― Nunca entendi muito bem porque as árvores aqui parecem esqueletos. ― digo ao saltar pra fora do carro, olhando ao redor. Encolho-me em meu casaco, sentindo um vento gelado bater em meu corpo.
― É o inverno Leigh-Anne ― Alex me olha sorrindo. ―, mas mesmo assim esse lugar continua lindo. ― fala, levando as mãos aos bolsos do seu casaco e respirando profundamente, sentindo o ar gélido que vinha do lago.
― Isso me faz perguntar ― Perrie para ao meu lado e olha para o pai. ― Porque nunca viemos aqui no verão? ― franze o cenho.
Eu pondero, chegando a apenas uma conclusão: nós não éramos uma família unida, e, boa parte disso se devia a mim. Eu não queria aceitar aquele casamento, eu não queria aceitar ter uma irmã e não queria aceitar Alexander na vida minha e da minha mãe. Tudo bem que, parte daquela raiva havia esmaecido com o passar dos anos, mas isso refletia na forma como agíamos como família.
― Acho que por causa do Samuel ― Alex diz, dando de ombros. Perrie e eu trocamos um olhar, como se nós duas fossemos a únicas a aceitar o real motivo. ― Ele vivia nesse lago nos verões, pescando.
Mamãe assente, carregando um sorriso de contemplação ao virar-se em direção ao pequeno e adorável chalé.
― Vocês querem esperar eu descer pra acender as luzes ou não se importam em encarar um pouco de escuro? ― Alex pergunta olhando-nos por sobre ombro enquanto abria a porta do chalé. A mesma range ao ser empurrada.
Perrie franze o cenho ao tentar enxergar lá dentro. Só vejo a poeira se mover na pequena fresta de luz que a porta proporciona.
― Ratos? ― sussurra a loira ao meu lado. Sei que ela está ponderando a ideia de entrar ali no escuro.
Rolo os olhos, e passo por Alexander, entrando no lugar. A madeira range sob meus pés, mas consigo ver perfeitamente os móveis cobertos pelos lençóis brancos.
― Uhu, parece que teremos trabalho! ― mamãe cantarola as minhas costas. Sei que ela se referia a poeira acumulada pelo lugar, principalmente nos móveis, mas não posso deixar de pensar no trabalho que terei para não enlouquecer naqueles dias.
― Irei até o porão. ― avisa Alexander indo em direção ao pequeno corredor. Percebo a lanterna que o mesmo tinha em mãos.
― Jesus! ― exclama mamãe, abrindo as cortinas na pequena sala de estar. Logo ela começa a andar pelo lugar abrindo janelas e tirando os lençóis que cobriam os móveis.
Assim que Alex encontra a caixa de luz, o pequeno chalé é inundado pela claridade.
― Já sabem onde fica o quarto de vocês? ― não era muito difícil, fora o banheiro, só havia mais duas portas no corredor.
Solto minha mala e mochila sobre uma das camas de solteiro e olho pela janela. Havia uma pequena floresta ao lado da cabana, mas ainda se era possível ver o reflexo do lago. Ouço o barulho de passos se aproximando e logo Perrie surge com sua mala de rodinhas.
― Sei como se sente, Leigh-Anne, sei mesmo, mas você podia sorrir um pouco, não é? ― abre um sorrisinho trêmulo. ― Pensa na parte boa de estarmos aqui. Isso irá nos aproximar como família. ― seu pedido na verdade me faz rir.
― Porque não pega seu caderninho e não se senta na beira do lago pra escrever no seu diário rosinha, hein Perrie? ― ela me encara durante longos segundos, logo revirando os olhos.
― Ótimo. Então passe o feriado inteiro com essa carranca aí! ― abandona sua mala ao pé da cama e logo me deixa sozinha ali.
Ótimo trabalho, Leigh-Anne. Continue afastando as pessoas de você.
Me jogo na cama e encaro o teto. Porque eu tinha que continuar tratando Perrie dessa forma?
(...)
Eram quase 7h quando pequenos flocos de neve começaram a cair sobre o lago. Mamãe estava preparando o jantar tendo Alexander como companhia. Suas risadas eram o único som que se ouvia na casa. Eles já haviam tomado algumas taças de vinho.
― Droga, o sinal aqui é horrível! ― resmungo tentando pela milésima vez enviar uma mensagem a Jessica, porém o ultimo sinal que recebi do mundo virtual foi quando estávamos na estrada.
Olho em direção a entrada da cozinha, vendo Alexander sorrir enquanto mamãe levava a colher até seus lábios, fazendo-o provar o jantar que a mesma preparava. Incrível como, depois de anos juntos, era visível o quanto aqueles dois ainda se amavam. Pensando nisso, minha mente viaja em direção a garota trancada no quarto.
Perrie havia entrado logo após a temperatura despencar. Mal havia olhado pra mim e logo correu em direção ao nosso quarto. Eu estava me culpando internamente por ter deixado meu mau humor piorar o clima entre nós, mas, eu estava irritada, minha mente ainda não aceitou onde estávamos.
― Leigh, meu amor, chame Perrie pra jantar, por favor. ― pede Debbie escorando-se no batente da porta.
― Ela consegue te ouvir daqui, mamãe. ― resmungo, mas mesmo assim me ergo.
Perrie estava atirada em sua cama, encarando a tela do seu celular. Os fones brancos em seus ouvidos, enquanto sua perna se mexia, acredito que no ritmo da música que ela ouvia. Me percebendo ali, ela tira o fone e me encara, arqueando uma sobrancelha.
― O jantar está pronto. ― entro no quarto e solto meu celular sobre minha cama.
Ela se senta na cama e termina de tirar os fones, logo voltando-se totalmente a mim. Devolvo ao seu olhar, confusa.
― Eu to meio que cansada de tentar manter o clima legal entre nós duas, então acho que simplesmente irei parar de tentar, o.k.? ― seus olhos azuis se demoram nos meus. Sinto um arrepio percorrer minha espinha. ― Eu não odeio você, Leigh-Anne. Você também não me odeia.
― Aonde quer chegar?
― Talvez você simplesmente devesse aceitar seus sentimentos e parar de agir como uma idiota medrosa. ― dá de ombros e se põe em pé, saindo do quarto.
Eu pisco, atordoada.
Mas que merda acaba de acontecer aqui?!
Me jogo em minha cama, enterrando a cabeça em minhas mãos. Não é tão simples quanto parece, Perrie. Eu preferia continuar alfinetando-a ao invés de encarar meus sentimentos. Como eu conseguiria me aproximar dela de uma forma amigável se tudo que meu corpo queria era puxá-la em direção aos meus braços e simplesmente não soltar mais.
O que nossos pais diriam se eu simplesmente resolvesse dizer que estava apaixonada por Perrie?
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