Madu.
A vagabunda da Juliana teve a capacidade de vir tentar fazer um acordo comigo, ela disse que podia me ajudar a conversar com o meu pai...disse que se eu terminasse com o Thiago ela iria fazer meu pai me perdoar. Mas se eu não fizesse ela iria espalhar que eu fui estuprada pelo Thiago e que ele me forçou a morar na mesma casa que ele, cada vez que eu olho pra ela eu vejo o quão desequilibrada ela é.
...
Advinha o que mais meu pai fez? Tirou o apartamento de mim, mas o que ele não sabe é que eu já consegui um emprego novo graças a ajuda do Thiago. Hoje faz uma semana que brigamos e Thiago conseguiu me colocar na linha de uma empresa importante e hoje eu recebi a notícia de que na próxima semana eu já posso começar, eu estava oficialmente morando com ele.
- Opa, o que essa mala faz aqui? - ele perguntou tropeçando.
- Desculpa, eu vou arrumar. - eu disse dobrando algumas roupas.
- Juro que vai ser temporário tá? Assim que eu me organizar eu vou alugar um lugar pra mim e você não vai ver mais essas bagunças. - eu disse e ele se aproximou.
- Não estou reclamando de você estar aqui. - ele disse e eu assenti.
- Eu sei, mas eu vou fazer isso. - sorri.
- Visita! - ouvimos a voz de David.
- Entra. - Thiago disse e eu tirei a mala do caminho.
- Passei aqui só pra dar um oi, tenho que ir na minha avó porque ela se mudou e deixou a casa pra eu cuidar. - ele disse fazendo cara de tédio.
- Que casa? aquela minúscula? - Thiago perguntou.
- Sim. - ele riu.
- Precisa da nossa ajuda? - perguntei.
- Não, é coisa boba. - ele sorriu.
- Estou indo, até mais. - ele disse acenando.
- Já ligaram pra você também? - perguntei.
- Não...- ele disse sentando no sofá.
- Vai dar tudo certo amor, eles vão ligar e você vai conseguir um emprego também. - eu disse sentando ao lado dele.
- É, tudo bem. - ele assentiu.
- Agora eu vou terminar de arrumar aquela bagunça. - eu disse rindo.
- Ei, quer ir pra um lugar hoje? - perguntou.
- Pra onde? - perguntei.
- Quero te levar num lugar especial. - ele sorriu.
- Tudo bem, como devo me vestir? - perguntei e ele me puxou para sentar no colo dele.
- Do jeito que você quiser, você é linda de qualquer jeito...seja você mesma. - ele disse colocando uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.
Sorri com o ato e nós ficamos namorando um tempinho no sofá, depois eu organizei a bagunça e nós almoçamos juntos. Por volta das seis eu fui tomar banho e lavar meus cabelos...enquanto a água fria caía sob meu corpo as memórias da noite da briga voltavam a minha cabeça...porque meus pais não conseguem me apoiar em nada? Tenho certeza que se fosse o Marcelo eles iriam defender e apoiar não importa o que fosse. Escolhi uma calça jeans e uma camisa branca rendada e um tênis mas fiquei com receio de ele me levar em algum lugar diferente e eu não estar bem vestida.
- Tá bom assim? - perguntei enquanto ele vestia uma camiseta.
- Tá linda. - sorriu me olhando.
Thiago.
Ela não esperava que eu a levasse para conhecer a minha família e foi exatamente do jeito que eu imaginei, ela ficou muito feliz e de cara minha mãe a adorou. Ela sabe que eu jamais iria levar alguém pra casa se não fosse de verdade, e foi uma noite incrível porque eu me senti muito mais feliz em ver que pelo menos a minha família aceita quem eu sou e com quem eu estou.
- Obrigada por ter feito isso. - ela disse quando chegamos em casa.
- Fico feliz de ter te levado lá. - eu disse abraçando ela pela cintura.
- A sua mãe é incrível, ela não me olhou como se eu fosse uma garotinha...ela, ela me tratou como uma mulher. - ela disse sorrindo.
- Minha mulher. - beijei o canto da sua boca.
- Sabe...ninguém nunca me tratou assim. - ela disse me olhando nos olhos.
- Então acostume-se porque vai ser assim sempre. - eu enfiei uma mão no seu cabelo.
- Você é incrível. - ela sorriu.
- Um pouco. - eu me gabei e ela riu.
- Eu te amo muito, você sabe né? - ela perguntou.
- Sei, e eu te amo mais ainda. Cada vez que eu olho pra você tenho mais certeza disso. - sorri.
...
Acordei cedo pra caminhar um pouco e procurar emprego, ninguém havia me ligado e eu já estava perdendo as esperanças, sentei numa pracinha com o jornal e comecei a olhar nos classificados até que alguém sentou do meu lado.
- Podemos conversar? - era Rafael.
- Sem briga. - ele disse e eu assenti.
- O que você quer de mim? - perguntei.
- Quero que raciocine, Thiago. - ele disse e eu não entendi.
- Você não devia ter feito isso com a minha filha...sabe que não pode dar um futuro pra ela. - ele disse.
- Não vou discutir isso com você. - eu disse levantando mas ele segurou meu braço me fazendo sentar de novo.
- Você está sem emprego, sem condições de levar uma vida com ela...e se ela engravidar? Imagine o caos que vai ser na sua vida e principalmente na dela. - ele disse e eu respirei fundo.
- Nós estamos bem, eu já arrumei um emprego. - menti.
- É mentira, aquele escritório só vai te contratar se eu quiser. - ele disse e eu o encarei.
- O que? - perguntei.
- Eu sou influente, eu consegui o emprego da Maria Eduarda e posso conseguir o seu se você quiser. - ele disse.
- Como assim? - perguntei.
- Deixa a minha filha em paz, faz ela voltar pra casa...para com esse namoro. Você vai destruir a vida dela. - ele disse e eu desviei o olhar.
- Não faz isso com ela, ela é sua filha. - eu disse.
- Por favor Thiago, ela é muito nova pra você e nós dois sabemos que você não pode dar o futuro que ela merece. Ela é uma garota especial e você sabe que isso não vai durar pra sempre, você sabe que pode se apaixonar por outra mulher e ela por outro cara. - ele disse e eu revirei os olhos.
- Pensa bem, se você deixar ela o sofrimento vai surgir mas será momentâneo e ela pode seguir a vida dela com um emprego bom, uma vida boa e eu estarei lá pra dar todo o suporte a ela. Mas e você? - perguntou.
- Você é cruel. - eu disse chocado.
- Eu a amo, e se você a ama pense nisso. - ele disse levantando-se.
Ele foi embora e eu quis muito dar um soco no meio da cara dele mas em certo ponto ele tinha razão, eu não tenho como dar a vida que ela sempre foi acostumada a ter e talvez eu nunca vá ter. Voltei pra casa frustrado e com a cabeça quente e aproveitando que ela não estava lá eu peguei a minha melhor companhia na estante da sala e sentei pra beber.
Quando ela chegou eu ainda não estava bêbado mas havia tomado uma decisão importante e que mesmo sendo dolorosa faria bem pra ela, escondi a garrafa antes que ela pudesse ver e usei uma bala para disfarçar o hálito de vodka pura ela veio toda animada falar comigo.
- Comprei umas coisinhas pra fazer um jantar especial pra nós dois hoje. - ela disse sentando no meu colo.
- Eu estava errado. - eu disse e ela me olhou confusa.
- Sobre o que? - perguntou brincando com meus cabelos.
- Sobre isso, sobre nós dois. - eu disse e ela levantou.
- Qual a piada? - perguntou olhando em volta.
- A piada é eu ter achado que funcionava. - eu disse e ela começou a me olhar estranho.
- Thiago, do que você tá falando? - perguntou.
- Não posso mais Madu, a verdade é que nós dois não temos nada a ver. - eu disse.
- O que? - a voz dela saiu como um grito.
- Acho que a gente tem que terminar. - eu disse.
- Não, do que você tá falando? O que aconteceu? - perguntou e eu pude ver seus olhos marejando.
- Não dá mais pra nós dois ficarmos juntos, eu percebi que não é isso que eu quero. - eu disse.
(Coloquem pra tocar: I Should Go - Levi Kreis)
Me doeu ter que dizer aquilo porque nenhuma das minhas palavras eram verdadeiras e me doeu mais ainda quando a vi chorar, os olhos azuis brilhantes agora estavam tomados pelas lágrimas e pela expressão confusa.
- É só uma fase ruim amor, a gente vai passar por isso e...- ela pausou.
- Você disse que não iria desistir da gente. - ela lembrou e eu abaixei a cabeça.
- Eu sei que disse isso mas eu não posso mais, não é isso o que eu quero e você e eu talvez não é pra ser. - eu disse.
- Você disse que me ama. - ela disse com a voz falha e eu fui até a varanda da sala.
Eu não estava aguentando dizer tudo aquilo e vê-la chorar mas de um jeito torto Rafael estava certo e nisso eu não podia discordar porque eu não posso ser egoísta ao ponto de estragar a vida dela por minha causa e eu precisei respirar fundo para não chorar também e quando me virei de frente pra ela seus olhos ainda estavam olhando pra mim em busca de respostas e eu sei o quão persistente ela é e que não se convenceria tão fácil.
- Não a amo o suficiente pra continuar com isso. - eu tive que dizer e vi o impacto que minhas palavras causaram.
- Não me ama o suficiente? Então o que foi tudo aquilo ontem? Você me apresentou a sua família, você me disse que estava feliz por ter me levado lá. - ela chorava de uma forma que cortava meu coração.
- Eu achei que dava, mas hoje eu acordei e percebi que não. O que eu sinto por você pode ser atração ou paixão...algo que passa com o tempo. - eu me forcei a dizer e ela se aproximou de mim.
- Não diz isso Thiago, por favor...diz que tudo isso é uma grande brincadeira e que você tá só zoando com a minha cara. - ela pediu colando nossas testas.
Eu queria tanto abraça-la nesse momento e dizer que era uma brincadeira mas eu não podia, não queria magoar ela de maneira nenhuma e estar fazendo isso me machucava por dentro de uma forma absurda. Afastei calmamente seu rosto do meu e seus olhos estavam vermelhos de tanto choro e eu acariciei seu rosto enquanto ela me olhava fixamente esperando que eu parasse com aquilo agora.
- Desculpa, eu não posso mais. - eu disse e ela abaixou a cabeça.
- Eu te amo, escuta isso...seja lá o que for que tenha acontecido com você, eu te amo tá? Não esquece disso. - ela disse desesperada.
- Não faz isso consigo mesma. - pedi e senti as lágrimas vindo.
- Você disse que me amava, você me...você não pode fazer isso com a gente. - ela disse entre os soluços.
- Vai pra casa Madu, eu não posso. - eu disse respirando fundo.
Me afastei dela e dei as costas tentando não chorar mas era tarde demais pra isso, eu não suportava fazer isso mas era preciso. Vai doer nela mas vai passar e daqui a pouco ela já vai estar melhor sem mim, corri pro quarto e coloquei algumas roupas suas na mala e ela foi atrás de mim me puxando pelo braço.
- Thiago, olha pra mim. - ela pediu.
- Não faz isso, por favor. - ela disse me abraçando.
Me soltei dela antes que eu não aguentasse e fechei a mala, ela me encarava com o pior olhar que se pode receber de alguém: decepção. Coloquei a mala no chão e ela ficou me olhando nos olhos enquanto as lágrimas desciam descontroladas tanto de mim quanto dela e eu puxei a mala para a sala...
- Como esse sentimento pode ter desaparecido tão rápido? - perguntou e eu parei de andar.
- Ele acabou. - eu disse tentando controlar o choro.
- Isso não pode ser verdade. - ela disse.
- É a única verdade, eu tinha razão no começo...você é muito nova e era minha diversão. - eu me forcei a dizer e vi seu rosto absurdamente decepcionado.
- Vai embora. - pedi.
- Mas Thiago, eu...- ela tentou dizer mas eu interrompi.
- Acabou Madu. - eu disse.
- Acabou. - repeti quase como um sussurro.
Não sei medir o quão duro foi vê-la saindo por aquela porta completamente desnorteada e machucada, me atrevo a dizer que está doendo mais em mim porque eu jamais queria ter feito isso com ela. Quando ela bateu a porta eu queria morrer, peguei a garrafa de vodka que tinha escondido ao lado do sofá e joguei na parede com todo o resto de forças que eu tinha e assisti o vidro se partir em mil pedacinhos, procurei pela outra garrafa e comecei a beber enquanto chorava naquele apartamento sozinho...eu estava vazio por dentro.
Um tempo depois meu celular tocou e eu atendi sem nem ver quem era, mas ao escutar a sua voz eu senti tanto ódio.
- Obrigada Thiago, você sabe que fez o certo. - ele disse e eu podia ouvir a voz dela de fundo.
- Eu quero morrer, mãe. - ouvi ela dizer e fechei os olhos.
- Sabe que foi o melhor pra ela. - ele disse.
- Vai pro inferno. - eu disse antes de desligar a ligação.
Fui me arrastando pro meu quarto com a minha bebida companheira e sentei na cama olhando para o nada, avistei uma camisa dela pendurada na poltrona e ao pegar eu senti o cheiro dela. Cheirei a camisa o máximo que eu pude enquanto as lágrimas iam caindo e molhando o pano que eu não queria largar mais, acabou a melhor coisa que aconteceu na minha vida desde que eu me permiti viver de verdade.
- Eu te amo. - sussurrei.
- Me desculpa meu amor, mas foi melhor pra você. - eu dizia.
- Um dia você vai me perdoar. - eu tentei me convencer das minhas palavras.
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