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História I Found My Girl - Found Ma Gurl


Escrita por: bcosta03

Notas do Autor


Hey Clexinhas,

ONE ELYCIA SAIUUUUUUU!!!

Bem, primeiro de tudo tô sem mão. Segundo, to muito feliz com o resultado dessa One. Vocês votaram no twitter e aqui está minha parte do acordo. Demorou pelas inúmeras coisas que eu tinha pra fazer e pelo fato de que isso aqui tá quase um livro Elycia rs

I Found My Girl vai levar vocês há uma viagem no tempo. Minha ideia foi pegar os momentos oficiais nas redes de Elycia e mostrar para vocês uma história por trás desses momentos. Procurei ser o máximo fiel a época das fotos e locais, mas se estiver alguma coisa diferente, encarem que isso é uma ficção e minha memória não é lá essas coisas.

Então espero que vocês curtam essa viagem de 18 mil palavras! Os erros eu edito depois porque não é fácil revisar tudo isso. Estou muito ansiosa para saber o que acharam, então por favor ao final dessa viagem comentem ok? Acho que mereço isso rs

Nos vemos no final. Boa leitura :)

Capítulo 1 - Found Ma Gurl


Fanfic / Fanfiction I Found My Girl - Found Ma Gurl

Vancouver, 18 de setembro de 2015  

                O cenário estava montado. A iluminação do enorme quarto do estúdio formado por inúmeras velas acesas estava pronta para a gravação da tão esperada sex scene entre Clarke e Lexa.

            Eliza estava nervosa. A loira estava no camarim, tamborilando os dedos no criado mudo sem prestar atenção no próprio reflexo, encarando seu maço de cigarros quase que frequentemente. A ansiedade corroía suas veias, mas ela não queria aliviar-se com a nicotina. Não dessa vez. Seu corpo todo parecia arder pela abstinência e seu cérebro a lembrava que com apenas uma tragada ela poderia acalmar-se de toda aquela bomba sentimental. Um gesto simples e rápido que ela costumava fazer automaticamente, sem ter que pensar demais.

            O problema é que Eliza não queria beijar Alycia com gosto de cigarro e menta na boca.

            Ela nunca se incomodou com isso, muito pelo contrário. Já estava acostumada com o gosto amargo na língua e a mistura dele com essência de menta. Poderia facilmente beijar alguém assim. Então porque ela estava relutando tanto? Talvez pelo fato de que Alycia não fumava e sempre a dizia que esse vício ainda a mataria. E Eliza sabia que para grande maioria das pessoas que não fumam, acaba não sendo muito agradável sentir o gosto amargo, mesmo que ele esteja disfarçado com menta. E isso a incomodava, porque, bem, de alguma forma ela queria que Alycia gostasse do beijo, mesmo não sendo real. Porque se Alycia gostasse, então, talvez, ela tivesse uma pequena chance de se tornar o mundo dela.

Algo em Eliza não era mais o mesmo, embora ela não quisesse ou tivesse medo de admitir. Desde o primeiro beijo que dera em Alycia na cena gravada para o episódio quatorze da segunda temporada há quase um ano atrás, seu coração mudou e de certa forma ela também. O gosto dos lábios carnudos de Alycia parecia eterno em sua boca. Sempre que ela fechava os olhos a noite lembrava-se daquele momento, que achou que jamais se repetira... Até agora.

            Estava prestes a gravar uma sequencia de cenas em que poderia beijá-la outra vez e droga, como seria vê-la em roupas mais íntimas? Seu coração martelava no peito com a simples imaginação do corpo de Alycia tão perto. Fitando a si mesma no espelho pela primeira vez, Eliza se sentia uma péssima atriz e uma péssima amiga. Afinal, mesmo que não quisesse, acabaria se aproveitando da cena para sentir os lábios de Alycia outra vez e mesmo que não devesse, escondia dela e de si aquele sentimento que jamais seria correspondido, da pessoa que agora era sua melhor amiga no mundo. E que ela tinha muito medo de perder por um ato impensado.

            A loira suspirou, sentindo o coração bater forte e condenando a si mesma por isso. Seria muito mais fácil apenas ver Alycia como amiga. Sim, seria. Mas como ela poderia quando aquele beijo não saia de sua cabeça? Como ela poderia quando aqueles olhos verdes cristalinos a encaravam com tanta ternura e a faziam sentir-se tão especial? Como ela poderia quando o cheiro doce de Alycia acalmava-a ainda mais que a droga da nicotina?

            Como ela poderia não ter um crush em Alycia Debnam-Carey?

            O som de batidas à porta a retirou de seus pensamentos e Bob, o jovem e simpático estagiário de cinema, adentrou o camarim da loira com um lindo sorriso nos lábios. Ele era um rapaz gentil e sempre comprava cigarros para Eliza quando ela estava ansiosa demais para se contentar com apenas um maço. Também era divertido e apesar de jovem, muito competente.

            - Eliza, está tudo pronto. Começamos em dez minutos. A Alycia já está lá com o Rothenberg repassando alguns detalhes da cena.

            A simples menção do nome da morena fez o coração da loira quase saltar do peito. Ela a veria depois de meses apenas trocando mensagens telefônicas e algumas raras ligações em Skype. Alycia estava cada vez mais badalada e ocupada com as gravações e eventos de Fear The Walkind Dead. Ainda assim, não havia um dia em que Eliza não acompanhasse Alycia nas redes, nas tags do twitter e no snapchat das amigas dela. Tudo é claro, em segredo. A morena era reservada demais para se expor com frequência nas redes sociais e Eliza se sentia como um fã, sempre vibrando com uma foto nova ou procurando alternativas para saber dela. Não que ela não pudesse mandar uma mensagem para puxar assunto. Ela podia claro, mas tinha receio de transparecer que se interessava de uma forma intensa, o que poderia demonstrar sentimentos que ela não queria. Chegava até ser cômico, porque quanto mais discreta a morena era nas redes, mas arrastava legiões de fãs enlouquecidos. E Eliza os entendia porque Alycia era como um sonho, daqueles que você quer viver e nunca mais acordar. Ela também queria fazer parte do mundo dela, ainda mais. Acima de qualquer coisa ela queria ser o mundo de Alycia.

            - Obrigada Bob, já vou. Sorriu e suspirou fundo quando o rapaz saiu porta afora.

            Olhando-se uma última vez no espelho e confrontando o reflexo de sua alma nos próprios olhos azuis inquietos, tentou enxergar qualquer detalhe que a fizesse acreditar que teria alguma chance com sua melhor amiga, mas tudo que via era insuficiente. Que chances ela teria sendo alguém tão tempestuosa e com vícios quando Alycia era exatamente o oposto? O histórico louco de Eliza com relacionamentos não colaborava ao seu favor e ela sabia que Alycia já tinha uma relação meio estranha com Marcus. Sem contar o fato de que Alycia parecia não ser o tipo de pessoa que se aventuraria numa relação com uma mulher.

            Tudo que Eliza tinha era um beijo, que nem ao menos seria real. Alycia seria Lexa e ela deveria ser Clarke. Deveria. Mas como convencer seu coração de que não estava prestes a beijar a pessoa por quem estava totalmente apaixonada há quase um ano?

            Suspirando uma última vez, Eliza fechou o hobby branco para esconder a langerie cor de pele em seu corpo. Era um traje comum usado para gravar cenas de sexo não explícitas, porque podia facilmente ser escondido nas edições de imagem. Ainda assim, não estava preparada para ver Alycia nos mesmos trajes, enquanto que parte de seu íntimo desejava que a morena sentisse um frio na espinha quando a visse quase nua ou ao menos tivesse alguma espécie de atração. O duro é que suas esperanças eram tão contraditórias, que ao mesmo tempo em que as tinha, não acreditava nelas.  Pareciam-lhe mais devaneios de alguém desesperado por amar alguém que não pode ter.

            “Nos vemos mais tarde amigão. Vou precisar de você”

            Disse melancólica para o maço de cigarros que jogou dentro da bolsa - o único além de Lindsey que sabia do seu segredo sentimental - tendo certeza que depois de beijar sua paixão secreta provavelmente pela última vez, não haveria mais nada no mundo que a acalmasse, além da droga da nicotina.

            Seria cômico, senão fosse trágico.

 

POV ELIZA  

            Meu coração não parava de bater num ritmo irritantemente alucinante. Era assim sempre que eu via Alycia, falava com ela ou pensava no beijo que trocamos há um ano. Um pouco patético para mim, que nunca realmente me apeguei a ninguém. Honestamente, depois de todas as minhas tentativas de esquecer Alycia terem apenas me feito pensar mais e mais nela, já nem me importava com isso.

 Ela estava linda. Os cachos castanhos escuros abertos e soltos espalhavam-se ao redor do seu rosto caindo por cima de seus ombros feito cascata. A maquiagem leve realçava o verde esmeralda de seus olhos e um roupão branco como o meu, cobria seu corpo e escondia a langerie cor de pele que ela certamente estava vestindo. Ela conversava com Jason, a expressão compenetrada e as sobrancelhas levemente contraídas, um gesto típico de Alycia quando prestava muita atenção em alguma coisa. Era comum vê-la dessa forma ao ler o roteiro ou repassar as falas. Parei há alguma distância dos dois, não querendo atrapalhar o que conversavam. Meus olhos não conseguiam desgrudar da expressão de seu rosto angelical e suspirei forte tentando controlar a ebulição de sensações que se difundiam em mim somente por vê-la.

            Inferno! De todas as pessoas do mundo eu tinha justo que me apaixonar por Alycia? Deus, além de ser hétero até onde sei é certamente o tipo de pessoa com quem eu vou apenas sonhar a vida inteira. Nesses momentos em que a realidade me assombrava, tinha inveja da Clarke. Por mais difícil que o relacionamento delas fosse o coração da Lexa sempre foi dela, enquanto o de Alycia provavelmente nunca seria meu.

            Jason terminou de falar com Alycia e se afastou para arrumar a equipe de filmagem. Os olhos da morena logo se desviaram para mim, reluzindo uma cor absurdamente verde translúcida, como dois espelhos em que eu podia refletir minha alma. Alycia sorriu. O sorriso dela foi abrindo lentamente aos meus olhos, rasgando sua face e tornando-a uma imagem perfeita. Tudo que eu pude fazer foi sorrir de volta, totalmente imersa na sensação de paz que ela me trazia. Você não tem alternativa quando um anjo lhe sorri. Rezei para que meu coração não parasse, não antes de eu beijá-la pela última vez. Se depois ele resolvesse parar ao menos eu morreria feliz. O cheiro de flores do perfume de Alycia inundou minhas narinas, embriagando-me completamente. Ela se aproximou com os braços abertos para um abraço e me vi perdida em seus braços. Fechei os olhos enquanto ela me apertava contra si e fazia um resmungo divertido que indicava que por alguma razão ela sentiu saudades de me abraçar. E Deus, como eu sentia falta disso. Do calor, do cheiro, de me sentir envolta no pequeno mundo de Alycia.

            - Ai que saudades Loo! Ela disse carinhosamente, pronunciando o apelido que havia me dado desde o ano passado. Uma abreviação carinhosa de ‘Taylor’ e que sempre que ela dizia fazia meu coração derreter.

            - Também senti sua falta Leashy!

- Como você está? Afastamos o abraço, mas Alycia permaneceu segurando meus braços e mantendo-me perto.

- Estou bem. E você? Deve estar muito cansada de toda correria. Alycia suspirou com um sorriso torto.

- Nem me fala. Tem sido tudo uma loucura. Às vezes acho que vou realmente virar um zumbi pela falta de sono. Rimos juntas e a risada gostosa da morena aqueceu meu coração.

 - Nah... Você é a Heda dos Doze Clãs. Umas gravações a mais são moleza pra você.

- Boba! Ela bateu no meu ombro ainda rindo e nossos olhares pararam um no outro por um instante. Meu corpo parecia explodir por dentro sempre que ela me olhava de maneira mais profunda.

“Meninas, podemos começar?” Jason perguntou e desviamos nosso olhar para ele concordando em seguida.

Tirei meu roupão tentando não encarar Alycia. Estava indo bem na minha tentativa de não transparecer meus sentimentos, até que comecei a ter aquela sensação de ser observada. E o simples fato de saber que ela olhava para mim enquanto me despia deixou-me ainda mais nervosa, tornando praticamente impossível manter meus olhos em algum local paralelo do estúdio. Entreguei o roupão para Bob e quando desviei meu olhar para ela os olhos verdes estavam parados encarando meu abdômen. Ela subiu o olhar de repente e as maças do seu rosto ruborizaram automaticamente. Alycia ficou ainda mais linda corada e eu esqueci como se respirava. Sorri levemente tentando não a deixar sem jeito. Era normal duas amigas se olharem afinal. Ela desviou o olhar, parecendo ainda envergonhada e começou a tirar o roupão lentamente. Fiz o máximo esforço para não ficar encarando e olhei o estúdio ao meu redor. Todos estavam entretidos nos seus afazeres o que era bom considerando que eu estava muito vulnerável por ter minha crush praticamente seminua ao meu lado.

Sem mais resistir, desviei meu olhar para Alycia que já entregava o roupão para Bob. Meus olhos percorreram seu corpo instantaneamente. Ele era tão perfeito quanto seu rosto. A pela branca com algumas pintas, o abdômen liso e os seios pequenos escondidos no top cor de pele. As pernas longas e torneadas. Um calor percorreu meu corpo, me queimando por dentro sem piedade. Minhas mãos suaram e meus olhos estavam simplesmente paralisados na morena. Ela coçou a nuca e mordeu o lábio, certamente tendo a sensação de que eu a olhava. Parecia estar naquele dilema de confirmar ou não a sensação. Eu deveria desviar o olhar, mas simplesmente não consegui. Meu corpo parecia não mais responder a minha mente e sim ao meu coração. E como em câmera lenta, o rosto de Alycia foi virando em minha direção enquanto meu coração martelava feito louco e minha respiração estava praticamente nula. Seus olhos verdes agora tinham um brilho diferente, num tom mais escuro enquanto me encaravam de volta. Os olhos dela desceram rapidamente pelo meu corpo e não havia um músculo sequer em mim que fosse capaz de se mover. Engoli em seco quando nossos olhares se encontraram pela terceira vez aquele dia de uma forma diferente. Como se quisessem se fundir.

Meu desejo era que aquele momento se prolongasse, mas ele rapidamente cessou. Alycia corou novamente e desviou o olhar. Nós nos posicionamos na cama em silêncio depois da ordem de Jason. Ela virou de costas para mim deitando de lado e fiquei logo atrás dela com a cabeça apoiada em uma de minhas mãos e o cotovelo apoiado na cama. A tatuagem do conclave em suas costas já estava pintada, bem como o símbolo do infinito em sua nuca.  Pensei, por um momento, que se ela as fizesse na vida real só a deixaria ainda mais sexy. Meu coração batia tão rápido que tive medo de não aguentar até a hora do beijo. Meus dedos tremiam e me praguejei mentalmente por não ter fumado, mesmo sabendo que tinha sido a decisão correta.

- Está nervosa? Alycia sussurrou de costas para mim. Quis dizer que não, mas certamente ela já tinha percebido que eu tamborilava os dedos no colchão ou que minha respiração já estava meio pesada. Ela sempre me leu muito bem, para meu pleno azar neste momento.  

- Um pouco. E você?

- Também. E um grande passo para elas não é? Quer dizer, elas esperaram por isso tanto tempo.

Eu também” Pensei, odiando a mim mesma por não imaginar apenas os sentimentos de Clarke e não estar pensando apenas nos personagens, assim como ela estava fazendo.

- É.

- Como você acha que a Clarke se sente nesse momento?

Então, enquanto pensei na história de Clexa percebi que talvez não fosse tão diferente da minha com Alycia. Clarke sempre teve medo de assumir seus sentimentos depois das perdas que ela teve enquanto eu morria de medo do que sentia por minha melhor amiga. E quando Clarke a beija antes de partir é como se ela quisesse eternizar um momento que talvez não acontecesse de novo. Ela desejava com todo coração que Lexa e ela se encontrassem novamente, mas ao mesmo tempo sabia que devido às circunstâncias havia a possibilidade de não ver a mulher que ama por muito tempo. Ironicamente, o beijo que eu estava prestes a dar em Alycia era exatamente como uma despedida. A partir dali eu seria apenas a melhor amiga, que acompanha de longe e encontra de vez em quando. Isso não seria difícil se eu não estivesse apaixonada. Se não desejasse ter muito mais do que podia.

- Ela se sente como se fosse à última chance de viver esse sentimento que ela guardava para si e ao mesmo tempo o momento mais feliz da vida dela. Ela quer eternizar esse momento, lembrar-se dele quando voltar a Arkadia. Desejar que ele aconteça outras vezes. Ela quer manter a esperança de que é possível viver ao lado de alguém que ela ama, por mais difícil que possa parecer.

Alycia suspirou pesadamente. Ela já devia estar entrando no personagem. Era incrível a forma como ela realmente se tornava a Lexa. Eu admirava a forma como ela era competente e fantástica em cena. Todo sucesso que ela tinha era mais que merecido.

- Eu acho que a Lexa se sente exatamente da mesma forma. Elas deviam dizer isso uma para outra não acha? Quer dizer, a gente não deveria guardar os sentimentos assim.

Então meu mundo parou. Embora eu soubesse que Alycia estava se referindo ao amor das personagens não podia deixar de tomar aquilo para mim. O fato de eu estar perdidamente apaixonada por ela era um segredo que talvez ela tivesse o direito de saber. Não havia nada pior do que guardar uma paixão dentro de si, sentindo-a te sufocar e matar aos poucos por não poder ser vivida. No entanto, havia aquele risco de assustá-la, de afastá-la ainda mais. Se isso acontecesse, o pouco que eu tinha dela desaparecia e meu coração sofreria ainda mais.

- Você realmente pensa assim? Quer dizer, você diria o que sente se fosse a Lexa? Alycia sorriu. Eu pude ver o sorriso singelo no canto dos seus lábios do ângulo em que eu estava.

Desejei desesperadamente ouvir a resposta, como se aquilo fosse me dar à coragem que eu precisava. Ao invés disso, ouvi a voz de Jason e suspirei frustada.

“Estão prontas meninas? – Fizemos um sinal de ok para ele – Ok. Vamos começar! Cena 17, sessão 3, episódio 7. Ação!”

Meus dedos passaram suavemente pelo braço de Alycia onde a tatuagem se encontrava. Pude ver que a pele dela se arrepiou levemente com o toque e com certeza já não era mais a garota por quem eu estava apaixonada ali. Era Lexa sentindo Clarke. Parte de mim também era Clarke e também estava imersa naquele sentimento tão especial delas. Mas havia aquela outra parte, a parte real de mim escondida na ficção. A parte que estava explodindo por dentro só por acariciar o braço de Alycia de uma forma mais íntima.

“Se Octavia e eu chegarmos ao bloqueio até o amanhecer...”

“Shiii”

Um sorriso singelo brotou na minha face. O sussurro de Alycia pedindo silêncio tocou bem no fundo da alma que eu compartilhava com Clarke naquele momento. Era irônico, porque Clarke sorrir estava no script, mas eu só me lembrei disso depois que já tinha sorrido. Meu coração continuava martelando forte e forcei minha mente para lembrar o próximo passo da cena. Então, levei minha mão até a tatuagem nas costas de Alycia e acariciei-a com o dedo indicador. Novamente a pele dela se arrepiou sob meus dedos e a ansiedade me consumia. Para Clarke aquilo representava a força de Lexa esculpida em sua pele delicada.

Felicidade seria tudo que eu sentiria se o corpo dela estivesse reagindo ao meu toque, no entanto, estávamos gravando uma cena de amor e a atriz ao meu lado tinha a mais fantástica capacidade de se transportar para o personagem, o que limitava a praticamente zero minhas esperanças. As falas de Clarke que vinham a seguir traduziam exatamente o que eu pensava e sentia enquanto encarava as costas nuas da morena e acariciava a tatuagem.

“Isso é lindo” E realmente era. A pele morena de Alycia iluminada pela baixa luz do estúdio e das velas ao redor, com a grande tatuagem negra em sua coluna era hipnotizante.

“Fiz no dia da minha ascensão. Um círculo para cada nightblood que morreu quando o comandante me escolheu”

“Sete círculos. Achei que tinham nove principiantes quando assumiu o poder”

“E tinham”

“O que aconteceu com o número oito?”

Não soube dizer se era o coração de Clarke ou apenas o meu acelerando feito louco assim que Alycia, cumprindo o script, se virou para mim. Seus olhos verdes brilhando a meia luz do estúdio eram tudo que eu conseguia ver. Não havia mais nada ao redor.

“Podemos falar de outra coisa?”

Concentrei-me para terminar a cena sabendo que a seguir enquanto Clarke beijasse Lexa, eu estaria beijando a mulher por quem estava há um ano apaixonada. A mulher que dominava meus sonhos e pensamentos. A mulher por quem eu daria tudo. Por quem eu seria qualquer coisa. Por quem uma nova versão de mim mesma havia brotado.

“Não precisamos falar”

Sorri, olhando no fundo dos olhos verdes, deixando que todo sentimento acumulado em mim finalmente se libertasse. Alycia me olhou de volta, certamente não sendo ela mesma e sim Lexa. Ainda assim eu queria cultivar aquele momento como sendo minha ilusão secreta. Eu sabia que me lembraria dele para sempre. Minhas mãos tremiam quando deitei na cama e Alycia sobrepôs o corpo para cima do meu. Tão perto que me senti paralisada.

Ela deveria me beijar a seguir, mas não o fez.

Os olhos verdes ficaram me encarando em silêncio, perdidos no meu universo azul enquanto eu mergulhava nos inúmeros pontos verdes do seu tom singular. Nós parecíamos congeladas, presas naquele momento. Talvez ela estivesse nervosa ou com medo. Sabíamos que era um passo grande para nossas personagens. Ela suspirou sem desviar os olhos de mim e sua mão apoiou-se em minha cintura. O único barulho que eu ouvia era do meu coração martelando em meus ouvidos. O corpo formigando nas áreas em que seus longos dedos tocaram. Eu estava perdida. Completamente perdida por Alycia Debnam Carey.

Então, como o sino da meia-noite que cortou a magia da Cinderela ecoasse, uma música ressoou no estúdio desfazendo a ligação magnética de nossos olhares.

 

I've been really tryin', baby (Realmente estive tentando, querida)

Tryin' to hold back this feelin' for so long (Tentando segurar esses sentimentos por tanto tempo)

And if you feel like I feel, baby (E se você se sente como eu me sinto, querida)

Then come on, oh come on (Venha cá, venha cá)

Let's get it on, oh baby (E vamos botar pra quebrar)

Let's get it on (E vamos botar pra quebrar)

 

            A voz de Marvin Gaye inundou o estúdio, traduzindo ironicamente, tudo que Clexa e eu sentíamos. Nós tomamos um breve susto e olhamos ao redor pela primeira vez. Todos estavam rindo, como se tivessem tido sucesso com a pegadinha arquitetada especialmente para nós duas. Alycia olhou para mim novamente, as bochechas coradas de surpresa, não diferentes da minha. Por um momento eu tinha esquecido que não éramos apenas nós duas ali e rezei mentalmente que ninguém tivesse percebido o quão boba eu parecia perto dela.

            E quando o verde encontrou meus olhos novamente aquela situação toda pareceu realmente engraçada. Alycia gargalhou e no instante seguinte eu já estava gargalhando com ela. Todos riam ao nosso redor, mas tudo que eu ouvia era a voz de Marvin e a risada gostosa da garota inundando meus sentidos. Eu ri de mim mesma, da situação, da pegadinha e de Alycia. Ri do fato de que eu precisava apenas desses momentos com ela para ficar bem. Ri da minha própria felicidade e de Clexa realmente deveria “botar pra quebrar naquela cama”.

We're all sensitive people (Somos todos pessoas sensíveis)

With so much to give (Com tanto para dar)

Understand me, sugar (Entenda-me, doçura)

Since we got to being (Já que estamos aqui)

Let's live (Vamos viver)

 

            Alycia deixou seu corpo cair na cama enquanto ria e como meu braço estava aberto, sua cabeça caiu por sobre meu ombro. Seus cabelos deixavam o cheiro de shampoo com essência de flores bem perto ao meu nariz. Nós ríamos sem conseguir parar, as lágrimas caindo pelo cantos dos olhos, meu abdômen já doendo de tanto contrair e sempre que Alycia me olhava nós ríamos ainda mais. As pessoas ao nosso redor nos acompanhavam enquanto a música tocava e começaram a fazer uma dança desengonçada que nos fez rir ainda mais.  

            - Me entenda doçura. Vamos viver.

Cantei o trecho chamando Alycia com o dedo indicador e arqueei as sobrancelhas numa expressão de safadeza. Ela riu tanto que seu rosto ficou vermelho enquanto Jason dizia rindo que filmaria aquilo para posteridade.

- Vocês vão me matar de tanto rir. A morena disse limpando as lágrimas e me encarando de novo.

- Que tal a gente filmar o beijo com essa música de fundo? Acho que vai ajudar vocês. Mike o editor de filmagem sugeriu. Jason apoiou e ainda rindo nós concordamos.

A tensão entre nós não passou despercebida afinal.

Então depois de um tempo e de algumas selfies que tiramos na cama ainda no clima divertido, as pessoas começaram a tomar seus lugares novamente. Alycia e eu estávamos deitadas uma do lado da outra, vendo as fotos que tínhamos batido. Em uma delas eu beijei sua bochecha enquanto ela sorria e na outra fiz uma cara safada enquanto Alycia fez uma tímida. A mais engraçada, porém, foi ela deitada em meu peito fingindo olhar meus seios por debaixo do lençol enquanto eu fingia dormir.

Definitivamente aquelas fotos jamais sairiam do meu telefone.

A música baixou e retomamos a última cena. De novo, eu estava nervosa. A diferença é que aqueles momentos me fizeram sentir mais perto dela e mais confortável. Quando seus olhos verdes fitaram os meus tão de perto o mundo parou outra vez. Não havia música, não havia ninguém ao redor.

O mundo era apenas Alycia e eu.

O sorriso dela saiu mais aberto e apenas me coloquei a sorrir de volta. Seu corpo caiu sobre o meu e no breve momento em que nossos olhos se conectaram parecia que os dela também me diziam algo em silêncio. Ou talvez, fosse apenas meu coração apaixonado criando uma versão alternativa para o seu olhar.

E quando nossos lábios se tocaram, foi como voltar a flutuar nas nuvens. Foi como encontrar o meu lugar no mundo outra vez. Nossos lábios se beijavam lentamente, como se conhecessem um ao outro. Meu coração estava disparado e tentei concentrar minha mente em gravar aquele sabor único. Nossas mãos se entrelaçaram e um tremor elétrico percorreu todo meu corpo.

Eu quis que o tempo parasse.

Eu quis que aquele beijo durasse para sempre.

Mas o “para sempre” às vezes são apenas instantes preciosos e únicos que terminam rápido demais.

“E corta! Perfeito meninas. Maravilhoso!”

***

Depois de mais algumas horas consertando alguns detalhes da cena, que para minha infelicidade não envolveram a parte do beijo, nós terminamos a gravação prevista para aquele dia.

Tudo que eu queria era meu cigarro já que a ansiedade me consumia cada vez mais. As memórias do beijo, do cheiro e a risada de Alycia não saiam da minha mente. E o fato de que nós só nos veríamos daqui a duas semanas para gravar o restante das cenas que a envolviam na temporada não estava ajudando em nada.

- Hey Loo, o que você vai fazer agora? Alycia cortou meus pensamentos enquanto vestia meu roupão para sair do estúdio.

- Ah, nada. Pensei em ir para o hotel descansar e só. E você?

- Eu vou voar hoje à noite porque amanhã tenho uma entrevista pela AMC, mas ainda tenho algumas horas. Você... Bem... Você toparia passear um pouco comigo?

- Cla-claro! Gaguejei vergonhosamente nervosa – O que tem em mente?

- Pensei em ir pro Devonian Harbor Park e de lá caminhar até a zona portuária para fazer aquela excursão turística de barco. O que acha?

- Acho ótimo. Eu sempre quis fazer aquilo também, mas não tinha companhia.

- Ótimo. Então vou trocar de roupa e te espero na saída ok?

- Ok.

Alycia sorriu e se afastou em direção ao camarim dela. Suspirei, sabendo que meu dia estava longe de acabar. Seria muito difícil ficar perto dela sem pensar em tudo que aconteceu, mas ainda assim não havia outro lugar onde eu quisesse estar.

 

***

A tarde estava se encaminhando para o fim. Nós havíamos comprado um bilhete para assistir o por do sol pelo mar na zona portuária de Vancouver e depois jantar. Parte de mim não queria aquilo porque minha mente maquinaria que isso seria um encontro, o que não era o caso. No entanto, já havia me imaginado fazendo esse tipo de programa com Alycia algumas vezes. Ela não era mulher de farras e festas e por alguma razão depois que me apaixonei por ela comecei a ver beleza nesses programas simples e românticos.

O sol fraco, prestes a se por, deixava um tom alaranjado no mar da zona portuária de Vancouver. O calor que o sol emanava não era o suficiente para apaziguar o frio que já fazia, mais ainda assim deixava o clima extremamente confortável. Nós pedimos uma cabine apenas já que o passeio era relativamente curto, durando apenas quatro horas, e apesar de ter uma cama de casal, banheiro e televisão, não fazia muito sentido usar quando o objetivo era aproveitar as paisagens e o jantar com vista pro mar.

Apesar de toda beleza ao meu redor, meus olhos estavam parados em Alycia enquanto ela caminhava pelo convés do barco. Ela usava um casaco branco com listras azuis, calça jeans e seu inseparável par de sapatos branco que davam a ela um ar ainda mais jovial. Um casaco creme estava amarrado em seu pescoço e caia por suas costas. Os cabelos soltos ainda com alguns cachos se espalhavam ao vento. Os fios castanhos tinham um tom dourado pelo reflexo do sol vespertino. Os olhos verdes estavam ainda mais claros e lindos. Para mim, não havia mulher mais linda que ela.

Andávamos pelo convés conversando sobre tudo e nada. Alycia apontava alguns barcos ao longe e falava das paisagens que veríamos em total animação. Eu apenas ria e dizia algumas coisas, mas na maior parte do tempo estava hipnotizada demais por sua presença e pelo fato de que estávamos sozinhas num passeio perfeito e romântico. Por mais que eu dissesse ao meu coração para não se iludir era impossível.

Ajeitei meu blazer preto e enfiei as mãos no bolso da minha calça jeans para aquecer um pouco as mãos. O barco já estava para sair e resolvemos sentar em umas das mesas que havia próximo ao convés para apreciar a vista. Nós pedimos algo para comer já que estávamos algumas boas horas sem nos alimentar e o jantar ainda demoraria um pouco. O mar estava mais azul que o normal, a brisa gelada tocava em nossos rostos suavemente, enquanto a luz do sol aquecia nossa pele de leve. Era o clima perfeito.

- Então, você está gostando da série nova? A gente não tem falado muito sobre isso nos últimos tempos.

- Ah, estou sim. A produtora é ótima e a série tem tudo pra ser um sucesso já que é um spin off de The Walking Dead. E as pessoas do elenco são ótimas. Acho que vou fazer bons amigos lá. Alycia deu outro gole em seu suco e sorriu.

- Fico feliz por você de verdade. Eu acompanhei algumas coisas sobre a série e realmente acho que será muito promissora. Mas não posso negar que vou sentir falta de você com a gente. Sabe, sendo a Lexa.

Alycia suspirou e mordeu seu salgado enquanto eu apenas a observava. Os olhos verdes subiram e me encararam novamente meio nostálgicos. Um sorriso triste no canto de seus lábios. Era nítido o quanto ela gostava de estar na série e o quanto amava fazer a Lexa. Sempre achei que ela tinha nascido para esse papel e ninguém poderia fazer melhor que ela. Meu coração doeu enquanto Alycia me olhou em silêncio, parecendo pensar no que eu tinha dito.

- Eu vou sentir muita falta de vocês também. Eu amo a Lexa e a história que nós construímos juntas. É uma pena que essa seja minha última temporada.

- Eu ainda não acredito que você vai me deixar. Confessei sem pensar e encarei Alycia meio assustada. Senti as maças do meu rosto queimando e certamente eu estava tímida agora. Alycia sorriu e mordeu a língua daquele jeito adorável. Ela tocou minha mão por cima da minha na mesa e apertou levemente. Minha pele formigou com o contato.

- Não vou deixar você Eliza...

- Eu sei, quer dizer, eu... Não quis dizer literalmente eu, você sabe, eu quis dizer o cast e a série, bem, acho que todos vão sentir sua falta e os fãs vão sentir falta da Lexa também então bem...

- Loo? Ela me chamou carinhosamente me fazendo parar de falar na mesma hora. Engoli em seco com o coração disparado no peito – Você está divagando. Porque está nervosa?

“Porque você me deixa nervosa”  

- Nervosa? Eu não estou juro.

- Está sim. Você divaga quanto está nervosa. Porque está assim? Alycia alisou minha mão com seu polegar e sorriu novamente, como se tentasse dizer que estava tudo bem se eu falasse. O problema é que ela só perguntava isso porque não tinha ideia do que eu podia falar.

“Porque estou apaixonada por você”

Os olhos verdes me encaravam sem piscar e me vi perdida novamente naquele olhar. Por um momento eu quis contar. Eu quis dizer o que eu sentia, quis beijá-la novamente. Talvez diante da paisagem, do clima e do fato que estávamos sozinhas, não fosse tão ruim se ela soubesse. Sem contar que eu ainda não tinha fumado.

- Sei lá eu... Eu acho que talvez eu esteja....

De repente nos assustamos e demos um grito juntas quando uma gaivota pousou em cima da nossa mesa batendo as asas agitada. Era ela branca como a neve e robusta. O bico amarelo e os pés pretos finos. Linda e elegante. Alycia levou as mãos à boca em surpresa. Eu rapidamente peguei meu celular e sai de fininho da mesa para filmar o pássaro ao lado de Alycia. Era um daqueles momentos raros que não podíamos deixar de memorizar.

Ela começou a interagir com o pássaro, rindo e estendendo a mão até ele. A gaivota a olhou de volta e balançou a cabeça de um lado para o outro numa espécie de comunicação. Nós rimos juntas da cena.

- Vocês estão se tornando amigos.

- Ei amigão!

Alycia disse enquanto aproximava e afastava a mão do bico da gaivota numa tentativa de interação. Conforme ela mexia os dedos para ambos os lados, a gaivota acompanhava seus movimentos com a cabeça e nós rimos juntas enquanto eu filmava o momento. Alycia parecia uma criança ao interagir com a ave e eu me derretia toda admirando seu jeito moleca.

- Ai meu deus! Wow! Alycia riu assim que a gaivota passou a acompanhar seus movimentos com perfeita sincronia. Ela olhou para câmera e sorriu enquanto eu ria da sua expressão sapeca – Veja, esse é meu truque de hipnose!

Alguns segundos depois a gaivota andou sobre a mesa e bicou o pedaço do salgado de Alycia voando com ele no bico em seguida, desaparecendo de nossa vista. Eu gargalhei filmando a cara que ela fez. Alycia olhou para câmera com a boca aberta, abismada pelo fato de ter seu lanche roubado pelo novo amigo.

- Esse é seu truque ah? Ela não me pareceu hipnotizada! Gargalhei e Alycia colocou a mão sobre a câmera rindo. Encerrei o vídeo e me aproximei dela.

- Não é justo! Eu nem sabia o nome dele. Fez um bico.

- Papalanche. Brinquei e ela gargalhou gostosamente.

- Você não presta Eliza.

- Ei, não me culpe porque seu amigo roubou seu lanche e fugiu.

- É isso que acontece quando se dá intimidade demais para os amigos.

- Eu nunca roubei seu lanche. Disse ainda rindo.

- É... O lanche não. Alycia disse mais séria e nos encaramos outra vez. Meu riso foi sumindo na medida em que nossos olhos pareciam conversar em silêncio. Meu coração disparou novamente. Eu estava perto demais, de pé ao lado dela que permanecia sentada. O vento soprava mais forte e seus cabelos voaram assim como os meus, mas ela não se moveu.

- Bem eu... Posso comprar outro lanche para você.

- Eu não quero outro lanche. Posso esperar pelo jantar.

- O que você quer então?

             Antes que ela pudesse responder, a buzina do barco soou anunciando sua saída e quebrando nossa interação. Aqueles momentos com Alycia me deixavam confusa, como se houvesse um nível de conexão entre nós que eu ainda desconhecia. Como se houvesse uma parte dela que também quisesse mais do que aquilo que nós tínhamos. A dúvida me corroía, mas o medo de estar interpretando tudo errado era maior. Se eu estivesse errada e avançasse sem a sua permissão isso a magoaria. E só a ideia de magoar Alycia me fazia congelar qualquer tentativa.

*

A noite já havia chegado e o barco flutuava já próximo ao porto. A ponte a nossa frente estava toda iluminada pelas luzes brancas ao redor de sua estrutura. O céu estava estrelado e a lua mais cheia que o habitual. Tínhamos pouco mais uma hora antes de atracar no porto e Alycia ir para o aeroporto. Nós estávamos sentadas na mesa reservada a nós, na parte de cima do navio.  A maioria das pessoas ali eram casais, já que poderíamos considerar o cruzeiro com jantar de frente para o mar um programa bem romântico.

Alycia tomava seu vinho tinto encarando a paisagem em silêncio. Seus olhos verdes, agora mais escuros pela noite, contemplavam a ponte iluminada. Era realmente um cartão postal maravilhoso, mas para mim, a combinação do perfil do rosto de Alycia bebendo um vinho com a ponte reluzente ao fundo não permitia nenhuma comparação. Sem me conter, peguei meu telefone para tirar uma foto do momento.

- Você já pensou se a gente postasse uma selfie agora no twitter? Brinquei para chamar a atenção da morena, que sorriu e rolou os olhos.

- Me lembre de nunca irritar você já que agora tem fotos nossa na cama também. Ela riu com a língua entre os dentes.

- É bom não me irritar mesmo mocinha. Tenho a mais pura arma de chantagem contra sua pessoa. Essas fotos são valiosas sabia? Podem render trends mundiais por mais de um mês.

- Oh, Deus! Ela riu mais forte e o som gostoso de sua risada novamente acariciou meu coração.

“Boa noite, queridos tripulantes. Estamos chegando ao fim da nossa noite mágica. Espero que tenham curtido o passeio e as paisagens de Vancouver. O jantar chegou ao fim, mas enquanto nossa viagem não acaba convidamos vocês para dançar a luz do luar. Nada melhor do que uma dança para eternizar o momento em nossos corações não acham? Então aproveitem e obrigada por navegarem com a gente. Esperamos revê-los em breve.”

            Um dos marinheiros disse ao microfone e imediatamente os casais levantaram de suas mesas e começaram a se preparar para dançar em seguida numa espécie de pista que havia no centro do deck. Alycia me olhou pela primeira vez depois que havíamos terminado o jantar. O verde escuro me encarava em silêncio e engoli em seco. Meu coração batia freneticamente e a qualquer momento saltaria do meu peito para cair no mar.

            E eu soube que era aquele o momento em que eu precisaria pular ou fugir. Em que a decisão errada poderia por tudo a perder. Parte de mim queria apenas sorrir e fingir que ninguém estava dançando, mas outra parte queria convidar Alycia para dançar. O medo da rejeição martelava em minha mente, no entanto, não era como se eu aguentasse mais ficar nas sombras do meu sentimento. Eu estava apaixonada por ela há tanto tempo e em poucas semanas nós não nos veríamos mais com frequência. Nossas vidas seguiriam caminhos opostos e seria praticamente impossível alcança-la. De qualquer forma eu a estava perdendo. E se eu fosse perdê-la, que ao menos eu tentasse ganha-la antes de desistir.

            - Alycia... Ah... Eu... – Meu nervoso provavelmente chamou sua atenção e ela virou o rosto em minha direção ainda segurando a taça – Você... Bem, você gostaria de dançar comigo?

            A morena me encarou em silêncio parecendo ponderar minha pergunta. Ela colocou a taça de vinho sobre a mesa e me vi nervosa. Realmente parecia a rejeição que eu temia. Meu coração doeu e preferi tentar consertar as coisas antes que fosse tarde.

            - Quer dizer, esquece. Aqui só tem casais mesmo, talvez você tenha achado isso estranho. Desculpe. Vamos apenas olhar a paisagem e conversar. Está quase no fim e ainda podemos andar novamente pelo convés se você quiser antes de....

            - Eliza!

            - Sim?

            - Você está divagando de novo. Ela sorriu docemente e seu olhar era tão carinhoso que me emocionou.

            - Desculpe. Abaixei o olhar sem coragem de encará-la nos olhos ou falar qualquer outra coisa.

            A mão de Alycia surgiu no meu campo de visão e elevei minha cabeça para olhar para ela. Ela estava agora de pé estendendo a mão para mim, num convite silencioso para dançarmos. Sorri, sentindo as maças do meu rosto ruborizando enquanto as de Alycia já estavam vermelhas o bastante para rirmos juntas.

            - Você ainda quer dançar? Perguntou-me em sussurro.

            - Sim.

            - Vem.

            Segurei sua mão, sentindo o calor tomar conta de mim. As intermináveis correntes elétricas percorrendo meu corpo. Nós andamos para ponta da proa, um pouco distante dos demais casais. Alycia entrelaçou os dedos nos meus e apertou minha mão enquanto andávamos em silêncio. As batidas do meu coração estavam tão fortes que seria difícil ouvir qualquer canção dessa forma. Assim que chegamos à proa, nós viramos uma de frente para outra e o verde se fundiu ao azul. Rezei para que esse momento de conexão entre nós seja lá o que ele significasse não fosse interrompido outra vez. A música começou a soar pelo navio e parecia até que o destino queria caçoar da minha paixão pela morena. Outra vez, a letra traduzia fielmente o que eu sentia secretamente por ela.

Música: The Way You Look Tonight - Michael Bublé

            Estendi minha mão para Alycia e ela a segurou, enquanto sua outra mão repousou em meu ombro. Minha mão livre encostou levemente na sua cintura. Mantínhamos uma distância segura, parecendo ainda temer qualquer aproximação maior. Nossos olhares mantinham-se fixos um no outro e sorrimos levemente assim que ela abaixou os olhos com as bochechas ruborizadas.

            Aquela noite era muito mais do que eu podia desejar ou sonhar. E mesmo não sendo um encontro, ainda soava para mim como um e eu guardaria cada momento que vivi naquele navio nas minhas melhores lembranças. Seria como a noite em que pude ter Alycia apenas para mim e por mais que momentos como esse fossem se tornar cada vez mais raros, eu conservaria este dia na memória e teria novos momentos para recordar em meus sonhos.

            A vida parecia ter me dado uma chance de ver como seria fazer parte do mundo de Alycia e de certa forma, eu seria eternamente grata por ter tido essa chance. Era como a minha noite de cinderela. E ao soar da meia noite, tudo voltaria ao normal ao meu redor, embora permanecesse diferente em meu coração.

            - Estou me sentindo naquele filme “O casamento do meu melhor amigo”. Alycia sorriu e desviou o olhar para o mar por um tempo.

            - Eu sou a Julia, só para constar. Mordeu a língua divertida. Seu perfume estava inundando meus sentidos e me embriagando.  Meu corpo formigava e as ondas elétricas percorriam minhas células intensamente.

            - E porque eu sou o cara? Arqueei a sobrancelha e sorri.

            - Porque você sabe cantar. E ele canta para ela enquanto dançam.

            - Eu poderia cantar para você então?

            Nossos corpos se aproximaram naturalmente e Alycia soltou minha mão, enlaçando os braços no meu pescoço. Ela deitou a cabeça na minha curva de pulso e fechei os olhos com a sensação de tela tão perto. Abracei sua cintura e nos movíamos lentamente para um lado e para o outro, no ritmo da música. A respiração quente de Alycia tocava meu pescoço fazendo um arrepio percorrer pela minha espinha. Era bom. Era muito bom estar com ela. Literalmente meus pés pareciam flutuar enquanto meu corpo estava anestesiado pelo toque da pele de Alycia.

            - Seria ótimo se você cantasse pra mim. Eu adoro a sua voz Loo.

            Fechei os olhos com mais força. Estava humanamente impossível me controlar dessa forma. A vontade de beijá-la crescia cada vez mais. Minhas mãos apertaram-se ainda mais em sua cintura e procurei me concentrar na música. Mais uma vez o trecho que estava tocando parecia traduzir o que eu estava sentindo. Aproximei minha boca do rosto de Alycia e deixei minha voz rouca cantar apenas para ela.

With each word your tenderness grows (A cada palavra, a sua ternura cresce)

Tearing my fears apart (Levando meus medos embora)

And that laugh that wrinkles your nose (E aquela risada que enruga seu nariz)

Touches my foolish heart  (Toca meu coração bobo)

Yes you're lovely, never ever change (Sim, você é adorável, nunca, jamais, mude)

Keep that breathless charm (Mantenha esse charme que me tira o folêgo)

Won't you please arrange it? (Você não irá, por favor, arranjar isso?)

'Cause I love you (Porque eu te amo)

Just the way you look tonight (Exatamente como você está essa noite)

 

        E eu amava. Eu amava Alycia em segredo. Eu amava a forma como ela estava essa noite e todas as outras. Os detalhes do seu rosto e as imperfeições quase inexistentes. Eu amava a forma como ela olhava a vida e as pessoas. O jeito como ela ria ou sorria. O jeito delicado como ela tocava as flores não importa onde ela estivesse. A forma como ela conseguia ser angelical e ao mesmo tempo moleca. E como o mundo naturalmente girava ao redor dela ao mesmo tempo em que ela não fazia nada para isso. Eu amava o seu magnetismo natural.

          Quando dei por mim, uma lágrima solitária escorreu pela minha bochecha no mesmo instante em que Alycia elevou o rosto para olhar para mim. Seus olhos brilharam num misto de ternura e confusão como se ela tentasse entender o que aquele momento significava para mim ou para nós. Ela secou minha lágrima delicadamente com o polegar, o olhar ainda concentrado no meu rosto, ainda tentando me decifrar. Perto demais de mim. Perto demais da verdade. A verdade que estava transbordando pelo meu corpo, refletida pelo meu olhar e que eu havia cansado de esconder.

   - Porque você estava nervosa mais cedo? Ela sussurrou me olhando tão profundamente que desarmou qualquer vontade que eu tinha de fugir novamente.

  - Você me deixa nervosa às vezes. Confessei em sussurro, meu olhar caindo para seus lábios.

  - Você está nervosa agora?

        Não fui capaz de dizer nada com seu hálito tão perto do meu rosto. Apenas levei sua mão até meu peito onde meu coração batia acelerado. Alycia fechou os olhos de imediato. Suspirou profundamente. A morena encarou sua mão enquanto sentia meu coração bater loucamente em meu peito. Ela me olhou de volta, com os orbes verdes marejados em lágrimas e eu sabia que ela tinha finalmente entendido. Ela tinha entendido que o que eu sentia por ela não era apenas amizade. Que aquele momento era tudo que desejava secretamente em meus sonhos. Achei que estaria pronta para o momento em que Alycia descobrisse meus sentimentos e me dissesse que não podia me dar esperanças. No entanto, enquanto ela me encarava em silêncio sentindo meu coração, tive a certeza que jamais estaria pronta para vê-la partir.

         Porque todo meu ser desejava que ela ficasse.

       - Você me deixa nervosa também.

          Ela sussurrou e seu olhar recaiu para os meus lábios. Por um momento achei que estivesse imaginando, mas os olhos verdes praticamente encobertos por seus longos cílios congelaram encarando minha boca. A música ao redor, a lua acima de nós, nossos corpos ainda bailando de leve, tão próximos... Colados o bastante para impedir-me de soltá-la. Não havia mais volta. Não havia mais como fugir do que eu sentia. E mesmo que no final a perdesse para sempre, me orgulharia de ao menos ter tentado mostrar que ela era meu mundo. E que se me quisesse eu seria o mundo dela.

       - Alycia eu... Antes que eu pudesse confessar o que sentia, ela colocou o dedo indicador na minha boca para me impedir de falar e negou com a cabeça.

     - Não diz nada Eliza, só... Por favor, só...

      Suas palavras morreram no silêncio da noite estrelada, mas seu olhar falou por ela quando os tons em verde escuro recaíram novamente para minha boca e eu pude sentir, quase que de forma palpável o desejo refletido neles. Em um ímpeto de coragem fechei o espaço entre nós e uni nossos lábios.

       Então, foi como curar-me de uma abstinência da alma. A consistência dos lábios macios junto aos meus pareciam um sonho afinal. Eu desejei, com todo meu ser, nunca mais acordar. Desejei sentir aquela textura e sabor para sempre. As mãos de Alycia subiram para minha nuca e seus dedos se perderam nos meus cabelos loiros que voavam discretamente. Nossos lábios se entreabriram num movimento sincronizado, encaixando-se perfeitamente. O beijo era doce, com gosto de vinho, calmo como a noite acima de nós e intenso com as ondas do mar aos nossos pés. Nossas bocas se estudavam enquanto meu coração batia sem controle, sem ritmo, em pleno desespero, explodindo de amor e desejo. Entrelacei minhas mãos na cintura de Alycia e puxei-a para perto, inclinando meu rosto para aprofundar o beijo que eu tanto desejei.

      Minha língua tocou o lábio inferior de Alycia com cuidado e ela abriu mais os lábios permitindo que eu o explorasse. Nós paramos de dançar em algum momento, mas nossos lábios tinham o ritmo perfeito que aos poucos se encaixavam com as batidas do nosso coração. E quando minha língua deslizou sobre a Alycia inteiramente pela primeira vez, era como se meu corpo derretesse, como se eu estivesse flutuando. Sua língua quente fez meu corpo tremer e a desejei-a com ainda mais força. A morena soltou um gemido abafado e apertou suavemente meu cabelo enquanto fiz o mesmo em sua cintura.

       Alycia inclinou ainda mais o rosto e sua língua explorou minha boca por inteiro. Embriagando. Sugando. Tomando para ela cada canto de mim. Era real. Não era uma encenação. Éramos nós. Ela estava me beijando. Ela me desejava. E mesmo que não me amasse eu tinha uma chance de conquista-la. E eu me apegaria a isso com todas as minhas forças.

       A música chegava ao fim, mas outra logo se iniciou. O tempo parecia estar parado enquanto meus lábios exploravam os dela. O cheiro de flores embriagando meus sentidos. A pele quente de sua cintura adormecendo a ponta dos meus dedos. Nós quebramos o beijo quando o ar se fez necessário. Colei minha testa a de Alycia, mantendo os olhos fechados. Nossa respiração forte e ofegante quebrando o silêncio entre nossos corpos. Por um momento tive medo de abrir os olhos, ainda assim precisava olhar para ela. Precisava gravar aquele momento antes que ele terminasse.

       Alycia respirava com dificuldade, a bochecha rosada e a boca entre aberta por onde sua respiração quente saía. Apertei-a mais contra mim, na tentativa de impedir que ela fugisse assim que sua mente percebesse o que tinha acabado de acontecer. Teria eu ido longe demais? Ela permaneceu com os olhos fechados, as mãos entrelaçadas atrás do meu pescoço, segurando meus cabelos com certa dificuldade.

       - Alycia? Sussurrei, temendo o que viria a seguir.

       Os longos cílios elevaram-se em câmera lenta, revelando cuidadosamente o tom verde escuro que reluzia em seus orbes. Ela me encarou intensamente, em silêncio, por intermináveis segundos. Tudo havia paralisado, inclusive a minha respiração.

      - Me desculpe se eu... Se eu fui longe demais, eu não queria te magoar.

       - Você não queria isso? Ela perguntou olhando-me confusa.

       - Você queria? Rebati, com o coração martelando freneticamente.

       - Há tanto tempo que nem sei precisar... Ela sorriu e meu sorriso rasgou minha face em reflexo. Meus olhos sorriram, meu corpo sorriu. Tudo em mim parecia transbordar felicidade.

       - Eu te quero tanto Alycia... Tanto... Beijei seus lábios novamente e ela fechou os olhos em reflexo.

       - Então me tome pra você. Aqui e agora. Não posso mais esperar ou negar nada disso.

         Com relutância separei nossos corpos, entrelaçando minha mão à dela e levando-a a cabine que achei que não seria usada. Nós andamos pelo longo corredor do navio em silêncio e minhas mãos tremiam um pouco quando passei o cartão no leitor para destravar a porta. A luz se ascendeu automaticamente e Alycia fechou a porta atrás de si. Virei-me para encará-la sentindo o coração na garganta. O magnetismo entre nossos olhares agora finalmente sendo real para mim. Nossas respirações pesadas. O tórax subindo e descendo com força em busca de ar. Depois de uns segundos misturando tons de azul e verde em nossos olhos, os corpos avançaram um contra o outro, chocando-se bruscamente, ansiando em desespero.

       Minhas mãos puxaram Alycia com força e ela apertou meus cabelos puxando-os com posse e fervor. Nossas línguas travaram uma batalha apaixonada, os gemidos abafados entre os lábios, o desejo latejando em meu ventre e irradiando pelo meu corpo. Meu casaco foi retirado com pressa enquanto fui andando para trás até sentir meu joelho bater na cama de casal e cair sentada. Alycia me olhou por um momento. Ela desligou a luz do quarto com o controle e apenas a luz da lua iluminava a cabine através da varanda. A mesma lua parcialmente refletida em seus olhos verdes acesos e escuros. O som do mar batendo no casco misturando-se com o som da nossa respiração cortante. Engoli em seco, sentindo meu corpo todo tremer diante da visão.

       A morena debruçou-se sobre mim, deixando seu corpo pesar sobre o meu lentamente. O beijo cheio de tesão que trocamos me consumiu e comecei a retirar o casaco amarrado em seu pescoço jogando-o de lado. Minhas mãos procuraram a barra de sua blusa, puxando-a para cima. Alycia elevou os braços, sem tirar os olhos de mim. Quando a blusa passou por sua cabeça ela sacudiu os cabelos castanhos, que caíram feito cascata por seus ombros. Suspirei diante de sua beleza. Os seios pequenos cobertos por um sutiã de renda preta tinham os bicos duros e convidativos. O abdômen moreno e torneado iluminado por frechas de luz. Minhas mãos percorreram seu ventre e a morena suspirou fechando os olhos, assim que apertei seus seios com um pouco de força.

      Alycia montou no meu quadril e começou a puxar minha blusa. Ergui os braços, sentando na cama, com ela ainda montada em meu colo, enquanto o tecido branco foi puxado para fora do meu corpo e jogado em algum canto do quarto. Os olhos de Alycia recaíram repletos de desejo para meus seios cobertos por um sutiã branco. A luxúria em tom de verde fez meu ventre contrair e meu sexo molhar em resposta. A morena levou as mãos até meus seios fartos e os apertou com volúpia enquanto invadia minha boca com sua língua quente. Apertei sua cintura na tentativa desesperada de esvair todo desejo que consumia minha carne. Ela rebolou no meu colo, fazendo pressão para baixo, causando pontadas no meu sexo. Minhas mãos correram para o cós de sua calça jeans, desabotoando e abrindo o zíper com pressa. Alycia ficou de pé para que eu retirasse a calça mais facilmente, deixando apenas a calcinha preta e pequena de renda cobrindo seu sexo. Minha língua serpenteou seu abdómen liso e ela jogou a cabeça para trás gemendo e segurando meus cabelos, quando apertei sua bunda com força. Fui subindo os beijos voluptuosos até o vale de seus seios, lambendo entre eles até a ponta de seu queixo.

     - Eliza...

     Alycia sussurrou com a voz rouca de desejo, o que me fez ficar ainda mais louca. Meus dedos soltaram seu sutiã, retirando-o em seguida. Os bicos morenos e rígidos apontando para mim era um convite à luxúria. Os lambi sensualmente, olhando para ela, que gemeu abafado e mordeu a boca. Os olhos verdes cravados em mim pareciam me revirar do avesso. Ela sentou mais no meu colo, inclinando seu corpo para mim, dizendo com gestos o que queria. Por mais que eu quisesse prolongar aquele momento, sentia meu sangue ferver, o coração bater tão fonte que poderia parar a qualquer instante.

    Sem pensar mais, abocanhei o seio direito de Alycia com fome, o bico enrijecendo ainda mais na minha boca, fazendo meu sexo encharcar em resposta. Com a mão livre apertei o outro seio, torcendo o bico entre meus dedos. Alycia gemeu mais alto, enquanto minha boca sugava e devorava seu seio, deixando-os ligeiramente vermelhos. Ela cravou a unha nos meus ombros quando repeti a ação no seio esquerdo. A dor e o prazer lacerando minha pele. O gosto dela era inebriante. Viciante. Puramente feito para o prazer.

      A morena soltou meu sutiã, agarrando meus seios nus enquanto eu ainda chupava os seus. Nervosamente ela começou a desabotoar minha calça, saindo do meu colo e puxando-a com desespero, tirando sua calcinha em seguida e puxando a minha. Deitei seu corpo sobre o meu e virei-a na cama, ficando por cima. Prendi as mãos de Alycia acima de sua cabeça, meus olhos conectados aos dela, nossos corpos sentindo um ao outro, meu sexo tão encharcado quanto o dela. A pele quente. Muito quente.

     Ali, naquele instante, a vida finalmente tinha sentido para mim. Cada segundo de espera, cada sonho, cada noite em que almejei ter Alycia em meus braços tinha valido a pena. A verdade rasgou qualquer medo e sanidade que eu pudesse ter. O desejo de expor-me por inteiro rompendo qualquer barreira de modo avassalador. Naquela conexão surreal de nossos olhares, naquele mundo que parecia só nosso, não havia mais nada que eu pudesse fazer, a não ser deixar que meu coração tomasse as rédeas.

     - Eu estou completamente, perdidamente apaixonada por você Alycia. Eu te amo.

     A morena sorriu, as pupilas dilataram em verde escuro, o suspiro pesado escapou por seus lábios. O peito subia e descia com força. Ela não disse nada, mas honestamente não esperava que dissesse. Tudo que eu precisava era dizer o que sentia. Libertar-me.

     Alycia puxou-me pela nuca, beijando-me com ainda mais intensidade. Chupei o lóbulo de sua orelha, desci por seu pescoço e chupei seu ponto de pulso com vontade, sugando a pele morena para o interior da minha boca. Alycia gemeu, mordeu meu ombro e arranhou minhas costas. Minha pele se arrepiando sob suas mãos. Meus beijos molhados foram descendo por seu corpo, lambi os seios, rodeando sua auréola com minha língua, sugando o bico com fome repetidas vezes. As costas da morena arqueavam e suas mãos se enterravam na minha bunda, as unhas cravando a carne quente. Suguei os seios sem parar, deixando-os vermelhos e sensíveis. A morena sussurrava palavras incoerentes, a respiração forte e os gemidos intercalando-se, exalando todo desejo que ela tinha.

     Deixei que minha boca descesse pelo vale entre os seios, percorrendo seu abdômen, onde chupei a pele em vários pontos enquanto meus dedos escorregaram pelos lábios do sexo de Alycia, sentindo o líquido viscoso e quente molhá-los. Ela arqueou o quadril, agarrando meus cabelos com força enquanto minha boca beijava e mordia suas coxas. Meus dedos subiam e desciam entre suas bordas, esfregando o nervo rígido cautelosamente. Minhas pernas já estavam úmidas, meu próprio líquido escorrendo por elas. A sensação de dar prazer a Alycia me inebriando por completo.

    Inalei o cheiro de mulher vindo dela, o sexo pequeno, brilhante e úmido, depilado, rosado e convidativo. Minha boca salivou de vontade de prova-la, mas permaneci ali deixando meu hálito quente tocar o nervo de Alycia. Ela gemeu ainda mais forte oferecendo o ventre pra mim, implorando por mais.

    - Eliza... Por favor...  Por favor...

     Sua voz falhada e inebriada de desejo fez novas pontadas de desejo se formar em meu ventre. Abri mais suas pernas e sem esperar mais, lambi vagarosamente seu sexo encharcado, sentindo o gosto salgado e delicioso inundar minhas papilas, na medida em que minha língua subia fundo de baixo para cima entre seus lábios até lamber seu clitóris inchado.

    - Oh, meu deus! Alycia gemeu arqueando as costas e agarrando mais forte meu cabelo. Repeti a lambida com a mesma lentidão, meu líquido quente escorrendo entre minhas coxas, meu corpo em ebulição por sentir o gosto dela – Porra, Eliza!

     - Você é deliciosa. Eu preciso te chupar. Disse abrindo mais suas coxas, deixando as dobras rosadas expostas pra mim.

     - Me chupa, por favor!

       Ela pediu em sussurro, gemendo forte assim que abocanhei seu clitóris, sugando-o para dentro da minha boca, sentindo-o inchar na minha língua. Apertei a carne das coxas de Alycia e escorreguei minhas mãos para suas nádegas, elevando um pouco seu quadril pra mim. Afundei minha língua em sua entrada, lambendo toda sua extensão e sugando seu clitóris em seguida. A morena gemeu alto, soltando meus cabelos e agarrando os lençóis brancos com desespero. Olhei-a gemer cada vez mais enquanto rodeava a língua em seu nervo rígido com rapidez e sincronia. Meus dedos escorregaram por seu líquido, penetrando seu sexo. Alycia gritou mais forte, perdida no prazer enquanto meus dedos entravam e saiam em estocadas firmes. Os músculos de sua boceta esmagando meus dedos no mesmo ritmo, enquanto seu nervo inchava mais e mais na minha língua. Ela estava perto e eu estava prestes a gozar apemas por dar prazer a ela.

     - Oh meu Deus, eu vou... Suas palavras cessaram no momento em que estoquei ainda mais rápido e suguei seu clitóris ao mesmo tempo.

     - Goza pra mim baby... Disse com a voz quase rouca, meu ventre contraindo na medida em que a vagina de Alycia esmagava meus dedos. Ela jogou a cabeça para trás e seu líquido encharcou minha mão, enquanto eu corpo tremia em vários espasmos. Deixei que minha língua mergulhasse em sua entrada, assim que deslizei meus dedos para fora, sorvendo e sugando seu gozo quente. Sentia-me em completo êxtase, inebriada e viciada no gosto de Alycia. Ela respirou em sôfrego, parecendo querer recuperar a sanidade, para só então me puxar pelo braço, obrigando-me a subir meu corpo por sobre ela. Seus olhos estavam escuros, os lábios abertos, o rosto suado e vermelho, os cabelos desgrenhados. Não havia mulher mais linda que ela. Nunca houve. Alycia puxou meu rosto para si, beijando meus lábios e me invadindo com sua língua, sentindo o gosto dela na minha boca. Ela abriu as pernas longas, acomodando meu ventre elas e cruzando-as em meu quadril. Suas mãos agarraram minha bunda, puxando meu sexo de encontro ao dela e sua boca sugou meu seio com vontade. Arqueei minhas costas, sentindo o desejo latejar na minha carne, sentindo meu sexo encharcar ainda mais. Apoiei meu peso nos braços ao redor de Alycia e comecei a esfregar meu sexo contra o dela. Nossos líquidos se misturando, os gemidos intercalados, o suor dos corpos criando uma linha em nosso abdômen.

    - Me come... Eu quero sentir você...

     Alycia sussurrou no meu ouvido e gemi em resposta. Meu ventre investiu ainda com mais força contra ela. Nossos clitóris esfregando um no outro, minha língua sugando seu ponto de pulso enquanto ela gemia no meu ouvido. O som dos sexos molhados chocando-se preenchia o silêncio do quarto, fazendo o prazer ser ainda maior. Alycia sugou meus seios novamente, deleitando-se com eles sem pudor. A pressão em meu ventre aumentou e meus pés começaram a formigar. Senti as paredes de minha vagina contrair e gemi alto, aumentando o ritmo e a força com que deslizava meu sexo sobre o dela. Alycia soltou meu seio, jogando a cabeça pra trás e gemendo tão alto quanto eu. Ela agarrou minhas costas e fechou os olhos com força e eu sabia que ela viria junto comigo. No instante seguinte, nossos corpos tremeram juntos, em puro êxtase. Embriagados e emaranhados. Eu podia sentir cada canto do meu corpo explodir e em seguida relaxar.

     Meu corpo caiu sobre o dela, exausto e mole. Fechei os olhos com um pequeno sorriso nos lábios assim que senti os dedos longos de Alycia acariciando meus cabelos soados e tirando algumas mechas que estavam coladas na minha testa. Elevei o olhar apenas para ver novamente a imensidão verde tão de perto, agora em tons mais cristalinos e calmos. Alycia sorriu timidamente deixando a ponta de seu dedo indicador percorrer os traços da minha mandíbula, me fazendo suspirar.

     - Você parou de fumar?  Ela perguntou com um tom baixo ainda cansado enquanto acariciava meus cabelos.

     - Não preciso fumar quando estou com você.

     Apoiei meu queixo entre os seios de Alycia para encará-la e abracei-a por debaixo de seus braços. As bochechas dela estavam coradas e o cabelo tão suado quando o meu. Ela continuou acariciando meus cabelos suados, os olhos em tom verde claro analisando meu rosto. Um sorriso desconfiado brotou em seus lábios carnudos vermelhos e inchados. A sobrancelha arqueou ao mesmo tempo, fazendo-me rir.

     - O que foi?

  - Você fumou da última vez em que nos encontramos. Então porque agora é diferente se você não parou?

  - É que bem... Eu não queria...

  - Você não queria? Encorajou-me. Era apenas outra confissão e não era tão pesado quanto confessar que a amava durante o sexo, mas ainda assim eu estava nervosa.

  - Eu não queria beijar você com gosto de cigarro e menta na boca. Mordi o lábio sentindo minhas bochechas esquentarem e Alycia riu de leve achando graça.

   - Porque não?

   - Porque bem, eu sei que você não fuma e não gosta que eu fume. E para quem não fuma o gosto amargo do cigarro, mesmo disfarçado de menta não é lá muito agradável... eu acho. Abaixei o olhar sem coragem de encará-la. Alycia riu outra vez.

   - Esse seu lado fofo é encantador sabia? E eu nem imaginei que ele existisse. Alycia puxou de leve meus ombros e subi meu corpo deixando meu rosto praticamente colado ao seu. Ela inclinou os lábios dando-me um selinho longo e carinhoso, que correspondi. – Mas não acho que isso seria um problema, quer dizer, se você tivesse fumado. Ainda assim continuaria sendo muito bom beijar você. Mordeu o lábio e sorriu. Sorri de volta, sentindo meu corpo ainda mais leve. Era tão bom saber que ela se sentia bem em minha companhia.

   - Que bom que gosta do meu beijo.

   - Eu gosto de você, mas tem uma coisa que precisamos conversar. A expressão de Alycia ficou mais séria – O que você disse instantes atrás, que está apaixonada por mim, é verdade? Balancei a cabeça positivamente e Alycia sorriu levemente, como se estivesse feliz por confirmar – Eu não sei muito bem o que dizer agora...

   - Você não precisa dizer nada eu só quis.... Eu precisava dizer. Não conseguiria guardar isso por mais tempo.

   - Quanto tempo?

   - Desde o nosso beijo ano passado na cena.

   - Eliza eu...

   - Não precisa dizer nada. Eu entendo.

   - Não, eu quero dizer. Eu também sinto algo muito forte por você, mas ainda não tenho certeza do que é. Eu só não quero agir por impulso e te magoar ou me magoar. Isso tudo é muito novo para mim. Esse sentimento e o fato de estar com uma mulher. Com você. Eu só preciso de um tempo para organizar isso tudo e ter certeza do que eu quero.

    Assenti, sentindo meu peito doer. Por mais que eu soubesse que não ouviria que Alycia me ama, ter certeza era diferente. Tentei me apegar à esperança de que não havia sido totalmente rejeitada e que ainda havia uma chance de conquista-la.

   - Tudo bem. Disse simplesmente.

  - Nós vamos nos ver em alguns meses para continuar a gravação e bem, eu prometo que vou te dar uma resposta até lá. Talvez você também precise ter certeza do que me disse.

  - Eu tenho. Não preciso de tempo Alycia, porém respeito sua decisão. Apenas não ache que fui impulsiva. Eu sei o que sinto por você há muito tempo.

    Dessa vez ela não disse nada, apenas ficou me encarando em silêncio como se estivesse processando tudo que aconteceu.

   - Eu preciso ir. O navio já está quase atracando e eu tenho um voo daqui a duas horas.

  - Tudo bem. Eu deixo você no hotel.

  - Posso te pedir uma coisa? Ela disse em sussurro e respondi com um som nasal – Me beija outra vez?

      E sentindo meu coração martelar loucamente, meus lábios encontraram-se com os de Alycia. Nossas línguas se acariciaram com doçura e calma. O som do mar ao nosso redor e a lua como testemunhas do momento. A incerteza de que aquilo aconteceria de novo e a sensação de perda esmagava meu peito.  

    O pensamento de que ela partiria e talvez, realmente, nunca mais voltasse para os meus braços era ainda pior do que pensar que nunca teríamos um momento juntas. Antes era tudo um sonho, mas agora eu tinha provado o real. Eu sabia como era maravilhoso estar com ela e fazer parte do seu mundo. Eu desejava, com todo meu ser, que ela me escolhesse.

   Vendo Alycia descer do carro, depois de seguirmos todo caminho em silêncio, ofertando-me um breve aceno e um sorriso tímido esmagava minhas esperanças.

   Ainda assim, sem que eu pensasse ou percebesse, meus lábios deixaram escapar uma frase que agora fazia ainda mais sentido para mim.

  “Que nos encontremos novamente”        

****

Vancouver, 12 de janeiro de 2016

POV ALYCIA

       Era um dos meus últimos dias de gravação e gravaríamos a primeira da cena em que Clarke e Lexa se entregavam uma à outra. Depois disso, haveria apenas a gravação do último episódio da temporada, nas ruas de Vancouver com acompanhamento dos fãs. Sentia-me mais nervosa que o normal, não só por estar me despedindo da série e de um personagem que eu amava incondicionalmente, mas também por Eliza.

       Nós não estávamos muito próximas depois da noite do navio e eu sabia que tudo era minha culpa. Acabei me afastando para pensar no que eu realmente sentia e quando a encontrei novamente não consegui expor meus sentimentos como prometi. Toda essa distância foi consequência dos meus atos, da minha insegurança e do meu medo. Sim, eu estava loucamente apaixonada por Eliza. Já sabia disso antes mesmo de me entregar a ela, mas quis ter certeza de que era mesmo real, de que o sentimento dela era real. Eliza sempre foi desapegada em suas relações amorosas e talvez estivesse apenas confusa ou encantada com nossa convivência intensa no set e nas cenas. Depois da decepção que tive com Marcus ao longo da vida tinha medo de me entregar de corpo e alma e depois descobrir que novamente me iludi. E por mais que eu tivesse pedido espaço, o silêncio de Eliza e a pouca iniciativa em puxar uma conversa comigo me fazia crer que talvez eu estivesse certa. Ela se enganou quando disse que me amava e agora devia estar com vergonha de me enfrentar. Talvez estivesse com medo que eu dissesse que gostava dela depois de descobrir que ela não se sentia do mesmo modo.

      Minhas noites de sono já não eram as mesmas e Maia já não aguentava mais minhas lamentações. Se não fosse por ela e minha intensa agenda profissional pela AMC literalmente eu teria enlouquecido. À noite com Eliza não saia da minha cabeça um só dia. O cheiro dela parecia permanente na minha pele. O sabor da sua boca parecia gravado na minha. E quanto mais eu pensava nela, mas longe ela ficava de mim.

   - Meninas nós começaremos em 10 minutos!

      Jason falou no microfone do estúdio de som e neste momento Eliza, que conversava animadamente com Richard alguns metros a minha frente, olhou em minha direção. Os olhos azuis pareciam tristes e ainda assim senti meu coração pular feito louco no peito. Sustentei meu olhar, querendo alcançar qualquer brecha para levantar e ir ao seu encontro, mas ela desviou sua atenção para Richard novamente me deixando com meu silêncio.

      - Você devia ir lá falar com ela sabe? A voz conhecida no meu ouvido me fez pular na cadeira e levei a mão ao coração com o susto que levei. Por sorte, o órgão já pulsava acelerado no meu peito pelo efeito do olhar de Eliza e isso talvez tenha me impedido de ter um ataque cardíaco!

     - Quer me matar Linz?! Lindsey deu uma breve gargalhada enquanto sentava ao meu lado chupando um sorvete em meio ao frio da tarde de Vancouver.

     - Eu não, mas o chato do Jason quer! Ela revirou os olhos e me fez rir. Não era novidade que o fato de que Lexa morreria não era aceito por ninguém do cast, a começar por mim.

     - Por favor não me lembre disso. Vou gravar essa parte amanhã e não me sinto pronta ainda para o adeus. Lindsey tocou meu ombro em sinal de consolo e sorri para ela voltando meu olhar para Eliza de novo.

      - O que eu disse ainda está de pé. Você devia mesmo falar com ela, Aly.

      - Não acho que ela queira, sabe... conversar comigo. Não a julgo eu só...

      - Desapareceu do mapa depois de uma noite de sexo maravilhosa com a lua e o mar de testemunhas? Linz chupou novamente o sorvete, batendo na minha cara com a naturalidade de quem dá bom dia. Senti minha boca abrir em espanto.

       - Espera! Você sabe disso? Linz revirou os olhos e sorriu.

       - Duh! Sou a best da Eliza esqueceu? Eu sei de tudo antes de mesmo de você sonhar em saber – Senti minhas bochechas esquentarem. Quer dizer eu amo Lindsey e me sinto à vontade com ela, mas sempre fui tímida para falar das minhas intimidades. Deus sabe como foi torturante resistir ao interrogatório de Maia e fazê-la se contentar com informações básicas do que foi a melhor noite da minha vida. Lindsey pareceu perceber meu desconforto e visível vergonha e novamente colocou a mão no meu ombro – Olha, não fique assim ok? Eu sou brincalhona e tudo mais, no entanto, levo os sentimentos de Eliza muito a sério. Eu jamais contaria isso a ninguém. E apenas eu sei do que aconteceu entre vocês, pode ter certeza.

       - Não duvido de você Linz, é que, bem, sou meio tímida para falar da minha vida pessoal.

       - Sei que é. Ainda assim me sinto na obrigação de te incentivar a falar com ela. Me corta o coração ver esse olhar triste da Eliza há meses. Ela não é mais a mesma Aly. Então se você não quer nada com ela, por favor, apenas diga isso honestamente e quem sabe vocês podem ser amigas no futuro depois que ela conseguir seguir em frente. Você sabe o quanto eu gosto de você e por isso estou tomando a liberdade de te dizer essas coisas.

         Meu peito batia loucamente quando a fala de Linz fez sentido para mim. Se Eliza estava mesmo triste por mim então isso significava que...

       - O que você quer dizer realmente?

       - Eliza é apaixonada por você Alycia. Você sabe disso porque ela mesma te disse não foi? Não entendo qual ainda é sua dúvida.

       - Eu achei... achei que... Linz eu também estou apaixonada pela Eliza – O sorriso irradiou na face da morena – Eu pedi sim um tempo para pensar, mas ela não me procurou então presumi que ela tinha percebido que se precipitou porque Eliza nunca foi alguém de se relacionar sério e depois eu apenas... apenas...

      - Teve medo de se abrir e ouvir que ela não se sentia da mesma forma. Teve medo de se magoar novamente. Acertei?

      - Quando você se tornou tão sábia? Brinquei.

      - Meu amor, sou a Raven né? A que sempre salva a pele de vocês por ser incrivelmente inteligente. Em quem você acha que o roteirista se inspirou hã? - Gargalhei – Alycia eu sei que minha amiga era muito porra louca antes de se apaixonar por você e obviamente você sabe disso, mas ela realmente mudou. Você tem um mel nessa boca carnuda e nesses olhos incrivelmente verdes que realmente fez a antiga Eliza desaparecer. E o quão irônico é pensar que meu OTP supremo Clexa tem uma versão real em Elycia? Deus! Como eu queria postar isso no twitter! Gargalhei novamente e Linz me abraçou.

       - Você não existe mesmo sabia?

       - Existo sim. E estou novamente salvando o dia. Só chama ela para conversar, ok? Ela é muito cabeça dura e cismou que você se afastou porque se arrependeu daquela noite e ela tem vergonha de falar com você. Ela está triste Alycia. Ela se sente culpada por achar que foi longe demais. Então por favor só faz aqueles olhos azuis brilharem de novo e eu prometo não zoar vocês por alguns meses.

       - Como ela pode pensar que.... Eu jamais me arrependeria daquela noite.

       - Apenas diz isso para ela, ok? De sofrência já basta a minha por ser Clexa shiper.

             “Meninas, vamos começar? Aos seus lugares por favor!”

   A voz de Jason ecoou mais uma vez e suspirei fundo depois de abraçar Lindsey com carinho. Ela piscou para mim encorajando-me, porém, por mais que eu quisesse falar com Eliza, precisaria esperar o fim das gravações. Agora era a hora de ser Lexa, embora no fundo aquele script parecesse tanto com minha atual situação com Eliza, que mais do que nunca Lexa e eu erámos uma só.

**

     Eu deveria ser apenas Lexa enquanto esperava impacientemente o sinal para entrar na cena, mas na verdade sentia que grande parte de mim estava ali. Eliza começaria entrando no quarto de Lexa procurando por ela e eu apareceria em seguida para dar início a cena. Minha mente pensava no quão irônico aquele momento era para mim. Eu estava exatamente na mesma situação que Lexa. Eu amava a garota, eu queria a garota, mas tinha medo da garota não estar pronta para mim. Tinha medo de que aquele não fosse o momento. Eu queria, como ela, apenas uma brecha. Apenas um sinal por menor que fosse para deixar meu coração me guiar. Lexa e eu amávamos intensamente e tínhamos medo de perder quem amamos. Nós duas sofremos decepções muito grandes, por motivos diferentes, mas ainda assim fortes o bastante para nos fazer andar cautelosamente na areia movediça que o amor pode ser.

     Caminhei em direção a Eliza, que adentrava o quarto. Lexa olhava para Clarke sabendo que ela partiria e eu olhava para Eliza sabendo que talvez ela nunca mais voltasse para mim. Os olhos azuis brilhavam tristes e me perguntei se assim como eu, havia uma grande parte de Eliza presente nos sentimentos de Clarke. Pensei se talvez, apenas talvez, estivéssemos juntas num espaço só nosso em que os sentimentos se misturavam e se conectavam. Em que podíamos entender mais do que ninguém a dor e o amor dos nossos personagens. E que por isso, era como se nada daquilo fosse ensaiado. Era como se fossem dois amores sendo retratados. Um irreal, que todos conheciam e veneravam. E outro, real, que era um segredo apenas nosso.

    Meu coração disparou quando encontrei o olhar de Eliza. A respiração ficou pesada conforme me aproximei dela, segurando as pontas do meu cabelo que caiam de lado. A comandante olhava com tristeza para sua Wanheda e eu da mesma forma, para Eliza.

   “Quando você vai?” Iniciei a cena, agora de frente para ela.

   “Agora. Sinto muito”

  “Não sinta. Você tem que voltar para o seu povo. É por isso que eu...”

     Os olhos azuis se elevaram olhando-me com surpresa. A testa franzida indicava que aquela frase era algo que Clarke não imaginava ouvir. Lexa queria dizer que a amava porque ela sempre fazia a coisa certa. Porque ela era forte e não tinha medo de lutar pela paz. Porque ela foi a única capaz de quebrar as barreiras que ela ergueu em seu coração para acreditar na força do amor novamente. Ironicamente, eu queria dizer o mesmo para Eliza. Queria dizer que a amava ainda mais. A amava pelo seu espírito virtuoso, por cuidar de mim, por ser apaixonada pelo que faz. Por ser leal aos seus sonhos, aos que ela ama e aos seus fãs. Por ser apenas ela. Então, quando a declaração ficou presa na garganta de Lexa eu a entendi profundamente. Senti sua dor. Senti o medo que ela sentia por saber que dizer aquelas palavras podiam mudar tudo. Clarke foi magoada por ela no passado e talvez ainda não a tinha perdoado. Ela apenas esperaria por ela, não importa quanto tempo ela levasse para voltar. Ela preferia viver com a esperança de que ela voltaria, do que com a certeza que elas jamais se veriam novamente. Era exatamente assim que eu me sentia. Eu queria abrir meu coração e pedir que Eliza ficasse. Eu queria acreditar em tudo que Lindsey disse e no fundo eu acreditava. Mas eu sabia, porém, que a havia magoado quando sumi. Quando não cumpri minha promessa de voltar. E talvez, agora, ela realmente já tivesse partido da minha vida.

     “É por isso que você é você”

     “Talvez algum dia você e eu não devamos nada mais para o nosso povo”

     “Eu espero que sim”

     Estendi meu braço, para fazer a saudação do povo de Clarke e dizer a frase que antecederia o beijo de entrega delas. Ela segurou meu braço, espalhando aquela corrente elétrica tenra por todo meu corpo. Os olhos azuis fixos nos meus.

     “Que nos encontremos novamente”

     Então, tudo aconteceu em câmera lenta em minha mente. Eliza puxou-se pela nuca para um beijo. Eu sabia que eram Clarke e Lexa ali e eu realmente sentia tudo que a comandante sentiu. Os lábios quentes tocaram os meus num beijo desesperado, apaixonado. Um beijo de rendição. Um beijo de esperança. Um beijo de confissão. Um beijo que significava tudo para Lexa. Que tornava real o fato de que a garota que ela amava poderia amá-la também. Então, lembrei que quando nos beijamos no barco, aquele beijo também tinha significado tudo para mim. Foi aquele beijo que me fez encontrar meu lugar no mundo e só ele poderia fazer com que eu voltasse a ser feliz.

      A lágrima quente desceu pelo meu rosto quando percebi quanto amor havia ali. O quanto elas se amavam e o quanto eu amava Eliza. Os olhos azuis brilharam surpresos e tenros. Ela, certamente, sabia que aquilo não fazia parte da cena. E eu tive aquele fio de esperança que ela entendesse que havia grande parte de mim ali. Que não era apenas por Lexa. Que era por nós. Ela voltou a me beijar e nada mais era premeditado em minha mente. Deixei que as emoções transbordassem. Deixei que o meu corpo matasse a saudade de tocá-la, beijá-la. Deixei que um pedaço de mim vivesse aquele momento junto com Lexa.

     E quando a cena acabou eu havia caído na cama quando meus joelhos se chocaram contra o colchão, da mesma forma que Eliza fez na nossa primeira noite de amor. Ela me olhou de forma tão apaixonada e tive certeza que naquela noite o meu olhar disse tudo para ela. E por um momento, voltei no tempo.

     A cena não precisou ser filmada novamente ou editada. Jason e toda equipe estavam abismados com o fato de que tudo aconteceu perfeitamente. Não havia como negar a química que nós tínhamos em cena. E se eles soubessem os sentimentos escondidos por trás de toda afinidade certamente não ficariam tão surpresos com o modo pelo qual tudo ocorreu tão bem.

     Quando todos se dispersaram, Eliza estava vestindo seu roupão branco encostada no canto do estúdio. A encarei, sem mover um músculo, pensando se realmente deveria me aproximar. Considerei sair sem nada dizer, conforme o medo da rejeição se formava. No entanto, grande parte de mim gritava para eu ser corajosa. Para eu não esperar mais. Para não errar de novo. Então, forcei minha perna a se mover em sua direção. Por um momento, pareceu que havia se passado uma eternidade nos segundos em que demorei para parar a frente dela. Eliza elevou os olhos azuis para me encarar. Engoli em seco enquanto ela forçou um sorriso fraco.

    - Oi... Disse em sussurro. A voz presa na garganta junto com meu coração.

    - Oi... Ela respondeu.

    - Eliza, eu... Eu... Droga! O que eu quero saber é, nós podemos nos encontrar hoje à noite e conversar?

       A sobrancelha da loira arqueou de leve, mas sua expressão manteve-se séria.

    - Alycia você não precisa me explicar nada. Eu já sei e estou lidando com isso ok? Apenas preciso de tempo.

    - Não, você não sabe. Eu preciso explicar. Preciso te dizer algumas coisas, mas não aqui. Sei que não tenho muito crédito depois de não ter cumprido minha palavra, mas estou profundamente arrependida. Será que você poderia, por favor, me ouvir só mais uma vez? E eu prometo, que se você quiser, depois desse jantar te deixo em paz.

       Minha voz saiu rápida e nervosa. Um tanto quanto trêmula. Eliza apenas me encarou em silêncio. Os orbes azuis parecendo analisar cada palavra e gesto. Parecendo querer ter certeza do que fazer. Tudo que eu ouvia era a batida do meu coração na garganta.

     - Tudo bem.

     - Ótimo. Posso te esperar no Blue WC às oito?

     - Ok.

     Ela assentiu, com um meio sorriso e saiu em seguida, me deixando com o coração desgovernado e uma chama de esperança queimando todo meu ser. Eu sabia que era minha última chance e não desperdiçaria dessa vez.

 

POV NARRADOR

       O Blue Water Café, um elegante restaurante de Vancouver foi o local escolhido por Alycia para o tão esperado jantar. A loira estava um pouco atrasada e Alycia tamborilava os dedos na mesa em total ansiedade. O medo de que ela não aparecesse exalando como oxigênio por seus poros. Como não fumava, Alycia pediu uma taça de vinho e sorriu para o garçom tentando não mostrar que estava muito ansiosa. Olhou para o relógio pela décima vez em dois minutos e já estava esperando a quase vinte por Eliza. Suspirou, cheirando o líquido vinho antes de saboreá-lo. Ao menos, se levasse um bolo da loira, poderia beber o bastante para não se lembrar disso no dia seguinte.

       Do lado de fora, Eliza batia a porta do táxi com um pouco mais de força que o normal. Ela estava nervosa e extremamente atrasada. Algumas horas atrás, tinha decido não ir. Não queria ouvir da boca de Alycia que ela não se sentia da mesma forma que ela e se afastou por ter vergonha de dizer depois que elas haviam feito sexo.  Já estava sendo difícil demais ter que olhar e contracenar com ela. Na cena que gravaram mais cedo, Eliza sentiu tudo que Clarke estava sentindo. Ela não queria, mas quando viu Alycia chorar seu coração quase saltou do peito. Era egoísta, mas internamente desejou que aquela lágrima fosse por ela. Então, quando se beijaram, mais uma vez não era apenas Clarke ali. Parte de Eliza se sentia como em setembro, se despedindo do que não teria por meio de um beijo irreal.

        O coque feito por Lindsey junto as mechas loiras que caiam pelo rosto, a maquiagem leve e as joias douradas, davam a Eliza um visual elegante. A amiga não quis dizer o que conversou com a morena no estúdio, mas a incentivou a ir e terminar ou começar de vez essa história. Eliza sabia que a amiga estava certa. Ela sabia que precisava seguir em frente e se livrar da dor. Encarar Alycia seria a questão principal desse processo.

       - Boa noite Madame. O metre cumprimentou-a na entrada do restaurante.

       - Boa noite.

       - Alguém a sua espera?

       - Sim. Senhorita Carey.

       - Oh, sim. Por gentileza me acompanhe.

      

        Eliza seguiu o elegante funcionário, sentindo o aroma diferente e agradável que o ambiente tinha. Seus olhos percorreram o local que parecia extremamente romântico. As mesas cobertas com tolhas brancas e vinho, as taças de cristal e os talheres de prata postos à mesa. A visão rústica e a enorme adega de vinhos preenchendo toda parede lateral tornavam o lugar perfeito. Ela se sentiu bem ali e por um instante ficou contente por Alycia ter se preocupado em encontrar com ela num lugar de tão bom gosto.

      No entanto, quando viu Alycia, aquele resquício de calmaria se foi completamente. O coração acelerou, a respiração pesou e o corpo tremeu. Alycia parou com a taça perto da boca e seus olhos brilharam quando viu Eliza tão perto. Os orbes verdes correram o corpo da loira e ela engoliu em seco repousando a taça na mesa. Seus olhos fixaram-se no azul brilhante de Eliza, que a encarava da mesma forma.

      A morena se lembrou de levantar – e de respirar – quando o metre as cumprimentou e saiu em seguida. De pé e próximas o bastante para que o cheiro dos perfumes se misturassem, permaneceram em silêncio, olhos no olhos, corações nervosos e respiração pesada. Alycia tentou limpar a garganta e Eliza puxou um sorriso no canto dos lábios quando viu um rubor rosa claro preencher as bochechas da morena.

     Enquanto se sentavam, Eliza percorreu o olhar pelo corpo da morena. Vestia um blazer branco com uma blusa verde por baixo, uma calça pantalona preta e nos pés uma sandália de tiras preta. Os cabelos soltos com algumas mechas presas atrás da cabeça, a maquiagem leve e o batom claro a deixavam simplesmente irresistível.

     - Oi... Alycia sorriu.

     - Oi. Eliza retribuiu sentindo a palma da mão suar.

     - Você gostaria de tomar vinho? Este aqui é realmente bom.

     - Sim, obrigada.

      O silêncio voltou até que o metre serviu as taças e entregou os cardápios. Elas escolheram a refeição, ambas tentando disfarçar o nervoso que as consumia. Eliza desejou fumar um cigarro para se acalmar já que não fumava desde que Alycia a convidou para jantar. O engraçado é que embora não tivesse esperanças e pensasse em não comparecer, escovou os dentes incontáveis vezes e acabou com uma caixa de balas de menta.

     - Você está bem? Alycia perguntou quebrando o gelo – Quer dizer depois da cena de hoje. Eu confesso que ainda estou um pouco mexida.

     - É, eu também. Nós fizemos um bom trabalho, porém. Acho que talvez isso possa consolar as pessoas quando elas perderem a Lexa.

    - Espero que sim.

    - Não era o final que eu gostaria. Amanhã será ainda mais difícil. Eliza se referiu a fatídica cena que gravariam no dia seguinte.

    - Nem eu. Ainda não acredito nisso.

    - Ninguém apoia essa decisão você já deve saber, mas não é como se pudéssemos evitar agora. Acho que temos que fazer o melhor que pudermos.

     Alycia assentiu, sentindo um nó na garganta ao ver a tristeza voltar aos olhos azuis que ela tanto amava. Ela quis dizer alguma coisa, mas as palavras sumiram por completo. Pensou em tocar a mão de Eliza por sobre a mesa, mas teve medo de que ela ficasse chateada. Então apenas tomou outro gole de vinho e deixou o olhar fixo no rosto de Eliza esperando o momento certo para continuar a conversa.  

      - Não sei se estou pronta para dizer adeus. Alycia deixou escapar referindo-se a personagem, mas Eliza elevou os olhos com uma das sobrancelhas arqueadas assim que ouviu a frase.

      - Você não vai perder seus amigos. Você vai ficar bem. Tem grandes projetos acontecendo na sua carreira e com certeza você vai deixar uma marca permanente nas pessoas. Lexa é única e sempre será. Você fez um trabalho incrível e me orgulho da história que contamos. Ninguém teria feito como você.

       Alycia abriu um largo sorriso. Um aberto e honesto que há muito tempo ela não demonstrava. Ela não pode deixar de pensar no quão incrível Eliza era. Ela estava ali, consolando-a e exaltando-a mesmo depois dela ter sumido sem qualquer explicação. Naquele instante, se deu conta do quanto ela sentiu falta de ouvir a voz rouca de Eliza. De olhar nos imensos olhos azuis e se sentir tão especial. Se perguntou porque tinha sido tão estúpida deixando-se levar por medos bobos, que nada significavam perto do quanto Eliza era importante para ela.

     A mão de Alycia finalmente tocou a de Eliza por cima da mesa. A loira elevou os olhos novamente, com uma expressão um tanto confusa no olhar. Alycia sorriu ainda mais.

    - Por um momento eu esqueci o quanto você é linda e o quanto senti sua falta. 

     Alycia disse com sinceridade e aquele sentimento refletia em seus olhos intensamente. O coração de Eliza pulou no peito, batendo descontroladamente quando o polegar da morena acariciou as costas de sua mão.

   - Eu apenas disse a verdade. Eliza disse em sussurro.

   - Eu também.

    - Olha Alycia... Eliza tentou ponderar não querendo se iludir novamente com gestos simples, mas antes que ela pudesse expor qualquer pensamento o dedo indicador da morena tocou seus lábios. Os olhos verdes brilhando em tom claro penetraram a alma de Eliza e sua voz sumiu na garganta.

     - Não, me deixa dizer por favor. Eu sinto muito Eliza. Sinto muito por ter sumido quando disse a você que te procuraria. Por ter sido covarde para falar dos meus sentimentos. Eu acho que no fundo nunca tive dúvidas do que eu sentia, mas tive medo de você ter se enganado. Você sempre foi desapegada com relacionamentos, ao contrário de mim que sempre estive acostumada a namorar. Marcus me magoou muito e eu realmente não queria investir em uma relação nova sem ter certeza que a outra pessoa estava comigo, por inteiro.

    - Você está querendo me dizer que não me procurou porque achou que disse que te amo da boca para fora? O tom decepcionado de Eliza assustou Alycia.

   - Não! Eu sei que você jamais faria isso. Eu só pensei que talvez você pudesse estar confundindo seu sentimento. Nunca pensei que você se interessava por mim e de repente ouvir que você me amava... Simplesmente foi difícil aceitar que era real entende? Já existem tantas fantasias sobre nós duas e os personagens e eu só fiquei...

    - Com medo? Eliza ponderou e a morena assentiu com um som nasal – Então, o que você descobriu? Sobre o que você sente? Eu entendo que provavelmente você quer apenas ser minha amiga e posso aceitar isso. Só preciso de um tempo para processar tudo porque ao contrário do que achou, nunca estive confusa.

     - Então você realmente estava...?

     - Eu ainda estou. Eliza disse encarando Alycia de perto. O coração da morena pulando no peito. Seu corpo implorando para sentir o da loira com tanta força, que quando deu por si, sua mão já estava atrás da nuca de Eliza puxando-a para perto e seus lábios chocaram-se carinhosamente contra os dela.

       Eliza arregalou os olhos, mas os fechou assim que os lábios carnudos da morena não se afastaram e continuaram a beijá-la suavemente. Ela deixou que sua mão entrelaçasse a da morena sobre a mesa e a outra apoiou-se em seu antebraço, enquanto os lábios se entreabriram e a língua quente e molhada de Alycia invadia sua boca com cuidado e intensidade. As borboletas voaram em desespero no estômago das amantes. Os corações tentavam acertar o ritmo para baterem juntos, as correntes elétricas fluíam e se encontravam através do contato de suas mãos. O tempo havia parado e o mundo delas tinha novamente se chocado enquanto o beijo, repleto de saudade e sentimentos escondidos acontecia no elegante restaurante.

      Quando o ar faltou, Alycia separou os lábios relutante, mantendo a testa colada na de Eliza da mesma forma que aconteceu no navio. Elas respiraram meio tontas e a medida em que abriram os olhos, sorriram uma para outra com felicidade. A mesma que sentiram quando haviam se entregado. A mesma que queriam sentir para o resto da vida.

   - Eu sempre estive apaixonada por você Eliza Taylor. Eu também te amo. Eu te amo muito.

      Eliza riu e sorriu, sentindo uma lágrima quente escorrer por sua bochecha, enquanto o polegar da morena a enxugava com enorme carinho.

   - Me perdoe por ter demorado tanto. Eu espero que ainda esteja em tempo de recompensar você.

    Eliza beijou-a novamente, um selinho demorado e cheio de significados. O primeiro sim não verbal.

    - Humm. Eu gosto de recompensas. O que tem em mente?

    - Jantar, dançar e bem... namorar? Alycia mordeu a língua sapeca, subindo ambas as sobrancelhas juntas repetidas vezes. Eliza gargalhou descontraída. Era a primeira vez em muito tempo, que estavam novamente à vontade perto uma da outra.

     - Se o jantar e a dança forem tão bons quanto o beijo que acabou de me dar, acho que posso pensar na última sugestão.

    - Bem, se a comida estiver salgada ou eu pisar no seu pé, compensar com beijos seria algo válido?

     - Espero que sim.

     - Neste caso, talvez seja melhor eu adiantar alguns beijos para o caso de bem, a comida não ser tão boa quanto o vinho.

      Eliza sorriu assim que os lábios da morena roçaram nos seus antes de beijá-la de forma arrebatadora.

      Ali, naquela noite de Vancouver, elas tinham finalmente se encontrado depois de tantos desencontros.

      Elas estavam finalmente vivendo no mundo Elycia.

***

San Diego, 24 de julho de 2016

POV ELIZA

           Eu estava ansiosa para rever minha namorada depois de semanas longe. Tinha acabado de voltar do Brasil, onde infelizmente ela não pode ir devido a um compromisso de última hora com a AMC. Alycia ficou arrasada, pois a viagem estava planejada há muito tempo. Seria talvez, nossa última chance de frequentar uma convenção juntas, falar de Clexa e interagir com nossos fãs. Acabei indo só e tive os melhores momentos da minha vida. Os fãs brasileiros eram incríveis e me emocionaram de todas as formas possíveis. Alycia acompanhava tudo sempre que podia pelo periscope e twitter e ficávamos até tarde no Skype falando sobre como havia sido o dia. Ela via minha animação e o quanto estava feliz por ter ido. Por várias vezes lamentou não estar comigo, mas se sentia bem por eu estar tendo um bom tempo.

          Ainda me lembro de vê-la com o rosto vermelho e os olhos marejados em lágrimas assim que a ligação no Skype iniciou no dia em que cantei a música que fiz para ela na convenção. Alycia sempre se emocionava ao me ouvir cantar nossa música. Em abril, quando a pedi em namoro, cantei apenas para ela sentada entre inúmeras almofadas vermelhas, com muitas pétalas de rosas e velas ao meu redor. Nós estávamos em um resort curtindo um dos poucos tempos de férias que tivemos em comum. Lembro-me do quanto ela ficou emocionada quando me viu pelo vídeo cantando para os nossos fãs. Aquele momento tão íntimo e apenas nosso sendo compartilhado com eles. Nós não assumíamos nossa relação por motivos óbvios, mas saber que eles fizeram parte da nossa história, mesmo que indiretamente era mais do que podíamos pedir.

         Agora estávamos na festa de encerramento da convenção de San Diego. Apesar de Alycia também estar aqui, nossos compromissos eram por séries diferentes e ela tinha várias entrevistas e compromissos extras que acabaram tornando praticamente impossível termos um tempo juntas no primeiro dia. Nos encontraríamos na festa e depois iríamos para Austrália passar um tempo juntas enquanto ela não precisasse promover a segunda temporada da série. Nossas famílias iriam finalmente se conhecer. O almoço já estava marcado e eu estava uma pilha de nervos.

       Nosso namoro era quase que a maior parte do tempo à distância, considerando nossas loucas agendas de trabalho, principalmente pela parte de Alycia. No entanto, estávamos juntas sempre que possível, nos falávamos sempre e tudo ia mais do que bem. A cada dia me apaixonava um pouco mais por ela. E não tinha a menor dúvida que tinha encontrado a minha pessoa. Ela era doce, romântica e extremamente apaixonada.

       A música um pouco alta ecoava no salão onde estávamos. O espaço reservado para convidados selecionados e sem a presença de qualquer tipo de mídia permitia que estivéssemos bem à vontade. Estava rindo das brincadeiras de minhas amigas, quando senti um par de mãos me abraçando por trás e entrelaçando em minha cintura. O corpo quente acariciando o meu.  Lindsey e Jessica abriram um enorme sorriso olhando a pessoa que havia me abraçado. O cheiro de flores inconfundível e o fato de que meu corpo todo vibrou com sua presença foi o bastante para eu saber que minha namorada havia finalmente chegado.  

       Virei meu rosto sentindo o sorriso rasgar minha face e Alycia fez o mesmo. Os orbes verdes que eu tanto amava me olhando de perto. O hálito quente tocando meu rosto. A sensação de estar em casa preenchendo minha alma. Minha namorada fechou os olhos e tocou meus lábios com o seus. A carne macia e quente causando uma onda elétrica por todo meu corpo. O coração batendo forte em resposta, as borboletas agitadas na boca do meu estômago como sempre era quando Alycia estava por perto. Como sempre foi desde o primeiro beijo no set de The 100.

      - Oi meu amor. Ela disse depositando outro selinho carinhoso nos meus lábios.

     - Oi amor. Retribuiu acariciando seu rosto. Ficamos perdidas naquela mistura de verde e azul que nossos olhos faziam até que Lindsey pigarreou nos tirando do transe.

       Quando olhei novamente para minhas amigas, Jéssica estava com o copo de bebida nas mãos e a boca aberta em espanto. Alycia riu da expressão pasma da mulher.

      - O que foi? Ela perguntou ainda rindo.

      - Então é mesmo verdade? Jéssica perguntou apontando para nós duas. Alycia riu mais ainda e eu revirei os olhos.

     - Eu te disse que era. Lindsey ponderou – E eu sou a capitã do ship Elycia, obrigada. Ah, e do Clexa também.

     - Não, não. A capitã do ship Clexa sou eu. Nem tente tirar meu título. Protestei.

     - Tá assim toda convencida depois do Brasil. Se achando só porque todos os fãs ajoelharam para ela. Lindsey brincou e todas riram.

    - Mas espera, ainda não me responderam. Porque ficou tão surpresa Jessica? Alycia perguntou ainda curiosa sobre a expressão da minha amiga.

   - É que bem... É você né? Alycia arqueou a sobrancelha sem entender.

   - Sim, sou eu. E o que tem?

   - É que toda vez que Eliza diz para alguém que te conhece que vocês duas namoram, as pessoas sempre riem achando que ela está brincando ou louca mesmo. Lindsey deu de ombros.

   - Porque?

   - Ah, qual é, Aly! Você é aquele tipo de pessoa que faz o gaydar ser um instrumento pré-histórico sem qualquer utilidade para a diversidade. Você tem essa carinha de anjo, esse jeito princesa de ser. Quem vai imaginar que você tem os dois pés na lama e ainda por cima pega Eliza Taylor?

   Jéssica riu e novamente revirei os olhos. Alycia me olhou por um instante, o sorriso feliz estampado em seu rosto.

   - Bem eu não pego, eu namoro Eliza Taylor. E isso, claro, inclui algumas pegadas. Ela piscou para mim enquanto Jéssica e Lindsey abriam a boca em espanto e gritaram “Woooww!!” Fazendo-nos rir. – E além do mais eu acho que o seu gaydar está é sem pilha Linz, porque ao contrário do que você diz nossos fãs vivem falando sobre Elycia e Clexa.

    - Certo. Tem razão, mas ainda assim, as pessoas costumam ter uma reação de surpresa. E bem, os fãs não contam. Aquelas lá são de outro mundo. Nunca vi ter tanto faro para as coisas.

      *

      A festa seguiu descontraída, nós dançamos, bebemos e nos divertimos como loucas. Alycia não desgrudou de mim um só segundo. Nós tiramos algumas fotos juntas e com as meninas. Foi ótimo poder aliviar o estresse dos últimos dias dessa forma. Por volta das três da manhã nós estávamos na sacada do hotel onde a festa acontecia. Alycia sugeriu que fossemos lá passar um tempo a sós. Ela me guiou para o parapeito e ficamos abraçadas olhando cidade de São Diego abaixo de nós. Incontáveis habitações com as luzes acesas ao longe. O céu estralado e a lua brilhante davam o toque final.

      A brisa fria tocava nossa pele, mas ali nos braços de Alycia eu estava quente. Segura. Feliz. As mãos da morena me abraçavam pela cintura e as minhas descansavam entrelaçadas atrás de sua nuca. Nós dançamos um pouco ouvindo a música lenta que vinha do salão bem baixinho, rindo e conversando sobre diversas coisas.

    - Lembra da primeira vez que dançamos no barco? Eu gostaria de repetir aquele passeio qualquer dia. Alycia sugeriu enquanto beijava meus lábios.

    - Seria maravilhoso.

    - Estava morrendo de saudades de você. Não vejo a hora de sairmos daqui e finalmente chegarmos ao hotel.

    - Está querendo se aproveitar de mim é?

    - Sempre. Ela riu beijando-me outra vez. – Nós devíamos postar uma foto nossa. Meu twitter não parou hoje com esse pedido.

    - Você quer dizer aqui? Dançando?

    - Não! Alycia riu divertida. – Talvez uma das que tiramos no salão?

    - Ou quem sabe uma das selfies da sex scene que eu prometi. Elevei a sobrancelha fazendo uma cara de malícia. Alycia riu novamente apertando-me contra ela.

    - Você disse que pediria minha permissão e bem eu ainda não me decidi. No entanto, uma foto de hoje seria legal. Nossos fãs merecem nos ver juntas depois de tudo.

     - Ok. Vamos fazer isso então. Peguei meu celular na bolsa, mas Alycia tocou meu punho fazendo com que eu olhasse para ela.

    – Posso?

      Ela pediu sorrindo. Sorri de volta, empolgada com a súbita vontade da morena de se mostrar nas mídias sociais. Momentos raros que eu definitivamente não iria contra. Alycia olhava a tela concentrada, escolhendo a melhor foto. Não conseguia ver qual já que ela estava de frente para mim. Depois de um tempo ela sorriu largo. Aquele sorriso que rasgava seu rosto angelical e acariciava meu coração. Aquele sorriso que me desarmou desde o primeiro dia.

    - Essa! Disse empolgada, digitando alguma legenda em seguida. Fiquei ali parada observando sua empolgação e me sentindo especial. É claro que Alycia era reservada quanto a vida pessoal e honestamente isso era bom. Um equilíbrio para mim considerando minha tendência a ser espirituosa. Porém, esses poucos momentos em que ela tinha vontade de nos exibir para o mundo, faziam com que meu peito explodisse. – Pronto. Agora podemos voltar para o beijo.

    - Espera, deixe-me ver o que você escreveu. Alycia fez um biquinho carente e uma expressão triste como quem pedia um beijo. O celular escondido atrás do corpo indicavam que não conseguiria nada sem beijá-la antes. De qualquer forma, não é como se eu pudesse resistir a Alycia Debnam Carey fazendo um biquinho para mim.

      Nos beijamos por um tempo. A língua dela preenchendo minha boca, as mãos abraçando minha cintura. O cheiro, a temperatura, o toque. O tempo parado. Tudo da mesma forma que era quando estávamos juntas.

      Quando perdemos o ar e o beijo cessou Alycia me estendeu o telefone sorrindo e mordendo a língua.

    - Eu te amo Leashy. Disse sincera enquanto ela me entregava o celular.

   - Eu gostaria de ter escrito que te amo Loo, mas eu sei que fiz isso de uma outra forma.

      Destravei a tela do celular e abri minha página no twitter. Meu coração quase pulou do peito quando vi nossa foto postada. O brilho nos nossos olhos estampando a felicidade e o amor que sentíamos. Meu corpo parecia flutuar. Eu parecia estar literalmente fora de órbita quando vi a legenda que Alycia escreveu.

     Como sempre ela estava certa. Havia sido um “eu te amo” disfarçado, mas tão intenso e verdadeiro que minha alma se encheu de amor.

      A legenda traduzia exatamente o que eu senti quando a vi pela primeira vez. O que eu confirmei para mim mesma quando nossos lábios se tocaram no estúdio. O que eu reafirmei quando nós nos entregamos no navio e o que eu repito para mim mesma todos os dias desde que nos reencontramos.

    “I found ma gurl”

    “Eu encontrei a minha garota"


Notas Finais


E aí como estamos depois dessa viagem?

Vou registrar aqui os momentos que usei: o fato de que "Let get it on" tocou no dia da gravação da sex scene, vídeo de Alycia e Eliza com a gaivota, o encontro delas em janeiro em Vancouver (foto no insta da Eliza) e o encontro da Con de San Diego (foto no tt da Eliza).

E quem diria que a foto do "Found Ma Gurl" foi postada pela Alycia não?

Gente, de coração, espero que tenham gostado e se emocionado como eu. Obrigada por lerem e me apoiarem sempre. Vocês moram no meu coração.

Por favor comentem e divulguem a one ok?

Tenham um ótimo dia/noite,

Bru (twitter @writerbru)


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