P.O.V. Ezarel
Meus passos travavam acompanhados das minhas falhas batidas enquanto caminhava em direção ao quarto de Lua, sentia a doença humana se alastrar nos meus pensamentos, tinha que falar com Ewelein para descobrir qual praga era essa que tanto fazia meu peito doer e meu coração acelerar somente ao vê-la ou pensar nela. Ao parar na entrada de seu quarto encarei a porta vermelha esculpida em detalhes de madeira dourada esperando tomar coragem necessária para batê-la, do interior não se ouvia nem um ruído, esperava ao menos que ela ainda estivesse ali.
Bati lentamente na porta e somente na terceira batida ouvi o trinco destrancar, uma pálida figura se pôs a frente abrindo devagar a entrada, Lua olhou em meus olhos e pude ver um reflexo de desapontamento neles no mesmo instante a mesma baixou o olhar, afastando-se um passo de mim. Engoli em seco notando o silêncio que caíra, seus olhos estavam levemente inchados e sua boca tremia como se fizesse força para não chorar ou gritar de raiva, ver isso só me fez ter mais vontade de abraça-la e pedir perdão pelas minhas palavras, infelizmente, sabia que era orgulhoso demais para isso e mantive minha postura.
- Vamos partir em uma missão para o vilarejo de Manzana. - minha voz saiu num estranho gosto amargo - Devemos levar medicamentos e ervas medicinais para tratar dos feridos já que a mesma foi atacada por Black Dogs.
O silêncio perdurou e Lua não levantou a cabeça.
- Eu sou obrigada a ir? - indagou por fim numa voz melancólica. Disfarcei meu incômodo por suas palavras mordendo a língua.
- Não... Você não é obrigada a ir. Mas caso queira me encontre no Portão Principal daqui a uma hora. Ou então levarei outro acompanhante comigo. - ela apenas assentiu com a cabeça antes de adentrar a porta, fechando-a tão rápida quanto um piscar de olhos. Sem mais o que fazer tratei de sair dali o quanto antes notando que dentro do meu peito algo pesava grandemente.
***
Os empacotamentos de ervas medicinais era uma tarefa complicada e exigia grande atenção, motivo na qual quase nunca chamava alguém para me ajudar já que não precisava da ajuda dos outros e também por ser um competente alquimista, minha bolsa com vestimentas estava encostada na porta do Laboratório junto com as outras bolsas de remédios que levaria, apenas terminava de empacotar a última remessa de ervas de Idreira quando a porta foi aberta num estrondo, me assustei pensando ser Miiko vindo me criticar novamente pela demora. Felizmente, era apenas Valkyon.
- O que deseja? Seja breve porque estou ocupado.
- E serei. Só vim aqui para perguntar o que você fez para fazer Lua chorar daquele jeito? - larguei o que estava fazendo por um segundo antes de prosseguir. Então, ela chorou mesmo por minhas palavras? Ignorei meu coração que voltava a doer tentando tirar da cabeça a imagem de Lua perplexa enquanto dizia tudo aquilo.
- Ah! A humana veio reclamar com você? Que surpresa. - encarei-o, abrindo um sorriso cínico.
- Não se faça, Ezarel! - criticou o guerreiro, seus olhos faiscavam num furioso brilho dourado mas sem alterar o tom de voz. - Encontrei a moça chorando nas Masmorras, completamente desesperada, ela não me disse o motivo mas confessou que você era a causa de seu choro. O que você fez?
- Eu não fiz nada. - menti, dando de ombros - Não sei o por que da minha subordinada ficar nesse estado mas saiba que isso não é da sua conta, porém, se te deixa mais calmo falarei com ela. Melhor?
Valkyon me olhou seriamente com os braços cruzados. Seu cenho estava levemente franzido.
- Tome cuidado com o que faz, Ezarel. Lua é uma boa moça e não merece que você a trate tão mal.
Dizendo isso saiu do Laboratório sem pronunciar mais nada, por mais que não quisesse me importar não deixei de refletir em suas palavras.
***
O tempo passava e cada vez mais o incômodo me preenchia de uma forma deplorável, a movimentação nas ruas era intensa mesmo assim nada da garota aparecer, ela deveria ter chegado a muito tempo! Ou será que era apenas eu a criticando pela demora? Tentando em vão conter minha ansiedade andei de um lado para o outro apertando a barra da minha blusa com força, sentia que deveria procurá-la, mas e se ela não quisesse vir, será que negara meu pedido? Os guardas da entrada pousavam seus olhares em mim e querendo não levantar suspeitas parei de me movimentar esperando nervosamente pela humana imprestável. Vinte minutos se passaram e quando estava a ponto de desistir e partir sem ela sua figura se aproximou serenamente vestida num confortável traje de algodão, seus cabelos presos num rabo-de-cavalo cintilavam destacando a cor branca enquanto uma bolsa descansava sob seus ombros, mantive minha postura rígida mesmo assim senti felicidade ao vê-la comigo na missão.
- Está atrasada. E muito. - critiquei-a de braços cruzados. Lua olhou para mim com indiferença.
- Me desculpe. - arrisquei um olhar para seu rosto e o que vi me deixou abatido, sua expressão de desapontamento ainda continuava presente.
- Que isso não se repita. Vamos. - os guardas nos deram passagem e caminhamos para fora do Q.G em passos rápidos, deveríamos chegar o quanto antes em Manzana, haviam muitos feridos para serem tratados. Pelo canto dos olhos notei a humana que pulava de uma pedrinha a outra em passos pequenos, a bota preta sujava em uma poeira marrom mais a mesma sequer se importou, o silêncio era predominante a não ser pelo som dos nossos passos e respirações uníssonas, queria dizer algo, precisava, infelizmente não o fiz. Pelo caminho inteiro continuou assim, o tempo passava e logo a noite cairia, Manzana era mais longe do que pensava, quase no coração da floresta.
Era quase noite quando ouvi os passos de Lua cessarem, virando-me notei sua respiração rápida e olhar abatido. Havia me esquecido que humanos se desgastavam bem mais rápidos que faerys. Senti uma grande culpa por não ter parado sequer uma vez durante todo o dia para ela descansar.
- Vamos parar por aqui, amanhã prosseguimos. - a albina assentiu se agachando no chão, avançando até a bolsa pegou o cantil de água levando aos lábios num desespero completo. Filetes de água escorriam pelo seu queixo molhando a blusa não querendo me hipnotizar nisso tratei de recolher gravetos para fazer uma fogueira, o fogo espantaria as criaturas da noite. De repente um grito me fez largar as madeiras e sem me der conta corri em direção a Lua.
FIM P.O.V Ezarel
***
O elfo correu em direção a humana que apertava a mochila com raiva.
- O que houve? - perguntou levemente assustado. Lua suspirou tristemente sem olhar para ele.
- Esqueci meu cobertor e travesseiro em casa. - Ezarel reparou surpreso que a moça dissera "casa", sem saber o motivo sentiu-se feliz por isso. Abrindo um sorriso pegou na própria mochila seu cobertor e caminhando até ela esticou o braço para lhe oferecer.
- Se é só esse o motivo da frescura pode ficar com o meu. Eu posso dormir sem, considere como uma gentileza da minha parte.
Um tapa furioso foi dado em sua mão e Lua se virou com os olhos faiscando de raiva.
- Eu não quero nada que venha de você! - sua voz carregada de ódio mostrava no fundo uma pequena decepção. Ezarel foi atingido em cheio pelas suas palavras mas apenas engoliu em seco.
- Quer morrer congelada no chão? - perguntou, friamente. Tristeza passou pelos olhos azuis da moça que continuava a encarar o elfo.
- Como se você se importasse comigo ou o meu bem estar. Não disse que me odeia? Então aja assim comigo pois diferente do que você pensa eu tenho pessoas que gostam de mim e utilizam suas palavras para me ver feliz.
Ezarel emudeceu, seus olhos estavam arregalados.
- Lua, eu...
- Boa noite. - o cortando a albina se levantou, encolhendo-se num canto qualquer dando as costas para o elfo que continuava surpreso, pela primeira vez em toda a sua vida estava completamente sem palavras.
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