― Vocês precisam mesmo ir? E se começar a nevar muito forte? ― eu estava encolhida usando apenas meu pijama por baixo do pesado casaco.
― Temos um carro ― papai aponta pro veículo enfrente ao chalé. ― E pneus novos. Ficaremos bem, meu anjo. ― ele ri e se inclina, depositando um beijinho em minha testa.
― Papai ― choramingo mais uma vez. ― Não me deixe aqui com... com ela. ― arregalo os olhos e papai solta uma risadinha cúmplice.
― Mantenha distância e você sobreviverá ― me joga uma piscadela e torna a descer as escadas. ― Querida vamos logo! ― grita sem olhar para trás.
― Já vou! Que mania ― resmunga Debbie, passando por mim. ― Perrie, cuide da casa hein! ― sorri docemente a mim e segue papai, jogando-se para dentro do carro. Encaro sem piscar, eles darem a volta com o veículo e deixarem a propriedade jogando neve e lama para todos os lados.
Não acredito mesmo que aqueles dois me abandonaram ali. Com ela!
Encosto a porta após entrar e me mantenho uns segundos ali, ouvindo tudo ao meu redor. O relógio de ponteiros na parede. A TV ligada em um canal bobo de desenhos. Leigh-Anne resmungando com a frigideira enquanto preparava seu almoço.
Respiro fundo e viro-me.
― Talvez eles só voltem a noite ― ergue o olhar, focando em mim por um rápido segundo, logo saltando para trás com o barulho da frigideira. ― JESUS! ― rio levemente e me jogo no sofá, afundando ali.
― Alguém precisa comprar a ceia, não é?
― E seu chocolate. ― diz e sei que ela está rindo, porém não lhe dou atenção.
― Porque não almoçou com todo mundo? Assim não precisaria dessa luta com os ovos. ― olho a ela por sobre o ombro e vejo seus olhos arregalados enquanto tentava tirar a comida e soltar no prato. Rio com a cena.
O.k., às vezes Leigh-Anne conseguia ser extremamente fofa.
― Odeio peixe ― diz ela como se não tivesse demorado um minuto pra responder a minha pergunta. ― Mamãe parece que faz tudo de propósito. ― resmunga ao se sentar no chão, pousando o prato sobre a mesa de centro.
― O que quer assistir?
― Hum ― olha da TV pro seu prato de ovos mexidos. ― Tanto faz. ― pega os talheres e logo só se ouvia seu mastigar e resmungos de satisfação.
Leigh-Anne tinha razão, papai e Debbie retornariam só a noite. A cidade mais próxima ficava a quilômetros e com esse tempo e tudo que eles deveriam comprar, levariam horas.
O clima entre nós duas estava estável desde a noite anterior. Tentávamos não nos aprofundar em nada senão começaríamos a discutir.
(...)
― LEIGH-ANNE! ― grito e em segundos a garota aparece na porta. ― Acho que você conseguiu sinal. ― sorrio gesticulando em direção ao seu celular sobre o criado-mudo. Ela arregala os olhos e corre, pegando o celular e o desbloqueando em uma rapidez assustadora.
Seu sorriso vai de empolgado, para cínico.
― Babaca. ― resmunga e logo começa a digitar.
Óbvio que fico curiosa, porém resolvo checar meu celular também. Surpresa, encaro as notificações. Jade havia me ligado cinco vezes e mandado umas quinze mensagens, enquanto Luke havia feito o mesmo, só que em dobro.
― Ai senhor. ― resmungo entrando nas mensagens trocadas com minha melhor amiga.
Jade: Sei que o sinal ai deve ser horrível
MAS PRECISO TE CONTAR!
Jesy e eu saímos essa tarde *-*
Perrie
Fale cmg
Preciso te contar como foi
Pezz
Nós ficamos de novo
E ela disse que queria que eu dormisse na casa dela
O que isso quer dizer?
Será que preciso me preocupar?
Seria ótimo se tivesse sinal ai
Preciso da minha melhor amiga :c
PERRIE
CD VOCÊ?
Você: JADE
Desculpe meu amor
Só conseguimos sinal agr
Inferno de lago
Vc está ai?
Solto meu celular e encaro Leigh-Anne, jogada na cama e observando seu celular com concentração.
― Eu odeio esse lugar ― resmunga, como se sentisse que eu estava a olhando. ― Esse sinal desgraçado!
― Jade me mandou mais de dez mensagens. Ela está, tipo, desesperada. ― sorrio.
― Jesy? ― supõe ao se sentar e soltar o aparelho novamente sobre o criado-mudo.
― Exato. Ela te disse algo?
― Só que as duas saíram e se divertiram muito juntas ― dá de ombros. ― O que foi o máximo que Jesy já me disse sobre qualquer pessoa que ela estava se relacionando ― Leigh ri fracamente. ― Então podemos dizer que é um avan-
Nossa luz se apaga interrompendo-a. Em seguida a do corredor também se apaga e logo o chalé todo mergulha em um breu.
― Puta merda! ― resmungo.
― Parece um tipo de temporal ― diz Leigh-Anne, andando em direção a janela. Sigo-a vendo a que ela se referia. As árvores ao redor do chalé se mexiam de uma forma brusca e o vento batia em nosso vidro como se quisesse arrombá-lo.
― Nossos pais, Leigh! ― me ponho em pé.
― Se acalma, ‘ta legal? ― eu podia ver sua silhueta pela luz de fim de tarde que entrava pela janela. ― Seu pai é inteligente, ele deve saber o que fazer. Além do mais, pode ser algo passageiro.
Como se fosse o destino, ouvimos um alto creek e nos aproximamos mais da janela. Uma árvore havia tombado e mesmo que fina, a mesma só teria caído se o vento estivesse realmente forte. Nos olhamos e eu consigo ver o nervosismo em seus olhos quase sempre tão seguros.
Ela anda até seu celular e liga o visor.
― Estou ficando sem bateria, e você? ― pego o meu sobre a cama e vejo que me restava apenas 10% de bateria.
― O mesmo. Não podemos gastar, vai que nossos pais tentem nos ligar. ― ela olha ao redor.
― Sabe onde seu pai deixou a lanterna? ― pergunta em um tom baixo.
― Do lado da porta que dá pro sótão ― digo no mesmo tom. Ela assente e logo deixa o quarto. ― Não me deixe sozinha! ― a alcanço e seguro em sua blusa. Sinto sua pele emanar um maravilhoso calor. Meus dedos gélidos, apreciam aquele contato.
― Achei! ― ela encontra o objeto e após ligar a luz, aponta-a pro meu rosto.
― Leigh-Anne! ― fecho os olhos, encolhendo-me.
― Oh, desculpe ― ri fracamente e desvia a luz pra sala de estar, iluminada fracamente pela luz que entrava pelas janelas. ― Já vai anoitecer, Perrie, o que devemos fazer?
Eu pisco, confusa por ela ter perguntado a mim. Você é a mais velha aqui!
― O que você acha que causou a queda de luz? ― sussurro e sei que ela está me olhando.
― Algo deve ter batido na caixa, acho ― ela ilumina a sala de estar. ― Quer esperar aqui, ou no quarto?
Eu olho para ela, vendo pouco do seu rosto.
― Só fique comigo, tudo bem? ― digo olhando em seus olhos. Ela sorri docemente. Aquele sorriso era do tipo que a garota dava raramente. Leigh-Anne quase não sorria, mas quando o fazia, meu corpo todo entrava em combustão.
― Claro.
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