História I Know You're There - O Primeiro que Cair

(....)

- Ta, eu entendi, mas só um treino seria muito...monótono, não acha? – Vejo a impressão de um meio sorriso por baixo da máscara do ruivo enquanto entramos na sala de paredes brancas e chão totalmente gramado, que logo fica escura como se fosse noite.

- O primeiro que cair fica uma semana longe do Jc. – Digo confiante me esticando.

- Feito, mas não reclame depois. – Ele diz terminando de amarrar seu cabelo.

(Quebra de Tempo.....)

- Uma semana em, a partir de hoje. – Rio olhando Dante ofegante, suado e sem a máscara, caído no chão.

- Você é.. incrivelmente...irritante as vezes.. – Ele diz um pouco entrecortado por sua respiração descompassada e eu gargalho vendo a simulação acabar e a sala voltar a ser branca.

- Você tem que trabalhar mais com seu posicionamento, sua respiração e movimentação são descoordenadas, assim você se cansa rápido, nós estamos só treinando, mas se estiver lutando contra um oponente que sabe como perdurar uma caçada você vai perder, e quando digo perder não estou dizendo o perder de ficar alguns dias longe do Jc, e sim o perder de ficar 7 palmos abaixo de solo fresco, e eu acho que não gostaria disso. – Ajeito meu cabelo bagunçado e tiro meu hodie, o amarrando em minha cintura.

- É, mas não é muito justo, você tem vantagem. – Ele diz se sentando.

- A vida não é justa, a vida como caçador ainda mais, sempre vai parecer desvantajoso, e eu ainda peguei leve, então é melhor começar a trabalhar no que eu disse... pirralho. – Digo sorrindo sarcasticamente.

- Já disse pra não me chamar assim. – Ele se levanta ficando um pouco maior que eu e me encarando feio.

- Pffft, desculpa mas não obedeço a quem é mais novo que eu. – Rio alto.

- Ao menos eu sou maior que você, baixinha. – Ele acaba rindo também.

- Hey baixinha é a avó! E você é só 5 cm maior que eu, não pode se gabar! – Bato o pé no chão e cruzo os braços. – Humpf, de qualquer jeito, foi um bom treino, obrigada pela semana de folga.

- Você é impossível. – Ele balança a cabeça negativamente e eu me abaixo para amarrar meu all star. – Mas e então, o que foi dessa vez?

- Ahn? – Arqueio uma sobrancelha e me levanto novamente.

- Não se faça de boba, você só me procura pra treinar quando alguma coisa acontece entre você e o Jc, então vai, fala. – Ele cruza os braços com um sorriso zombeteiro no rosto.

- Ah..hahaha... – Passo a mão pelo pescoço rindo nervosamente e já ia inventar uma desculpa quando vi seus olhos sobre mim e soube que não ia ter como escapar dessa, então apenas suspiro derrotada. – Eu meio que..quase beijei ele...

- Oh, ohh.. – Ele faz uma careta e eu suspiro novamente.

- Não foi culpa minha, ele tava me contando sobre um pesadelo que teve em que ele me matava, ele tava surtando e eu acabei fora de mim quando tentei acalmar ele, por sorte desviei o beijo pra testa dele a tempo de evitar o desastre, ele ia falar algo mas eu cortei e mudei de assunto, saí correndo que nem uma lobinha medrosa com o rabinho entre as pernas ugh.. – Dessa vez passo as mãos por meu cabelo jogando a franja pra trás.

- Calma, que? – Ele arqueou uma sobrancelha. – Ele teve um sonho em que te matava?

- É, e foi bem estranho pelo que ele me contou. – Franzo o cenho e mordo o lábio inferior.

- É, estranho é pouco, quero dizer, sonhar que está matando alguém nem tanto, mas matando você? É, bem estranho. – Ele pegou a máscara no gramado. – Ainda mais porque, bem, ele só foi lá e te matou? Você não fez nada? Não reagiu, nem tentou se defender?

- Você sabe bem que eu não faria isso, não contra ele. – Balanço a cabeça lentamente de um lado pro outro e me agacho, encarando a grama.

- É, tem razão... – Não estou olhando pra ele, mas posso senti-lo me encarando. – ..Ele é mesmo seu ponto mais vulnerável não é?

- Hm? – Ergo a cabeça novamente.

- O Jc, você é forte e está sempre confiante, sempre no seu “auge”. – Ele faz as aspas com os dedos. – Mas.. quando se trata dele, você amolece, perde completamente a compostura.

- ..... – Entreabro os lábios e acabo sorrindo, logo me levantando. – É, tem razão, e é exatamente o que me preocupa.

- O que quer dizer?

- O Jc disse que, no sonho, havia outra pessoa, um homem, ele não viu quem só ouviu a voz, esse homem o parabenizou por me matar e disse que tinha sido fácil afinal eu nunca revidaria contra ele, pra afirmar isso do jeito que ele colocou a pessoa tem que me conhecer, e tirando você e o Loui ninguém mais sabe disso, não é como se eu saísse por aí dizendo que eu amo o Jc e nunca o machucaria, nem mesmo ele sabe disso, digo, mais ou menos, é claro que ele tem uma noção do que sinto mas não sabe exatamente disso. – Balanço os ombros. – E também tinha o beséker Leith, ele teve contato comigo então entrou na minha mente e viu o que sinto pelo Jc, mas ele já era, o Jc matou ele e nós pulverizamos seu corpo.

- Espera, vocês estão atrás de um beséker agora também não é? E se de alguma forma ele já tenha encontrado vocês sem que percebam e entrou na sua mente assim como o Leith fez, e então ele fez o mesmo com o Jc e de algum jeito colocou esse sonho estranho lá pra atormentá-lo. – Dante sugeriu, gesticulando com a mão enquanto rodopiava a máscara no dedo indicador da outra.

- Impossível, se fosse mesmo eu teria sentido a aura dele, besékers tem auras muito fortes e chamativas, não tem como ele ter passado despercebido.

- Mas é melhor conferir, talvez esse seja mais poderoso, talvez saiba esconder sua aura. – Ele dá de ombros.

- Mas se ele já encontrou o Jc, viu onde ele mora, e se é assim todos estão em perigo! – Afundo os dedos em meus cabelos pensando nessa possibilidade. – Eu prometi pro Loui que nada aconteceria perto de lá!

- Droga, é mesmo.

- Preciso que me faça um favor, você tem que ir até lá, avisa pro Loui e fica por perto para o caso de algo acontecer. – Desamarro o hodie de minha cintura e o coloco apressada.

- Nem precisa pedir. – Ele coloca sua máscara de volta e nós saímos da sala.

- Ah e Dante, a aposta ta de pé, se o Jc ainda estiver lá, só vai poder ficar perto dele porque é uma emergência, mas quando ele sair você inventa uma desculpa e fica com o Loui, ele não pode saber disso, ficaria mais nervoso do que já está, conte apenas ao Loui. – Digo colocando o capuz e indo em direção a saída.

- Certo, não se preocupe, vou tomar conta de tudo por lá. – Ele diz calmamente.

- E obrigada, a gente se vê depois, até mais Dante. – Aceno rapidamente e saio pela porta correndo pelas ruas largas até um beco escuro com uma loja pequena no fim.

- Preciso de um rastreador aureal, munição pesada e uma lâmina, você sabe o que fazer Dogger. – Digo alto e abaixo o capuz assim que entro no estabelecimento mais parecido com uma taberna com vários tipos de armas pelas paredes e um galpão.

- Ora, ora, se não é a pequena loba, é pra já milady. – Diz o grande homem loiro de olhos verdes com orelhas de cachorro e uma cauda peluda com um sorriso amigável no rosto, e se vira entrando em uma porta atrás do balcão. 

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