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História I Must Be Dreaming - Capítulo V Vá embora.


Escrita por: P_Imperatrix

Capítulo 6 - Capítulo V Vá embora.


“Não sou eu?
Pegue uma semente
Deixe-me cortar
Suas asas sujas
Deixe-me dar uma volta
Corte-se
Quer ajuda?
Agrade-me
Tenho um pouco de corda
Você foi avisada
Eu te prometi
Era verdade
Deixe-me dar uma volta
Se corte
Quer ajuda?
Agrade-me”

Nirvana - Polly

 

Na maioria das vezes, sentia como se tivesse boiando nas águas volúveis do oceano infinito de sua consciência sobre o mundo.

As pessoas causavam ondas nesse oceano, ondas que se fossem delicadas e agradáveis, fariam-na subir e boiar num nível mais alto e era nesses momentos em que sob seus lábios ela podia provar o gosto doce da felicidade, mas se as ondas fossem bruscas, causadas por pessoas infladas por uma felicidade grande demais, como acontece quando uma onda muito alta atinge a quem bóia muito longe da praia, ela até tentava subir, tentava acompanhar, mas não conseguia. E não levava muito tempo até ser engolida pela onda violenta de emoções e se sentir sufocar com as expectativas alheias. Todos deveriam saber como lidar com a felicidade, não é mesmo? Então porque ela sentia estar se afogando?

E quando não havia ondas delicadas ou bruscas, quando não havia pessoas ou simplesmente elas não podiam lhe afetar e tudo que sobrava era somente ela mesma, Hinata, ela se sentia não estar afundando, não estar confortavelmente elevada por ondas delicadas, mas sentia que estar voltando para casa, para o nível inferior a que realmente pertencia.

Seu lugar era perto da praia, onde boiava sob as águas rasas de sua amada e odiada melancolia. E aquela sensação? Era boa ou ruim? As águas alí eram controladas por ela mesma, mas seu controle não era muito grande e ás vezes era preciso cortes como o que a areia faz na pele de quem se deita na beira da praia, e esses cortes ardiam inflamados, mas eles eram seus e de alguma forma ela se sentia bem por isso. É possível classificar o familiar? A sensação de que algo lhe pertence, não importando o que for, de suas qualidades de que tinha mais orgulho, aos buracos em seu coração, em bom ou ruim? Afinal, é tudo seu.

O som da porta se abrindo, atingiu-a como uma onda delicada, alta o suficiente para emergi-la se seu oceano de pensamentos até o mundo “real”.

– Oi – era Kushina, Hinata se aprumou na cama – Como foi com a Dra. Yuuhi? Naruto te levou direitinho’ttebane?

– Hmmm – estava ainda tão dispersa que mal podia juntar as palavras para formar uma frase coerente de resposta – ela hum... foi ó-ótima... Naruto-kun também...

– Que bom! – ela pareceu um tanto feliz demais, meio forçada – quer me contar mais alguma coisa?

Oras! Mas que diabos ela realmente queria?

Hinata com um pouco de atraso na resposta, negou.

– A-acho que não...

– Certo... A festa de aniversário de casamento já começou, a Ino e o resto das crianças já estão na piscina, estão perguntando quando é que você vai descer – essa ultima parte era mentira, pensou Hinata rindo ácida por dentro – não demore muito’ttebane! – as ultimas palavras foram difíceis de ouvir, pois Kushina já tinha deixado o quarto para alívio de Hinata, não e que não gostasse da ruiva, mas aquela felicidade toda argh...

A morena olhou para o livro repousado na cama, onde lia momentos antes e suspirou cansada, festas... Como as pessoas se divertiam em festas? Ela gostaria de descobrir... Como uma criança mimada fez bico. Droga, não queria descer... E a idéia de ter que por aquele biquíni preto que Ino tinha lhe arrumado, não lhe agradava muito...

Não que fosse puritana e achasse errado mostrar o corpo, ou fosse muito feia, era só que odiava roupas que chamavam atenção, a atenção fazia com que as pessoas começassem a reparar nela o que geralmente não era bom, odiava o sol em sua pele e odiava os comentários de como ela precisava mesmo de um bronzeado...

Se pudesse escolher, teria escolhido não ter nascido, mas não tendo essa opção, escolheria ter nascido na era romântica, onde ela não sentiria como se estivesse sendo iluminada por um sol negro num mundo branco - ou seria um sol branco num mundo mergulhado em trevas? A velha questão de quem realmente estava quebrado, ela ou o mundo, voltava a lhe perturbar -, onde ela seria como os outros, onde o que ela era, seria aceitável, compreendido... O véu cinza que a tudo cobria seria visível a todos e não só aos poucos como ela...

– Ou não... – disse olhando para o livro, pensando em Lestat¹ e como ele o jovem mortal do século XVIII era parecido com a Hinata moderna e mesmo assim tão diferente dos outros a sua volta - Bem, pelo menos no seu tempo, príncipe, não havia festas na piscina...

oOo

A música de péssima qualidade atingiu seus ouvidos quando estava no meio das escadas, agora, na varanda, já era insuportável.

– Finalmente! – um divertido Minato saudou-a enquanto carregava uma bandeja com bebidas, Hinata sorriu sem graça e tratou logo de pegar algo para beber, boca ocupada era sempre uma ótima desculpa para não falar – Estão todos na piscina, olha lá o Naruto empurrando a Ino dentro d’água, agora ela deve tentar fratricídio... Esses dois...

O grito da loira quase abafou o som das potentes caixas acústicas.

– NARUTO! SEU IMBECIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIL!!!

O loiro somente ria acompanhado da maioria das pessoas em volta.

Hinata cuidou para passar o mais longe e despercebida o possível, deitou em numa espreguiçadeira meio escondida por um guarda-sol e voltou à Inglaterra e ás discussões filosóficas entre um vampiro de duzentos anos e um mortal no fim da vida. Ninguém ia realmente notar o que ela estava fazendo, então que diferença fazia parecer deslocada na piscina ou no seco? Pelo menos no seco ela poderia parecer deslocada enquanto lia.

oOo

O barulho da lâmina caindo no chão fez Hinata estremecer, ele a olhou com desdém, como se fosse lágrima, uma gota de sangue vagarosamente escorregou pelo pulso cortado até cair manchando o azulejo.

Seu estômago afundou quando ouviu a porta sendo aberta, alguém havia descoberto seu esconderijo ela fechou os olhos e rezou para que não fosse Hanabi. Alguns segundos se passaram e ninguém gritou, não era Hanabi, mas não ouve tempo para que ela sentisse alívio por isso.

Lágrimas de verdade escorreram, dessa vez por seus olhos, os braços dele a envolveram.

Ela apanhou a lâmina e deixou que ela percorresse novamente o caminho tortuoso por pele, se irritando internamente quando a linha vermelha falhava graças as suas mãos trêmulas.

As mãos dele cobriram a sua e por um momento ela achou que ele a ajudaria, que a força dele faria com que ela conseguisse fazer cortes mais profundos, irreversíveis.

Mas, não foi o que aconteceu. A respiração quente dele em sua orelha moveu seus cabelos fazendo com que os fios grudassem em sua bochecha coberta por uma camada fia de suor frio. Hinata começou a soluçar em seu choro. Ele tinha a parado. O alivio para sua dor, seu desespero, tinha sido suspenso. E ela só conseguia chorar em resposta, como uma criança faminta o faria se lhe tomassem a mamadeira nos primeiros goles.

Não havia a noção de que a olhos sãos ferir a si mesma era uma coisa terrível. Só havia a ciência de que o corte que devia doer aliviava o sofrimento.

Portadores de olhos sãos não poderiam compreender. Pessoas assim não conheciam a dor como ela.

– Feridas não lhe fará menos desejável aos meus olhos, Hinata-sama. – ele deu um meio sorriso - Desista.

Nem mesmo ele entendia.

oOo

Fragmentos entrecortados do pesadelo que tivera continuavam a permear sua mente. Havia um rio congelado sob seus pés, ela corria, a neve estava manchada de sangue, alguém estava a perseguindo, um assassino...

Ela abriu a torneira da pia do banheiro com certa impaciência e enquanto apertava os olhos e molhava o rosto, exorcizava as imagens assustadoras.

Como um abraço reconfortante, ela sentiu a presença conhecida do loiro atrás de si.

– Você está bem dattebayo?

O espelho refletido o rosto assustado de Naruto. Ela deu uma olhada em seu próprio rosto tentando entender a pergunta dele, afinal ela só estava lavando o rosto, isso não seria nada demais se sua pele não tivesse não pálida quanto às velas que derretiam nas catedrais do ocidente.

Ela secou uma gota d’água em sua testa e recuou um passo.

– Hinata-chan?

– E-eu estou b-bem sim...

– Você não me parece nem um pouco bem, ‘tá mais branca que um cadáver!

Ela gostaria de ser um cadáver.

O estômago de Hinata se revirou e ela caminhou vacilante para a privada, se xingando internamente por estar tendo platéia para a cena que protagonizava.

– N-naruto-kun? Pode me deixar soz-zinha?

O cenho do loiro se fechou e ele inflou o peito, contrariado.

– Mas é claro que não dattebayo!

Ele se aproximou dela que recuou.

– Pare com isso’ttebayo! Não é como se eu fosse abusar de você em vez de segurar seu cabelo, com essa cara verde de Frankenstein, tá na cara que você vai vomitar!

Ela se curvou em direção a privada, ele tentou tocá-la.

– V-vai emb-bora N-n-neji! - ela bateu na mão dele resmungando nervosamente, estava totalmente fora de si.

Ele franziu o cenho confuso com o nome que ela lhe tinha chamado, mas voltou a se aproximar, ele era persistente e segurou os ombros dela por trás, o vômito veio fazendo com que ela perdesse as forças impedindo-a de se “defender” dele e passasse a buscar apoio nas bordas do vaso sanitário.

Ela podia sentir as mãos grandes dele afastando sua franja da testa suada, sussurrando palavras de conforto que ela não conseguia ouvir, mas a cada vez que ele involuntariamente esbarrava nela por tás ele se sentia mais enjôo e medo, as lágrimas se misturavam ao vômito que ia se findando.

Hinata desabou sentada no chão azulejado, talvez tivesse se machucado se Naruto não a tivesse amparado.

Ele continuava murmurando que ia tudo ficar bem, mas ela não acreditava, sabia que não era verdade.

Lestat¹ - Personagem das ‘Crônicas Vampirescas de Anne Rice.

 



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