História I Like It Loud! - Be There

 “O que você faria para realizar seus sonhos? Até onde iria? Que tipos de coisa estaria disposto a fazer para atingir seus objetivos? É claro que a resposta varia de pessoa para pessoa, afinal existem pessoas com boas e outras com más intenções, isso é fato.

 Mas agora eu lhe pergunto, você já tem um sonho? Já sabe o que quer da vida? Alguns dizem que sim, outros dizem que não, para aqueles que ainda não o tem, apenas o tempo sabe o que há de reservado para eles”.

 Certo, eu admito que não sou nem um pouco filósofa, mas eu havia escrito isso há anos em me diário, quando eu era apenas uma adolescente sonhadora. Engraçado como era a vida de adolescente, achávamos que tínhamos problemas, mas ai a gente cresce e descobre que não eram nem a metade do que estava pra vir.

 Chegando aos dias atuais, minha melhor amiga de infância, e talvez um pouco mais que isso, e eu, estamos nos mudando para New York City, mais precisamente para Manhattan, pois sonhamos em seguir o caminho da música juntas, nosso objetivo é a música eletrônica, porém sabemos tocar instrumentos como violão e um pouco de teclado, não somos profissionais, mas é um bom começo. Ao chegar em Manhattan, ficaremos em um apartamento que nossos pais nos ajudaram a pagar, não é luxuoso, mas é confortável, dois quartos, sendo que um deles utilizaremos como um pequenino estúdio, um banheiro e uma cozinha dividida com a sala, como eu disse, nada luxuoso. Depois que nos instalarmos vamos nos organizar para um festival de música Folk que acontecerá daqui uma semana, meu pai e meu irmão insistiram em vir e ficar no primeiro dia para nos ajudar com a mudança, o que é uma boa ideia, assim gastaremos menos tempo arrumando e mais tempo ensaiando para o festival.

 Olhei para Lyra, ela estava cansada de ontem à noite, havíamos feito uma pequena festa de despedida e ficamos até de madrugada acordadas sem conseguir dormir, sendo que tínhamos que ir para o aeroporto logo de manhã, agora ela estava dormindo como uma criança, ela ficava fofa quando dormia, embora as vezes ficasse com o cabelo todo armado e parecendo que foi jogada do vigésimo primeiro andar, estirada na cama, ela continuava fofa de uma maneira estranha.

 As horas foram se passando e finalmente chegamos ao nosso destino, logo em seguida tomamos o taxi e seguimos para o local do apartamento, demorou uma hora e alguns minutos até chegarmos até lá, dividimos a conta do taxi para não pesar muito no bolso do meu pai, já que ele e meu irmão teriam de voltar para casa amanhã. O caminhão da mudança já estava estacionado em frente ao apartamento, como o combinado, já que o caminhão veio dois dias antes de nós.

 -Enfim em casa, hora de começar a arrumá-la. –Disse Lyra entusiasmada, me puxando pelo braço escada acima. –Vem, vamos conhecer o lugar.

 -Hey! Não me puxa assim, minhas pernas ainda estão dormentes de tanto ficar sentada em bancos! –Eu disse.

 -Deixa de ser frouxa, vamos logo! Quero ver nossa nova casa.

 -Lyra, você já viu o lugar.

 -Por fotos. –Ela acrescentou.

 Subimos três andares de cinco para chegar em nosso apartamento, infelizmente o prédio não possuía um elevador, talvez por não ser muito grande para precisar de um, mas mesmo assim dificultaria o transporte de alguns móveis, como as camas e o sofá.

 Ao abrir a porta, nos deparamos com um local simples, porém com seu charme, as paredes da sala e cozinha eram um carmesim lindo, já a do quarto era ciano, fomos até o local que mais nos interessava, o estúdio, obviamente não tinha nada além das placas de espuma para isolamento de ruído, mesmo assim estávamos tendo alguns surtos de entusiasmo, e depois de um tempo voltamos lá para baixo para ajudar com a mudança:

 -E então, como é lá em cima? –Perguntou Taylor, meu irmão.

 -Incrível! –Respondi, ainda tendo alguns surtos.

 -Certo, então que tal começarmos? –Sugeriu meu pai.

 -É pra já! –Peguei os violões, um em cada braço, enquanto Lyra pegava os equipamentos de som.

 -O senhor é Joshua? –Perguntou um funcionário da empresa de mudanças.

 -Sim, sou eu. –Respondeu meu pai.

 -Assine aqui para podermos começar a descarregar os móveis. –Ele entregou uma prancheta e uma caneta a meu pai.

 -Certo. –Ele deu uma lida e logo em seguida assinou, devolvendo ao funcionário. -Taylor, me ajude a levar as peças do guarda-roupas lá para cima.

 -Claro, vamos lá. –Ele disse pegando algumas peças e um saquinho plástico onde continha algumas peças menores.

 De volta lá para cima, Lyra e eu começamos a montar o estúdio, deixei os instrumentos no canto e começamos a trabalhar na parte técnica, instalando os equipamentos básicos, e assim se foi durante algumas horas, enquanto os funcionários, meu pai e meu irmão montavam os outros cômodos da casa.

 Um pouco depois uma entrega chegou no prédio, todos nós estranhamos, já que ninguém tinha encomendado nada, era uma TV média e junto a ela tinha uma carta dos pais de Lyra, aquilo era um presente para não ficarmos entediadas. Já era quase noite quando finalmente terminamos de arrumar tudo, os funcionários já haviam ido embora há algum tempo, ficando apenas nós:

 -Olha só, fizeram um bom trabalho aqui. –Elogiou meu pai.

 -Obrigada, senhor Underwood. –Agradeceu Lyra.

 -Vamos pedir pizza, quer algum sabor específico, Sarah? –Ele perguntou.

 -Quatro queijos e com borda recheada! –Respondi rapidamente.

 -Certo, e você, Lyra. –Ele perguntou

 -O mesmo que ela.

 -Okay. O quarto de vocês está pronto, o chuveiro já está instalado então estão livres para aproveitar seu novo lar.

 Fizemos alguns testes para ver se os equipamentos estavam todos certos e se não havia entrada ou escape de ruídos, felizmente não encontramos nenhum problema, tudo estava no devido lugar, até meu pai e meu irmão veio nos assistir ensaiar antes da pizza chegar. Começamos com Country, depois Folk e depois carregamos uma música original nossa nos launchpads para treinar nossa sincronia ao tocar as músicas, e por último passamos para a mesa de mixagem, alguns minutos depois a pizza chegou, sentamos à mesa e comemos enquanto conversávamos:

 -Estão preparadas para a competição? –Perguntou Taylor.

 -Creio que não, afinal, preparação nunca é demais. –Lyra respondeu enquanto abocanhava sua pizza.

 -Concordo, só não vão se desgastar demais com os treinos, vocês precisam de descanso também para poderem fazer uma boa apresentação.

 -Já sabemos. –Eu disse.

 -De quanto é o prêmio do festival? –Perguntou Taylor.

 -Para o terceiro colocado é 300 dólares, para o segundo 600 e para o primeiro 1000 dólares. –Respondi.

 -Wow, é bastante, boa sorte para vocês, sei que conseguirão ganhar.

 -Valeu!

 Ao terminarmos o jantar, fomos tomar banho e depois dormir, havia sido um dia longo e cansativo, além do mais, meu pai e meu irmão partiriam amanhã de manhã. Depois do banho Lyra e eu fomos para o quarto, enquanto eles colocavam o colchão inflável na sala, demos boa noite e enfim nos deitamos. Olhei para Lyra e pensei como era estranho vê-la sem a “armadura” dela, uma blusa de flanela azul ou vermelha por cima de qualquer camiseta, geralmente preta, e seus inseparáveis coturnos, chegando a ser raro vê-la com outro calçado, ela até usava um All-Stars, mas a coturno sempre prevalece, e depois de um tempo conversando com ela, finalmente dormimos após um beijo de boa noite.

 No dia seguinte acordamos cedo para nos despedirmos de meu irmão e meu pai, eles já estavam com tudo na mochila e prontos para partirem, apenas esperando o taxi chegar rumo ao aeroporto:

 -Então é aqui que nos separamos, boa sorte, minha filha. –Meu pai nos abraçou. –Para você também, Lyra.

 -Valeu, vamos precisar. –Ela agradeceu.

 -Cuida bem da minha irmã. –Disse Taylor, rindo.

 -É mais fácil ela cuidar de mim. –Ela disse me abraçando.

 -Tem certeza de que ficarão bem? –Meu pai perguntou.

 -Pai, temos 20 anos, sabemos nos cuidar, podem ficar despreocupados. –Respondi.

 -Mesmo assim, se precisarem de alguma coisa é só ligar.

 -Muito obrigada. –Ao final da minha frase ouvimos o taxista tocar a campainha.

 -Então até mais, boa sorte para vocês e se cuidem, mandarei uma quantia para que possam pagar as contas e viverem até arrumarem um emprego aqui. –Ele disse, nos abraçando mais uma vez.

 -Obrigada, até logo. –Respondi com lágrimas nos olhos, observando-os partir. Agora eram apenas Lyra e eu contra o mundo.

 Fiquei na sacada do apartamento vendo-os partir até que o taxi sumisse de vista, nesse momento um vazio parecia ter tomado o local e meu coração, Lyra veio e me abraçou, tentando me confortar e logo em seguida fomos preparar o café da manhã, nosso armário tinha coisas básicas para que pudéssemos ficar um mês sem morrer de fome.

 Lyra preparava os ovos e bacon, enquanto eu fazia o café e arrumava a mesa, depois de comermos ficamos na sala, até que ela sugeriu que tirássemos o dia para conhecer a cidade e talvez fazermos novos amigos. Até tínhamos alguns amigos em New York, mas nenhum deles morava por perto, mesmo assim já havíamos marcado de nos encontrarmos algum dia, pensei que pudesse ser hoje, já que era sábado.

 Loguei em meu Facebook e os chamei, perguntando se estavam livres hoje à noite, felizmente grande parte deles estavam, num total de cinco de sete pessoas, marcamos de nos encontrarmos em um clube não muito longe daqui e enquanto esperávamos, eu e Lyra fomos ensaiar mais um pouco.