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História I Need U (Kim Taehyung) - XVIII - Hari


Escrita por: psycholojin

Notas do Autor


Esse é um dos meus capítulos favoritos então espero que gostem tanto quanto eu, pois me empolguei escrevendo e saiu desse tamanho

Capítulo 18 - XVIII - Hari


Fanfic / Fanfiction I Need U (Kim Taehyung) - XVIII - Hari

Era apenas uma conversa. Foi o que ele disse. Apenas uma conversa sobre o que quer que fosse, apesar de eu suspeitar que fosse sobre o nosso beijo.

Quando dei por mim estava no quarto de Yoongi, atacando seus lábios macios. Não sei como cheguei aqui e nessa situação, mas achamos melhor subirmos para termos um pouco mais de privacidade.

Entendi a tal privacidade.

Antes mesmo de chegarmos no quarto, Yoongi me puxou pela cintura e me beijou com voracidade. Agora eu estava ali, escorada na parede e dando vários beijos em seus lábios. Por ele ser mais alto que eu, Yoon fez com que eu colocasse minhas pernas em sua cintura e me puxou para cima. Ele apertava minha bunda e eu puxava seus cabelos, o puxando para mais perto de mim como se fosse possível. Dei um gemido quando senti algo encostar em minha região íntima e logo soube que Yoongi estava ficando excitado.

Era incrível como bastava ficarmos sozinhos que as coisas começavam a ficar fora de controle. Quando imaginei minhas primeiras experiências com garotos, nunca pensei que fosse tão intenso e quente como estava sendo agora. Pode ser a falta de experiência ou a curiosidade pelo novo, mas era muito fácil me deixar levar pelos toques e pelo beijo de Yoongi. Algumas vezes nossos dentes batiam e eu ficava envergonhada, mas Yoongi parecia não se importar. Com ele eu me sentia confiante, me sentia segura e que sabia o que estava fazendo. Eu só queria beijá-lo e fazer com que ele me desejasse cada vez mais.

Então meu coração quase pulou para fora quando a porta abriu de repente e Hoseok entrou sem perceber o que estava acontecendo. Ao nos ver, ele deu um sorriso e arregalou os olhos quando finalmente percebeu Yoongi praticamente devorando meu pescoço enquanto minhas pernas estavam enrascadas em sua cintura. Sentindo a vergonha tomar conta de mim, coloquei meus pés no chão e empurrei Yoongi para que a situação ficasse menos constrangedora.

Yoon não pareceu abalado com a situação, pois lançou um olhar entediado e emburrado para Hoseok.

E quanto a mim? Eu torcia para que não estivesse estampado na minha cara o quanto estava envergonhada e desconfortável. Aquilo seria motivo de falatório no trabalho.

— Eh… eu ia… pegar algo que deixei aqui no quarto. — Hoseok disse gaguejando e movimentando muito os braços na tentativa de se explicar — Vou só pegar meu Kindle e vocês podem… continuar o que estavam fazendo.

Hoseok deu um sorriso envergonhado e balançou seu Kindle antes de fechar a porta e sair.

Para a minha surpresa, Yoongi soltou uma gargalhada.

— Do que você está rindo?

— Nada. Onde nós estávamos? — ele voltou a se aproximar de mim com um sorriso malicioso. Suas mãos seguraram meu rosto e ele deu um leve sorriso antes de selar nossos lábios.

— Estávamos quase indo para a parte em que eu ia pedir para pararmos, pois a coisa estava começando a ficar mais… quente.

Yoongi me ignorou e deu mais dois selinhos.

— Tem certeza de que quer parar? Não estava gostando do que estávamos fazendo?

Tive que tirar forças de onde não tinha para rebater Yoongi, pois ele começou a beijar meu pescoço e dar algumas chupadas que achei extremamente deliciosas. Foi quando soltei um leve gemido de surpresa quando o moreno lambeu minha pele exposta, próximo à clavícula e em um lugar que percebi que era um ponto fraco.

— Eu estou adorando o que estamos fazendo. — Consegui dizer — Mas acho melhor pararmos, pois não estou pronta para o que vem a seguir.

O empurrei de leve e Yoon olhou em meus olhos.

— Estou sendo apressado?

— Um pouco.

— Me desculpe eu… eu não queria que você achasse que estou querendo te levar para a cama. Lógico que quero, mas não vou ousar tocar em um único fio de cabelo seu se você não quiser.

Ele parecia nervoso, como se não soubesse o que dizer e estivesse constrangido.

— Está tudo bem. — Segurei seu rosto e fiquei na ponta dos pés, lhe dando um selar — É só que é muito novo para mim, você sabe. Nunca passei de um selinho com alguém, e todos esses toques e beijos são um contato muito novo. Se for para irmos além disso, quero estar pronta para que não seja desconfortável.

— Eu entendo. Me desculpe mais uma vez.

— Está tudo bem.

E foi então que decidi deixar claro algumas coisas.

— Yoongi… O que eu sou para você? — ele deu um sorriso.

— O que você quer ser?

— Eu queria deixar claro para que não possamos ter nenhum mal-entendido. Eu não estou pronta para assumir um relacionamento e nem estou em busca de um. Não sei seus sentimentos por mim e nem sei o quão longe você quer levar isso, mas não quero que me entenda mal.

Por um momento vi seu sorriso diminuir consideravelmente e ele me olhar um pouco decepcionado, mas logo isso sumiu e Yoon deu outro de seus sorrisos gengivais e assentiu.

— Eu entendo perfeitamente.

Quando voltamos para a cozinha, todos os meninos pararam imediatamente de falar. E ali eu soube que Hoseok havia contado sobre o que viu no quarto.

[...]

No domingo decidi que iria ajudar a vovó em um jantar especial que ela faria para vovô.

Eles estavam prestes a fazer aniversário de casamento e após anos eu finalmente iria comemorar essa data com eles. Amava sua história e o amor que nutriam um pelo outro mesmo depois de vários anos, me fazia acreditar que de fato, o amor era eterno. E eu queria um amor como do vovô e da vovó para mim, mas tinha plena ciência de que um amor como aquele seria difícil de encontrar.

Algumas vezes me pegava sentindo falta de Los Angeles, da minha mãe e de Robert, e principalmente de Jonas. Fazia alguns dias desde que havíamos nos falado pela última vez, e em uma de nossas últimas conversas ele me contou estar gostando de Harvard e que quando eu pudesse, fosse visitá-lo em Massachusetts.

Ao ouvir isso me entristeci, pois não sabia quando isso seria possível. Com o dinheiro que ganhava como garçonete mal dava para visitar pontos turísticos e outras cidades aqui na Coreia, quem dirá ir para um país tão longe.

Não admitia para ninguém, às vezes nem mesmo para mim mesma, mas eu sentia inveja de Jonas. Ele era um pouco mais jovem do que eu, e já tinha ideia do que queria fazer da vida, do caminho que queria trilhar. Enquanto eu estava já na faixa dos meus vinte anos, sem visão de futuro e sem saber o que queria da minha vida. Enquanto ele estava na faculdade, criando memórias e realizando seus sonhos, eu estava beijando garotos e atropelando pessoas.

Chegava a ser ridículo como minha vida parecia estagnada no lugar.

Faltava menos de um ano para que eu pudesse decidir e não precisar voltar para a casa da minha mãe, e um ano era pouco tempo para decidir uma vida inteira. Deveria ter pedido um pouco mais de tempo, ainda faltavam muitos meses e já estava desesperada com o que aconteceria em seguida. Eu não podia dar esperanças a Yoongi de um relacionamento quando meu futuro era tão incerto, e nem mesmo conhecer garotos e me relacionar estavam nos meus planos. Eu tinha um foco e não pretendia desviá-lo. Se dentro de um ano não estivesse na faculdade diria adeus a Coreia, adeus a Yoongi e adeus aos meninos.

Se ir embora for o meu destino, esperava do fundo do meu coração que os rapazes tivessem sucesso e não desistissem do sonho deles. Eles tinham meu total apoio, mesmo que de longe.

Estava cortando alguns legumes quando vovô chegou dando um selinho em minha avó e um beijo em minha testa. Os dois eram como meus segundos pais, sendo que vovô era a única figura masculina mais próxima de um pai que eu tinha.

— Estava no mercado e encontrei aquele seu amigo, Jungkook, não é?

Vovô jogou o casaco no sofá e vovó o repreendeu com o olhar.

— Sim.

— Esses supermercados e suas manias de escravidão. É domingo! Quem trabalha em um domingo?

Era engraçado quando vovô ficava irritado, seu rosto ficava vermelho e ele ficava girando seu bigode enquanto fazia cara feia.

— Ele me contou que você conseguiu dirigir depois do acidente.

— Quase morri no processo, mas consegui e Taehyung não apareceu no meu caminho novamente.

— Por falar nele, como ele está? — Vovó perguntou enquanto colocava batatas no forno.

— Ele está bem. Tae tirou os pontos da testa e já está começando a cicatrizar, mas tem uns arranhões horríveis nas costelas que continua tratando.

— Gosto muito dele. Parece ser um bom homem.

Imediatamente me lembrei daquele dia em que vovó o viu em meu apartamento e já tirou conclusões erradas ao perceber que ele havia passado a noite comigo.

Expulsei esses pensamentos para que não ficasse envergonhada e voltei a cortar os legumes. Depois de cortados, lavei as mãos e fui para a sala assistir alguma coisa enquanto o casal se divertia cozinhando juntos. Me joguei no sofá e liguei a TV, estava passando um programa musical e eu decidi ficar vendo as performances dos artistas imaginando quando os meninos poderiam ter uma oportunidade assim.

O cheiro da comida estava delicioso e minha barriga começava a roncar, estava cedo e não havia nada pronto para que eu pudesse beliscar. E de tanto esperar, acabei caindo no sono no sofá da minha avó.

[...]

Acordei com alguns cutucões na bochecha e ao abrir os olhos vi que era meu avô. Ele segurava um prato de comida e me entregou. Já estava anoitecendo e fiquei me perguntando quanto tempo dormi e como não fiquei com dor nas costas por dormir no sofá. Vovó disse que se eu quisesse poderia passar a noite ali e de manhã voltava para casa, mas neguei e continuei comendo a comida que estava deliciosa, mesmo já um pouco fria.

Pensei em ligar para um dos meninos para que me deixassem em casa, agora que eles tinham um carro eu iria me aproveitar disso. Me perguntei quem deles poderia vir me buscar, mas decidi que tentaria a sorte ligando para qualquer um deles.

Ao acabar de comer, me despedi dos meus avós e peguei meu celular. Jimin me obrigou a colocar seus contatos nos favoritos para o caso de eu precisar de alguma coisa ou em uma emergência, disse que eu podia contar com todos. Achei uma ideia maravilhosa, pois muitas vezes cansava ficar procurando o contato e minha memória era fraca para decorar sete números diferentes.

Quando abri a lista de contatos favoritos, meus dedos foram até o número dele. Taehyung.

Esperei alguns segundos até ele atender a chamada, eu sabia que ele seria o primeiro a atender já que ele jamais ficava longe do celular.

Hari?

Jimin iria adorar saber que tenho uma paixão secreta pela voz grossa e aveludada de Kim Taehyung. Adorava ouvi-lo falar e era uma boa ouvinte apenas para apreciá-lo, parecia uma música aos meus ouvidos. Quando eu morrer, a última coisa que ia gostar de ouvir era a voz de Taehyung.

— Oi, Tae. Seria muito incômodo pedir que você venha me buscar na casa dos meus avós? Na verdade, você sabe dirigir?

Queria ter certeza.

Diferente de você, eu sou habilitado. — Ele riu — Qual o endereço?

[...]

Quando Taehyung chegou trocou algumas palavras com meu avô que esperava comigo. Quando a vovó ouviu a voz de Taehyung, correu para recebê-lo. É, ela gostava muito de Taehyung e não fazia questão de esconder isso, falava com tanto carinho com o rapaz que eu chegava a ter ciúmes. Me despedi novamente dos meus avós e entrei no carro.

Durante uma boa parte do percurso, Tae permaneceu em silêncio enquanto eu observava o caminho pela janela, sentindo o vento frio e gostoso bater em meu rosto e bagunçar meu cabelo. Não sei bem por que, mas adorava sentir o vento no rosto quando saía de carro pela noite. Eu me sentia livre e imensamente feliz com a sensação. Comecei a achar estranho o silêncio de Taehyung, estava esperando-o aparecer com alguma piadinha ou iniciar algum assunto, mas ele continuou em completo silêncio.

Comecei a encará-lo enquanto ele estava atento ao trânsito, e em sua boca estava um pirulito.

Taehyung chupava pirulitos para evitar fumar quando ficava estressado.

Ele usava calça jeans rasgadas nos joelhos e um moletom cor de verde musgo. Estava com o capuz do moletom por cima da cabeça, escondendo os fios castanhos. Taehyung tinha uma expressão séria, mais séria que o normal. Me perguntei se alguma coisa havia acontecido para ele estar tão sério e concentrado daquele jeito, já havia notado algumas vezes sua expressão mudar do nada sempre que ele via algo no celular. Nunca tive coragem de perguntar o que era, se sua mãe e irmã estavam bem, mas se tivesse alguma forma que eu pudesse ajudá-lo, eu o faria.

Quando chegamos em meu prédio, ele tirou os olhos da estrada e os direcionou para mim. Dei um sorriso e agradeci, mas quando abri a porta e estava pronta para sair, Tae segurou em meu pulso.

— Boa noite, Hari.

E me surpreendeu quando deu um beijo demorado em minha testa.

Taehyung não tinha o costume de me tratar com carinhos, apenas brincava comigo com os outros garotos e algumas vezes parecia não me querer por perto. Ele ter me dado um beijo na testa, como forma de proteção, era estranho e uma atitude que jamais fosse esperar vindo dele.

Com um sorriso tímido, lhe dei um boa noite e saí do carro.

Ao entrar em meu prédio, tentei entender o gesto carinhoso de Taehyung. Não queria que aquilo tivesse me afetado, mas me afetou mais do que gostaria. Subi para meu apartamento pelas escadas, e durante o caminho fiquei me perguntando se Taehyung era estranho ou só gostava de brincar comigo. Uma hora ele estava sério e emburrado, outra hora estava alegre e sendo gentil e carinhoso. Eu mentiria se dissesse que não gostava desse jeito dele, pois eu gostava. Isso fazia dele ser o Kim Taehyung.

Quando cheguei no meu corredor tive o desprazer de encontrar Seoyeon.

— Hari! — ela veio me abraçar.

— Oi, Seoyeon. — A abracei de volta, mesmo não querendo — Está de saída?

— Vou visitar meu noivo.

Meu coração deu uma vacilada ao ouvi-la mencionar o noivo. Era de partir o coração quando Seoyeon sorria ao mencionar Woojin, era um dos sorrisos mais sinceros que eu havia visto desde o momento em que a conheci.

Acho que ela não seja uma pessoa ruim, só parece ser mimada e inocente demais para perceber o monstro que estava ao seu lado.

— O nome dele é Woojin. — disse enquanto sorria — Gosto muito dele, sabe? Muito mesmo. Sempre que preciso ele está lá por mim, namoramos desde que tínhamos quinze anos.

— Ele foi seu primeiro?

— Em tudo.

Eu não queria continuar com aquela conversa, não queria me sentir pior do que já me sentia em esconder a verdade de Seoyeon.

— Bom, eu tenho que ir! Até mais!

— Até!

Seoyeon me deu outro abraço e desceu as escadas já que o elevador não estava funcionando. Ela acenou antes de descer.

Seoyeon parecia estar completamente apaixonada por Woojin, e eu me sentia culpada por esconder coisas que sei a respeito daquele homem. Mas tudo o que queria era ficar o mais afastada possível daquela história. Não era problema meu. Tinha de me lembrar disso.

Destranquei meu apartamento e entrei. Mesmo dormindo praticamente a tarde inteira na casa dos meus avós, estava cansada, mal via a hora de ter uma boa noite de sono. Tirei meus sapatos e me joguei no sofá, o que me arrependi imediatamente já que ele era duro. Entretanto, seria difícil me levantar dali e eu precisava de um bom banho. Desde a noite em que dormi no sofá quando Tae estava aqui, decidi que precisava urgentemente comprar um mais macio, mas ainda não havia feito isso já que ainda estava pagando o prejuízo que havia feito no carro do vovô.

Ouvi a campainha tocar e reclamei mentalmente, pelo menos foi o que pensei, pois quando me dei conta já estava xingando em voz baixa. Não estava confortável deitada, mas estava morrendo de preguiça de me levantar. Em passos lentos e preguiçosos, fui em direção à porta e a abri. Ainda xingava mentalmente a pessoa que me perturbava, mas parei no segundo em que vi Taehyung parado em minha frente.

Ele já não estava mais com seu pirulito.

— Quero que você conheça uma pessoa.

[...]

Se eu perguntasse a Taehyung para onde estávamos indo, ele com certeza não me responderia.

Já fazia alguns minutos que ele havia aparecido na minha porta e me trouxe de volta para o carro. Desde quando ele saiu do meu prédio, a única coisa que disse era de que precisava me mostrar algo e que só conseguia falar sobre aquilo comigo. Depois disso, não falou mais nada. Ficou em silêncio e de olho na estrada, como fez ao me deixar em casa.

Não conhecia o caminho pelo qual Taehyung estava indo, mas não parecia estarmos indo para um lugar muito longe. Tentei memorizar, mas com a velocidade no qual ele ia mal podia aproveitar a paisagem das ruas desconhecidas. Seu rosto continuava sério, da mesma forma como estava mais cedo. O vento agora estava mais frio e conforme batia em meu rosto deixava meus cabelos bagunçados, o que me irritou um pouco.

Tae não dirigia rápido, não rápido o suficiente para que eu ficasse com medo, mas ele parecia com pressa e desviava dos carros que vinham pela frente. Mas ainda assim me agarrei ao cinto de segurança, pois pelo olhar de Taehyung eu sabia que ele não estava totalmente sob seu controle.

Estávamos em um bairro mais humilde, via casas pequenas e subterrâneas onde as janelas ficavam quase do nível da calçada. Alguns muros estavam pichados com símbolos ou desenhos, a pintura estava desgastada ou nem existia acabamento, apenas tijolos. Em alguns becos consegui ver lixos espalhados pelo chão, ratos e baratas. Não sabia onde eu estava, mas Taehyung parecia conhecer bem o lugar. Paramos em uma rua esquisita, onde havia pouca iluminação e os prédios de ambos os lados eram velhos e com poucos andares.

Tae saiu do carro e eu o acompanhei, olhando melhor para o prédio em que ele havia me levado. Se não estivesse tão acabado, seria um lugar bonito. Havia uma recepção pequena no térreo, onde um rapaz que não aparentava ter mais que quinze anos estava sentado mexendo no celular, sem se importar com quem ia e vinha. A fachada era de uma cor parecida com menta, mas pelo desgaste a cor estava desbotada e manchas escuras de algo que eu não queria saber o que era eram visíveis por toda a parede. Dava para ver também várias janelas que davam direto para a sacada.

Quando entramos e passamos pelo rapaz que nem sequer nos olhou, fomos direto para uma escada que ficava ao lado da mesa de recepção. A escadaria era apertada, o que fez com que eu andasse atrás de Taehyung. Havia algumas luzes que piscavam, deixando o ambiente fantasmagórico e assustador, além de que as pessoas que passavam por nós não contribuíam para melhorar a aparência do local. Mulheres com cheiro de cigarro e drogas, homens com tatuagens duvidosas que acredito ter visto em um deles símbolos de uma gangue e um cheiro forte de álcool. Um pouco receosa, peguei na mão de Taehyung e ele a apertou, me olhando e sussurrou que estava tudo bem.

Estava tudo bem mesmo?

Ainda subindo as escadas e não olhando mais diretamente para mim, Tae falou:

— Acho que você vai adorar conhecê-las. Principalmente minha irmã que estava ansiosa para ver a mulher que quase desgraçou a minha vida.

— Vou conhecer sua família?

— Sim. Contei que agora somos amigos, então elas esperam que não aconteça mais nenhum acidente entre nós.

Paramos de subir quando estávamos no que deduzi ser o terceiro andar. Tae parou de frente para uma porta e estava sorrindo, mas antes de bater o seu sorriso sumiu e ele ficou olhando ao redor, como se estivesse nostálgico.

— Eu cresci neste prédio… — o rapaz pegou em minha mão e entrelaçou nossos dedos, me olhando de maneira tão intensa que quase me fez perder os sentidos — espero que goste delas.

E então ele bateu à porta onde segundos depois uma garota pouco maior do que eu a abriu dando um sorriso belíssimo para o maior que ainda segurava minha mão. O sorriso dela era idêntico ao de Taehyung. Aquela garota deveria ser sua irmã.

— Tae! — ela pulou no pescoço do mais velho sem perceber que eu estava ali também.

— Taeri, temos uma convidada.

Taeri era a versão feminina de Taehyung. Sua pele era mais clara que a de Tae, parecia que a neve a havia tocado e tingido seu corpo. As bochechas eram rosadas naturalmente e os lábios, apesar de estarem ressecados, eram rosados igual as suas bochechas. Os olhos eram de um preto escuro como uma azeitona preta e brilhantes como uma noite estrelada. E não posso deixar de mencionar seus cabelos, brilhosos e lisos, que podiam fazer qualquer um ter inveja. Eram curtos, não chegavam a bater em seu ombro e Taeri possuía uma franja que cobria parte de seus olhos.

Taeri era uma das garotas mais bonitas que eu havia visto na vida.

— É você, não é? — ela me olhou de cima a baixo — Você é mais bonita do que Taehyung havia mencionado.

O mais velho de nós duas soltou um pigarro e entrou no apartamento ainda segurando firme em minhas mãos. Fiquei envergonhada quando percebi Taeri nos olhar com as sobrancelhas arqueadas, como se estivesse cogitando a ideia de que estávamos juntos. Com esse pensamento, soltei nossas mãos. Tae pareceu não se incomodar.

O apartamento era pequeno e dava para ver a quantidade de cômodos que possuía. Havia um hall de entrada, onde deixamos nossos sapatos e notei um cabide para casacos onde também havia dois guarda-chuvas. Ao entrar para a sala vi que a única coisa que separava a cozinha da sala de estar era um balcão onde certamente era ali que a família fazia suas refeições. A decoração era escura e as luzes amarelas não ajudavam para que eu prestasse atenção aos detalhes do apartamento, mais próximo à janela que dava a varanda tinha um sofá de três lugares com uma estampa florida, uma mesa de centro onde estava o controle da tv, um celular e um cinzeiro com cigarros usados. Um deles saía fumaça, o que deu a entender que havia sido apagado fazia pouco tempo.

Na parte da cozinha ficava uma geladeira enferrujada e amarela, um fogão de quatro bocas com algumas panelas em cima, um armário embutido na parede com alguns eletrodomésticos e decorações em vários espaços. Ao lado do armário havia um corredor que conseguia ver três portas, certamente eram dois quartos e o banheiro.

Então, parada próxima ao balcão, com um vestido sem estampas e o cabelo amarrado em um coque, estava a mãe de Taehyung.

Lembro dela no dia em que estávamos no hospital após o acidente de Taehyung, mas não conseguimos conversar muito, pois tanto ela como eu estávamos nervosas com os acontecimentos. Hoje poderíamos conversar e pedir desculpas pelo que fiz.

A mulher não parecia ter mais que quarenta anos, mas eu via em seu rosto que estava cansada e triste. Apesar disso, pude perceber suas semelhanças com Taehyung, e a características de ambos que mais me chamou atenção foi a pintinha na ponta do nariz que os dois tinham.

— Mãe, esta é a Hari, você lembra dela? — a mulher se aproximou e me cumprimentou com um sorriso — Hari, essa é minha mãe.

— É um prazer poder finalmente conhecê-la melhor. Taehyung me falou muito sobre você e eu queria dizer que sinto muito pela dor que causei na senhora.

— Tae também fala muito sobre a mulher que o atropelou.

Não soube o que dizer, não sabia se seu tom era irônico ou rude.

— Você é mais bonita do que meu filho descreveu e de como me lembro. Naquele dia no hospital eu não conseguia olhar para você.

— Mãe…

— É um prazer conhecê-la também. Fico feliz que o que aconteceu ficou no passado e possamos recomeçar.

A mulher segurou em minha mão e me levou até a cozinha. Ela estava cozinhando algo, a comida estava tão cheirosa que meu estômago implorou por um pouco, mesmo que eu já tivesse comido não fazia muito tempo.

— Sente-se. Eu estava fazendo o jantar e admito que não estava esperando visitas, mas se quiser comer posso cozinhar para você também.

— Não preci…

— Ela está faminta! — uma voz feminina falou e eu logo notei que era a irmã de Taehyung que soltou uma piscadela para ele.

— E se for possível, encha o prato. — O mais velho deu uma piscadela.

Tae seguiu a irmã e sentou-se ao meu lado no balcão. A mais nova deu um sorriso para mim e foi ajudar a mãe com a comida. O Kim me olhou com um sorriso brincalhão, pois sabia que mesmo que eu não quisesse comer, eu o faria para não parecer mal-educada. Percebi que suas bochechas estavam rosadas, não sei se é pelo clima frio ou se foi por conta de as duas mulheres terem exposto que ele disse que sou bonita.

Não estava com fome, pois já havia comido na casa dos meus avós. Me sentia cansada e queria muito me deitar e dormir, já que amanhã seria um dia cheio, mas estar ali com Taehyung e sua família era um momento que eu simplesmente não podia deixar de aproveitar. Não sei o que o levou a me trazer aqui, nunca achei que fossemos próximos o suficiente para que ele me mostrasse como estava sua família mesmo depois que ele confessou estar querendo ajudá-las com seus problemas.

Lembrava muito bem das vezes em que Taehyung havia mencionado a sua mãe e sua irmã, sobre como elas eram preciosas e queria dar a elas o conforto que mereciam. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo naquela família e do porquê ambas pareciam cabisbaixas, mesmo que dessem pequenos sorrisos e risadas que não pareciam verdadeiras, mas algo me dizia que eu não iria gostar de saber. Tae nunca me deu detalhes sobre a sua vida pessoal, nem sei o quanto ele pode ter contado aos meninos, mas ele parecia fechado demais para ter contado não muito mais do que eu sabia. Seja o que for que estivesse acontecendo, ele deveria saber que tem a mim e aos meninos para apoiá-lo.

Enquanto a senhora Kim cozinhava, a conversa fluiu normalmente. Contei a Taeri sobre meus planos de faculdade que eram limitados e sobre como era viver nos Estados Unidos, ela pareceu muito interessada e disse que pretendia um dia poder estudar no exterior. Taehyung deu um sorriso ao ouvir isso e alfinetou sobre ela estar trabalhando ao invés de estudar para realizar os seus desejos. Aquilo quase acabou em uma briga de família que eu intervir quanto antes.

— A casa está com um cheiro bom. — Ele disse depois que sua mãe serviu o jantar.

— Papai passou o dia fora… — O vi revirar os olhos quando sua irmã falou do pai, o que achei curioso — Então aproveitamos para arrumar a casa. Mas um pouco antes de você chegar ele estava aqui, fumou um cigarro e depois foi embora.

— Espero que não volte mais!

Tae se servia enquanto eu observava os irmãos conversarem. Depois de ter se servido, ele colocou comida em meu prato e me entregou dando um sorriso.

— Taehyung! — Sua mãe o repreendeu.

— Não percebe como o clima da casa muda? A casa está arrumada, a comida está sendo bem servida e vocês duas estão tranquilas. A última vez que vi essa casa assim foi um pouco antes de me mudar. Isso faz quanto tempo? Três anos?

Taehyung estava começando a ficar alterado e me perguntei se teria sido uma boa ideia ter me trazido até aqui. Não queria presenciar uma discussão familiar e pelos olhares que mãe e filha trocaram, elas também não queriam. Comi minha comida devagar, esperando que o clima tenso que se instaurou mudasse ou que Taehyung notasse minha presença e não começasse a discutir com sua família enquanto eu estava ali.

— Você tem que entender que ele ainda é meu pai, marido da nossa mãe… — Taeri disse enquanto cutucava sua comida, sem ter dado uma única garfada.

— E é por isso que vocês aguentam todo o abuso? Só porque ele é um pai e marido não significa que seja bom e digno de perdão. Até quando vão se sujeitar a isso?

— Taehyung, em respeito à sua amiga Hari, devemos encerrar essa conversa aqui. Não queremos que nossa convidada fique desconfortável com os problemas da família, creio que ela tem os próprios e não precisa ser plateia do problema dos outros.

Um silêncio se instaurou no ambiente, durante poucos minutos ninguém falou mais nada. Taehyung olhava para a mãe com um semblante sério, enquanto a mulher também o olhava com o rosto levantado e a expressão severa, o típico olhar de mãe. Taeri não os olhava diretamente, apenas mexia a sua comida de um lado para o outro enquanto levantava o olhar para os dois, vez ou outra. Enquanto a mim, não ousei levantar o olhar uma única vez, mas sabia que o filho mais velho e a mãe não paravam de se encarar.

— Hari, querida, o que você estava falando mesmo sobre sua vida nos Estados Unidos?

Então me esforcei para que o clima ruim fosse embora.

Por mais que eu estivesse cheia, comi toda a comida que Taehyung insistia em colocar em meu prato. Sua mãe e sua irmã eram divertidas, mesmo que houvesse tido um desentendimento durante o jantar, pude ver que os três eram unidos. Queria saber mais sobre a relação de Taehyung com o padrasto, mas esse era um assunto delicado e esperaria que ele me contasse quando sentisse confortável. Fora isso, foi muito importante para mim a confiança que ele teve em me trazer até aqui. Por um minuto, o invejei por ter contato próximo com a mãe mesmo não morando mais na mesma casa, eu queria poder reencontrar a minha quando quisesse da mesma forma que ele podia.

Falamos sobre o acidente de Taehyung, e ela me garantiu que estava tudo bem e que até então o filho se recuperava bem. E eu podia concordar com isso, Tae estava ótimo, com exceção de alguns arranhões que já cicatrizavam.

Quando finalizamos o jantar me ofereci para ajudar a senhora Kim com a louça, mas ela recusou minha ajuda, disse que não se importava em lavar tudo sozinha. E foi que enquanto a mulher colocava a louça na pia, eu consegui ver algo que eu não havia notado antes.

Escondido embaixo dos braços onde a manga de seu vestido cobria, havia hematomas. Três marcas roxas que circulavam os braços, como se mãos fortes e grandes tivessem apertado aquela região. E naquele momento passei a analisar melhor a mulher. Em sua bochecha esquerda estava um arranhão, não era feio, mas a marca era visível o suficiente. O canto de seus lábios tinha uma ferida, essa estava menos visível que a da bochecha. Passei meu olhar para Taeri e ela não estava diferente, mas em seu olho havia uma marca levemente roxa, o que deu a entender que aquilo havia sido feito faz algum tempo.

Como fui tão estúpida por não notar aquilo?

Encarei Taehyung e ele assentiu com a cabeça, confirmando todas as minhas teorias. Era por isso que ele havia me trazido aqui. Ele indiretamente estava me pedindo ajuda, ele queria salvar a mãe e a irmã.

— Mãe… — ele se aproximou da mulher — está ficando tarde e preciso deixar Hari em casa, certo? Mas não se preocupe, logo vou estar de volta e…

— Não!

A mulher gritou, assustando tanto a mim como aos filhos.

— Não precisa voltar aqui, Tae! Pode ir para casa, você está cansado e merece descansar!

— Mãe…

— Taehyung! — a mulher colocou as mãos no rosto do moreno e deu um sorriso sereno — Eu vou ficar bem. Se qualquer coisa acontecer, prometo que entrarei em contato.

— Você nunca liga quando algo acontece! — Taehyung deu um beijo na bochecha boa da mãe e outro na testa da irmã. — Vamos, Hari!

— Foi um prazer conhecer vocês.

Eu disse antes de sair do apartamento, dando um abraço nas duas.

— Por favor, não deixe que o Taehyung faça nenhuma besteira. — Taeri sussurrou em meu ouvido.

Quando a soltei, olhei bem para seu rosto, vendo uma expressão preocupada e assustada. Me perguntei o que mais elas temiam, o que Taehyung poderia fazer que as deixava tão assustadas. Tentei dar um meio sorriso e assenti.

— Hari! — Tae me chamou.

O caminho até o carro foi silencioso e lento, não ousei dizer nenhuma palavra até que Taehyung o fizesse. Ele estava com a expressão séria que eu não gostava, aquela mesma expressão que ele usava todas às vezes em que foi rude comigo, me fazendo pensar que de alguma forma ele ainda guardava rancor pela forma como nos conhecemos. Mas agora eu sei que essa atitude nunca foi direcionada para mim, essa era a forma que ele encontrou para se manter no controle.

Quando entramos no carro, Tae não ligou imediatamente, passou cerca de cinco minutos olhando para um ponto fixo enquanto abria a boca algumas vezes, como se quisesse dizer alguma coisa, mas nada saia. Olhei pela janela do carro para o andar em que o apartamento da mãe de Taehyung ficava e a vi olhando para a janela.

— Ela está olhando para cá.

Entendendo o que eu queria dizer, Tae deu partida no carro e saiu do campo de visão da mãe. Não fomos para longe, ele parou o carro em um beco que ficava na rua de trás. Por mais que eu estivesse num lugar esquisito, tarde da noite e não havia nenhuma pessoa pelas ruas, eu não estava com medo.

— Eu prometi… — Taehyung começou depois que desligou o carro — Eu prometi, mas acho que não vou conseguir cumprir essa promessa.

Sua voz estava embargada, os olhos começaram a ganhar um brilho por conta das lágrimas. Em poucos segundos Taehyung soltou-as, derramando várias gotículas que molharam seu rosto inteiro. Meu coração se apertou naquele momento, como se alguém estivesse o esmagando lentamente. Nunca havia visto Taehyung chorar.

— Não posso mais ficar parado enquanto a vejo sofrer. Minha maior vontade é de…

O rapaz colocou o indicador na boca e o mordeu, como se quisesse segurar as lágrimas que viriam com ainda mais força. Coloquei minha mão em seu ombro, dando um leve aperto. Acho que ele se sentiu reconfortado, pois ele procurou minha outra mão e a segurou, apertando com um pouco de força. Não doía, mas ele apertava o suficiente para que fosse um pouco desconfortável.

— Eu não quero mais guardar isso só para mim.

A confissão saiu como um pedido de socorro. Não fazia ideia de quanto tempo isso acontecia, há quanto tempo ele escondia a realidade de como estava sua família. Assim como ele havia apertado a minha mão, eu apertei a sua. Taehyung chorava e soluçava enquanto escondia o rosto em nossas mãos unidas, ele estava totalmente abalado. Não era justo que aquilo estivesse acontecendo, não era justo que ele passasse por tudo isso sozinho. Em seu lugar, também não sabia o que faria. Sua mãe tinha uma grande dependência emocional no marido, acredito que financeira também. Não ousei perguntar se ele já chegou a ver as violências que as duas passavam, mas acreditava que não, já que o conhecendo, sabia que não teria deixado passar batido.

Me aproximei mais de Taehyung e o abracei, passando a mão em seus cabelos e o apertando forte contra mim. Ele correspondeu, pois envolveu seus braços em minha cintura e me apertou. Seu rosto estava enterrado em meu pescoço e ele chorava incontrolavelmente, molhando meu ombro e me fazendo cócegas com a sua respiração tocando em pontos sensíveis de minha pele.

Em um movimento rápido, Tae me soltou e segurou em meus ombros, me olhando de maneira séria.

— Hari, você tem que me prometer que não vai comentar com ninguém sobre isso.

Eu assenti.

— Lembra quando lhe falei que minha mãe não estava bem e não quis dar mais detalhes? É que… eu tenho tanta vergonha. Vergonha de mim. Eu como filho deveria protegê-la e cuidá-la, mas nem isso estou fazendo. Como posso ajudar alguém que não quer ser ajudada?

Ele entrelaçou nossos dedos, ficando um bom tempo focado ali, em nossas mãos unidas. Não queria admitir, mas tê-lo ali comigo, segurando a minha mão e buscando meu apoio em um momento de fragilidade, me fazia ter certeza de que tudo estava certo. Eu sentia que podia protegê-lo, apoiá-lo e confortá-lo.

— Você viu, não viu? Os hematomas no rosto e nos braços. Mamãe tenta esconder com maquiagem e roupas que cubram essas áreas, tenta esconder de mim. Isso acontece desde um pouco antes de nos conhecermos, o dia do acidente foi o dia em que descobri o que estava acontecendo.

Então tudo começou a fazer sentido.

— Ela me ligava todos os dias, mas do nada passou a me enviar somente mensagens dizendo que estava bem e não atendia minhas ligações. Aquilo não era normal, e eu notei que havia algo errado. Naquele dia fui visitá-la e a encontrei chorando no meu antigo quarto. Mamãe tentou esconder-se de mim, tentou esconder tudo de mim.

A voz de Taehyung falhava e logo suas lágrimas voltaram a cair, as enxuguei e tornei a abraçá-lo. Minha cabeça estava encostada em seu ombro, nossas mãos ainda estavam juntas e os dedos entrelaçados, Tae passou o braço pelo meu ombro e fazia carinho na região enquanto continuava a falar.

— Quando parei para prestar atenção nela vi os hematomas, vários. Nesse dia descobri que meu padrasto, o homem que eu amava e chamava de pai, havia voltado a beber. Quando eu era mais novo, ele bebia todos os finais de semana, mas nunca foi violento com nenhum de nós. Era algo comum em nosso cotidiano, sempre sabíamos que ele iria beber, mas jamais foi um problema muito grande. Até que ele percebeu que estávamos passando por dificuldade e precisava parar de beber e cuidar da nossa família.

Ele parou por um momento, engolindo em seco.

— Não tenho certeza de quando começou, a quanto tempo minha mãe e minha irmã sofrem agressões físicas, mas ele voltou a beber e está pior do que antes. Parece que ele está bebendo por todos esses anos em que ficou sem tomar um único gole. Antes fosse só a bebida, além de beber ele está viciado em apostas, gastando o pouco dinheiro que minha família tem com essas apostas e prostitutas. Esse filho da puta está traindo minha mãe!

A raiva em sua voz era evidente, tanto que Tae acabou por apertar um pouco meu ombro ao mencionar as traições, mas nada que me machucasse. Segurei mais forte em sua mão, esperando que ele continuasse enquanto eu enxugava algumas lágrimas que caiam.

— Isso já é ruim o suficiente, não acha?

Forçou uma risada.

— Quando mamãe não faz o que ele quer, ele a espanca. Espanca muito. Você viu os machucados. No dia em que descobri, fiquei tão puto que a minha intenção era matá-lo. E eu teria feito isso, teria e não teria arrependimentos. Mas parece que a vida está contra meus planos, pois fui literalmente jogado na direção de alguém que pode me fazer repensar todas as minhas atitudes antes de cometer algum absurdo. Fico pensando se vou decepcioná-la, se ela vai sentir medo de mim. Não quero que ela me veja como um monstro.

Seus olhos repousaram em mim, me olhando tão fixamente que eu não consegui desviar. Seus dedos agora faziam carinho em meu ombro, me dando arrepios e uma sensação estranha na barriga, algo que acho que nunca havia sentido quando estava próxima de alguém.

Eu queria fazer cocô.

— Eu teria o matado se você não tivesse me atropelado, e teria o matado se você não tivesse sido insistente em permanecer na minha vida. Todas às vezes que visito minha mãe e irmã e vejo hematomas novos nas duas, saio daqui pronto para encontrá-lo e matá-lo da pior maneira possível. E é aí que penso em você.

O meu coração começou a acelerar, o incômodo na minha barriga aumentou e eu senti que meus olhos estavam marejados. Aquilo havia mexido comigo mais do que eu gostaria de admitir, e não sei por que comecei a chorar tanto enquanto Taehyung me olhava e acariciava meus ombros. Era triste e, ao mesmo tempo, reconfortante, saber que ele pensava em mim nos seus piores momentos foi como se alguém tivesse socado meu estômago para uma verdade que eu não queria admitir.

Taehyung mexia comigo, mexia de um jeito que eu não queria.

— Por que eu? — perguntei.

— Não sei. Para ser sincero, você não tem nada de especial. Mas me traz confiança. Desde aquele dia em que nos encontramos e você me salvou. Acho que você tem uma habilidade em salvar minha vida sempre que preciso.

— Você se põe muito em perigo sem necessidade.

— Gosto de me aventurar.

— Pois pare! Você sempre me mata de susto todas às vezes em que estamos juntos, fico muito preocupada com o que pode acontecer com você.

Dei uma batidinha em seu ombro.

— De verdade, eu sou sempre grato por todos os momentos em que você esteve comigo e me salvou. Sempre penso em como você ficaria chateada comigo por ser um assassino. Sei que não somos muito próximos, mas me sinto seguro e melhor ao seu lado. Ao invés de imaginar aquele desgraçado morto, minha mente cria a imagem de você chorando, assustada e se afastando de mim. A última coisa que quero é que você me deixe. Por mais que seja um esforço dizer isso, eu preciso de você.

— Eu jamais deixaria você!

— Será?

Seu tom foi brincalhão, mas logo ele voltou para sua expressão séria.

— Quero fazer alguma coisa pela minha mãe, mas ela é apaixonada por aquele homem e isso me deixa louco. Pensei várias vezes em chamar a polícia, mas prometi que não me meteria. É nesses momentos que odeio ser um cumpridor de promessas.

— O que os meninos têm a dizer sobre isso? Eles sabem?

Nunca chegamos a falar abertamente sobre sua vida e seus problemas, mas acreditava que algo como aquilo pelo menos algum dos meninos devia saber. Não imaginava Tae passando por aquilo só, já era horrível demais ter que passar por isso, imagine ficar sozinho sem nem mesmo ter alguém para que pudesse conversar ou pedir socorro. Pois Taehyung prometeu a mãe de que não faria nada, mas nunca prometeu que outros pudessem interferir.

— Nenhum dos meninos sabe. Não quero que os outros saibam da vergonha que é um filho ver sua mãe morrendo pouco a pouco e ele ficar parado, apenas olhando.

— Mas você me contou.

— Como eu disse várias vezes hoje, eu estranhamente confio em você. Pode ser porque você não faz parte do meu convívio diário. Pelo menos não como os meninos, já que você está sempre presente em nossa casa agora. É mais fácil conversar e desabafar com pessoas de fora do que com os que convivem conosco.

Taehyung se ajeitou no banco do carro, de modo que ele pudesse ficar de frente para mim e me olhar diretamente nos olhos.

— Algumas vezes agradeço por você ter me atropelado. Eu não aguentaria passar por tudo isso sozinho.

Sua mão passou pelas mechas de cabelo que estavam na frente dos meus olhos, ele colocou uma das mechas rebeldes atrás da minha orelha e passou os dedos pela minha bochecha, indo até meu queixo e o erguendo para que eu pudesse olhar diretamente para ele. Não estava acostumada com toda aquela demonstração de carinho vindo de Taehyung, tudo era estranho e uma novidade. Mas eu estava gostando, estava gostando muito.

Queria receber aqueles carinhos e ver aquele lado dele mais vezes, queria que ele me abraçasse quando as coisas estivessem ruins e queria que ele segurasse minha mão e soubesse que não estava sozinho.

— Foi por isso que me trouxe aqui.

— Sim.

Em um minuto de silêncio, tentei juntar e guardar todas as informações que recebi essa noite. Me senti péssima por Taehyung, por não notar os hematomas em sua mãe desde o momento em que a vi. Então mais lágrimas caíram. Tae passou o polegar em minhas bochechas e enfiou os dedos em meus fios de cabelo, segurando minha cabeça enquanto passava os polegares pelas minhas bochechas úmidas.

— Você é a única pessoa a quem confiei isso.

— Taehyung, você não precisa se envergonhar. Você não é a primeira pessoa a estar nessa situação e nem será o último. Está tudo bem não saber o que fazer, eu também estaria perdida e com medo.

— Eu quero fazer alguma coisa.

— E vamos fazer!

Ele arqueou as sobrancelhas, me olhando com curiosidade.

— Você prometeu que não iria se envolver, mas eu não prometi nada.

— Minha mãe e Taeri são pessoas difíceis. Você viu no jantar de hoje, se você se envolver nisso pode ser que elas não sejam mais receptivas.

— Eu aguento.

— E o que você quer fazer?

— Vamos tentar convencê-las a prestar queixa. Ao que parece, elas são muito dependentes emocionais do seu padrasto. Sair de uma situação dessas é extremamente difícil, temos que ser muito pacientes com elas.

— Você já passou por um relacionamento assim? — ele me olhou curioso — Sendo dependente emocional de alguém?

Engoli em seco. Como eu poderia ajudar alguém a superar a dependência emocional sendo que nunca namorei?

— Nunca namorei.

— Sério?

— Mas minha mãe passou alguns anos sofrendo e chorando pelo meu pai. Foi difícil para ela aceitar que ele havia ido embora e seguir em frente.

— O homem que minha mãe amou foi embora.

— O pai da sua irmã se foi. Elas estão de luto.

— E como você acha que vamos conseguir fazer com que elas vejam a realidade e prestem queixa? Vai ser a coisa mais difícil que já fiz na vida. — Lamentou.

— Acho que o primeiro passo é fazer com que elas entendam que existe uma vida fora a que vivem. Elas podem ter milhões de possibilidades de vida longe dele, sem precisar depender dele.

— No dia em que ela o denunciar, prometo que lhe darei um beijo!

Aquilo me pegou desprevenida, e Taehyung percebeu. Rapidamente ele deu um sorriso sem graça e beijou minha bochecha.

— Na bochecha.

[...]

Por mais que fosse tarde e à noite começava a ficar mais escura e as ruas desertas, eu não me importava de estar andando por aí com Taehyung. Achei que ele ainda precisava de uma companhia amiga depois das declarações de hoje, e eu estava certa, pois ele insistiu em que ainda não estava pronto para me deixar em casa, queria andar um pouco para se sentir melhor depois de expor tudo o que estava dentro dele. Mesmo que eu tentasse, não conseguia imaginá-lo cometendo as coisas horríveis que disse. Taehyung parecia ser uma pessoa boa demais para fazer isso.

Estávamos andando em uma pista de skate, a mesma pista em que Yoongi me deu um selinho pela primeira vez. O carro estava estacionado um pouco mais a frente e Tae e eu nos sentamos em um banco em frente a uma loja de conveniência que era 24 h. A tensão entre nós dois ainda não havia passado, depois de todas as coisas que ele disse para mim, ter confessado que pensava e confiava em mim para contar algo tão pessoal, eu ainda estava absorvendo tudo o que foi dito e exposto.

Mas eu não queria ir para casa. Queria continuar ali com ele. Se pudesse, passaria a noite inteira ao seu lado para garantir que ele estaria bem.

Taehyung estava contando que gostava de fazer os amigos rirem quando estavam desmotivados ou tristes, assim como também gostava de irritá-los de vez em quando. Seu sorriso estava enorme agora, e eu me sentia bem por poder vê-lo sorrir e gargalhar outra vez. Eu gostava de vê-lo verdadeiramente bem e alegre.

— Acho que naquela conveniência vende sorvete, você quer?

Me perguntou enquanto olhava para o estabelecimento.

— Jantei duas vezes essa noite e você continua me oferecendo uma sobremesa?

— Acredito que ainda tem espaço no seu estômago.

— Você acha que eu tenho um buraco negro aqui dentro? — coloquei as mãos em minha barriga e fiz uma careta — Pode ser que tenha, pois estou com vontade de tomar um sorvete. Mas você não acha que está frio para tomar algo gelado?

— Não existe ocasião para um sorvetinho.

Tae pegou em minha mão e atravessamos a rua em direção à conveniência. Era um lugar pequeno, mas do lado de fora estavam duas mesinhas com quatro lugares e na mesa havia um guarda-sol. Ao entrarmos já vimos o caixa, onde uma mulher assistia televisão enquanto comia lámen. Fomos em direção aos fundos da loja e lá estavam os freezers onde havia sorvetes, bebidas e outros congelados.

— Você me chamou, você paga.

Taehyung assentiu e mexeu nos bolsos, procurando sua carteira. Ao achar, ele fez uma careta e depois olhou para mim com um sorriso amarelo.

— Só tenho dinheiro para comprar um picolé.

— Nós podemos dividir. — Tae abriu o freezer e remexeu alguns picolés.

— Que sabor você quer?

— O que você preferir está bom. — Ele deu outro sorriso e pegou um picolé sabor uva.

Fomos até o caixa, onde a senhora ainda estava assistindo e comendo seu lámen que parecia apetitoso. Na TV estava passando algum drama que eu não conhecia, mas um dos atores era o Seo Kang Joon. A mulher nos olhou aborrecida quando tiramos sua concentração da TV, ela resmungou algo que eu não consegui compreender quando viu que íamos passar apenas um picolé barato de fruta. Tae aproximou-se do meu ouvido e disse: “Que idosa rabugenta!”, o que me fez rir.

Quando voltamos para a pista de skate, nos sentamos no mesmo banquinho de frente a conveniência e a mulher revirou os olhos ao nos ver pela vidraça.

— Ela é um amor, não é? — eu disse.

— Um anjo! — Taehyung abriu o plástico e me ofereceu — A primeira lambida é sua.

Peguei o picolé e o mordi, fazendo uma careta, pois estava muito gelado e meus dentes eram bem sensíveis.

— Que gulosa! Eu disse para lamber, não morder! Esse negócio está gelado e duro.

No mesmo instante, coloquei as mãos na minha boca tentando conter o riso, mas foi impossível. Tae soltou uma gargalhada quando entendeu o motivo de eu estar rindo.

— Que garota impura!

— Foi você quem falou coisas com duplo sentido.

— Sua cabeça é maliciosa, sua safada! Você mordeu e ainda assim conseguiu se lambuzar.

— Estava gelado, babei.

— Eca! O clima já está frio e aquele freezer estava congelando, logicamente esse picolé ia estar duro e muito gelado, por isso disse para lamber.

— Mas não ia ser nojento de todo jeito? Eu não queria lamber.

— Pois agora vai lamber!

Ficamos revezando o picolé durante um tempo, e mesmo achando a situação estranha eu dava lambidas. Era um gosto bem artificial de uva, mas era gostoso. Taehyung vez ou outra ria, lembrando da conversa anterior. Quando o picolé acabou, ele foi até uma lixeira e ao voltar deu uma gargalhada alta.

— Seu queixo e sua boca estão completamente sujos. Está parecendo uma criança.

— Eu não costumo dividir picolés assim desde quando eu era criança, sabe. Esse picolé estava todo babado, parecia que eu havia beijado você.

Eu disse enquanto limpava minha boca. Taehyung se aproximou e ficou de frente para mim, em pé.

— Trocamos saliva sem ser através de um beijo. Gostou?

— Ah, eu amei!

Depois de andarmos por mais alguns minutos pelo parque, decidimos que já era tarde e eu precisava ir embora. As ruas já estavam vazias, pelo menos nos bairros mais afastados do centro e em ruas residenciais. Havia poucos lugares como bares, baladas e restaurantes que tinha um movimento considerável de pessoas, mas por amanhã já ser segunda-feira muitas pessoas estavam em suas casas prontas para dormirem e iniciarem mais uma semana. Taehyung dirigia rápido, já que não havia movimentação e pelo horário era permitido ultrapassar os sinais vermelhos. Ouvíamos Birds do Imagine Dragons e cantávamos em plenos pulmões.

Aquele estava sendo um dos melhores momentos da minha vida. As janelas estavam abertas e o vento bagunçava meus cabelos e eu ria todas às vezes que os fios entravam em minha boca enquanto eu estava cantando. Taehyung cantava junto comigo de uma forma desengonçada, o inglês arranhado e em notas altas desafinamos de propósito. Eu estava feliz e me divertindo, como fazia muito tempo que eu não me divertia daquela maneira.

Passamos um bom pedaço andando pela cidade, ouvindo música, cantando e sentindo o vento bagunçar nossos cabelos e arrepiar nossos corpos. Acho que já era quase uma e meia da manhã quando Taehyung parou em frente ao meu prédio, mas quando ele desligou o carro eu não saí. Ficamos rindo e nos olhando, ainda animados com o nosso incrível passeio de carro.

— Você realmente gosta do Yoongi, Hari?

Ele perguntou de repente.

— Como assim?

— Você gosta dele? Está apaixonada por ele?

Tae me olhava sério, concentrado em minha resposta.

— Acho que estar apaixonada é algo muito forte. Não vou mentir, tenho sentimentos profundos e intensos quando se trata do Yoongi. Então, sim, eu gosto dele.

Ele piscou e deu um meio sorriso, assentindo com a cabeça.

— Eu só queria saber.

E antes que eu fosse embora, ele se aproximou e beijou minha testa. Mas senti algo diferente naquele beijo.

Taehyung passou longos segundos naquele beijo, como se fosse mais que uma despedida de boa noite. Quando ele se afastou, sua mão veio até minha bochecha, onde ele acariciou devagar e com carinho. Seus dedos estavam aninhados em meu cabelo e Tae olhava para mim de maneira triste. Fiquei ofegante, sem saber se me afastava ou permitia que ele continuasse com aquele contato. Então notei que nossos rostos estavam muito próximos.

Eu sentia sua respiração em meu rosto e percebi que ele se aproximava devagar, umedecendo os lábios. Me amaldiçoei, pois imitei seus movimentos, olhando diretamente para sua boca, que naquele momento estava muito convidativa.

Seu rosto estava chegando cada vez mais próximo e eu estava parada, apenas esperando o que viria a seguir, e inconscientemente eu queria aquilo. Seus lábios estavam a centímetros dos meus e seus olhos estavam fechados, apenas esperando uma atitude própria ou minha para finalmente iniciarmos aquele beijo que tanto ele como eu queríamos. E foi só quando seu nariz encostou no meu que fui trazida de volta à realidade e controlei meus impulsos.

— Boa noite, Taehyung.

E saí do carro.


Notas Finais


Gente não dá, eu amo eles demais aaaaaffff

Espero que esse capítulo tenha sido do agrado de vocês, pois eu gostei tanto de escrever chega fiquei com o coração quentinho quando terminei. Até o momento, esse é o que eu mais gosto ♥♥♥

O que acharam????

Atualizando que na semana que vem minhas aulas da faculdade voltam, então PODE ser que ocorra de eu mudar a frequência de atualizações da fanfic viu, podendo ficar fixo aos finais de semana.

É isso, um beijão!!!


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