História I Love You, Idiot Elf! - A Esperança é Pequena

Ambos pares de olhos viraram-se para o elfo de braços cruzados que continuava a fitar Nevra friamente, sem nada dizerem. Lua se afastou do vampiro em alguns passos para trás, cabisbaixa, esperava que alguém dissesse algo já que sabia muito bem que se abrisse a boca ouviria grandes sermões do líder de sua Guarda. Felizmente, Nevra se prontificou em favor a jovem.

- Desculpe, mas poderia repetir? - indagou, fingindo não ter escutado.

- Você ouviu muito bem, Nevra. - respondeu o alquimista, serenamente - A resposta é não. Sabe que de acordo com o protocolo é altamente proibido trocar de Guarda quando já se está subordinado ao líder.

Lua manteve-se em silêncio cerrando os punhos com força até que todo o sangue ficasse pressionado, deixando os dedos brancos. O líder da Sombra apenas deu de ombros antes de prosseguir:

- Mas o protocolo também diz que se o subordinado ou subordinada desejar desistir da Guarda atual e entrar em outra com o consentimento do líder ela tem o total direito. - O elfo semicerrou os olhos sem perder a compostura. Estava cansado de tanto atrevimento.

- E eu disse que nego abrir mão dela. - Nevra deu de ombros novamente e sem querer contestar mais o colega resolveu desistir antes que se chateasse. Se aproximando da albina que continuava a apertar as mãos sussurrou algo em seu ouvido saindo logo em seguida com um aceno. O clima carregara ainda mais em tensão quando o elfo e a humana se encontraram sozinhos, esperando que o mesmo fosse embora a jovem suspirou alto jogando todas suas esperanças fora. 

Passos fizeram-na se alarmar e levantando o rosto notou Ezarel diante de si olhando fixamente em seus olhos celestes. Lua engoliu em seco. 

- Escuta aqui, humana. Uma vez entrada na minha Guarda não há como sair, fique claro que nada adiantará pedir ajuda aos seus amiguinhos que não vai dar em coisa alguma. Entendeu?

A mesma apertou os punhos ainda mais forte quase ao ponto de se furar com as próprias unhas mas balançou a cabeça em assentimento. O alquimista se afastou em passos rápidos deixando para trás uma jovem vermelha de raiva e olhar fulminante. 

- Eu te odeio, Ezarel... - sussurrou sem saber que o elfo escutara graças aos ouvidos apurados, uma vez deixando-o extremamente intrigado com as palavras ditas pela garota. 

(***)

- Eu ainda vou arrancar aquelas orelhas com minhas próprias mãos! - esbravejou a moça batendo de maneira rude a porta atrás de si, Azul deu um sobressalto assustado com a raiva da dona mas preferiu ficar em silêncio temendo que a mesma se exaltasse mais do que já estava. - Eu o odeio, Azul. Odeio, odeio, odeio! Como pode existir alguém tão irritante?

Um livro lançado na parede fez o Sabali se encolher ainda mais entrando debaixo do tapete listrado, Lua segurou nos próprios cabelos desejando arrancá-los a força para aplacar sua fúria mas por fim desistiu, temendo que acabasse se machucando por conta disso. A albina sentou-se na beira da cama e levantando o travesseiro retirou debaixo um pedaço de tecido que cortara do vestido rosa que estava usando quando chegou a Eldarya, levando-o até o rosto inspirou profundamente buscando algum vestígio de perfume dos pais do último abraço que eles lhe deram antes de sair de casa e entrar na maldita floresta, queria senti-los perto de si mesmo que somente por alguns instantes. 

Uma fina lágrima se formou no canto de seus olhos descendo rapidamente pela face pálida antes de ir em contato com o chão.

- Eu queria tanto estar em casa. - lamentou, abraçando o tecido - Somente vocês saberiam o que dizer nessas horas...

(***)

Ezarel balançou a cabeça mais uma vez tentando a todo custo se concentrar no livro que estava lendo, as palavras dançavam diante de seus olhos e por mais que tentasse juntar as frases nada parecia dar certo. Por que estava assim? As palavras duras ditas pela humana voltaram a sua mente quase como uma provocação tirando toda a atenção restante do alquimista. 

Fechando o livro com raiva, passou a mão pelos compridos cabelos soltando o ar lentamente. Era algo insignificante, não era? Ser odiado por alguém inútil como Lua deveria apenas lhe trazer paz... Mas então... Por que sentia um estranho incômodo?

- Deixa disso, Ezarel. - resmungou o elfo consigo mesmo abrindo um sorriso - Se essa humana te odeia é mais uma oportunidade para se divertir com a cara dela. 

Alargando o sorriso ainda mais o alquimista deixou o Laboratório pensando em como se divertiria com Lua até que não pudesse mais. Afinal, nada lhe abateria a alegria. 

(***)

A jovem virou-se novamente na cama sentindo um grande estorvo lhe carregar o sono. Vozes giravam em sua cabeça e diversas formas e cores bagunçavam sua visão sem conseguir distingui-las. Lua suava frio, respirando com dificuldade antes de acordar num sobressalto. 

A luz das estrelas atrevessavam a janela iluminando o quarto em um tom fúnebre, se acostumando aos poucos com a claridade do local a moça notou seu mascote dormindo profundamente no tapete, emitindo diversos sons estranhos enquanto mastigava a folha em sua boca. Silenciosamente, se levantou passando a mão na testa para retirar as gotículas de suor. Precisava de ar fresco. Abrindo a janela aos poucos, fechou os olhos sentindo na pele o doce vento gelado que lhe tocava o corpo e balançava de leve seu cabelo trazendo uma boa sensação de paz. A garota respirou fundo deixando-se acalmar aos poucos e ao abrir os olhos novamente notou que no fundo do jardim, escondido atrás de uma árvore um par de pedras vermelhas a observavam. Um frio desceu por toda sua espinha a petrificando no chão.

Era ele novamente.