História I Like It Loud! - Team

 Um novo dia começou, e Lyra e eu tomamos um café da manhã bem reforçado, pois passaríamos muito tempo dentro do estúdio treinando, estávamos confiantes em ganhar o festival e também determinadas a fazer o que fosse necessário para atingir nosso objetivo, porém, ao mesmo tempo, éramos tomadas por uma certa insegurança sobre os outros competidores, pessoas de várias partes do país e até de outros países estavam vindo participar do evento com esperança de ter sucesso e dar início ao seu sonho.

 E assim se foi durante a semana toda, treinos de nove a dez horas por dia, ensaiávamos músicas originais e músicas de outros artistas, já que a regra do evento não restringia os participantes de usarem músicas de outros artistas em suas apresentações.

 Lyra e eu decidimos usar duas músicas nossas e duas músicas de outras pessoas durante as quatro fases, caso fossemos selecionadas para passar para a próxima, é claro. As duas primeiras músicas eram obrigatoriamente originais, os organizadores da competição estabeleceram essa regra para que os participantes, caso passassem em todas as fazer, já irem se acostumando a criar seu próprio conteúdo e também para ver se eles realmente tinham o talento necessário para ingressar no mundo da música.

 Fora uma semana intensa de preparação, ficamos horas treinando acordes no violão, tocando de novo e de novo as músicas que escolhemos para a apresentação, e apenas um dia antes do início do festival é que paramos para um descanso, o festival seria nos dois dias do final de semana, sendo as duas primeiras fases no primeiro dia, e as duas últimas. Quando já era noite, eu recebi uma ligação daquele clube:

 -Pronto. –Atendi.

 -Boa noite, com que falo? –Perguntou uma voz masculina.

 -Sarah, gostaria de falar com alguém em específico?

 -É com você mesmo, Sarah. –Ele respondeu. –Eu sou do Sunset Club, você e sua amiga se inscreveram para ser DJ aqui.

 -Oh, sim, me lembro disso. –Respondi com um tom alegre de voz.

 -Vocês foram as sorteadas dessa semana. –Ele disse como se fosse algum locutor de rádio anunciando os resultados de algum sorteio. –Estão interessadas?

 -Você diz esse fim de semana? –Perguntei, já com um tom de voz desanimado.

 -Sim. –Ele confirmou. –Algum problema?

 -Nós queremos e muito, porém nesse fim de semana temos que participar em um festival de música, vai ser de grande ajuda para iniciarmos nossa carreira se ganharmos.

 -Oh sim, o Folk Nation NY, fiquei sabendo do evento.

 -Há alguma maneira de deixar que nos apresentemos semana que vem? Sei que a lista é cheia, vimos quantas pessoas aguardam por uma chance, mas por favor.

 -Realmente há muitas pessoas na lista, vai ser bem difícil conseguir realizar esse seu pedido, até porque eu não sou o dono do lugar, eu apenas gerencio a parte dos DJs semanais, me desculpe.

 -Entendo, obrigado assim mesmo. –Agradeci e estava prestes a desligar o telefone quando o ouvi dizer para esperar.

 -Olha, posso tentar conseguir uma vaga para vocês, mas não posso lhes garantir nada. –Ele disse. –Pegue algo para anotar o e-mail que vou lhe passar.

 -Certo. –Coloquei a chamada no viva-voz, e abri o bloco de notas no celular para começar a anotar o e-mail.

 -Mande um sample de vocês para esse e-mail e eu vejo o que posso fazer por vocês.

 -Muito obrigada, de verdade. –Agradeci.

 -Disponha. Se tudo der certo eu retorno a ligação. Até mais. –Ele disse, desligando a chamada.

 Me sentei no sofá e comecei a pensar com as duas mãos no rosto e fiquei ali durante uns cinco minutos até que Lyra saiu do banho e veio falar comigo:

 -Aconteceu algo? –Ela perguntou, me abraçando, ainda com a toalha no cabelo molhado.

 -Não sei se tivemos sorte ou azar nessa. –Respondi.

 -Ahm?

 -Fomos sorteadas para nos apresentarmos naquele clube, o problema é que fomos escolhidas para esse final de semana, justo no dia do festival.

 -Oh, isso é um problema.

 -Mas ainda temos uma chance, ele disse que iria tentar arrumar uma vaga para nós, e também pediu que nós enviássemos um sample nosso para um e-mail que ele mandou.

 -Ele disse o motivo?

 -Não, apenas nos pediu para enviar o sample, também disse que não garantia que iriamos ter a vaga e que se tudo desse certo nos ligaria de volta.

 -Acha que devemos confiar? –Lyra perguntou enquanto pegava o celular, abrindo o youtuber.

 -Sim, por quê?

 -Apenas medo de roubarem nossa ideia.

 -Youtube? –Perguntei olhando para o celular.

 -Na sua opinião, qual nossa melhor composição que já postamos.

 -Ah sim, entendi. Creio que Drowning in my Tears.

 -Alguma outra que não seja Chillstep?

 -In my Mind. –Respondi.

 -Então que seja In my Mind. –Ela disse abrindo o vídeo da nossa música e conferindo a data, era de um ano atrás. –Vou cortar um pedaço dela e mandar para o e-mail, e caso haja tentativas de plágio, temos ela no Youtube e Soundcloud com as datas do ano passado para provar que o conteúdo é nosso. Muito cuidado é pouco.

 -Wowsers! –Eu disse, sorrindo. –Eu vou tomar um banho, já volto.

 Fomos cada um para um lado, eu fui para o banheiro e ela para o estúdio pegar o notebook dela para fazer a edição e enviar o produto. Demorei cerca de dez minutos no banho e mais quinze para secar meu cabelo e pentear, quando sai do banheiro vi Lyra ainda na frente do computador:

 -Ainda editando? –Perguntei.

 -Já enviei o sample faz um tempo, estou só checando nossas páginas. –Ela respondeu sem tirar o olho da tela.

 -Já faz dois anos, não é mesmo... Parece que foi ontem. –Eu disse.

 -E desde então não conseguimos tantos fãs quanto queríamos.

 -Mesmo assim ainda é bastante pessoas, imagine colocar quase duas mil pessoas em um só lugar.

 -É verdade. –Ela disse, finalmente olhando para mim.

 -Quanto conseguimos até agora com a monetização das músicas? –Perguntei.

 -Nesse mês conseguimos cento e vinte e sete dólares, juntando as vendas das músicas e as visualizações no Youtube.

 -Já é algo. -Eu disse, sorrindo.

 -Tudo pronto para amanhã? –Ela perguntou, olhando novamente para mim.

 -Sim, mas ainda estou muito nervosa. –Respondi.

 -Todos estarão, mas não se preocupe, vamos nos sair bem.

 -Certo!

 Não demorou muito para irmos dormir, o festival começava as treze horas de amanhã, porém teríamos que pegar o taxi às dez, por ser longe e para podermos nos aprontar ao chegar lá, eram quase duas horas de viagem e ainda teríamos que fazer um check-in para concluir a inscrição no evento.

 Quando finalmente chegamos lá, fomos até o guichê do evento para realizar todo o processo necessário para a conclusão da inscrição para garantir nossa participação no evento, agora que estava tudo checado era só esperar a hora de subir ao palco e mostrar ao mundo nosso talento.

 Os minutos foram se passando e víamos pessoas de todas as partes do país e até de fora, todos com estilos diferentes, uns de camisa xadrez, outros de jaqueta jeans ou de couro, cabelos coloridos, de todas as etnias, era incrível a quantidade de pessoas que ali estavam, eu estava ansiosa e animada, até ver uma pessoa vagando por ali:

 -Lyra! –Eu disse, cutucando-a.

 -Sim? –Ela se virou.

 -Lembra daquele cara que estava me incomodando no clube?

 -Lembro sim, o que tem ele?

 -Ele está aqui, ele também é um dos participantes do evento. –Eu disse. –Acabei de ver ele passando por perto usando o passe do festival pendurado no pescoço.

 -Não se preocupe, as chances de ele vir interagir conosco são baixas e talvez ele nem te reconheça.

 -Eu espero... Muito...

 -Agora relaxa e se concentra, vamos precisar de todo o nosso potencial se quisermos vencer esse festival. –Ela me abraçou, enquanto uma garota de cabelos longos e castanhos se aproximava para falar conosco.

 -Com licença. –A garota disse, com um sotaque estranho. –Podem me dizer onde ser o local do evento principal? Eu não conseguir entender o que o homem na portaria disse.

 -Ahm? –Lyra perguntou.

 -Ela quer saber onde será o lugar onde os participantes vão fazer suas apresentações.

 -Sim. –Disse a garota.

 -Ah sim, está vendo aquelas duas torres com caixas de som? –Lyra perguntou.

 -Sim, estou. –Ela respondeu.

 -É naquele local. –Lyra concluiu.

 -Muito obrigada, boa sorte para vocês.

 -Espera. –Eu disse. –Você não é daqui, não é?

 -Não, na verdade eu ser brasileira, vim com uma amiga para poder participar do festival, meu sonho é ser cantora. –Ela respondeu.

 -Oh sim. –Eu disse, sorrindo. –Eu sou Sarah e essa é Lyra, qual seu nome?

 -Paula, prazer em conhece-las.

 -O prazer é nosso. –Eu disse.

 -Tenho quer ir, vejo vocês no palco. –Ela disse, se despedindo e indo embora.

 Mais um tempo se passou e a hora finalmente chegou, a hora da competição, eram no total mais de vinte e quatro participantes, mas contando apenas como duplas e solos eram apenas vinte e quatro mesmo, pois a regra do festival eram que os participantes só poderiam participar em dupla ou solo, minutos se passavam e os nomes dos próximos participantes iam sendo chamados para subir ao palco, e a frente deles haviam cinco jurados, era preciso pelo menos quatro votos para poder passar para a próxima fase, e então a hora chegou, era nossa vez de subir ao palco, ao chegar lá um dos jurados nos perguntou:

 -Então, Lyra e Sarah, qual o sonho de vocês? –Ele perguntou.

 -Nosso sonho é poder trabalhar com a música, principalmente a eletrônica, fazer shows e tudo mais que um musicista famoso faz, mas além de todo aquele “básico” de artista, nós queremos que as pessoas sintam nossa música, as ouçam quando estiverem triste e tenha uma faísca de felicidade e que também possam se inspirar na gente a partir de nossas músicas, e talvez, quem sabe, algum dia a gente receba uma carta ou uma mensagem de um fã dizendo que a gente alegrou o dia dele, pois se sentia mal e então ele ouviu alguma música nossa. –Disse Lyra.

 -Wow. –Uma das juradas disse. –Sabe, a maioria que sobe nesse palco diz apenas que quer ser rico, famoso e feliz, dar festas e ir a festas, mas vocês foram diferentes, vocês realmente parecem se importar com o público de vocês, meus parabéns.

 -Obrigada. –Lyra agradeceu, ouvindo os jurados, a plateia e os outros participantes aplaudirem. –Muito obrigada.

 -Eu lhes desejo boa sorte, deem o melhor de vocês. –Um dos jurados disse.

Enfim nossa apresentação começou, era possível sentir a energia do público e ao mesmo tempo a nossa. Durante toda a apresentação, Lyra e eu tomamos o máximo de cuidado para não dessincronizar uma com a outra e muito menos desafinar ou tocar uma nota errada no violão, porém ouve um momento que, infelizmente, deixei uma das cordas escapar, fazendo um barulho estranho no instrumento, mas me recuperando rapidamente, na esperança dos jurados não considerarem o erro, fiquei pensando nisso o resto da música, sendo que ainda tínhamos em média dois minutos para que ela finalmente terminasse, e com isso acabei ficando mais nervosa ainda, mas tomei o máximo de cuidado para que nenhum erro fosse cometido novamente, e quando finalmente terminamos, fiquei aliviada por não ter cometido mais nenhum erro, tanto tocando quanto cantando, agora era a hora da verdade, hora de saber se passaríamos ou não para a próxima etapa:

 -Impressionante, tanto a letra da música, quanto a performance de vocês duas, estão de parabéns, continuem assim e eu lhes garanto que, um dia, o sonho de vocês será realizado, vocês têm me voto para seguir em frente. –Disse o primeiro jurado.

 -Muito obrigada. –Agradeci.

 -É Sarah, certo? –A segunda jurada apontou para mim.

 -Sim. –Respondi.

 -Eu percebi que no meio da música você cometeu um deslize.

 -“Merda, sabia que perceberiam”. –Pensei.

 -Porém o que deve ser avaliado é a sua rapidez de recomposição, você foi muito ágil ao corrigir o seu erro e voltar a tocar a música, e você nem mesmo mostrou sinais de preocupação, pode até ser que tenha ficado em sua mente, mas seu corpo ficou em silêncio em relação a isso o tempo todo, meus parabéns, vocês duas são incríveis, meu voto é sim! –Ela disse.

 -Minhas queridas, vocês não tocam com as mãos e nem cantam com a voz, vocês fazem isso com o coração! A emoção que vocês colocam em suas vozes e instrumentos são incríveis, é possível sentir a sincronia de vocês duas umas com as outras e com a música, e aposto que eu não fui o único que sentiu isso, então meu voto é sim! –Disse o terceiro jurado.

 -Garotas, eu não consigo imaginar o trabalho que tiveram para estar aqui, mas eu posso imaginar o trabalho que talvez vocês não tiveram para compor a melodia e a letra de sua música, primeiro que a melodia parece ser bem genérica, segundo que quantas vezes já ouvimos outras músicas com letras similares a essa, em minha sincera opinião, eu não ouviria e nem compraria um CD de vocês ou uma música de vocês na internet, me desculpem, mas meu voto é não. –Disse o quarto jurado.

 -“Como assim “o trabalho que talvez não tivemos? ” –Pensei.

 -Bem, considerando tudo o que foi dito aqui pelos meus outros colegas, creio que não há mais nada a dizer a não ser o seguinte, pessoas vão tentar lhes derrubarem a todo momento, vão criticá-las e tentar humilhá-las, mas algo que eu digo é que não deixe nunca que essas pessoas influenciem no trabalho de vocês, façam o que vocês amam fazer, e façam bem feito, e também quero que levem o que o meu colega ao lado disse como um exemplo disso, meus parabéns garotas, vocês estão na próxima fase do festival, pois meu voto é sim!

 -Muito obrigada, de verdade. –Eu disse, enquanto abraçava Lyra. –Conseguimos, Lyra, conseguimos!

 -Somos incríveis! –Lyra gritou, enquanto saíamos do palco.

 Enquanto saíamos do palco, vimos que a garota de antes, Paula, estava subindo ao palco segurando seu violão azul com suas mãos tremendo:

 -Boa sorte garota, você consegue! –Eu disse a ela.

 -Muito obrigada, Sarah. –Ela respondeu com um sorriso em seu rosto.

 -Amo essa sua bondade. –Lyra disse, me dando um rápido selinho na boca e foi aí que ele apareceu.

 -Ora, ora, o que temos aqui, se não era a garota do Sunset Club daquele dia. –Ele disse.

 -Você de novo!? O que faz aqui. –Perguntei.

 -Não é óbvio? –Ele puxou o cordão com o passe do evento. –Olha, por que não desistem agora? Ainda dá tempo. Foi sorte vocês terem passado da primeira fase, e aquele cara tinha razão, a música de vocês é como a de outros milhares que tentam fazer algo e postam no YouTube.

 -Só ignora. –Disse Lyra, me puxando para longe dele.

 -Vai se foder, seu merda, será que isso é apenas inveja de nós? Ou é apenas essa sua pequena mente de bosta que não aceita que a gente sejamos gays. –Eu disse. –E outra, por que você não bota uma bala nessa sua testa, o mundo já está cheio de lixos como você, um não faria falta alguma.

 -SARAH! –Lyra gritou e me puxou novamente.

 -Já vou... –Eu disse.

 Depois do episódio, no mínimo, constrangedor, ficamos no aguardo para que todos os outros participantes terminassem suas performances. Quando terminaram, ouvimos o locutor anunciando que a próxima fase ocorreria em uma hora, até lá era para a gente descansar e talvez comermos alguma coisa nas barracas que estavam armadas por todo o local:

 -Vamos comer e beber algo, estou com fome e com sede. –Eu disse.

 -Tudo bem, vamos lá. –Ela disse, olhando para mim.

 -Algum problema?

 -Não, só estou preocupada com você.

 -Não há o que se preocupar, estou bem, aquele lixo não significa nada para mim, nem mesmo o mínimo de ameaça.

 -Sei disso, mesmo assim continuo preocupada com você.

 -E eu agradeço por se importar comigo. –A abracei, quase chorando.