apesar de não gostar muito de tatuagens, tinha uma. Era um pequeno par de asas estampados em seu pulso, com um significado um tanto quanto filosófico: liberdade. O moreno gostava da palavra. O conjunto dava um ar um tanto quanto rebelde, o que definia bem a personalidade de Castiel.
Ele estava vestindo uma calça jeans, um tênis preto e um moletom da mesma cor, sem contar as outras três blusas finas abaixo deste, afinal estava muito frio para sair de casa com roupas leves.
Arrumou seu material escolar e colocou seus fones, iniciando uma música qualquer do Arctic Monkeys, a banda favorita de Castiel depois do Nirvana, é claro. Saiu de casa, sem se preocupar em avisar sua mãe já que ela havia viajado, logo após a mudança de casa. Por esse motivo ele era emancipado.
Saiu andando pelas ruas, assobiando conforme o ritmo da música, em passos lentos até chegar ao ponto de ônibus. Não demorou muito para que ele já estivesse sentado em um dos bancos do fundo, esperando a chegada até o colégio.
POV Dean Winchester
Acordei com o som irritante do despertador tentando perfurar meus tímpanos, pela terceira vez seguida. Só mais cinco minutos, cara. Estava quase dormindo novamente, quando alguém abriu a porta com muita força, fazendo com que ela batesse na parede. Caí da cama devido ao susto e, por consequência, falei os primeiros dez palavrões que vieram em mente.
- Não seja tão mal-educado, Dean – disse Sam me ajudando a levantar – Vamos logo, hoje é o primeiro dia de aula!
Sam era meu irmão mais novo, apenas 3 anos de diferença, e ainda assim ele conseguia ser umas três vezes mais alto que eu. Apesar da diferença de idade, eu estava apenas um ano avançado, ou seja, no 2º ano do colegial. A explicação para isso: eu simplesmente não dava a mínima para a escola. Repeti dois anos naquela merda, ou seja, eu já poderia ter saído se não fosse pela minha burrice incontrolável.
- Ah não! – choraminguei – Como você consegue estar tão animado? – perguntei incrédulo.
- Eu gosto das professoras, elas são legais.
- Corrigindo: gostosas – disse com um sorriso sacana.
- Que seja – revirou os olhos – Vai tomar um banho, a aula começa daqui a....meia-hora.
- Tá, tá...Vai lá ver se tem café pronto, porque eu não estou afim de fazer – disse já entrando no banheiro, ouvindo ele gritar alguma coisa e fechar a porta com força.
***
Após um banho quente e relaxante, peguei as primeiras roupas que vi e as vesti. Estava extremamente frio, então não me importava muito o que vestir, e sim estar bem agasalhado e não congelar no meio das aulas.
Sammy fez ovos mexidos para comermos e eu peguei um copo de suco de laranja, que minha havia feito no dia anterior. Estávamos conversando, quando meu pai, John, atravessou a sala nos dando um breve bom dia, e arremessando as chaves do Impala para mim. Agradeci em resposta, e logo a porta foi fechada.
- Ele parece apressado... – disse Sam, estranhando a rapidez em que nosso pai passou pela sala.
- Você sabe como o velho é: sempre ocupado, sem tempo para a gente e para a mamãe, trabalho até o pescoço, blábláblá...A coisa de sempre – disse, simplesmente, e ele concordou com a cabeça – Agora vamos logo, quero saber o que era aquela reforma do final do ano passado.
No ano anterior, uma grande obra se iniciou em nossa escola. Todos ficamos muito curiosos para saber o que era, mas os coordenadores e a diretora se recusaram a falar. Até a Charlie, a melhor hacker que já conheci, não conseguiu descobrir o que se passava.
Deixei os pratos sujos na pia, e fui até a garagem, liguei o carro e fiquei esperando até que meu irmão pegasse seu material e pudéssemos ir para o inferno...opa, escola. Assim que ele entrou no carro, pisei no acelerador e comecei a seguir o caminho que estava em minha mente.
POV Castiel Novak
Desde o momento em que pus os pés naquele colégio, soube que não seria a coisa mais fácil do mundo. O lugar era um formigueiro de estudantes, eles saiam por todos os lados, de diversas salas diferentes, e pelo visto, até que eu achasse minha sala, seria um inferno dentro do inferno.
Bufei e encostei em um dos armários. Eu mascava um chiclete e escutava um rock alto, por isso não conseguia ouvir direito o que acontecia em volta. Não percebi quando uma pessoa me chamou, e continuei tentando associar as palavras do papel em minhas mãos, a alguma coisa que se referia a locais específicos da escola.
- Hey! Terra para Castiel – esse alguém tirou meus fones, o que me deixou irritado. Já ia xingar o sujeito, mas logo o reconheci.
- Lúcifer! – sorri em direção ao loiro que me abraçou num gesto de amizade.
- Nossa eim, que gato que você está – disse me olhando de cima a baixo, com um sorriso malicioso nos lábios.
- Cala a boca, Diabo – ri com o que ele havia dito, e dei mais um abraço no maior.
Não, nós não éramos namorados. Éramos apenas bons amigos, antigos e bons amigos...Nos conhecemos ainda pequenos e crescemos juntos, na mesma escola, no mesmo bairro, nossas mães eram amigas e tudo mais. Mas com o passar do tempo ele precisou mudar de cidade, e tivemos que nos separar. Bem, quanto a minha sexualidade, ela era bem definida. Eu era bissexual e não tinha nenhum problema com isso. Por isso que era muito fácil, para mim, diferenciar as intimidades entre amigos e namorados/namoradas.
- Você está idêntico a mim no primeiro dia de aula aqui – ele riu alto – Enfim, quer que eu te ajude a achar seu armário, sala e etc?
- Tanto faz, não consigo entender essa merda mesmo – rimos da minha desgraça.
Seguimos pelo corredor, sendo parados por umas 3 ou 4 pessoas cumprimentando Lúcifer e me dando boas-vindas, toda aquela baboseira de aluno novo, que é amigo do Lúcifer, blábláblá.
Chegamos na penúltima sala no final do corredor e, por coincidência, eu e ele estávamos na mesma sala. Ele me explicou algumas coisas, as quais não dei muita importância, falou sobre o meu armário, que eu teria que pegar a senha na diretoria...
Ele me apresentou para duas pessoas que estavam na mesma sala de aula. Era uma garota ruiva chamada Charlie e um moreno sarcástico de nome Crowley. Eles eram um pouco diferentes de mim, mas eram bem legais.
A primeira aula já havia passado, e o professor de física fez com que eu me apresentasse na frente da sala. Foi um pouco constrangedor, mas pelo menos eu não iria ser mais o garoto novo e estranho. Estranho...? Talvez. Mas não tão novo assim.
A professora de inglês já havia começado sua aula, quando um garoto que parecia um pouco mais velho que os demais (mas mesmo assim muito bonito), entrou na sala pedindo licença.
- Dean Winchester... – ela disse num tom elevado, mas ao mesmo tempo cansada.
- Eu sei, Srta. Milligan. “Não se atrase mais uma vez ou falarei com a diretora”, okay eu entendi, mas eu tive um motivo hoje.
- Você não me deve explicações, sente-se antes que se atrase para levar uma suspensão – ela disse fria e eu dei uma risadinha – Quer compartilhar conosco qual é a graça, Castiel? – ela olhou para mim, sendo acompanhada por todos os alunos.
- Nada é só que...Parece que isso acontece com ele o tempo todo. Tipo: as respostas dele, a sua cara de “meu deus de novo não”, é engraçado – disse ainda meio risonho, arrancando risadas de todos, menos da professora e do garoto loiro. Dean, se eu não me engano.
- Vamos voltar à aula, sem mais interrupções, ouviram? – Srta. Milligan dirigiu o olhar para mim e para Dean.
Eu assenti, ainda com um sorriso sarcástico nos lábios. Lúcifer me deu uma cotovelada e olhou para mim incrédulo, mas eu dei de ombros. Olhei para o loiro e seus olhos estavam vermelhos de tanta raiva. Voltei a prestar atenção no que a professora falava, afinal ela já estava explicando a matéria principal da prova, ao contrário dos outros professores, que queriam se apresentar e falar sobre o conceito de seus respectivos assuntos escolares.
O intervalo veio rápido, para a minha surpresa, já que foram quatro aulas seguidas. Estava morto de fome, pois não havia comido praticamente nada em casa.
- Isso é o seu estômago ou um dinossauro? – Lúcifer ironizou, se referindo aos barulhos que minha barriga fazia naquele momento.
- Eu diria que é um dinossauro, eu estou morto de fome.
- Dá para ver, sua boca está pálida.
- Tá, tá...Enfim, por que você me olhou daquele jeito na aula?
- Calma, com um olhar de “quero te pegar de jeito” ou “eu vou te matar por ter feito isso” ?
- Segunda opção – disse enquanto pegava um sanduíche e uma lata de refrigerante.
- Primeiro: o Dean é muito esquentadinho e o melhor lutador que eu conheço, apesar de não ter feito box nem nada, ele derruba qualquer um. E segundo: ele não aceita piadinhas, e você fez uma – ri alto enquanto sentávamos em uma mesa com uns seis lugares.
- Cara, eu não tenho medo de valentões. Esqueceu que eu ser me defender?
- Não! O que eu quero dizer é que ele é realmente forte. Não se mexe com um Winchester, por experiência própria – ele disse e logo Crowley e Charlie se sentaram conosco.
- Oi – disseram ao mesmo tempo.
- Oi gente, como vai a vida? – o loiro disse comendo seu sanduíche com vontade.
- Luci, acabamos de nos ver na sala de aula – Charlie revirou os olhos.
- Não ligo. Como vai a vida? – insistiu
- Vai pro inferno.
- Ele já é dono de lá, só por esse nome. Fica tranquila quanto a isso – me manifestei e todos riram, inclusive o loiro. Logo, mais duas pessoas sentaram na mesa, mas eu não quis ver quem era, estava muito concentrado no meu sanduíche.
- Oi Dean. Oi Sam – Charlie disse animada.
- Oi ruiva – eles disseram em um uníssono.
- Cass, esse é o Sam – ela disse direcionando o olhar para um garoto alto, com os cabelos castanhos um tanto quanto compridos e olhos verdes.
- Olá – disse com a boca cheia, fazendo ele rir.
- Charlie, quem foi que trouxe esse imbecil pra cá? – Dean disse me fuzilando com o olhar.
- Ah e esse é Dean, o esquentadinho. Não se preocupe, ele é um amor de pessoa quando não está matando alguém com os olhos – a ruiva disse humorada.
- Oi, atrasado – disse o olhando nos olhos, sem me importar com o ódio que ele estava sentindo.
- Escuta aqui, quem é você para ficar fazendo essas piadinhas, eim? – ele disse levantando de seu lugar e parando em frente ao meu. Charlie tentou acalmá-lo, mas ele ignorou.
- Eu sou...Eu, até onde eu sei. Por que? – disse ignorando seu ataque de raiva, e comendo o último pedaço do sanduíche em minhas mãos. Alguns alunos olharam para nós, inclusive os que estavam na mesa – Calma, princesa, foi só uma brincadeira – disse rindo e levantando para jogar a latinha vazia no lixo.
Quando fui voltar para o meu lugar, ele estava parado na minha frente esperando. Arqueei uma sobrancelha, não entendo muito bem o que ele queria comigo. O maior me empurrou com força, fazendo minhas costas baterem na parede. Agora quem estava nervoso, era eu.
Ele tentou me puxar pela gola da camisa, mas eu fui mais rápido e segurei sua mão. Inverti as posições, o prensando na parede, com o rosto bem próximo do dele.
- Escuta aqui, eu não sei qual é o seu problema, okay? Mas vê se baixa a bola, e entende que as pessoas se zoam o tempo todo, e você não é exceção só por ter esse rostinho delicado – disse em um tom alto, vendo que todos do refeitório observavam a briga – Eu sou assim, e não vai ser um esquentadinho mimado que vai mudar meu jeito – disse raivoso e o soltei. Andei para fora do refeitório e fui em direção ao jardim.
Lembrei que ainda tinha 2 ou 3 cigarros no bolso, e me alegrei. Pelo menos isso! Acendi um e, após alguns minutos, já estava calmo o bastante. O sinal tocou e vi os alunos saindo do refeitório e indo em direção as salas. Saí do local em que estava, e fui para a aula, afinal o dia não havia acabado.
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