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História I Hate Loving You - Uma mera linha entre o drama e o exagero


Escrita por: GEEZERTVD

Notas do Autor


OLÁAA. Como estão? Sim, 5:31 da manhã e a escritora de vocês postando capitulo. BOM DIA FLORES DO DIA! Estou eletrizada, cheia de café nas veias, minhas pupilas estão ardendo, e estou com uma fome da mulestra.Mas enfim, prontos pra mais um? Vamos lá!

Espero que vocês gostem. Eu mudei de editor, então pro favor me desculpem se a construção do texto estiver um pouco desarrumada, é que estou tentando me acostumar ainda.
Acho que vocês vão enlouquecer um pouco durante esse capitulo, mas leiam de coração aberto! É um capitulo dividido em 2 partes, então aqui vai a primeira.

Capítulo 51 - Uma mera linha entre o drama e o exagero


"Precisei abastecer a sua ausência tecendo seu retrato nas linhas confusas da imaginação, no pano impreciso das minhas mais belas lembranças. Tive que bordar em letras miúdas a grandeza da saudade. E seus olhos puderam ler: Eu te amo não é eu te tenho."

—  Segundo - Eu Me Chamo Antônio.

 

— Tem certeza que é aqui? — Enzo me pergunta, ao pararmos em frente a um restaurante antigo da Barra da Tijuca.

— Sim, quase certeza — parei pra pensar, olhando pra aquelas grandes portas pretas. — Não. Quero dizer... Absoluta... Tenho absoluta certeza de que é aqui.

— Mas ele não tinha se demitido daqui a muito tempo?

— Que droga essa é minha ultima esperança Enzo! Ultima esperança de reencontra-lo! Só tem esse lugar, por favor...

— Okay, então... vamos lá. — Enzo atravessou na minha frente, indo abrir a porta.

— Não, espera... — corri e agarrei seu braço. — E se ele estiver aí dentro?

     Enzo me encarou confuso, mas percebi que estava segurando um sorriso.

— Ué, achei que era isso que nós queríamos esse tempo todo.

— Sim, é... Mas... — engoli seco. — É que eu não sei o que fazer... Eu não vou conseguir. Faz tanto tempo que...

— Vai sim, é mole, é só ser você — ele segurou em minha mão e me puxou. — Deixa o coração te guiar e mostrar o que tu tem que fazer que vai dar tudo certo.

     Então atendi as palavras do meu irmão e entrei com ele.

 

        Minha chegada no Rio de Janeiro, a três dias atrás, foi bem exaustiva, mas acima de tudo estava a minha alegria em saber que reencontraria meu melhor amigo.

        Fui tola.

        O meu objetivo em sair de San Diego naquela noite, foi de me alegrar vendo Miguel. Em algum momento. Só esperava que fosse após algumas horas da minha chegada aqui. Errei. Isso foi a mais de 3 dias. Três malditos dias!

        Três dias desgastantes se passaram. E neles eu rodei basicamente a cidade toda atrás de Miguel Duarte.

         Fui a casa onde ele me disse que estava morando e ele não estava lá. Fui até a casa de alguns amigos seus, e não souberam me dar informações. Ele não atendia o celular. Eu não sabia o que fazer, eu não sabia onde mais procurar. Eu estava preocupada. Eu estava acabada. Eu não estava mais conseguindo dormir. Eu passava as noites acordada, as vezes até chorando, pois a saudade me dominava. Eu queria desistir e  voltar a San Diego. Eu estava aqui! Droga! Aqui!  O que mais faltava?

        Mas após chorar a terceira noite toda, remoer minha culpa por não saber aonde ele estava, meu irmão me deu forças para ver a luz do dia e sair na rua para mais um dia de procura.

 

        As ruas estavam muito movimentadas pois amanhã seria véspera de ano novo.

        Após andar um pouco sem rumo, já quase desistindo, comecei a lembrar de momentos vividos por aquelas ruas, naquela praia, e não sei porque, como um flash de luz em minha cabeça, lembrei do antigo trabalho dele. E vi aquilo como minha ultima esperança. Aquilo pra mim era o limite. Mas eu quis me iludir e pensar que ali eu encontraria ele.

 

        Enzo empurrou a porta na minha frente, e logo meus olhos se adaptaram àquele familiar lugar. Paramos na entrada, em pé, feito estátuas, só que estátuas nervosas. Olhei ao redor, com um enorme nó na garganta, vendo o lugar movimentado.

        Confesso que a toda mesa que eu olhava eu via um Miguel. Em algumas mesas ele estava recolhendo mais um pedido, em outras ele estava entregando, e em outros momentos ele olhava pra porta e me via, então sorria e corria até mim, me dava um apertado abraço e não me largava mais. Porém, não havia vários Miguels ali. Na verdade, não havia nenhum Miguel ali. Nenhum Miguel correndo para me dá um abraço.

 

— Com licença... — uma voz me desperta do transe — Vocês gostariam de alguma...

— Uma pessoa! — Interrompo ele rapidamente, recebendo um olhar repreensivo. — Uma pessoa, estamos procurando alguém.

        O senhor permanece olhando pra mim por alguns segundos, antes de responder. Reconheci rapidamente aquele senhor baixinho e careca, do bigode engraçado, então com certeza naquele momento ele também estava se lembrando de mim.

— Okay, talvez eu possa ajudar. Quem seria? — faz a pergunta.

— Oras... O senhor já foi mais esperto, hein. Você sabe quem eu procuro — digo séria. — Não se faça de idiota, Maicon.

        Ele da uma risada discreta e olha pra baixo.

— Eu estava com duvidas de que se era você mesmo  — ele leva o olhar até o meu. — Você esta muito mudada, mocinha. Mas depois da tamanha grosseria não me há duvidas. Como está, senhorita Morgan? — ele cruza os braços. — Ressurgindo dos mortos, é?

— Não. Ainda não. Não vou te dar o prazer de acender uma velinha pra mim tão cedo... Mas, acredito que tenha comemorado muito a minha partida, não é mesmo?

— Sem dúvidas — ele continuou com o sorriso sarcástico. — Mas Claire, você não mais fará arruaças no meu restaurante como antigamente, pois sinto-lhe informar que o seu cúmplice, a quem acredito que é quem você procura, não está mais aqui.

— Pode me dizer pra onde foi? — pedi, demonstrando minha necessidade por informações. — O senhor é minha ultima esperança de reencontra-lo.

— Sinto muito. Mas, ele me deixou a uns meses sem muitas explicações. Meu melhor garçom. Meu melhor funcionário. Deixou as coisas pra lá e se foi... Simples assim — ele ergueu os ombros, parecendo um pouco desolado. — Querendo ou não, eu sinto falta daquele moleque, apesar dos problemas que vocês dois arrumavam por aqui. Estou sem muitos nomes pra colocar no meu atestado daqui a uns anos, e Duarte era quem eu mais confiava às mãos desse restaurante...

— Mas, enfim — Enzo o interrompe, se mostrando impaciente para ouvir conversas sentimental. — Você pode... sei lá... Nos dar uma luz... Alguma coisa... Qualquer coisa — pediu ao senhor, me abraçando de um jeito confortante pelos ombros.

        Levantei um pouco os olhos a ponto que eu pudesse olhar para o senhor. Ele deitou a cabeça de lado e ficou olhando diretamente nos meus olhos. Permaneceu parado, com um olhar que parecia me ultrapassar. Parecia que ele conseguia ver a minha esperança, conseguia ver meu medo e minha necessidade de rever meu melhor amigo. Parecia que me estudava e buscava me entender.

        Aquele silencio estava me deixando mais angustiada.  Ele sabia disso.

— Como... — ele abaixa a cabeça e da um sorriso bem suave. — Como ele sabia?

— Como o que? — me desgrudei do meu irmão, achando ter entendido errado.

— Como ele sabia? — repetiu a pergunta sorridente, levantando o olhar ao encontro do meu. — Como Miguel sabia que você viria?

— O que? Como assim? — dei um passo a frente, sentindo toda a emoção dentro de mim arder como fogo.

        Mais um momento de silencio da parte do senhor.

— Pelo amor de Deus Maicon, o que isso quer dizer?! O Miguel o que? Ele sabia de que? Que merda aquele imbecil andou aprontando?

— Venha comigo, minha garota.

     Ele começou a andar então acompanhamos ele, que nos levou até os fundos do restaurante, na sua sala. Eu reconhecia bem aquele lugar.

     Ficamos parados junto a entrada, ansiosos por alguma noticia, mas ele só ficava ali, sorridente, remexendo em suas gavetas.

— Você não vai me dizer? Eu vou ter um treco aqui! — chamei sua atenção após minutos parada ali.

— Senhor... — meu irmão deu um passo a frente, vendo que eu realmente estava entrando em desespero. — O que você tinha a dizer?

— Eu? Eu não tenho nada a dizer — ele se virou pra mim e sorriu. — Mas uma outra pessoa tem.

— Por favor... O que tanto procura? — andei até ele, nervosa, pronta pra tacar a primeira coisa que achasse pelo caminho nele.

— Ele já sabia que você viria ao encontro dele, Claire.— Maicon falou sorridente, como se admirasse aquelas palavras. — De alguma maneira, ele já sabia.

     Aquelas palavras tiraram de mim qualquer sentido lógico. Senti minhas mãos começarem a soar.

— Eu ainda não estou entendendo... 

— Se você não consegue entender como isso é possível, imagine eu? — falou como se achasse graça daquilo. — Mas ele sabia. Sabia que você viria, e por isso deixo isso comigo — Logo ele esticou a mão pra mim, segurando um envelope dobrado entre os dedos. — Falou que quando você chegasse era pra eu te entregar isso.

     Hesitei antes de pega-lo, sentindo todo o meu corpo tremer. 

— Co-como...?

        Peguei o envelope ainda hesitante e apertei a pequena folha com todas as minhas forças a ponto de amassa-la. Por um impulso, abracei-o junto ao meu corpo como se abraçasse o próprio Miguel. Senti algo inexplicável emplacar meu peito. Uma coisa dele! Eu estava segurando uma coisa que ele tinha segurado também. Não lembro de ter me sentindo tão perto dele em todo esse tempo, como naquele momento.

— Mas, como...? — Enzo chegou por trás de mim, fazendo-me despertar do meu moment for life. — Ela decidiu que viria de repente, não houve tempo de avisa-lo. Você ligou pra ele, Clai?

— Foi o que ele disse — o senhor deu de ombros, antes que eu respondesse. — Ele deixou isso comigo, pedindo que quando você chegasse eu te entregasse.

— A quanto tempo isso? — perguntei.

— Um pouco mais de 2 mês — respondeu pensativo. —  3, talvez... Não me lembro bem. Você sabe né, a idade...

     Minha garganta fechou. Meu corpo pareceu ser arrebatado.

     Como aquilo era impossível?

— Sei no que está pensando Claire. Também não sei como, mas de alguma maneira ele sabia. Sabia que você voltaria pra procura-lo, e sabia que você viria a esse lugar, por isso deixou isso comigo para te entregar. Eu, é claro, duvidei plenamente de que você voltaria e viria aqui, as semanas foram passando então foi aí que eu tive a certeza que ele estava precipitado. Mas quem estava precipitado era eu... Quem diria, o moleque acertou. Acertou em cheio!”

— Ele não deu nenhuma pista de pra onde foi? — Enzo perguntou.

— Não. Mas acredito que as respostas pra tudo vocês encontrarão dentro desse envelope. O que eu tenho a dizer é que durante todos esses meses, ele sofreu muito, Claire. Ele sentiu sua falta mais do que você imagina. Mesmo depois que você se foi, ele ainda continuou com a mesma rotina. Ia aos mesmos lugares que vocês iam juntos, fazia as mesmas coisas, cantava as mesmas musicas horriveis que vocês cantavam juntos no karaokê da esquina, pedia o prato preferido de vocês dois naquela lanchonete e comia sozinho, ou por vocês dois … Até as vezes, em noite de Lua, ele terminava o trabalho mais cedo, corria pra uma praia deserta aqui perto e ficava sozinho fazendo nada, a noite toda. O que eu posso resumir pra você é que ele sofreu muito, mas depois foi amadurecendo aos poucos, parecia não pensar mais em você... Eu achei que ele tivesse se acostumado com a sua falta, e seguido em frente, vida nova, tudo novo, sabe? Mas não, eu estava errado... Mesmo aparentando isso, ele sempre teve a esperança de que você voltaria, mas cedo ou mais tarde. Sei que foi por causa dele que você foi morar longe, sei que foi ele que te pediu isso, mas tenho certeza que mesmo ele te forçando a ficar longe, ele te queria aqui mais que tudo. E foi isso, com certeza, que fez ele aparecer aqui a mais de meses com o rosto cheio de esperança e me entregar isso. Lembro até dele dizendo: “Quando minha mulher chegar, da isso a ela, por favor”, e após uns minutos ir embora. Depois disso, nunca mais o vi.

        O sr. Marcos disse mais algumas coisas, então nos acompanhou até a porta.

— Obrigado pela ajuda, senhor — Enzo apertou sua mão e me segurou pelos ombros, me afastando dali.

     Maicon ficou nos olhando da porta, a tarde já acabava e o céu estava cor de rosa.

— Ele a conhece tanto, que já sabia... Meu Deus, ele sabia! — Ouvi ele falar sozinho, admirado de longe.

        Virei meu rosto para olha-lo por cima do ombro. Ele permanecia com o sorriso no rosto, não me contenho em sorrir de volta. Fiquei imaginando se veria aquele velho senhor novamente algum dia, senhor a qual está incluso em tantas lembranças que tenho.

— Foi bom te ver também. — Falei entre o sorriso, mesmo sabendo que ele não podia mais me ouvir.

[...]

        

 

        Após o jantar naquela noite, fui para o meu quarto e sentei na cama com a cartinha de Miguel na mão, a qual eu ainda não tinha aberto, por conselho do meu irmão.

      Tirei a folha de dentro do envelope e fechei os olhos.

— O que será? — perguntei pro silencio.

      Respirei fundo e abri meus olhos. Observei o papel por minutos, ele parecia ter amassado como se tivessem feito dele uma bola, dessas que se joga no lixo. A folha era escrita na frente e no verso, fazendo-me passar os olhos em algumas palavras mesmo com ela dobrada, mas nada que me revelasse o contexto.

        “O que será?” refiz a pergunta um milhão de vezes nos meus pensamentos. "Porque não um telefonema? Uma visita à meu apartamento? Porque as coisas com ele sempre tem que ser tão difíceis?"

      Eu custei a abrir o papel, é claro, por medo e insegurança. Poderia ser algo ruim, algo muito ruim, então eu tinha medo. Muito medo. Mas o medo precisou ser vencido em certo momento.

        Abri o papel.

        Além de amassado, ele estava um pouco sujo, e isso tirou um sorriso de mim. Suas letras estavam perfeitamente corretas, quero dizer, sem indicio de que escreveu com pressa ou nervoso. Ao passar os olhos por todo o papel tive a certeza de que ele escreveu aquilo com muita calma, e pensando bem no que escrevia. Isso me acalmou um pouco.

        “Bailarina” era assim que ele começava, tirando de mim o segundo sorriso... “Pode ser a maior idiotice do mundo oq estou fazendo nesse momento, mas espero não me arrepender. Se vc está lendo isso nesse momento, quer dizer q eu estava certo. Você voltou pra mim! Que saudade de você. Saudade de ver o teu sorriso, sentir o teu cheiro, te abraçar bem forte. Meu Deus, que saudades!”

        Eu, toda boba como sempre, já tinha deixado a primeira lágrima escorrer. Um forte vento balançou as cortinas da minha porta, subiu por minha espinha e me passou um arrepio. Olhei e vi que as portas da sacada estavam abertas, dando visão pra linda praia. Levantei para fecha-las, mas antes de fechar olhei pro céu, e notei quão linda a noite estava. Me dirigi até o lado de fora e sentei em uma cadeira acolchoada, junto a uma mesinha estilo rainha britânica, de madeira detalhada. Cruzei os pés embaixo de mim e dei uma ultima olhada pro céu escuro, antes de voltar a ler.

        “Como eu adivinhei que você voltaria pra mim? Ah! Eu te conheço garota! Te conheço melhor que todos, e não é de hoje. Sei q você é teimosa. Teimosa e mimada. Então pq você me obedeceria dessa vez, sendo que nunca me obedeceu completamente antes? Eu te implorei pra que você ficasse lá, vivesse sua vida, construísse uma, mas eu sabia perfeitamente que em algum momento você me desobedeceria. Sabia que você voltaria. Você sempre desobedece Claire! Só não imaginava que demoraria tanto assim. Você deve ter tido um baita motivo pra não perder a cabeça e voltar correndo pro Brasil hein, oq será? To sentindo cheiro de paixão nova daqui. Quem é? Mais um mauricinho não né Claire...? Por favor, eu mato você e ele se for. Mas enfim. Você se superou. Me surpreendeu. Parabéns Clai. Parabéns pela teimosia também. Saiba que nesse momento eu estou sentado naquela pedra enorme da nossa praia, aquela pedra q fica escondida atrás de outra maior, onde você cai e rala o joelho em quase todas as noites de réveillon, lembra? Esse é o começo. Esse será o começo. Eu acabei de vir do trabalho, tenho tanta coisa pra te contar... Já faz meses que você se foi, não quero falar com você, pois por mais que eu sinta saudades, eu quero que você tenha uma vida boa, e não é aqui comigo que você vai arranjar isso, nem com eu te ligando a cada meia hora. Mesmo assim, mesmo com esse meu querer, eu sempre te imagino voltando. Pareço um louco por isso, mas eu te imagino sentada aqui nessa pedra, todas as vezes que chego aqui, imagino eu te dando uma baita bronca pela teimosia, mas eu vou estar feliz tbm. Sei que um dia você volta, não sei quando, mas espero que em breve... E então, isso que eu to fazendo aqui, escrevendo, não vai ser em vão. 

        Bom... E agora? Você ta aí... Chegou aonde eu queria. Mas, cadê você? Por que ainda não me achou? Você ta ficando ruim nesse jogo hein menina. Corre Claire, você tem que me achar. Corre! Você tem que ser ágio e esperta como eu sempre ensinei, se não eu vou bater o pique e você vai ter que procurar de novo.”

—  Imbecil... — resmunguei, sorrindo da sua palhaçada.

     O vento lá fora começou a ficar mais forte, eu sentia o frio ultrapassando o pano grosso das minhas meias. O mar estava cada vez mais agitado, e isso era aviso de que logo eu teria que entrar.

        “Lembra de como gostávamos desse jogo? Há! Você na maioria das vezes perdia, porque era lerda. Mas... Você não pode perder dessa vez. Eu poderia apenas me mostrar a você, mas não, assim não teria graça. Quero que vc me encontre, pois a muito tempo eu te esperei de boa, mas agora... Sinto saudades de brincar com você. Vamos jogar? Topa? Espero que sim, pois só assim você vai me encontrar, só assim vai me abraçar novamente, só assim. Por isso que digo.. Você não pode perder dessa vez. Vai ter só uma chance, Claire. Uma chance. Se você cometer um erro, acabou o jogo. Volte pra San Diego e termine sua faculdade.”

        Aquilo me deu arrepios, e odiei ele por aquilo.

“Eu estou em algum lugar, minha mulher... Algum lugar esperando por você. Por mais que eu não saiba em qual tempo você vai voltar e encontrar essa carta, eu vou estar no mesmo lugar. Mesmo se encontra-la daqui a uns 3 anos. Mas sei que não vai levar todo esse tempo, você não aguentaria tudo isso.

Talvez eu entregue isso ao senhor Maicon, e peça pra ele me avisar quando você receber... É claro que vou pedir pra ele não te contar essa parte. O cara como é bobo deve até duvidar que você vai voltar mesmo, será que ele te reconhecerá? Você deve estar(mais) gostosa pra caramba agora né... Mas enfim, isso não vem ao caso. Sei que você vai voltar e em algum momento você vai me procurar lá. Pois nós vivemos grandes momentos naquele restaurante. lembra?

Com certeza enquanto você ta aí parada lendo isso, eu estou em algum lugar recebendo a noticia de que você chegou. Agora é com você, bailarina. O jogo é o seguinte. Se você for esperta, vai sacar as coisas logo, mas... Desvende os enigmas e vá aonde eles pedem, lá, você vai encontrar mais pistas sobre onde eu estou. Sempre haverá dois caminhos, se você pegar o errado, nunca vai chegar a mim, mas as respostas certas virão do coração, as respostas estarão nos nossos lugares preferidos, lugares de paz, onde só nós conhecemos, respostas em coisas, respostas em sinais, respostas apenas em sentimentos... As respostas estarão com um menininho magrelo, em meio a uma roda de outros meninos magrelos, uma menina sentada de longe observando o menininho e querendo ser como ele... Mas não perca a menina de vista. Boa sorte, minha garota.”

        As palavras daquela folha acabaram ali.

        Imaginem o tamanho do ponto de interrogação que ficou na minha cabeça. Eu senti raiva, felicidade, vontade de mata-lo, vontade de abraça-lo, mas para fazer qualquer coisa dessas, antes eu precisava encontra-lo. Eu não tinha tempo a perder.

— Espera aí, só isso? — sacudi a folha, indignada, como se aquele gesto fizesse surgir mais palavras do nada. — Papai do Céu! POR ONDE EU COMEÇO?! — comecei a me descabelar correndo de um lado pro outro do quarto. — Eu te odeio, Miguel!

        Corri pro meu quarto arrastando pé. Bati as portas com tanta força que senti o estalo da madeira. Olhei pras minhas paredes, perdida. Comecei a me desesperar, como algo estivesse me sufocando. É só isso? Me sentei no chão frustrada, após muito me descabelar.

     Eu precisava pensar, eu precisava me acalmar, primeiro eu teria que descobrir onde estava o enigma daquelas palavras, depois desvenda-lo. Mas nem isso eu conseguia descobrir. Eu era péssima naquilo e ele sabia. Sabia. Sabia que eu odiava todas as vezes que ele me forçava a ficar no pique. Odiava todas as vezes que me obrigada a procura-lo. Eu sempre desistia e sentava no chão, abraçando minhas pernas e enfiando meu rosto entre os joelhos. Então ele surgia do lugar mais bobo e provável e me abraçava, me dando forças pra mais uma rodada.

"Você não pode desistir tão fácil assim, cara, precisa ir até o fim...."  — Ele sempre me dizia.

 

    " Se eu me sentar no chão agora, segurar minhas pernas e começar a chorar, será que você aparece pra me dar forças?", perguntei em meus pensamentos, arrastando as mãos por meu rosto a ponto de machucar-me.

        Minutos e mais minutos se passaram, e eu já estava deitada no chão, agarrada ao tapete.

    "A resposta está com um menininho magrelo, em meio a outros menininhos magrelos..."  Essa frases se repetia perdidamente na minha cabeça. "Menina sentada de longe, observando o menininho magrelo..."

— Quem é essa menina? Quem são esses meninos? — bati com força no chão. — Porque são magrelos? A resposta está com eles, mas onde eu vou acha-los?

    "Querendo ser como ele..."

— Eu devo ter deixado passar alguma coisa... não é possível.

        Peguei novamente o envelope com esperança, e sacudi. De dentro caiu mais um papelzinho, que me encheu de felicidade e esperança. Mas esse era muito minúsculo, e dizia apenas: "Um espelho”.

        O que pra mim seria uma ajuda, não serviu pra nada.

— O QUE DROGA TEM EM UM MALDITO ESPELHO MIGUEL? QUE MENINOS? QUE MENINA É ESSA? MAGRELOS? QUE DROGA! — Gritei e joguei tudo no chão.

     Corri até o espelho do meu quarto, sentindo o desespero misturado com a raiva pulsar em minhas veias. Segurei um pode de creme da minha mão pronta para arremessar contra o espelho. Mas então, no reflexo tinha uma menina. Essa menina me chamou atenção. Simplesmente eu chamei atenção pra mim mesma.

— Um espelho... — Dei um passo a frente, sentindo uma refrigero imediato em meu peito. — Um espelho, uma menina...— toquei no meu reflexo. —  Ai meu Deus! Eu sou a menina!

        Dei dois passos pra trás com a mão no peito, assustada comigo mesma.

— COMO EU SOU BURRA! MEU DEUS SOU EU! — dei uma risada de alivio. — “Uma menina sentada de longe, observando o menininho magrelo...” Menininho magrelo. Eu... Eu estava observando o menininho magrelo em meio a outros meninos... — comecei a juntar as coisas na minha mochila agitada, como se todas as células do meu corpo fossem explodir de emoção. —  Eu observava ele quando éramos crianças... Ele, um magrelo feio, no meio da roda de dança de outros meninos... Tem que ser isso... —  comecei a correr em direção a saída. — Miguel seu filho de uma mãe, eu não vou perder dessa vez!

      

[...]

        Já se passava da meia-noite quando estacionei meu carro onde queria. Ao colocar os pés no chão, um arrepio subiu da ponta do meu pé até o auto da minha cabeça, e senti um medo de estar ali sozinha. Aquela praça que um dia foi um dos lugares mais importantes pra mim, hoje em dia era sombria, velha, abandonada em uma bairro praticamente deserto.

        Dei passos lentos e cuidadosos por aqueles entulhos. Concretos, madeiras e mato. 

        A noite estava fria e nublada. Tinha acabado de chover, como acontece em todo final de ano.

 

— Okay, eu estou aqui... Agora cadê você seu imbecil? — Comecei a olhar perturbadoramente ao redor, cheia de medo. Podia jurar que estava sento vigiada. A sensação era como as nos filmes de terror. Mas não. Não havia ninguém ali. — Por favor, Miguel — abracei meu braços, tremendo de frio. — Droga Miguel! Eu não entendo!

     Tirei a folha de dentro da mochila e observei ela, achando que mais uma vez eu tinha deixado passar algo. Eu tremia por causa do frio e a folha sambava na minha mão, quase não dando pra mim ler.

        “Não perca a menina de vista...” Era a ultima coisa que ele me pedia.

        Foquei meus olhos no lugar. Me imaginei ali 10 anos atrás. Estava muito diferente, é claro, mas a ordem das coisas não mudou. E ao olhar pra ultima mesa, lá no cantinho, eu pude lembrar perfeitamente de tudo. Lembrar das cores e do sol quente que fazia ali toda tarde. E por um segundo eu voltei a ser criança. Eu vi a praça movimentada. Eu me vi descendo do carro com o tio Arthur e indo sentar lá no cantinho. Eu vi as crianças brincando. Vi uma roda de meninos magrelos.

        Sem nem perceber, eu já estava sentada lá, no banquinho onde a 10 anos atrás eu estive. À distancia, eu via Miguel todo amostrado, dançando no meio da roda.

 

“O que faz aqui?” — uma voz empolgada atrás de mim me pegou distraída, e me assustei. - “Sempre te vejo por aqui... Mas o que quer?” — Era um moleque descontraído, aquele que eu sempre observava mais, ele chegou me perguntando do nada, e sentou-se em cima da mesa onde eu estava. Ele era bem simples, e muito sorridente.

        Parei por um momento pra pensar, com certeza demonstrei meu espanto. Eu não estava acostumada a ter conversas com pessoas desconhecidas, aprendi a não dar ideia a estranhos. Ainda mais, ele era um menino. Eu não sabia falar com meninos.

Bom... Nada. Só estou olhando vocês dançarem!” — falei tímida e meio sem jeito. E naquele momento quebrei o ensinamento que recebi do meu pai.

“Mas por quanto tempo pretende ficar apenas olhando?” — ele perguntou.

 

        Eu acabei rindo sozinha, sentada naquela mesa embaixo do sereno. E foi quando a minha risada foi diminuindo que percebi que ainda estava ali sozinha.

— Ainda não entendo, Miguel... — falei baixinho. — Eu errei... Me desculpa. Não há nada aqui... Eu perdi o jogo. Eu devo ter vindo pro lugar errado.

        Abaixei minha cabeça na mesa e chorei. Chorei como se ele pudesse escutar o meu choro. Eu estava arrasada. Ele não estava ali. Pelo visto, ninguém nunca ia ali a muito tempo. Como eu posso ter errado de primeira? Não tinha segunda chance dessa vez?

     Após um tempo, levantei meus olhos e procurei a Lua no céu. Eu sei que poderia senti-lo se ela estivesse ali. Mas ela resolveu se esconder. Ao abaixar a cabeça, algo na mesa me chama atenção. Era apenas rabiscos, mas ri ao achar um que eu e ele tínhamos feitos aos meus 14 anos.

     Estava garimpado“A GAROTA MAIS FEIA DO MUNDO” dentro de um coração, e logo em baixo eu retrucava apenas “IDIOTA” dentro de outro coração.

— Que gay — eu ri baixinho, limpando meu rosto com as mãos. — Nós éramos tão idiotas.

 

     Então ao achar graça naquilo, fui procurar outros que nós também tínhamos feito, vasculhei quase todas as mesas, rindo em cada uma, gostando das lembranças que aquilo me trazia. Mas em uma, acho algo não nosso, mas apenas dele, e pra minha surpresa, parecia ter sido feito a pouco tempo.

        Eu sabia que era dele pois a letra era a mesma da carta.

        Escrito com uma caneta permanente na enorme mesa de mármore estava as palavras: “O fundo do seu guarda-roupa deve ser oco. E se você for vasculha-lo talvez encontre a passagem pra Nárnia, ou pro Mundo dos Monstros S.A. Você nunca tentou descobrir isso? Tente. Mas vc apenas descobrirá se bater no fundo dele pra ver se é oco mesmo e se tiver forças pra empurrar o fundo do seu guarda-roupa. Mas vc tem que acreditar que sim, aquilo é uma passagem. Depois é só entrar. Agora... Imagine q isso aqui é o seu guarda-roupa.”

        Mas uma vez o ponto de interrogação se fez na minha cabeça.

 — Cada vez mais ta ficando pior, Miguel — reclamei.

      Mas então eu fiz o que ele pediu. “Imagine que isso aqui é o seu guarda-roupa..."

— Se essa mesa for meu guarda-roupa ela tem a passagem pra Nárnia? É isso? — me perguntei sozinha, e no mesmo instante, automaticamente dei toquinhos no mármore e sim, tinha um som diferente. — "Se tiver forças pra empurrar o fundo do seu guarda-roupas...

    Juntei todas as forças que eu tinha pra empurrar aquele mármore do tamanho de uma mesa, e após alguns minutos de esforço, lá estava sim, um buraquinho no centro da mesa.

     Claramente eu não conseguia atravessar, nem entrar pra nenhum outro lado dali, mas lá havia um papelzinho, e foi ele que eu puxei.

     Eu fiquei esplendidamente feliz, pois eu não tinha errado, aquilo era dele. Me sentei no banco, sentindo minhas pernas fraquejarem de cansaço.

     Abri o papel e comecei a ler.

“Nossa! Deu certo! Se vc em algum momento ler isso quer dizer que meus cálculos foram certos. Ok, você não encontrou Nárnia, nem um Monstro SA, mas deu certo... Você venceu. (A primeira etapa, é claro.)"  Aquilo tirou de mim qualquer sorriso que poderia ter surgido em meus lábios. Mas continuei: "Talvez você esteja se perguntando: "Por que aqui?” “Por que esse lugar?”... Bom, eu quis começar do inicio, Clai. Te trouxe ao começo de tudo. Foi aqui que nossos caminhos se cruzaram. Espero que aqui você tenha lembrado de tudo que passamos. Lembrado de como nos conhecemos. Lembrado que foi essa praça que nos uniu. Espero que tenha se lembrado da garotinha que toda tarde ficava sentava ali naquela primeira mesinha e observava o menino magrelo e amostrado que dançava bem aí em cima desse mármore que você acabou de jogar no chão. Só quis te trazer lembranças, meu amor. Esse é o meu objetivo com tudo isso, não é te torturar ou te deixar angustiada. Quero que veja como é bom relembrar certas coisas que vivemos. Ninguém vem nessa praça, apenas eu, e agora você, então que bom que ninguém estragou meus planos. Mas acredito que o próximo passo seja pouco movimentado: há policia, pessoas cansadas, dinheiro, corrida, sorrisos, um quase abandono, duas prisões.”

— Bangu? — me perguntei, sorrindo exausta. —  Gente esse homem é louco... — Passei o braço na testa para tirar alguns cabelos que grudavam ao suor, mesmo estando frio, e respirei fundo, tentando pensar. —  Okay, movimentado? Deve ser o centro da cidade. Lá há policia, pessoas, dinheiro, prisão... É, deve ser lá mesmo.

        Então com aquilo em mente, fui até o centro do Rio. Já se passavam de 1 da manhã.

 

        Foi estranho me sentir mais desprotegida ali, do que em um lugar deserto, como na praça. As ruas estavam com muito pouco movimento de pessoas. A temperatura tinha caído mais um pouco, o que não era normal lembrando que estávamos no verão, e eu estava no Rio de Janeiro. Eu estava agitada olhando de um lado pro outro, como se fosse ser assaltada a qualquer momento. Eu estava sem rumo, mas segui linha reta pelo calçadão.

     Comecei a me angustiar cada vez mais, pois quanto mais eu andava, mais sozinha eu me sentia.

     Então de repente meu celular vibrou no bolso. Era uma mensagem, pensei em não ler pois nunca leio SMS, sempre é a operadora ou algum quis, mas esse eu fui obrigada a dar atenção, pensando que meu irmão já devia estar arrancando os cabelos atrás de mim.

    “VOCÊ ESTÁ INDO PRO LADO ERRADO” Era a primeira frase do texto. Aquilo gelou meu sangue. “ESSA CIDADE É UM PALHEIRO MUITO GRANDE PRA MINHA PEQUENA AGULHA. PENSE DIREITO GAROTA! USE O CORAÇÃO, VOCÊ AINDA TEM ELE NÃO TEM? ELE DEVE TE SERVIR PRA MAIS ALGUMA COISA QUE NÃO SEJA SÓ BOMBEAR SANGUE." E então, acabava ali.

       Comecei a olhar pros lados, comecei a procurar ele, se ele sabia onde eu estava, quer dizer que ele estava por ali. Girei de um lado pro outro, atravessei a rua, olhei de cima de um banco, mas nada. Não o encontrei. Tive vontade de arrancar meus cabelos fora. Tentei respirar. Tentei me acalmar. Mas só me acalmei quando chutei a parede 3 vezes. Se ele estivesse me vendo, com certeza estaria rindo.

“Pfvr Miguel...  Para com isso. Eu só quero te ver. Só isso! Onde você ta? Pfvr!” Mandei pra ele, pro mesmo numero que ele havia me mandado.

        Esperei minutos e minutos e mais minutos pela resposta mas ele não respondeu.

        Ele realmente estava decidido a continuar com aquilo.

“Okay, então vai ser assim. Beleza. Quando eu te encontrar, talvez eu te ensine a tirar do capslock. PARECE QUE VOCÊ TA GRITANDO COMIGO!” Enviei novamente.

— É pra mim usar o coração... Tudo bem— respirei e tentei manter o foco. — Eu vou usar.

     Sentei na calçada, bem mais tranquila, depois do aviso dele, e comecei novamente a matutar coisas na minha cabeça.

     Peguei o papel na mão e reli novamente alguns trechos. "... respostas em coisas, respostas em sinais, respostas apenas em sentimentos..." , dizia uma parte.

     "E se as pistas não forem um lugar, e sim... Um momento"  pensei, e no mesmo instante me veio algo na cabeça.

 — Sim! É isso! — me levantei e corri até meu carro. — Policia, dinheiro... Ai mds... Dinheiro leva ao Banco... Foi no Banco que... Prisões... Será?

 

        Cheguei onde eu queria após uns minutos. Esse lugar estava ainda mais deserto que os outros. Era a rua de trás de uns dos bancos que naquela época, era um dos mais importantes da cidade. Hoje em dia era mais pra um beco sujo. Foi lá que a muito tempo atrás, eu e Miguel tentávamos nos esconder da policia.

— Por favor, Miguel...  — escorreguei minhas mãos pelas grandes paredes encardidas. — Você tem que ter deixado alguma coisa pra mim aqui.

 

        

"Corre menina... Pula!” — Miguel pediu com um certo sorriso nos lábios, correndo na minha frente.

“Miguel, o que vai acontecer agora?” — saltei do meu skate e pus-me a correr atrás dele a pé.

Um de nós vai se dar muito mal" — falou, entrando em uma rua deserta, nada limpa, e me puxou para atrás de uma imensa lata de lixo, para nos escondermos.

"Porque só um de nós?” — eu estava sem ar, quase infartando. - “Não vou te deixar.”

        Ele me olhou por uns instantes, sem dizer nada. Parecia aflito, mas a adrenalina que estava estampada nele não deixava aquilo sobressair tanto. Após um momento me olhando firme, ele sorriu e circulou o braço no meu pescoço, me puxando pra ele.

Quem te trouxe pra isso foi eu, você ainda é uma criança Clai... Se eles nos encontrarem você corre, okay? E não se importe comigo. Eu vou ficar bem.” — disse baixinho.

        Antes que eu pudesse contestar, um barulho invade a rua, eram os dois policiais, e sem eu conseguir raciocinar direito Miguel me empurra.

Vai corre!” — ele gritou, então automaticamente comecei a correr.

        Após uns passos olho pra trás, achando que ele está correndo comigo, mas me deparo com ele ainda sentado no chão, atrás da lata de lixo.

Você não vai pelo menos tentar?” — pergunto, decepcionada.

Eu não iria muito longe...” — ele diz, me dando um sorrisinho desanimado, e então seus olhos vão até sua perna.

        Corro meu olhar junto com o seu e vejo que sua perna estava machucada, com muito sangue.

        Automaticamente dou meu primeiro passo em sua direção, para ajuda-lo, mas ele grita comigo bem sério e me manda correr.

 "Eu vou ficar bem!" — ele continua gritando. Olho pra frente assustada e vejo que os dois policiais continuam se aproximando, eu estava sem reação e assustada. - "Não para! Correr Claire! Corre!"

     Então no momento de desespero, corro, e deixo ele pra trás.

Você de novo moleque...”  — ouço um dos policiais dizer antes de eu virar a esquina. - “Eu cuido dele, vá atrás da menina!”

        

        Continuei a caminhar tranquilamente por aquela rua. A Lua tinha acabado de dar as caras no céu. Ao mesmo tempo que as lembranças me angustiavam, me faziam sorrir.

 

— Sim, com certeza é aqui... — digo, pegando o papel e checando as pistas. — Estou atrás de um banco, no banco há dinheiro, movimento... Hum, aqui houve uma corrida, sorrisos... Pessoas cansadas... ah claro! Eu me cansei muito naquela noite! Bom... e houve um abandono. Sim, mas...

        Olhei pros lado e me vi sozinha.

— Seria um ótimo momento pra você aparecer do nada e me abraçar! — Falei um pouco alto, para que alguém pudesse escutar.

        

 

“Claire! O que faz aqui?” — Miguel se levantou assustado, ao me ver entrar na delegacia acompanhada pelo policial. - “Como te encontraram? Eu mandei você correr!”

        Antes de continuar as perguntas ele me abraçou bem forte.

“Como conseguiram te pegar?” — perguntou, passando a mão no meu rosto para ver se tinha algum machucado. — "Como Claire? Como?"

“Não conseguiram" — respondi, sentindo meus olhos queimarem por dentro, de tanto cansaço. — "Eu que parei de fugir” — contei. - “Eu não podia ter te abandonado, eu devia ter te ajudado, desculpa, por favor.”

"O que? Você é louca? Seu pai vai te matar!”  — ele se agitou, me abraçando novamente. — "E depois ele vem atrás de mim."

"Eu não podia ir... Eu não podia te deixar sozinho, Miguel... Eu tinha que estar com você" — apertei ele bem forte. - “Eu disse que nunca iria te deixar. Desculpa eu ter corrido. Desculpa. Eu estava assustada, eles estavam vindo e...”

"Você tem que se sentar” — um dos policiais me interrompeu, tirando Miguel de  perto de mim a força.

        Passamos horas sentados, em bancos longe um do outro, apenas trocando olhares. Ele conseguia arrumar jeitos de tirar risadas de mim, como se não se importasse com nossa circunstância  naquele momento. O único momento que ficamos longe foi quando ele foi levado a enfermaria, pra cuidar da perna que tinha cortado durante a fuga.

"Pichando por aí de novo, senhor Duarte?” — a delegada, já conhecida por ele, se aproximou de nós. - “Você já tinha sido advertido da ultima vez né? Não podemos tomar leve com você dessa vez.”

“Mas e ela? Ela ainda vai fazer 16!” — apontou com a cabeça pra mim, mostrando preocupação. - “A burra decidiu parar de correr.” 

     Falou revirando os olhos, como se eu não estivesse ali.

“Porque você é tão imbecil? Eu fiz isso por você, seu idiota.” — gritei, do outro lado.

“Quietos! Vocês não podem trocar palavras!” — a mulher levantou o tom de voz. - “Olha aqui, eu tenho muitas coisas sérias pra resolver: assassinatos, roubos, sequestros, desaparecimentos, entre outros... Não tenho tempo pra perder com adolescentes rebeldes que gostam de fazer arte em residências privadas. Agora, calem a boca!”

        Miguel olhou pro chão, e eu também.

“Senhorita Morgan?” — ela olhou meu nome em um papel. - “Ligamos pro seu pai, amanhã ele vem te buscar, ele precisa assinar a advertência. E Miguel...” — ela olhou pra Miguel, de um jeito desapontado. - “Acredito que você não quer que liguemos pra sua mãe né?”

        Miguel balançou a cabeça baixa, dizendo que não.

Então, vamos ver o que podemos fazer dessa vez... Tem que ser algo mais duro do que uma advertência. Você parece que não aprende! Mas, de qualquer forma, acho que sua mãe vai ter que assinar a papelada da pequena fiança." 

"Eu que vou pagar. Não mete minha mãe nisso. O máximo que quero dela é uma surra" — ele olhou pra mulher, com um sorriso de lado. - "Mas vê se tem como parcelar em 15 vezes sem juros por favor, sabe como é que é né, as coisas não estão fáceis."

     A mulher abaixou o óculos até a ponta do nariz e olhou pro papel, notei que aquilo era uma distração para esconder seu sorriso. Ela era jovem e bem bonita. Miguel ficou com ela 3 vezes, meses após aquele dia, e eu como melhor amiga tive a infelicidade de saber dos detalhes.

"É, vou ver o que posso fazer. Meu conselho é que apenas corra mais da próxima vez, e não se deixe ser pego, okay?” — ela piscou pra ele e foi pra sua sala, desfilando em seu salto invejável.

       

     Ao andar um pouco mais, onde a muito tempo atrás ficava uma lata de lixo, tinha uma caixa, nessa caixa havia uma seta que apontava pra cima. Subi na escada, e fui seguindo as outras setas, já bem no alto, uns 5 metros acima do chão, encontro uma portinha dessas de energia, e nessa porta tinha o mesmo desenho que desenhamos no muro daquele banco lá na frente, só que em miniatura. Isso me fez rir.

     Não há como descrever o desenho. Mas imagine apenas algo abstrato, com muitas cores, talvez alguns rostos entre as cores, enfim...

     Dentro dessa portinha não tinha fios de eletricidade nem nada disso, mas sim, um pequeno papelzinho.

     Desci tão alegre daquela escada, que ao pisar no penúltimo degrau me desequilibrei e cai de bunda no chão. Não me importei em levantar, abri o papelzinho lá mesmo, sentada no chão.

 

        “Boa menina...” ele começava dizendo. “Você conseguiu sentir o ar pesado que essa rua tem? As vezes eu passo aqui, dou umas olhadas, e sinto muitas coisas... Muitos sentimentos misturados. Aquela noite, com certeza, foi uma das noites que mudou nossas vidas. Também mudou nosso histórico na policia, com certeza. (Não que isso importe muito pra quem tem um pai milionário, mas...)”

“Idiota.” — ri, apertado o papel.

     “Bom, se seu pai já não gostava de mim antes, depois daquilo sei que ele passou a me odiar. Mas, foi naquela noite que eu percebi que realmente você tava comigo pro que der e vier, vi que realmente eu não tinha nenhum amigo tão fiel quanto você. (Se deixar ser pega pela policia pra me ajudar? É sério?) Você era realmente meu mano! Você não me abandonou... Por mais que eu sempre agisse como um idiota, te levando pra problemas, você sempre, sempre esteve ali... Por isso que eu te amo, Claire. O que seria de mim naquele dia, se você não tivesse rolado no chão pra convencer seu pai de pagar minha fiança? Você sempre me ajudando... Eu queria também poder fazer algo bom por você, um dia. Enfim, não estou aqui pra me lamentar de coisas que não posso fazer. Mas sim, pra te lembrar que nossa vida também nunca foi um mar de rosas, sempre tivemos altos e baixos, e esse dia foi um deles... Por mais que  rimos bastante em meio a correria, e até enquanto aguardávamos naquela delegacia, tudo aquilo não deixou de ser tenso. Enfim, te devo os parabéns por ter chegado até aqui, bailarina!

     Enfim, pronta pra mais uma?

 

Se o vento ainda está forte

Vai ser bom subir nas pedras

Sei que faço isso para esquecer

Eu deixo a onda me acertar

E o vento vai levando tudo embora

 

Agora está tão longe!

Vê, a linha do horizonte me distrai:

Dos nossos planos é que tenho mais saudade,

Quando olhávamos juntos na mesma direção

 

Aonde está você agora

Além de aqui dentro de mim?

 

Agimos certo sem querer

Foi só o tempo que errou

Vai ser difícil sem você

Porque você está comigo o tempo todo

(...)

 

Já que você não está aqui,

O que posso fazer é cuidar de mim

Quero ser feliz ao menos

Lembra que o plano era ficarmos bem?

 

- Ei, olha só o que eu achei: cavalos-marinho...

(...)

“Vê a linha do horizonte me distrai. Dos nossos planos é que tenho mais saudade. Saudades de quando olhávamos juntos na mesma direção...” essa é mole não? Apenas saiba que o fim será o começo.”

 

      Tudo acabou ali. Uma chama no meu coração se acendeu em mil labaredas, pude sentir os momentos em baixo da Lua, em frente ao mar, pude sentir o vento que vinha do horizonte gelar minha pele, pude ouvir sua voz e o toque das cordas do seu violão preto.  Vento do Litoral, uma musica que nós dois amávamos. Uma música que ele cantava pra mim com seu violão horrível e desafinado em toda noite de Lua Cheia, depois que me recuperei do acidente. Nós sempre destruíamos a música, mas sem contar a desafinação de ambos, era um dos momentos que mais amávamos. Seja na praia, seja na minha varanda, seja na calçada da minha rua, nós performávamos a playlist completa da Legião Urbana e Lulu Santos, e não nos importávamos com mais nada. E sim, aquela pista foi uma das mais fáceis. Lembrava-me muito bem de onde ele gostava de cantar aquela musica. Não que eu tivesse acertado de cara, é claro que não, sou muito lerda pra isso. Mas, após minutos no chão e pensar um pouco, já sabia aonde eu tinha que ir.

    

— Linha do horizonte... Cavalos-marinho... — sorri, olhando pra folha. — Onde mais se acha cavalos-marinho não é mesmo? Sim, com certeza é lá...”

 

     Levantei decidida. Eu já sabia aonde ir. Corri até meu carro, e assim que entro o meu celular toca novamente, dessa vez era uma chamada de Enzo.

       

     Ele brigou comigo, gritou, gritou e me obrigou a voltar pra casa. Me lembrou que já se passava de 2 da manhã e era perigoso eu ficar sozinha por aí nessa cidade a essa hora. Disse que ficou desesperado pois eu não avisei a ele que ia sair. Eu resisti é claro, disse das pistas que estavam me levando a Miguel mas ele não quis saber, jurou que se eu não chegasse em casa em meia hora ele me encontraria, então obedeci.

        

 

        Após tomar um demorado banho, fui dormir, mas feliz do que nunca. Sei que eu nesse momento, já poderia ter abraçado Miguel, e isso me agoniou um pouco. Mas eu precisava relaxar e conseguir dormir bem, por mais que eu tivesse muito ansiosa, eu teria que descansar  pois amanha seria mais um dia de procura e eu precisava estar disposta.

        Eu fui dormir então, mais tranquila ao ver que eu já tinha a ultima pista, e que ela pra mim foi a mais fácil de todas. Onde mais se encontra uma linha do horizonte e cavalos-marinho?

        Há! Mal sabia eu que minhas conclusões estavam erradas... Miguel não daria aquilo de mão beijada pra mim. Não seria tão fácil como eu imaginava.

       Por que, eu realmente era péssima naquela jogo!


Notas Finais


ENTÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO? O que acharam? Eu fiquei tão nervosa pra postar, vocês não fazem ideia. Como eu disse, o contexto ta meio louco, mas eu precisava de desafios então porque não um cap meio suspense? ESPERO QUE TENHAM GOSTADO, ainda há muita coisa pra desenrolar aí. As conclusões estarão no próximo, mas o que acontecerá no próximo vai depender da opinião de vocês nesse aqui. Então, falem comigo.

OUTRA COISA! Eu queria AGRADECER A TODOS VOCÊS DO FUNDO DO MEU CORAÇÃOZINHO! A história atingiu uma média de 400 comentários E ISSO É UMA CONQUISTA ÚNICA, nunca nenhuma história nessa categoria conseguiu isso e devo esse prazer A OS MELHORES LEITORES DESSE MUNDO! <3 Muito obrigado mesmo, cada comentário é motivante e especial!

Espero vocês no próximo, ficarei sem internet por um tempo, mas vou dar meus pulos pra não atrasar! Um grande beijo e até lá! Agora vou dormir. (SPOILER: NO PRÓXIMO TEM CLARRY, DESCULPEM POR NESSE NÃO TER DITO, É QUE NÃO ACHEI UM ESPAÇO)


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