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História I Hate Loving You - She Will Be Loved


Escrita por: GEEZERTVD

Notas do Autor


Oi gente bonita! Como estão? Espero que benzíssimos!
Então, sei que demorei um cado a mais do que o planejado, mas acreditem que cerca de uma semana atrás, quando eu estava aqui escrevendo pra vocês, pronta pra postar, minha internet foi pro beleléu? É, acreditem! Não deu pra postar gente, desculpem. Só paguei hoje.

Enfim, aqui vai mais um carinhoso capitulo pra vocês. Aqui vocês já vão sentir um cheirinho forte de "final" </3 Espero que gostem do capitulo, e que compreendam ele. O capitulo terá muitas alterações no tempo, prestem atenção.

Vamos ler! \o/

Capítulo 55 - She Will Be Loved


Fanfic / Fanfiction I Hate Loving You - She Will Be Loved

 

Novembro – 6 meses depois


 

“Sei que adeus não significa nada

Ela volta e me implora para segurá-la toda vez que cair.”

— Maroon 5

 

 

Flashback Claire - Maio.

Atravessei a porta daquela igreja sentindo minhas mãos soarem. Meus pés tremiam em cima daquele salto ridículo que pensei diversas vezes em tirar. Parei na porta e respirei fundo, sentindo o cheiro de ar-condicionado entrarem por minhas narinas e resfriar o caminho até minha garganta. Todos os olhares dali se voltaram a mim. Fazendo-me ficar mais inquieta do que já estava. As pessoas não mudaram a direção do olhar, como achei que fariam. Eu parecia uma bola de futebol no meio de uma partida importante: ninguém conseguia tirar os olhos. Todos vidrados, ansiosos para ver aonde a bola irá no próximo lance. As pessoas pareciam ver um fantasma horroroso. Esfreguei minhas mãos no vestido para secar o suor e dei meu primeiro passo.

Você está bem?” — Ele sussurrou em meu ouvido, apertando meu braço. - “Você não parece nada bem.”

Só é inacreditável.” — Abri um sorriso, admirada com a atmosfera de boas emoções que me atravessavam, independente de parecer estar vestida com uma estampa de bananas, carregando uma melancia na cabeça e com o nariz pintado de vermelho.

Levantei o olhar até o de Larry e ele sorriu pra mim, como se estivesse olhando além daquele momento.

Não quero adivinhar no que você está pensando” — falei olhando pro outro lado, tentando esconder o sorriso idiota que estava em meus lábios.

Tem certeza?” — Me perguntou de um jeito preguiçoso. - “Seria como um dejavú dessa cena, porém eu estaria no altar.”

Olhei pra ele e dei mais um sorriso, antes de ser interrompida por meu irmão correndo em minha direção.

AH!” — Enzo colocou a mão no peito como um sinal de alivio. - “Que bom que você chegou... Eu estava já nervoso.”

Nós já estávamos próximos ao altar quando ele nos alcançou.

Calma irmãozinho, só me atrasei alguns minutos!” — Sorri, vendo quão lindo ele estava.

Cadê a Ana? Porque ela está demorando tanto? Você estava com ela? Você tem notícias? Você...”

Calma Enzo!” — Interrompi ele tentando falar sério. Ele estava muito agitado e precisava se acalmar antes de ter um infarto. - “Ela está bem. É normal a noiva se atrasar” — confortei-o. - “Aliás... meu Deus, você está tão lindo!” — Agarrei seus ombros olhando para todo o seu corpo.

Ele riu abaixando a cabeça, e por um momento pensei ter visto suas bochechas brancas se avermelharem. Enzo ficava muito branco essa época do ano. Na primavera. Não branco pálido, mas um branco papel avena. Bonito de se ver. O tipo de pele que você poderia passar horas admirando. O que combinava muito com seus cabelos pretos como a noite, seus olhos escuros e sua barba rala que deixavam ele com uma cara madura. Se ele não fosse tão adorável eu diria até que ele tem um ar de bad boy, para quem não o conhece. Mas essa ideia me faz rir - ideia de que meu irmão fosse um fosse um menino malvado. Ele está bem longe disso ao lembrarmos que ele é a ovelha branca da família.

Acho que eu não posso discordar de você.” — Falou erguendo os ombros, de um jeito glorioso, como se não fosse necessário meu elogio para que ele soubesse que estava lindo.

Convencido” — dei um tapa em seu ombro. - “Sua pompa toda vai cair por terra quando a Ana entrar por aquela porta... Ela está 10. Mil. Vezes. Mais bela!”

Ele olhou pra porta e começou a se balançar. Eu e Larry nos dirigimos até nossos lugares.

Noticias sobre meu padrinho fura-compromisso?” — Enzo perguntou, ainda se balançando.

Como já era de se esperar: ele não vem.” — Dei de ombros. - “A anemia da sua irmã só piorou. Ele precisou ficar com ela no hospital pra sua mãe ir trabalhar. Até que o seu chefe havia deixado ele vir, mas...”

Vida difícil.” — Larry disse entre um suspiro.

Nem fale” — houve um momento de silencio entre nós. - “Enzo, dormiu bem essa noite? É isso mesmo que eu estou vendo? Olheiras nos olhos do meu irmãozinho?” — Perguntei como se fosse o maior pecado do mundo.

Ah! Pare! É sério que o corretivo não cobriu?” — ele tocou embaixo dos olhos, ficando um pouco desesperado. - “A mãe da Ana jurou que elas não iriam aparecer! Aquela...”

Ela está brincando! Não há nada de errado com seu rosto.” — Larry o interrompeu, antes dele prosseguir com o insulto.

Enzo me fez uma cara feia, mais ao mesmo tempo aliviada, me fazendo rir.

Calminha, pra que tanto nervosismo cara?” — balancei seus ombros. - “Só vai ser um dos passos mais importantes da sua vida.”

Você é péssima em acalmar pessoas.” — Ele revirou os olhos, me fazendo rir.

De repente se fez um minuto de silencio entre nós dois. Me peguei olhando em seus olhos. Em meu peito reacendia naquele momento, um sentimento que a muito tempo não sentia: Felicidade. Alivio. O ar entre nós ficou estranho. Nós nos vimos bobos por um momento, um parado olhando pro outro, sem saber o que dizer, e sem saber o motivo daquela energia diferente entre nós.

Quem diria hein...” — Quebrei o silêncio, com um sorriso bobo nos lábios, olhando admirada para ele.

O que?” — Perguntou sorrindo.

Nós crescemos.” — Disse com calma.

Eu senti uma imensa alegria no meu peito. Tamanha alegria a ponto de querer chorar. Era um reboliço de sentimentos que estava se entrelaçando dentro de mim. Havia muitas coisas. Mas uma coisa eu sabia: as lágrimas que estavam prestes a escapar não significava tristeza. A tristeza não estava entre esse reboliço de sentimentos dentro de mim. Ela estava bem longe. E queria que assim continuasse por mais um longo tempo.

Nós conseguimos. Estamos felizes. Você vai ser pai...” — Deixei escapar uma risada preguiçosa, em objetivo de espantar as lágrimas.

Só não crescemos... Como também evoluímos!” — Ele me abraçou. - “Eu estou tão orgulhoso de você, pequena.”

Me permiti um segundo quieta, encolhida em seus braços, sentindo seu suave perfume e seu abraço reconfortante. O abraço mais protetor do mundo. Eu me sentia tão minúscula em seus braços.

Espera aí. Não era eu que deveria dizer isso?” — Perguntei, tirando meu rosto de seu peito.

Não.” — Ele passou a mão no meu rosto. - “Eu... Eu que devo estar orgulhoso de você. Pois fazer um filho e subir em um altar todo mundo consegue. É mole! Mas olha você aqui...” — Ele apertou minha mão. “Com esse sorriso perfeito nos lábios. Com sentimentos. Usando um vestido...” — Ele riu me levando também ao riso, e fui obrigada a dar uma voltinha. “Eu nunca imaginei que você chegaria até a aqui, Claire. Você mudou a vida de todos que estavam a sua volta. Você superou cada coisa... Cada coisa que eu não sei se conseguiria se estivesse no seu lugar. Observar você esse tempo todo, passando por suas mudanças foi o que me dava forças, foi o que me deu forças pra chegar até aqui. Me deu forças pra ir até meu pai naquela noite e dizer que eu ia ser pai. Você é um exemplo. Você não só mudou, como também mudou toda a sua família, me mudou, mudou seus amigos. Você... Você é tão forte! Eu te amo tanto.” — Dessa vez era ele que estava com lágrimas nos olhos.

Não chore, pequeno príncipe!” — Pedi, o abraçando, para não mostrar que eu também queria chorar. “Vai estragar a maquiagem!” — Ri, passando a mão no seu rosto pra seca-lo. Não havia maquiagem ali. Nunca houve. Enzo sempre foi um irmão transparente. Sempre acolhedor e meigo. Cheio de vida. Que contagiava quem estava próximo. Nunca houve mentiras. Nunca houve embaraços. Ele era puro por dentro. Ele sabia amar. Ele tinha talentos e carinho pra compartilhar com quem precisava.

E ele seria o melhor pai do mundo para aquela criança.

Ele segurou minhas duas mãos juntas e as beijou. No mesmo instante, a musica começa a tocar, um simples acústico da música She Will Be Loved do Maroon 5, e as pessoas se agitam.

Chegou sua hora, vai!” — Empurrei ele, ficando agitada.

Obrigado por tudo, Clai.” — Ele disse, antes de correr até o altar. - “Eu te amo. Muito.”

Vai dar tudo certo, cara” — mandei um beijo pra ele. - “Você vai ser muito feliz! Muito.”


 

Não me importo de ficar todo o dia na sua esquina debaixo de chuva.

Procure a garota do sorriso partido e pergunte se ela quer ficar um pouco

E ela será amada, Ela será amada...

Nem tudo são arco-íris e borboletas

São os compromissos que nos impulsionam

Meu coração está cheio e minha porta está sempre aberta

Venha sempre que quiser.”


 

Ana, como eu já sabia, estava perfeita! A cerimônia foi algo simples. Simples, curto, porém belo. Tudo saiu como planejado. Quer dizer... menos a parte onde Enzo começou a gaguejar falando seus votos levando todos ao riso, inclusive ele. Foram muitos sentimentos envolvidos, mas o amor e a alegria estavam no topo.

Enfim, aquele foi um momento especial, que com certeza ficará marcado em toda a minha vida.

Após o pastor dar o amém e o casal sair e receber os abraços, todos nós tínhamos que nos dirigir ao lugar onde aconteceria a festa. Fui uma das ultimas a sair da igreja, devido ao meu salto que estava me matando, então pedi pra todos irem enquanto eu ia no banheiro e passei quase 15 minutos lá descansando meus pés. Nem me dei conta do tempo!

Eu já estava rumo à saída quando meu celular tocou. Larry já estava lá fora me esperando, junto com Nina e meus pais.

Alô?” — Atendo, apressando meus passos para a limousine que já estava estacionada na porta.

O campeão já colocou as correntes?” — Eu já ia atravessar a porta quando ouvi sua relaxada voz do outro lado.

Parei no mesmo instante onde estava. Eu e minha maldita mania de não ler o nome da chamada antes de atender e ser pega de surpresa quase todas as vezes. E senti meu peito gritar com a felicidade de ouvi-lo.

Miguel?” — Minha voz soou com um suspiro.

Tudo bem amor?” — perguntou, sua voz estava tão rouca e relaxada que imaginei ter acabado de acordar, ou estava muito entediado.

Me sentei no ultimo banco da igreja, escondidinha pelas sombras que o por do sol estava fazendo lá dentro.

Melhor impossível!” — Respondi. - “Eu estou tão feliz! Foi tão lindo, você não faz ideia!”

Eu imagino. Estou ligando pra dar os parabéns a ele, e pedir desculpas mais uma vez por não ter ido. Tem como coloca-lo na linha?”

Eu não estou com ele agora. Mas você pode ligar daqui a meia hora que com certeza vai poder falar com ele. Estamos indo pra festa. Como está sua irmã?”

A buzina da limousine soou 3 vezes. Estiquei a cabeça para fora e vi que meu pai se encontrava com a cara feia dele pra fora. O motorista também parecia impaciente.

Podem ir. Eu vou no meu carro.” — Gritei pra eles, tirando o celular da minha boca.

Meu pai pareceu não gostar muito da ideia.

Ficamos te esperando por quase 20 minutos pra agora você não ir com a gente?” — Nina gritou quando colocou sua cabeça pra fora pelo teto solar. - “Ta de palhaçada né garota?”

Ergui os ombros, fazendo um olhar de inocente e coitadinha.

Não demore” — meu pai pediu, e vi quando alguém no carro puxou Nina pra dentro de novo e ela se esperneou. - “Já está bem tarde!”

Acenei com a cabeça.

Hein? Como ela está?” — Voltei minha atenção ao telefone.

Bem. Na medida do possível. Irei leva-la pra casa amanhã de manhã, se Deus quiser.” — Ele parecia bem cansado.

Já sabe né? Se precisar de ajuda pra comprar algo, como remédios, não hesite em pedir.”

Claro, meu Anjo da guarda.” — Percebi um cinismo em seu tom de voz.

Miguel...” — Chamei de um jeito ameaçador.

Ele demorou uns segundos.

Nem sei porque você ainda oferece. Sabe que mesmo que eu precise, não irei pedir, não é?”

É, eu sei... Mas não custa nada tentar.” — Respirei fundo, lembrando de como seu orgulho era absurdamente impenetrável, quase como o meu.

E você? Como está?” — Perguntou. - “Dei graças a Deus que não foi preciso eu ir aí meter a mão na cara do seu namorado antes de te tirar daquela cama. Eu iria mata-lo.”

Eu ri, antes de responder.

É, eu sei disso. Eu estou bem, meu amor. Não se preocupe” — dei uma pausa, dando uma rápida olhada pra trás achando que tinha ouvido alguém entrando, mas não havia ninguém. Apenas a noite que havia chegado lá fora. Tudo se encontrava escuro e silencioso.

Eu nem tinha percebido anoitecer.

Quero dizer: me sinto um pouco estranha. E eu ainda estou sendo obrigada a beber alguns remédios horríveis, que acho que são inúteis, pois me sinto muito bem sem eles, mas... Se eu não beber minha mãe me mata” — disse, voltando minha atenção a ele.

Continue bebendo tudo direitinho. Não vacile garota! Se sua mãe não te matar, eu te mato. Mas me diz aí: estranha? Como assim?”

Sei lá... Me sinto como se eu fosse uma peça fora de lugar agora. Eu já era antes, mas agora está pior. Como se eu fosse um incomodo pras pessoas, um peixe fora d'água. Nunca consegui me sentir confortável desde que voltei. Parece que não pertenço mais à minha própria vida.”

Tem como me explicar melhor?” — Seu tom era de preocupação.

Todos souberam do que aconteceu comigo! Recebi mensagens de apoio de pessoas que eu nem sabia que existiam! Diplo me ligou! Você acredita? Como ele foi saber que eu adoeci? Tinham mensagens no Twitter, mas merda, eu nem tenho mexido naquilo! Eu não falo com ninguém. Todo mundo teve a sensibilidade de mandar seus sentimentos pra coitada filha do Sr. Morgan que adoeceu! Tadinha dela! Hoje mesmo quando cheguei aqui, as pessoas me olharam como se eu fosse uma aberração. Sei lá, como se eu fosse alguém que tinha ressuscitado dos mortos. Alguém que parecia não fazer parte desse momento. As pessoas ficaram impressionadas demais por me ver, mais do que eu imaginava.” — Respirei fundo. - “Não há necessidades disso! Todos me olharam como se eu devesse estar em uma cama de hospital com tubos no nariz e soro na veia. Isso é o inferno!”

Calma amor, esse é apenas o seu primeiro dia fora de casa desde que tudo aconteceu. Deve ser estranho mesmo, mas vai passar... As pessoas sabem que você esteve perto do pior, tente entender o lado delas.”

Tem razão, mas acreditar nisso ainda não é o suficiente pra entender o que está acontecendo. É tudo muito estranho. Talvez o problema não seja as pessoas... Mas há algo dentro de mim que não está bem. Eu não estou bem comigo mesma” — dei uma pausa para pensar melhor. —“Tudo está diferente. A esfera na minha casa está mudada desde quando eu voltei. As pessoas tem me tratado como se eu fosse uma boneca, frágil e delicada, que fosse quebrar na primeira queda. E eu sou forte... Já provei pra todos o quanto eu sou forte! O que mais eu tenho que fazer pra...”

Calma cara! Eu sei! Eu sei que você é forte!” — Ele me interrompeu com a voz bem firme. - “Eles também sabem... Deixa essas primeiras semanas passarem que tudo voltará ao normal, eu te garanto.”

Sabe... ficar lá tem sido algo insuportável. Meu pai tem deixado Larry dormir na minha casa, comigo, todos os dias... Que pai permite que a filha durma com um cara debaixo do seu teto todas as noites? No começo eu pensei que seria algo bom, apenas por alguns dias, mas agora vejo que é porque eles não confiam em mim. ELES NÃO CONFIAM EM MIM, MIGUEL! Não querem que eu fique sozinha. É como se a qualquer momento eu fosse me atirar pela janela ou colocar meu dedo molhado na tomada... Eu não sou louca! Todos acham que eu sou, mas não sou! Isso me magoou. Parece um plano deles! Fico imaginando todas as pessoas que eu conheço reunidas da sala enquanto eu durmo, organizando os horários de cada um pra vigiar, e resolvendo qual o próximo plano pra me deixar longe do perigo! Eu estou farta!”

Calma... Claire!” — ele pediu com a voz um pouco hesitante e só então fui perceber que estava gritando.

Eu não quero ficar calma! Eu quero ter uma vida normal! Eu não sou feita de porcelana, eu não sou frágil! Acredita que minha mãe puxou a cadeira pra mim na hora do jantar sábado? Foi vergonhoso! Foi o maior nível de humilhação que eu já estive. Eu não posso puxar minha própria cadeira? Tenho certeza de que se eu não fingisse que estava sem fome e só queria suco ela iria me dar comida na boca! Todos me cercam 24 horas! Larry foi o único que tocou nesse assunto comigo, e notou que eu estava precisando do meu espaço e resolveu ir dormir em outro quarto. Mas mesmo assim eu ainda não consegui ter um tempo pra respirar, ou um tempo só pra mim desde que voltei do hospital! Parece que nem banho eu posso tomar sozinha, porque se não eu vou me afogar na banheira!”

Calma Claire!” — Ele alterou o tom e percebi que realmente eu estava descontrolada.

Fechei os olhos, envergonhada por permitir aquele sentimento de raiva brotasse dentro de mim, no lugar onde eu estava. Uma igreja. Isso pareceu tão errado como já era.

Percebi que ele se encontrava em um momento de silencio do outro lado. Talvez esperando eu me acalmar, e com certeza pensando nas palavras certas pra me dizer.

Olhe só.” — Começou a falar, de um jeito cuidadoso e estudado. - “Se coloque no lugar deles. Você basicamente se permitiu adoecer. Foi encontrada com sinais de mutilação nas mãos, e a explicação dos médicos foi que você não queria acordar. Foi a explicação mais besta que já ouvi em toda a minha vida, acho que até eu teria algo melhor pra contar né, mas... Enfim, o que quer que eles pensem? Eles estão se precavendo. Cuidadosos e detalhistas. Porque estão com medo de passar por tudo aquilo de novo. Sim, acho que se pode dizer que é falta de confiança, mas não faça drama, você deu motivos pra isso” — ele deu uma pausa para ver se eu ia argumentar contra. - “Uma hora eles irão se tocar que você está normal. Pronta pra andar com seus próprios passos! Só basta a você mostrar que não precisa de guarda-costas. Não fazer nenhuma loucura. Sua mãe achou que ia te perder, seu pai achou que ia te perder, seu namorado achou que perderia você e a culpa seria dele, seus amigos pensaram que iriam te perder... Dê um crédito a todos. Isso apenas serve pra mostrar o quanto você importa pra eles. Se coloque no lugar deles, é isso, se uma pessoa muito importante pra você estivesse em uma cama de hospital sem uma explicação viável, e de repente a vida desse uma nova chance a ela, você não cuidaria melhor e tentaria aproveitar o máximo os momentos com essa pessoa agora?”

Você não está superprotetor como eles... O que tem a dizer a sua defesa?”

Estou a milhas de você, meu amor. Não tenho muito o que fazer a não ser orar por você e confiar que sua cabeça está no lugar.” — Pude imaginar ele sorrindo. Um sorriso bem cansado. — “Mas saiba que se você estivesse aqui, era eu que puxaria a cadeira pra você, eu que daria comida na sua boca, eu que dormiria agarrado com você todas as noites só pra ter certeza de que você está ali, eu vigiaria o seu banho pra você não escorregar e bater a cabeça, eu te seguiria até a faculdade feito um maníaco, e quando eu pudesse encolheria você e colocaria em um potinho dentro do meu armário, onde nada te causaria mal e medo.”

É sério isso?” — Perguntei, tentando não mostrar que estava rindo.

Ele passou alguns segundos em silencio.

Bom, na verdade não” — falou de um jeito engraçado, como se fosse óbvio que aquilo era exagero. - “Ativei meu modo meloso aqui rapidinho” — ele riu e sua risada foi perdendo força aos poucos. —“Eu só queria dizer que isso é porque eles se preocupam muito, e acham que podem te defender do mundo. O que não é o meu caso.. Eu amo quando você cai de cara no mundo sem medo algum do que vai encontrar lá. Entende a diferença?”

Houve um pequeno momento de nostalgia, onde me permiti voltar com meus pensamentos a momentos vividos com ele, muitos anos atrás. Aventuras, realizações, conquistas... infância.

Eu achei que te veria” — disse entre um suspiro cansado, ainda ligada à lembranças do passado. — “Assim que acordei no hospital, me disseram que você estava a caminho. E então eu te esperei, mas você não chegou.”

Eu já te expliquei, cara. Eu ia pra aí com um objetivo: te acordar ou matar seu namorado. Quando soube que você estava bem, lúcida e já já teria alta, não precisei mais embarcar. Pedi dinheiro emprestado pra comprar a passagem de ultima hora, então eu não usando ela, foi menos uma divida no meu pescoço” — ele deu um pausa. — “Além do mais, você não precisa tanto assim de mim agora, não é mesmo? Está toda importante, novos amigos importantes e...”

Vai-te a merda Miguel! É claro que preciso. Não comece a sessão melo-ciúmes agora não! Ta cedo!”

Ouvi sua risada cheia de graça. Como era maravilhosa sua risada!

Okay, mudando de assunto... Como Enzo estava?”

Nervoso. Feliz. Emocionado...” — Respondi. — “Foram tantas coisas, acho que só estando no lugar dele pra saber.”

Ah, então nós nunca vamos saber mesmo” — falou despreocupado.

Me permiti pensar por um segundo. Ergui o olhar pras luminárias de cristais e deixei meu pensamento fugir um pouco de mim.

Será?” — Perguntei, após um tempo.

Um silêncio tomou conta do outro lado da linha como se ele tivesse visto um fantasma.

Opa. Opa. Espera aí, foi isso mesmo que eu ouvi?” — Sua voz era de incredulidade.

Qual foi Miguel... Nunca sabemos o que o futuro nos prepara!” — Abaixei o olhar e algo na enorme cruz de madeira no altar me chamou atenção. Ela estava vazia e um pano de ceda vermelho estava enrolador em seus lados. — “Não sabemos o que nos espera amanhã.”

Da minha parte eu sei: Nada de casamentos. Amém.” — Falou rapidamente. —“E amanhã o que me espera é um bocado de louça suja pra lavar quando chegar em casa. Mas calma aí, o que deu em você? É serio que você está pensando nisso, Claire? Você, Claire Morgan?” — Por um segundo pareceu alegre. —“Você e Larry já conversam sobre isso?”

Pensei em falar de todas as vezes que Larry insinuava que queria isso, mas não. Melhor não se não ele não ia mais largar do meu pé.

Não” — respondi firme. - “Eu não quis insinuar nada. A ultima coisa que eu me vejo no mundo é entrando em uma igreja em um vestido branco! Eu sinto que vou desmaiar só de pensar nisso” — deixei claro. - “Mas, você sabe do que eu estou falando, Miguel. Eu estava me referindo principalmente a você.”

Houve um momento de silencio.

Eu?” — Perguntou como se tivesse achado graça daquilo. — “Eu só amei uma menina na vida, fora você, e ela está em outro continente, vai passar anos fora, e talvez nem se lembre mais de mim quando voltar e se voltar... Mas, mesmo assim, não estou disposto a amar mais ninguém como amei ela. Então não, nunca vou casar.”

Enzo dizia a mesma coisa e olha no que deu!”

Você diz a mesma coisa... Então olha o que vai dar...” — falou, tirando de mim o restando de argumentos a meu favor que eu tinha. — “Eu contava com você pra me acompanhar na minha solidão amorosa eterna, mas pelo visto vou ficar nessa sozinho mesmo. Mas não se preocupe, vou estar sozinho e feliz por você ter alguém.”

Pare de ser dramático, homem!” — Ri do jeitinho como ele falou. — “Você ainda vai engolir suas palavras... Veja só!”

Eu tenho uma irmãzinha pra proteger, um irmão pra puxar a orelhar, uma mãe e uma casa pra cuidar... Acha mesmo que eu tenho tempo pra me apaixonar de novo? Isso requer muito tempo e dedicação, e não tenho nenhum dos dois.”

Isso não impediu você de se apaixonar daquela vez, não é mesmo?”

Mais um momento de silencio e então, ouvi ele respirar fundo.

Isso é estranho” — disse, como se estivesse pensando bem em cada palavra. - “Amar.”

Deixei o silencio tomar conta da linha por uns segundos. Deixei que meu peito brilhasse com o amor que eu sentia por Larry. Linhas de amor eram jogadas pelas minhas veias com cada batida do meu coração, queimando-as, e isso era realmente estranho.

É... Eu te entendo perfeitamente. Parece bizarro a ideia de...”

Querer tanto estar perto de alguém, que seu coração parece pela metade quando ela não está” — me completou.

É como uma necessidade da pessoa. Uma parte sua que parece só funcionar com ela.”

Ele ficou em silencio por um tempo novamente.

Essa minha parte já parou de funcionar a tempos” — ouvir ele respirar fundo, de um jeito frustrado.

Você pelo menos tem falado com ela? Tem tentado comunicação? Tem se permitido trocar mensagens, pelo menos? Você sabia que existe algo chamado internet, não é?”

Não, não falei com ela. Nunca mais. Achamos melhor assim” — falou como se guardasse uma mágoa. - “Assim ela segue a vida, sem precisar ficar presa a mim.”

Já se passaram meses, não sente vontade de saber como ela está?”

Todas as manhãs. Todos os dias. A todo momento eu quero saber como ela está. O que está fazendo... Eu queria saber se ela pensa em mim. Mas, não quero reaparecer na vida dela de repente, não apenas pra saber como ela está e...”

Ele parece engasgado, deixando palavras presas a qual não queria dizer, não queria que ninguém soubesse.

Miguel, fala....” — sussurrei. - “Eu contei a verdade pra você. Me abri sobre como eu estava me sentindo esses dias... Pode falar cara!”

Ele esperou mais uns segundos.

É como se dentro de mim, eu não quisesse saber que ela está feliz sem mim. Eu não quero imaginar ela sorrindo pra outro homem. Eu não quero isso. É como se dentro de mim, eu tivesse inveja em apenas imaginar ela feliz. Inveja por ela ter encontrado algo bom, e não voltado pra mim. Não se sentido infeliz o bastante pra querer voltar pra mim.”

Por um segundo imaginei ter ouvido sussurro de choro, por mais que estivesse se esforçando bastante pra parecer bem, vi o tanto de dor que tinha em sua voz.

Eu não queria sentir isso! Mas não consigo tirar de mim.” — Tive a certeza que ele estava chorando, pois ouvi ele fungar seu nariz disfarçadamente. - “Não consigo lutar contra isso. Acho que não iria suportar saber que ela está bem sem mim. Que não sente mais minha falta. Que agora tem outro cara que toca nela, que a beija... Não vou suportar que agora são outras coisas e pessoas que fazem ela sorrir e não mais eu. Eu queria que ela se sentisse como eu. Isso é egoísmo. Mas eu não me importo.”

Era uma “forma de amor” diferente. Mas mesmo assim, eu admirava aquilo. Sempre temos em mente o amor que quer que o outro esteja feliz independente de estarem juntos ou não, mas não, esse era diferente. Era egoísta. Mesmo assim, ela belo, forte e real. Eu entendia ele.

Descalcei mais uma vez os saltos e joguei a cabeça pra trás, respirando fundo e tentando engolir aquele bocado de emoções. Diferente dele, eu não era boa em conselhos nem escolhia bem as minhas palavras antes de usar, então, só soube absorver o sentimento dele e juntar com o meu.

Acho que precisamos nos encontrar e passar uma longa noite bebendo, só assim pra afundar nossas mágoas.”

Ele riu, dando um tempo para recuperarmos nossa dignidade e orgulho. E mais uma vez olhei pra trás, tendo a sensação de que não estava sozinha.

Sinto sua falta” — sussurrou do outro lado.

Também sinto a sua” — falei baixinho, o que ele já estava cansado de saber. - “Muito.”

Posso saber com quem está falando?” — Duas mãos tocam em meus ombros por trás, logo descendo pra minhas clavículas, em gesto de carinho.

Olhei pra trás assustada, e Larry estava logo atrás de mim. Assim que meu coração se acalmou do susto, pude soltar um sorriso não muito sincero.

Desculpe Miguel, é que preciso desligar” — disse a ele.

Se cuida” — logo o celular desligou.

Olho pra cima novamente e Larry escorrega suas mãos e vem se sentar ao meu lado, ainda deixando um braço em volta do meu pescoço.

Eu estava falando com Miguel” — disse, erguendo o celular.

Imaginei. Eu não entendia nada que você dizia” — ele sorriu.

Dei um riso cansado e voltei o olhar pro altar.

Você parecia tensa” — ele disse, apertando-me mais ao seu corpo.

Nada demais.”

Ele não pareceu convencido com minha resposta mas não insistiu.

Minhas malas estão prontas, irem partir amanhã da sua casa.”

O que? Porque vai fazer isso? Só faz um semana...” — perguntei em um surto, não entendendo porque deixou pra me dizer isso de ultima hora. - “Eu não me importo se você ficar.”

Fala sério Claire. Não preciso ser trilíngue pra notar que você estava estressada no telefone. Muito estressada, no caso. E algo me diz que isso tem haver comigo. Preciso deixar você voltar a sua rotina normal. A vida não parou por causa da gente.”

Não Larry... Não ache que é você. É tudo. Eu adoraria que você ficasse, você não está atrapalhando em nada. É verdade” — eu não estava sendo completamente sincera.

Sei que só minha troca de quartos não foi o suficiente pra você ter seu espaço de volta. Meu apartamento fica perto, eu irei te ver sempre que pedir. Não vou voltar a França enquanto você não disser que eu posso ir. Depois do que aconteceu, eu agora vivo pra você.”

Eu vou me sentir péssima se você for embora por minha causa.”

Mas também não vai se sentir melhor se eu ficar” — ele me apertou cuidadosamente. — “Você precisa voltar a faculdade. Se focar no ultimo período. Sair com Nina. Enfim, voltar a viver sua vida normalmente. Não quero te ver pra sempre assim.”

Me desculpa” — pedi baixinho, aconchegando-me ao meu peito.

Pelo quê?”

Por estar assim. Diferente. Eu não sei o que está acontecendo” — tentei impedir que as lágrimas escorressem, mas foi uma tentativa em vão.

Não me importo se você está diferente agora. A única coisa que não quero é que seu amor por mim mude. Você nunca vai deixar de ser minha, Claire. Nunca.” — Ele deu um beijinho em minha testa, e voltou o olhar pra frente.— “Eu sempre irei te amar, independente de qualquer coisa.”

Parei o olhar novamente em direção ao altar. Havia uma forte angustia dentro de mim. Por um tempo me vi com medo do futuro. Medo de me sentir deslocada, excluída pra sempre. Medo de nunca mais voltar a ser a mesma.

Miguel me disse que tudo vai ficar bem...” — Sussurrei pra mim mesma, em objetivo de tomar confiança. Querendo acreditar naquelas palavras. — “Miguel disse que tudo vai voltar ao normal, quando eu menos esperar.”

Larry ficou em silencio por uns segundos, e então pude notar que seu peito se elevou com um sorriso que brotou em seus lábios.

E alguma vez, Miguel já errou quando se trata de você?” — Perguntou confiante.

Ergui meu olhar de encontro ao seu, ele ergueu a sobrancelha como se realmente esperasse uma resposta. Não respondi. Mas suspirei aliviada. Aliviada e agora, segura. Eu tinha o melhor amigo do mundo. E se ele me garantiu que tudo ficaria bem. Tudo ficaria bem.

Dei um rápido beijo em Larry, agradecendo a Deus por tê-lo em minha vida. Por ter seus confortantes braços em torno de mim sempre que eu queria. Por ter seu coração, e fazer parte de cada batimento seu.

Me promete que você não irá pra longe agora” — pedi, com os lábios ainda nos seus.

Eu nunca mais ficarei longe de você Claire, já prometi isso” — ele retirou uma mecha de cabelo que estava no meu rosto e beijou o lugar onde ela tinha se encontrado. — “Aliás, acho que ainda não tive tempo de dizer o quanto amei esse corte de cabelo.”

Virei o rosto pro outro lado, rindo por achar que ele estava de gozação.

Se chama depressão navalha e água quente” — falei, lembrando-me do momento exato em que decidi cortar. —“Estava pior, acredite.”

Acho que vamos perder corte do bolo” — Larry falou, se colocando de pé. — “Confesso que só vim a essa festa pensando na comida.”

É, você sou eu” — ri, seguindo ele até a porta.

Ele segurou em minha mão e me levou com ele.

Ele parou na entrada da igreja e olhou pra trás. Segui seu movimento. Ficamos alguns segundos encarando altar, e vi que em seu rosto havia muito mais do que uma pequena admiração. Ele estava vendo além.

Seria tão lindo se...”

Não começa, Larry” — interrompi ele, soltei sua mão e saí correndo pelas escadas, deixando-o pra trás.

Mas eu nem terminei” — ele veio atrás de mim rindo. - “Jura que não quer me ouvir?”

Fingi não escuta-lo, e continuei indo em direção ao estacionamento.

Claire?” — ele tentou me alcançar. - “Claire, para de...” — Ele segurou meu braço.

Para você!” — Me virei pra trás e sacudi meu braço, me soltando. -“Eu só tenho 20 anos, ainda não terminei a faculdade, não tenho um emprego, será que nunca parou pra pensar nisso? Seria loucura.” — Gritei enquanto apressava os passos até meu carro.

E eu só tenho 27, nunca fiz faculdade, nunca assinei uma maldita carteira de trabalho, não conclui o ensino médio e vivo de dança mundo a fora. Olha só que lindo, seria mais loucura ainda!”— Ele disse em um tom entusiasmado, como se gostasse da ideia.

Você precisa de tratamento!” — Gritei, fechando a porta do carro com força. - “Você é louco!”

Louco por você!” — Ele também gritou, como se estivesse a quilômetros de distancia. Ele estava a centímetros.

Engatei a ré, e comecei a ir na direção de onde ele vinha.

Eu vou passar por cima de você!” — Coloquei a cabeça pra fora e gritei. — “Depois vou falar que foi acidente.”

Dei a volta e pisei fundo no acelerador, com certeza deixando uma marca de pneu no chão. Larry saiu correndo e se jogou de lado, passando bem longe da minha mira. Ele se desequilibrou e caiu no chão, me fazendo dar um inicio de gargalhada mais parei.

Depois me diz quem é o louco dessa história?” — Ouvi ele resmungar enquanto vinha na minha direção. Entrou e sentou no bando do passageiro. — “Não sou eu que fico tentando atropelar as pessoas” — ele fez um careta infantil pra mim.

Da próxima vez eu não erro” — pisquei pra ele de um jeito sério, e voltei a minha atenção ao volante, tentando sair do estacionamento. — “Agora cala a boquinha e vamos em paz.”

Porque sinto como se eu não estivesse seguro com você aqui dentro?” — Ele olhou pelo retrovisor com uma cara de assustado, depois olhou ao redor.

Por que você não está, meu amor” — peguei a estrada e acelerei, mais uma vez cantando pneu. Olhei pra ele e sorri, achando engraçado a sua cara de assustado.


 

[…]


 

"E eu chorava quando via memórias serem feitas na minha frente. Alguns me perguntavam o motivo das minhas lágrimas, pois não havia razão aparente para elas. Todos estavam felizes, mas eu sabia. Tudo iria virar saudade, e aqueles momentos iriam apenas virar memórias, que quando menos se esperasse sumiria de nossas mentes. Porque sempre acaba. Nada bom dura o suficiente.”

Guta Cavalcanti.

 

Agora - Novembro.

“Claire, estão precisando de você na sua turma. Está desocupada?” — Nina passou apressada do meu lado e me perguntou. Tirando-me dos meus pensamentos.

Acabei de retirar meu material do armário, e junto tive que arrancar uma foto de mim e Larry que tinha colada ali na porta. Fiquei admirando aquela imagem por uns segundos, olhando para Larry, eu e o Mrs Hotness, lembrando-me também de como aquele dia no parque tinha sido bom.

A escola estava agitada com a decoração para a formatura. Seria amanhã: 1 de Novembro. Época mais rigorosa do outono, o que deixava o clima ainda mais dramático. Eu estava ansiosa, nervosa, e um pouco admirada... Quem diria? Claire Morgan se formando!

“Já estou indo, Nina!” — Comecei a caminhar em direção à minha porta. “Olhe, a donzela perdida!” — Pulei nas costas de Ian, que estava colando umas fitas na parede e o abracei rapidamente.

“Olhe! A marrenta de bom humor! O que deu em você?” — Ele deu um tapa na minha bunda quando me virei. “Te vejo amanhã?”

“Com certeza” — dei uma voltinha sorridente, e continuei meu caminho. “Não se esqueça de me incluir no discurso hein!”

Então dei uma corridinha sorridente em direção à minha porta... Eu estava afobada e bem entusiasmada com os preparativos da festa. Seria um ponto de partida pra uma nova vida. Era muito importante.

“Aonde pensa que vai?” — Alguém puxou meu braço quando passei por frente de uma das salas e sem nem perceber já estava do lado de dentro, encostada contra a parede.

Senti lábios roçarem na minha orelha, e me assustei, mas logo aquele toque tirou de mim qualquer força que serviria para me debater contra.

“Eu... estava... indo... atender Nina” — falei me derretendo na parede, com o movimento dos lábios ficando mais intensos.

Foi só então que Larry ergueu a cabeça e olhou nos meus olhos.

“Isso é jeito de aparecer?” — Perguntei, olhando-o de cima a baixo, então bati com as duas mãos no peito dele para afasta-lo.

Ele usava uma regata cinza, uma calça jeans preta e fones de ouvido pendurados em seus pescoço. Ele estava soado e parecia ofegante.

“Você que me chamou, não lembra?”

“Eu disse que começaríamos 8 da manhã a arrumar tudo, já vai dá 11 horas, Larry!” — Empurrei ele e me distanciei em direção às mesas. — “E algo me diz que você não estava pronto pra vir pra vim pra cá.” — Olhei pra seu corpo de um jeito acusador.

Ele andou até mim e se sentou em cima da minha mesa.

“Tem razão. Eu estava correndo, quando já ia para os 3 quilômetros lembrei do seu convite e mudei o caminho pra cá, desculpe.”

“Há! Larry Bourgeois correndo, ta, sei...” — Balancei a cabeça e não consegui esconder o sorriso.

“Fiz uma aposta com meu irmão, e não aceito perder...” — Ele deu de ombros e respirou fundo.

Não me interessei em saber qual era a aposta dessa vez e ele percebeu. Eles apostavam alguma coisa todo dia e podia jurar pelos meus dois olhos arrancados que dessa vez também envolvia comida como pagamento. — “Está ansiosa?” — Perguntou.

“Você ainda pergunta? Foram um 1 ano e 10 meses sentada aqui.” — Bati a mão sobre a mesa e deslizei elas lentamente, sentindo a madeira lisa bem cuidada. — “Não sei o que fazer quando não tiver mais que acordar atrasada e vir pra escola sem pentear o cabelo e receber uma advertência do professor... Os dias vão ficar tediosos, eu acho.” — Olhei pela janela e observei um redemoinho levantando as folhas do chão, e o vento calmo entrando pela abertura da janela. — “Estou nervosa sobre o futuro.”

Olhei para os cantos da sala e respirei fundo.

“Não precisa ficar” — ele acarinhou meu rosto levemente. — “Te prometo que tudo vai ficar bem, no final.”

“Esse “tudo” inclui nós dois?” — Perguntei, apreensiva.

“Quer mesmo falar disso agora?”

“Bom, falta muito menos de 40 horas pra chegarmos ao ponto que irá decidir toda a nossa vida futura juntos, e ainda não pensamos em nada, nem temos uma ideia do que fazer a respeito disso” — respirei fundo. — “Desculpa te dizer isso amor, mas ainda não fizeram um metro que ligue Nova Iorque a Paris. Ainda há milhas convertidas em mais de 7 horas separando nossos continentes.”

Ele ficou um segundo em silencio, processando minhas palavras.

“Então quer dizer que já se decidiu? Vai pra Nova Iorque mesmo?” — Perguntou sério, como se quisesse ter entendido errado. — “Quando tomou essa decisão?”

“Não há nada decidido, Larry... Ainda.” — Falei, com a voz vacilante. — “Mas... Acredito que eu não tenha outra escolha, o estúdio que vai me contratar é lá. Preciso morar perto para...”

“Tá!” — Me cortou rapidamente. — “Que seja!” — Ele ficou em pé e colocou as mãos atrás do pescoço. — “Ainda há no mínimo 24 horas pra você se formar, vamos pensar em algo, ou então, mando o Oceano Atlântico diminuir só pra te ter mais perto.”

Ele se virou pra mim e suspirou, olhando bem fundo em meus olhos, então soltou um sorriso preguiçoso, como um risco de esperança em meio a livros de conclusões ruins e se aproximou. Colocou as mãos sobre minhas coxas, rodeou-as em minha cintura e me puxou pra mais perto dele.

Ele deslizou seu dedo por minha clavícula depois subiu até meu rosto, circulando cada cantinho dele. Pegou meu cabelo e colocou atrás da minha orelha.

“A que ponto você seria capaz de chegar, pra poder ficar perto de mim?” — Ele me perguntou, com um olhar intenso bem centrado no meu.

Imaginei um milhão de coisas que eu faria pra poder ficar perto dele, mas nenhuma consegui dizer, com medo de não ser o bastante.

“A que ponto você seria capaz de chegar, pra poder ficar perto de mim?” — Perguntei de volta.

Ele tentou sustentar o olhar no meu por um tempo, mas não conseguiu. Ele ficou em silencio, então imaginei que ele estivesse na mesma duvida e medo que eu.

“Você abandonaria seu projeto de dança em Paris, o grupo de dança que vocês formaram aos 15 anos, e que inclui amigos que estão na sua vida a muito mais tempo que eu, largaria sua casa, abriria mão das festas incríveis que você vai todo final de semana, pra poder viver comigo em Nova Iorque?”

Minha pergunta fria pareceu abala-lo de tal forma, mas então ele erguei a cabeça e voltou a olhar em meus olhos.

“Você abandonaria a enorme oferta de Diplo, seu futuro contrato com a gravadora dele, abriria mão da sua vida independente de produtora musical onde ia conhecer gente bacana pra caramba, pra viver comigo, em Paris?”

Mais uma vez andando sobre uma corda banca feita de linha. Mais uma vez voltando a estaca zero.

Olhei em seus olhos escuros e intensos e puxei seu pescoço para dar-lhe um beijo, antes de me levantar.

“Aonde vai?” — Me perguntou, enquanto caminhava até a porta.

“Se eu não atender Nina nos próximo 30 segundos eu não precisarei mais me preocupar com meu futuro, pois eu não terei um futuro. Então é melhor eu ir.”

Nina estava organizando a festa de formatura, junto com um grupo de mais ou menos 5 alunos.

“Ah, manda Nina catar coquinho! Vamos pra algum lugar! Nós dois. Agora.” — Ele segurou minha mão, impedindo que eu saísse.

“Eu iria pra qualquer lugar com você, eu juro, mas antes preciso ajudar nas coisas aqui” — soltei sua mão. - “É sério. Por incrível que pareça este está sendo um momento muito especial pra mim, e quero contribuir com o que for preciso.”

Ele bufou, trocando o peso do seu corpo de um pé para o outro e então me olhou balançando a cabeça.

“Okay, okay... Por onde eu começo?” — Me perguntou, guardando seus fones no bolso.

Bradei vitória rindo, e batendo palminhas.

“Pode ajudar os meninos a carregar as caixas de som!”

“Ta, mas se eu quebrar minha unha vou ficar muito re-vol-ta-do!” — Balançou os cabelos de um jeito gay, me fazendo rir. — “Não pego em trabalho pesado a tanto tempo que até já esqueci como é que faz.”

 

Larry.

Quando acabamos de arrumar os preparativos pra festa de formatura de Claire, que aconteceria amanhã, levei Claire para comer alguma coisa no shopping.

Depois de todo o mundo falar o quão esquelética ela estava a pouco mais de 6 meses atrás, quando ela adoeceu, isso entrou em sua cabeça e não saiu mais. Hoje em dia ela só pensa em comer, com isso engordou um pouco mais do que o seu normal antes de adoecer. O que tem seus lados bons, como que agora ela está encantadoramente gostosa demais da conta, e me faz companhia quando quero comer muito. Sem frescurinha. Não igual a certas meninas que comem tudo limitado. Um lado ruim, é que semana passada deixou sua mãe quase, quando ela viu que o vestido tão amado que deu pra sua filha a 4 meses atrás para usar na formatura, não cabia mais, devido a suas curvas que estavam mais avantajadas. Foi muito engraçado ver o desespero da dona Eleonor pra escolher um vestido de ultima hora pra filha. 15 mil jogados fora, que dor.

“Me passa a cauda”— Claire me pediu.

“Tem planos pra hoje?” — Perguntei, dando-lhe o pote com cauda de chocolates.

“Dormir. Muito.” — Ela deu de ombros. - “Nina tem me cobrado tanto por um tal de “sono de beleza” que acho que devo paga-lo logo, pois se eu chegar amanhã com olheiras, vou morrer antes de conseguir me formar.”

“Nossa, que pena, isso vai contra todos os planos de te deixar sem dormir a noite toda.” — Falei com uma voz bem inocente.

Ela sorriu e fingiu não dar importância.

“Mas antes, já que está por aqui, vou aproveitar pra te levar pra conhecer uma pessoinha.” — Ela disse, mudando totalmente de assunto.

“Poderia saber quem?”

Como já é de se imaginar, ela não me disse quem era e me deixou na curiosidade. Terminamos nosso sorvete e pegamos estrada, foi muito tempo dentro do carro, nem contei as horas, talvez duas. Como percebi pelas placas que ela estava me levando ao interior de San Diego, quase chegando a Phoenix.

Começamos a se afastar um pouco da civilização, eu só conseguia enxergar arvores enormes e uma contínua estrada asfaltada. Então após alguns quilômetros, pra minha surpresa encontramos um bairro com muitas quadras, praça, escola, casinhas pequenas, algumas crianças andando de bicicleta, e na esquina umas meninas pulando amarelinha.

“Nossa! Eu achava que crianças assim já tinha sido extintas!” — Disse, apontando para um grupo de 5 meninas brincando de pular corda.

“É, acredite, ainda há algumas que não se importem só com tecnologia e internet.”

Claire me disse que ali também havia hospitais e 3 creches, o que achei muita coisa pra um bairro, ao meu ver, pequeno.

No fim da terceira quadra, paramos enfrente à maior casa da rua, e de longe a mais bonita, azul e de 2 andares. Havia apenas uma cerca de madeiras brancas cercando o enorme quintal, onde tinha 3 arvores e um balanço, junto com mais alguns enfeites de jardim.

Claire abriu o portão e saiu entrando, a acompanhei, e logo uma mulher abre a porta e vem abraçar ela. Enquanto as duas se abraçavam, reconheci perfeitamente que era a linda esposa de Enzo.

“Como está o pequeno?” — Claire perguntou, enquanto Ana vinha me cumprimentar. - “Não me diga que está dormindo.”

Meu Deus, eu tinha por um momento esquecido desse pequeno detalhe pequenino.

“Vem entrem...” — Ela nos chamou. — “Pra sua sorte não. Ele acabou de comer e eu ia coloca-lo agora pra dormir, já está até no berço. Mais uns minutinhos e vocês teriam que esperar algumas horas pra falar com ele.” — Ela estava agitada, rodando um pano de prato na mão pra lá e pra cá.

Ela começou a subir a escada e nós a acompanhamos, lá em cima havia uma sala de estar grande e algo bem parecido com uma copa, onde separava os sofás da enorme mesa de jantar. Atravessamos a sala e havia um largo corredor, onde entramos na segunda porta.

“Enzo chegou ainda não?” — Claire pergunta, assim que entra no quarto do bebê.

“Não, ele sempre chega lá pra 1 da tarde. Estou acabando de fazer a comida, querem ficar para o almoço?”

Eu ia falar não, mas Claire diz sim, então ta né.

“Fiquem a vontade.” — Ela sorriu, chamando-nos pra mais perto do berço.

Dei meus lentos passos, um pouco sem graça. Então ao olhar pra dentro do berço lá está o lindo menino, todo se espreguiçando, parecendo estar com muito sono. Ele vestia um macacão vermelho e uma linda touquinha com orelhas de sei lá o que.

“Meu Deus, ele é lindo.” — Disse encantado, enquanto Claire coloca ele no colo.

Ele era lindo! Lindo!

“É é um Morgan, querido!” — Ela pisca pra mim.

“Ah, sei, mil desculpas!” — Reviro os olhos fazendo ela rir.

Ela se senta com a criança no sofazinho que ficava em baixo da enorme janela que dava frente pra rua. O quarto todo era uma claro e espaçoso.

“Como você está, Gabriel?” — Ela pergunta fazendo uma vozinha boba. — “Como você está meu bebê?” — Ela começa a brincar com ele, que dá umas risadas muito gostosas. — “Quer segurar?”

“E você ainda pergunta?” — Falo como se fosse óbvio. E era.

Ele era realmente muito lindo, puxou a mãe na cor da pele, seus cabelos eram muito pretos como os de Enzo e seus olhos bem escuros, semelhantes com o azul do oceano, quase pretos Foi um milagre ele não começar a chorar no meu colo, mas sim, começou a rir das minhas brincadeiras e puxar meu cabelo.

“Já faz 4 meses né?” — Perguntei pra mãe, que estava de braços cruzados, observando tudo de longe.

Ela balança a cabeça e sorri, dizendo que sim.

“Como o tempo voa!” — Comentei, voltando minhas atenções pra criança. — “Como você está?” — Perguntei pra Ana, lembrando da sua agitação quando chegamos. Ela não parecia normal.

Ela respirou fundo e ergueu um pouco os ombros.

“É muita pressão?” — Claire pergunta.

“Bom... É tudo muito novo.” — Ela se senta na cadeira de balanço. — “Estava tudo tão bem com minha mãe, em Manhattan.”

“Passou quanto tempo lá?” — Pergunto.

“2 meses depois do nascimento. De Julho ao começo de Setembro. Depois viemos pra nossa casa. Já estava na hora!” — Ela se sentou, toda corcunda. — “Eu sou um desastre por aqui! E olha que só faz 2 meses que estou em casa! Parece que tudo que minha mãe me ensinou esse tempinho eu esqueci e estou tendo que aprender tudo sozinha! Eu sou muito embolada com tudo. É muita preocupação, muita coisa pra pensar, pra prestar atenção...”

“Enzo tem te ajudado?” — Pergunto.

“Sim! Bastante! Ele sabe ser pai mil vezes mais do que eu sei ser mãe. Ele é excelente. Mas acredita que ontem ele colocou o Gabriel pra jogar Need For Speed? Disse que era pra ele ir aprendendo... AH!” — Ela bufou e balançou a cabeça negativamente.

“Enzo é louco!” — Claire revirou os olhos enquanto eu me segurava pra não rir. - “A criança só tem 16 semanas!”

“Claramente eu quando for pai!” — Não me aguentei e dei uma risada.

“Você não é nem louco de colocar uma criança desse tamanho na frente de uma TV!” — Claire me deu um tapa no braço, falando séria. - “Eu mato você!” — Ela se virou pro outro lado. — “Daqui a pouco só falta querer ensinar a criança a nadar.”

Ana riu descontraída mas então foi voltando aos poucos a sua pose tensa.

“Enfim... Fora essas doideiras, ele é ótimo. Sabe cuidar de tudo e ameniza muito meu fardo as vezes. Ele faz eu me sentir bem e me anima. Eu sempre sobre que ele seria um ótimo pai.”

“É, Enzo sempre levou muito jeito pra crianças, lembro de um vez quando fomos a um parque e...”

“Você está feliz?” — Interrompo Claire meio sem pensar. Foi do nada. E foi tão rápido que nem deu tempo de eu esquivar do tapa dela. — “Calma que eu to com a criança, sua louca!” — Esfreguei o lugar onde doía.

Ana pareceu meio constrangida de inicio com a minha pergunta, e logo me arrependi de tê-la feito.

“É claro que eu estou, Larry.” — Ela então ri. — “É apenas os primeiros meses como uma mãe. Os dias não passam. Eles se arrastam em câmera lenta. A noite dura 20 horas. É difícil e cansativo. Só isso. Deixar uma vida de arquiteta em Nova Iorque e minhas regalias pra virar dona de casa em Phoenix não é nada fácil.” — Ela respirou fundo e prosseguiu. — “Mas essa criança foi a melhor coisa que já me aconteceu na vida. E nada nunca vai chegar aos pés disso. Enzo é o marido perfeito e faz uma massagem maravilhosa! Ele me dá uma vida ótima, uma casa ótima, um bairro bom pra criar meu filho... Ele me dá tudo! Eu não tenho nada pra reclamar! Nada.” — No fim ela olha pro vazio e da um sorriso cansado. — “Eu faria tudo de novo, sem me arrepender de simplesmente nenhum momento.”

“E o Enzo...” — Claire fica animada. — “Faz mais de 1 mês que eu não o vejo. Sempre que venho aqui e ele não está. Como ele está lidando com as ações que meu pai deu pra ele?”

Claire vem aqui sempre. Sempre, sempre. Fiquei pensando no porquê eu nunca tirei um tempo pra vim conhecer essa fofura. Agora estou muito arrependido!

“Ele está ótimo. Não deixou de ser o mesmo Enzo. Ele diz que é fácil, é só estar na empresa ás 9 horas, assinar uns papeis, dar umas ordens vindas do seu pai, depois voltar pra casa meio-dia... Nada que esteja estressando ele ultimamente. Até agora. Ele sabe que isso é necessário pois daqui a uns anos seu pai não vai mais poder cuidar das ações.” — Ana fala, e acredito que a ultima frase ela não pensou muito bem pra dizer. Logo vi que ela se arrependeu.

Claire se calou e desviou rapidamente o olhar pro lado de fora da janela.

“Me...” — Ana ia começar a desculpa, mas eu interrompo.

“Enfim, e você? Quando pretende voltar a trabalhar?” — Pergunto, querendo mudar de assusto rapidamente.

Ela demora alguns segundos pra me responder, ainda preocupada com a Claire.

“Bom, não quero perder o crescimento do meu filho, nem coloca-lo em uma creche onde ele só me veja no final do dia, e cresça com o sentimento de pais ausentes. Eu tenho uma licença de 1 ano. Se Enzo continuar assim, voltando cedo pra casa, posso ir trabalhar tranquila na parte da tarde, pois sei que ele estará com o pai. Já se...”

“Alguém ta sentindo esse cheiro?” — Claire interrompe ela.

Todos nós paramos alguns segundos pra analisar que cheiro era aquele.

“Tem alguma coisa quei...”

“Ai meu Deus a carne!” — Ela me interrompe e sai correndo correndo rodando o pano de prato toda destrambelhada. — “É disso que eu to falando quando digo que é muita coisa pra uma pessoa só!” — Ouvimos ela gritar já lá no corredor, e caímos na risada.

“Amor, ele dormiu.” — Claire diz, parando as risadas e olhando pro bebê no meu colo.

No olhar dela havia um certo brilho enquanto ela olhava pra ele. Dava pra ver o quanto ela o ama.

“Deseje bons sonhos, titia.” — Falei sorrindo, me levantando e indo coloca-lo no berço.

“Bons sonhos, anjo” — ela da um cheirinho na testinha dele.

Me sento ao seu lado e a puxo pra mim perto de mim, abrando-a bem forte.

“Essa criança significa muito pra você, não é?” — Pergunto, ao ver que ela ainda estava com os olhos vidrados na criança.

“Esse menino salvou minha família” — respondeu, respirando fundo. — “Ele salvou a minha vida e a do meu pai. Eu devo a ele todo o meu amor.”


 

“Não sabia que você gostava de crianças.” — Digo.

“Não gosto de crianças... Mas dessa eu gosto.” — Ela sorri. — “Já te disse que foi eu que pintei o quarto dele, né?”

“Já.” — Comecei a observar o quarto todo. — “E da pra ver que foi você... A pintura está terrível!”

“Pare de ser idiota!” — ela me deu outro tapa rindo. — “Quando eu me sentia muito infeliz e sozinha, eu corria pra cá e pintava as paredes. Todo dia eu pintava um cantinho. Pra durar mais tempo.” — Ela começou a olhar pra cada cantinho. — “Atrás desse armário aqui tem a única parte em branco.”

“Por que?”

“Não deu tempo.” — Ela deu de ombros. — “Eu não consegui terminar.”

“Nós podemos terminar juntos” — sugeri.

“Achei que a donzela não gostasse do trabalho pesado.” — Ela fez uma vozinha de nojenta.

“Pra você eu abro uma exceção.” — Disse e pisquei pra ela. — “Mas enfim, é bom saber que você gosta de pintar quartos de bebês.”

Ela me olha confusa, não entendo o porquê.

“Já sei que não vamos precisar chamar ninguém pra pintar o dos nossos.” — Sorri, sabendo que ela ficaria nervosa com aquilo.

“Eu acabei de dizer que não gosto de crianças, Larry! Você é surdo ou besta?” — Ela me empurra.

“Mas olhe só... Esse é um bairro tão bom pra criar crianças! Que tal uma menina? Ela teria aquelas coleguinhas que vimos na rua pra brincar de amarelinha com ela.”

“Quando uma filha minha tiver idade pra pular amarelinha, aquelas garotas já terão uma vida sexual ativa com seus namorados.” — Ela se levantou e começou a catar o que fazer só pra se distrair e não ter que ficar me encarando.

Fiz uma cara torta ao pensar na ideia de uma filha minha com um namorado.

“Você estraga qualquer sonho hein! Que amarga! Mas com certeza daqui a um tempo vai crescer outra geração de menininhas que pularão corda e...”

“Não enche Larry!” — Ela grita me interrompendo e ao mesmo tempo taca um brinquedo no meu peito com força. Olho pra ela e faço biquinho enquanto esfrego o lugar que dói. — “A próxima palavra e eu te faço engolir isso...” — Ela levantou o chocalho na mão e me ameaçou.

“Quer dizer que meu filho tem visitas é?” — A voz de Enzo invade o quarto e logo ele aparece na porta todo sorridente. Ufa!

“Ai meu Deus! Enzo!” — Claire sai correndo pra abraça-lo, mas antes disso não esqueceu de me tacar o chocalho.


 

Após o almoço, ficamos conversando por algumas horas na sala. Eu nunca tinha visto Enzo tão feliz. Ele não parecia enfadado e agitado como Ana, deu pra ver que ele conseguia aproveitar cada segundo com sua família, e o trabalho não o estressava em nada. Eles ficaram sentados em um sofá, com o Gabriel entre eles, dormindo. E eu e Claire no outro. Eles dois brincavam, se batiam, trocavam carinhos, e brincavam com o filho. Aquela cena ali, só alimentou mais o meu sonho de ter uma vida assim com Claire. Por mais que não fosse um sonho reciproco.

[...]


 

 

Claire on.

Saímos da casa de Enzo por volta de umas 5 da tarde e Larry assumiu o volante, mas não quis me dizer para onde estava indo. Talvez tenha sido um troco por eu ter feito isso com ele hoje mais cedo.

Adormeci no caminho, e não pude ver para onde eu estava indo.

Assim que ele me acordou, tampou meus olhos com as mãos e me conduziu até fora do carro. Obedeci seu pedido para que eu ficasse de olhos fechados e fui guiada por ele. Ouvi portas se destrancando, subimos escadas e percebi que o lugar estava escuro por que não havia luz incomodando minhas pálpebras.

“Posso confiar em você?” — Pergunto, sentindo arrepios ao ouvir mais uma porta se destrancando.

“Sim.” — Responde bem calmo.

“Jura?”

“Pela minha própria vida.” — Ouvi ele dizer e logo sinto suas mãos circulando minha cintura por trás e me apertando muito forte junto ao seu corpo. Ele escorregou as mãos por todo meu corpo e então deu um beijo bem lento em minha nuca.

O arrepio foi tão forte que quase abri meus olhos.

Ele subiu as mãos e colocou elas sobre meus olhos.

“Pelo amor de Deus Larry...” — Comecei a entrar em crise de riso tentando esconder o nervosismo. — “Que lugar é esse?”

“Um lugar onde eu não poderia estar se seu irmão não me desse uma forcinha me arrumando uma chave.”

“Quer dizer que ele sabe que eu estou aqui?” — Perguntei mas não respondeu. - “Já posso ver?”

“Calma, só mais um momentinho.” — Ele me carregou mais um pouquinho e então me deixou parada em algum lugar.

“Eu vou ter um treco.” — Fiquei mexendo minhas mãos. — “Pode me dizer porque me trouxe aqui?” — Perguntei tentando tirar alguma pista de onde estava.

“Porque quero ficar sozinho com você.” — Respondeu.

“Não me diz que quando eu abri os olhos vai ter uma cama coberta de pétalas vermelhas, com velas perfumadas em forma de coração, com uma caixa de bombom no meio, e ali do lado vai ter uma banheira com espuma?” — Apontei pro lado, imaginando a cena. — “Não me diga também que o teto está cheio de espelhos!”

Ouvi ele dá uma risada no meu pescoço.

“E se tiver?” — Perguntou.

“Confesso que só estou interessada nos chocolates em cima da cama.” — Levantei as mãos em redenção. — “Espero que tenha de limão também.”

Ouvi mais uma vez uma risada suave.

“É bem diferente disso....” — Ele acalmou a voz. — “Está pronta?”

Balancei a cabeça confirmando.

“Okay, vamos lá!” — Então ele retirou as mãos dos meus olhos.

 


Notas Finais


ENTÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO? OH GOSH! O QUE ACHARAM DESSA BAGAÇA? Eu need saber o que vocês acharam. Por favor, falem comigo. Estou correndo demais? Ai, acho que estou. Não sei. Talvez os acontecimentos estejam acontecendo rápido demais, mas sabe, é que é final, estou meio agitada...

Entretanto, espero que não estejam se decepcionando.

CONTAGEM REGRESSIVA: 4...

Preparem o coração pro próximo. É um dos meus capítulos super-preferidos dessa reta final. (Mds, faltam só 4 :(. )
Pretendo não demorar. Comentem e favoritem se você tem gostado! Isso me ajuda muito.
Amo vocês e até o próximo. <3


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