Madu.
Acordei um pouco atordoada por conta da minha dor de cabeça e escutei a voz de Thiago meio baixinha da sala e pensei que tivesse alguém aqui, talvez minha mãe já que mandei mensagem que estava aqui. Vesti minha camisa e fui até lá mas ao olhar do corredor vi que ele conversava com alguém na porta porém não dava pra ver quem era.
- Escuta aqui, você tem que ir embora. - Thiago disse nervoso.
- Eu não vou embora sem falar com ela. - uma voz penetrou meus ouvidos e eu me arrepiei inteira.
- Thiago, com quem está falando? - perguntei e ele olhou pra mim assustado.
- Madu? - a pessoa do outro lado abriu a porta e eu paralisei.
- Lucas? - minha voz saiu um pouco falhada.
Eu não sabia se aquilo era real mas eu corri até ele na porta e o olhei de cima a baixo pra ver se não estava sonhando, quando minha mão tocou seu rosto eu senti de verdade e ele sorriu. Como isso era possível? Ele me abraçou forte e eu senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
- Como você...? - perguntei confusa.
- É uma longa história, voltei noite passada pra casa e quis te ver mas a sua mãe me disse que não estava quando eu liguei. - ele explicou.
- E como veio parar aqui? - perguntei.
- Sua mãe. - ele sorriu.
- Entra, me conta tudo...- eu disse puxando ele pela mão.
Ele me explicou que de primeira o deram como morto e que o corpo havia sido queimado pelo fogo que consumiu o carro, mas depois de meia hora do acidente ele tentou levantar e acabou rolando de uma ribanceira e ficou dentro dos matos por longos dias até ser encontrado por uma senhora que chamou seus filhos mais velhos para lhe ajudar.
- A dor era um inferno porque ela tentava me ajudar com umas folhas e água morna mas doía tudo em mim. Eu pensei que fosse morrer ali mas eu ainda tinha um pingo de esperança de que poderia voltar a ver minha família...- ele sorriu e segurou minha mão.
- Que poderia voltar a ver você. - ele disse e eu sorri também.
- Fico muito feliz em saber que você está vivo. Eu...doeu tanto achar que nunca mais eu ia ver você. - eu disse.
- Não precisa doer mais, eu estou aqui e você pode me ver quando quiser e me tocar quando quiser também. - ele disse colocando minhas mãos no seu rosto.
- Muita coisa mudou por aqui enquanto eu estive fora? - ele perguntou.
- Ah mudou, ô se mudou! Muita coisa mudou. - Thiago disse se sentando entre nós.
- Eu aprendi a dirigir e pretendo comprar um carro. - comentei.
- Que bacana Madu, pra onde iremos nesse carrinho? - ele perguntou sorrindo.
- Espero que pra lugar nenhum. - Thiago disse.
- Me explica porque você tá aqui. - Lucas pediu.
- Voltei de viagem hoje cedo e não quis ir pra casa. - expliquei.
- Estava viajando como eu? - ele brincou.
- Sim, uma viagem romântica comigo. - Thiago disse com o sorriso mais falso que eu já vi na vida.
- Viagem romântica? - ele levantou do sofá confuso.
Thiago.
- Sim, todo casal de namorados faz uma viagem romântica. - eu disse com o maior cinismo do mundo.
- Vocês dois são um casal? - ele perguntou parecendo não ter assimilado ainda.
- Sim. - Madu disse.
- Quase quatro meses juntos. - eu disse abraçando ela pela cintura.
- Você namora o amigo do seu pai? - ele perguntou chocado.
- Longa história, você perdeu muitas tretas meu amigo...- eu disse.
Eu estava irritado e enciumado com a presença dele - mas estava feliz por ele estar vivo - mas parece que ele ainda não tinha entendido que eu e Madu estávamos namorando e que o tempo passou, ele fez milhões de perguntas e ela respondeu todas com a maior paciência enquanto eu apenas concordava e sorria. Ele me fuzilava com o olhar mas eu não estava me importando muito com ele e assim que ele foi embora - o que demorou mais tempo do que eu imaginava - ela me olhou com um sorriso.
- Não é incrível? Ele está vivo! - ela disse.
- Sim, vamos soltar uns fogos! - eu usei a ironia e o sarcasmo que aprendi com ela.
- O que? Tá azedo hoje? - perguntou e eu deitei no sofá.
- Não, só não estou acostumado ao ex namorado morto vivo da minha namorada aparecer no meu apartamento de surpresa e ainda ficar jogando charme pra ela. - eu disse rapidamente.
- Ele não estava jogando charme pra mim. - ela disse rindo.
- Então você tá bem cega amor, ele quase surtou quando eu falei que estávamos juntos. - eu disse e ela deitou sobre mim.
- Não exagera. - ela disse beijando minha bochecha.
- Quando ele bateu na porta e procurou por você, se referiu como namorada dele. - eu disse e ela arregalou os olhos.
- Que namorado mais ciumento e paranoico. Escuta aqui, eu estou feliz que ele está vivo e bem mas é só isso. - ela disse deitando no meu peito.
- Mas eu sei que você o amava. - eu disse afagando seus cabelos.
- Amava Thiago, no passado. Você é quem eu amo e não adianta ninguém passar no nosso caminho porque pra mim vai ser como se estivesse usando capa da invisibilidade. - ela disse e eu cai na risada.
- Capa da invisibilidade? - perguntei.
- É, totalmente invisível aos meus olhos. - ela riu também.
Nós almoçamos juntos e depois eu a levei pra casa, nós combinamos de sair amanhã pra pesquisar o carro que ela tanto quer comprar e eu estava orgulhoso dela por estar tão determinada a algo que ela quer apesar de ter tido um final de semana bem bagunçado.
Finalmente consegui passar na empresa de noite e André me disse que estava indo tudo bem desde que eu assumi a maior parte já que Rafael anda ocupado em relação a mulher dele. Quando cheguei em casa já era tarde e como eu tinha jantado com André só tomei um banho e fui direto pra cama, de manhã ouvi batidas na porta e ainda sonolento eu fui atender.
- Chegou cedo hein amor! - eu disse indo abrir a porta.
- Não é o seu amor. - ele disse com um tom de nojo.
- Oi Lucas. - eu disse revirando os olhos discretamente.
- Quero conversar com você sobre a Madu. - ele disse e eu dei espaço pra ele entrar.
- É assim que você atende suas visitas? - ele perguntou e eu me olhei.
- Geralmente eu só atendo a minha namorada de cueca. - eu disse e ele revirou os olhos.
- Ok, qual é a brincadeira? - ele perguntou.
- Oi? - perguntei confuso.
- A última lembrança que eu tenho sua é de você tirando a minha namorada do meu carro. - ele disse.
- O pai dela havia me pedido pra cuidar dela e eu não ia deixar ela ir com você. - eu disse.
- Você estragou a nossa primeira vez, entende isso? A Madu era importante e especial...tem noção do quanto doeu achar que ia morrer e que nunca mais ia vê-la? De achar que nem podia me despedir dela? - ele perguntou um pouco alterado.
- Baixa o tom de voz aí pigmeu. - eu pedi.
- O fato é que você tirou ela de mim desde a primeira vez, então está com ela por birra ou afronta. - ele acusou.
- Ô criatura, todo mundo sabe sobre nós dois e eu estou com ela porque a amo. - eu defendi.
- Ama nada, você é tão mais velho e tem idade pra estar casado e não com uma garota como ela. Ela era minha namorada e você a tirou de mim. - ele reclamou.
- Ô bebê chorão, você está me pintando como um idoso...eu nem cheguei nos 30 ainda. - eu disse rindo e ele levantou ficando na minha frente.
- E a única coisa que eu estou com vontade de tirar de você são uns dentes. - eu disse cruzando os braços.
- Você me paga! - ele disse com raiva.
- Pago nada não, eu não te devo nada moleque! - eu disse.
- A Madu foi minha muito antes de você atrapalhar. - ele disse e eu ri.
- Não é o que parece. - eu disse.
- Você é um idiota. - ele disse e eu assenti.
- Com quem merece. - ressaltei indo abrir a porta.
- E a Madu ainda vai enxergar isso, nem que eu tenha que fazê-la enxergar. - ele disse indo em direção a saída.
- Isso aí, oftalmologista! - eu disse rindo antes de bater a porta.
- Moleque chato! - reclamei indo tomar banho.
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