História I Need U (Kim Taehyung) - XXVI - Yoongi

Olhar para aquelas alianças me davam expectativas, pois mesmo que Hari e eu estivéssemos namorando oficialmente, ainda sentia que precisava daquilo para que tornássemos um relacionamento mais sério.

Queria muito fazer as coisas da maneira correta, da maneira que Hari esperava que fosse um relacionamento. Ser o primeiro homem na vida de uma mulher requeria uma responsabilidade enorme, pois qualquer coisa que acontecesse ficaria marcado para sempre em sua vida e traria consequências para relacionamentos futuros. Não que eu esperasse que Hari teria relacionamentos futuros, tinha o desejo de ser seu primeiro e único.

As nossas alianças eram prateadas e finas, e no meio mandei personalizar cada uma. A dela era o sol e a minha era a lua. Vi esse modelo na internet e achei belíssimo, pois em uma de nossas conversas por mensagem, ela me contou ser fascinada pelo pôr-do-sol, já eu era um amante da lua.

Havia atrasado na reserva de nossa mesa, pois o dia que escolhi estava lotado e foi difícil conseguir a reserva com a paisagem para o Rio Han. Felizmente, após me humilhar e orar para inúmeros Deuses diferentes, um casal cancelou sua reserva e o restaurante me ligou informando da nova vaga disponível. Claro que não perdi tempo e aceitei, pois não queria decepcionar Hari, já que ela mostrou estar bastante animada para conhecer o Le Da.

Conversei com Seokjin para reservar o carro naquela noite, pois iria buscar Hari em casa e não pretendia beber, então tudo estava planejado para ser o melhor encontro que eu e Hari já tivemos na vida — apesar de eu suspeitar que aquele também fosse seu primeiro encontro —.

Esperava que ela visse meu esforço para que nosso relacionamento desse certo, imaginava que Hari estivesse cheia de dúvidas e de incertezas, e eu queria que ela não tivesse tais sentimentos. Iria garantir que se sentisse amada, acolhida e protegida, pois não queria plantar dúvidas e desconfortos. Enquanto dirigia, minhas mãos soavam no volante e xinguei mentalmente o fato de eu estar muito nervoso.

Não sei por qual motivo me impressiono com isso.

Quando tinha quatorze anos, fui diagnosticado com ansiedade e fobia social, desde então tenho tratado isso e posso dizer que estou visivelmente melhor e quase que recuperado. Mas em momentos como esse, minha ansiedade atacava, me obrigando a parar por um momento para recompor a respiração e o suor frio. Não faria isso agora, ainda estava um pouco longe da casa de Hari e iria odiar que ela me visse de tal maneira. Antes de subir para o seu andar, iria controlar essa maldita respiração.

Foi a primeira coisa que fiz assim que cheguei em frente ao seu prédio.

Tô aqui de frente, subo já

— Eu

Espera aí, ainda tô me arrumando!!!

Quando eu terminar aqui aviso

— Hari

Foi o momento que eu precisava para me recompor.

Tomei um grande gole d’água na garrafa que sempre carregava comigo quando dirigia e fiz o exercício de respiração que a psicóloga sempre fazia comigo quando chegava no consultório. Não era tão efetivo em algumas situações, mas acalmava um pouco. Após estar com a respiração regularizada, enxuguei na calça o suor que ainda estava em minhas mãos. Não deixaria nenhum vestígio de que eu estava nervoso.

Não demorou nem cinco minutos até Hari me mandar mensagem dizendo que estava descendo, não me dando nem a oportunidade de buscá-la em seu apartamento e lhe entregar o buquê de girassóis que havia comprado.

Saí do carro quando a vi atravessar a rua, mas me engasguei quando a vi exuberantemente linda.

— Você está bem? — ela disse enquanto ria.

Cho Hari estava a coisa mais linda que eu havia visto em toda minha vida. Não que não fosse bonita nos outros dias, pois ela conseguia ser linda todos os dias. Mas neste momento, em específico, nunca a vi tão elegante, encantadora e sedutora.

— Você está…

Me faltavam palavras para descrever o quão incrível aquela mulher estava.

— Linda? Deslumbrante? Maravilhosa? — Hari fazia poses enquanto sugeria adjetivos para si mesma.

— Sim…

A olhei de cima a baixo, memorizando aquela visão. Hari usava um vestido vermelho justo que ia até seus joelhos, as alças eram fininhas e o decote em V chamava muito minha atenção, mas não era exagerado. Usava saltos, mas ainda assim ela conseguia ser bem mais baixa que eu. Em seu pescoço estava um colar com uma pedrinha, linda e delicada como ela. Os cabelos estavam amarrados em um coque elegante, revelando brincos pequenos e redondos. Sua maquiagem era leve, mas soube que Hari foi muito ousada quando passou um batom vermelho em seus lábios. Batom esse que ficaria borrado até o final do nosso encontro.

— Você também está lindo.

Desci o olhar para mim e me senti desarrumado comparado a ela. Não tinha muitas roupas sociais e elegantes, então usava uma camisa branca social, calça de linho preta e um sapato social que consegui nas coisas de Hoseok. E para completar, joguei meus cabelos para trás e tirei meus piercings da orelha.

— Para você. — Lhe entreguei o buquê com os girassóis e Hari abriu um enorme sorriso, agarrando as flores como se fosse a coisa mais preciosa que havia recebido na vida.

— São lindas.

Hari se aproximou lentamente de mim e me deu um beijo, um beijo leve e sem segundas intenções. Foi rápido, não tive tempo nem de colocar as mãos em sua cintura.

— Vamos? — ofereci o braço e a levei até a porta do passageiro, abrindo-a em seguida e indicando para que a bela mulher ao meu lado entrasse.

Ela riu.

— Você está tão cavalheiro.

— Eu sou cavalheiro. — Roubei um beijo.

Me obriguei a ficar olhando para o percurso enquanto dirigia, mas a mulher ao meu lado me deixava desconcentrado. Queria estar a todo momento apreciando a sua beleza, beijando seus lábios e dizer que a amava. Talvez dizer que o que sinto seja amor possa ser um pouco de exagero, pois amor não é um sentimento que vem do nada, precisa ser conquistado e construído. E minha meta era construir um amor com Hari.

Sem ela perceber, coloquei a mão no bolso da frente da minha calça, conferindo se a caixinha com as alianças estava ali. Tinha medo de perdê-las, pois seria sinal de um fracasso iminente. Não iria fracassar naquela noite, iria fazê-la ser inesquecível de um jeito bom.

— Você está muito pensativo. — Ela disse, me tirando dos meus devaneios.

— Estou planejando para que hoje tudo saia perfeito.

— Só de estar com você se torna perfeito. — Isso aqueceu meu coração de uma forma impossível de escrever. Não consegui controlar a quentura que subiu até minhas bochechas e a palpitação acelerada.

— E você está cheia de elogios.

— Estou feliz. — Hari não olhava para mim. Ela estava encostada no banco, olhando para a janela com um sorriso no rosto — E não vou mentir dizendo que não estou nervosa, pois estou. Passei tanto tempo pensando em nosso encontro, sem saber o que vestir que acho que exagerei.

Percebi seu olhar em mim e engoli em seco, me sentindo envergonhado pela minha roupa.

— Não se preocupe com isso, você está maravilhosa! Eu, que não tenho roupas adequadas para a ocasião, estou me sentindo desarrumado perto de você.

— E mesmo assim você consegue ser absurdamente bonito.

Hari não era o tipo de pessoa que soltava elogios, então me sentia feliz com aquelas atitudes inesperadas.

A noite estava um pouco gelada, pois o outono estava chegando. Hari usava um cobertor fino, não era o suficiente para aquecer, mas isso não importava já que estaríamos aquecidos do lado de dentro com a vista incrível do Rio Han.

As ruas estavam mais movimentadas que o normal, o que resultou em um caminho mais demorado que o costume. Era final de semana e estávamos de folga, por isso fiz questão de buscá-la justamente no horário em que teríamos o vislumbre do degradê noturno com o adeus do sol. Hari olhava para a janela maravilhada, então me senti satisfeito por fazê-la agraciar a paisagem.

Quando chegamos, a reação maravilhada e brilhante bem expressa em seu rosto fez com que somente aquela visão valesse a pena pela noite inteira. Se as coisas não saíssem como eu havia planejado, aquele sorriso teria sido o suficiente para fazer com que a noite fosse perfeita.

Estaríamos em um lugar reservado, já que nossa mesa ficava mais distante das outras e tinha visão privilegiada do Rio Han. Hari estava maravilhada com tudo.

— Espero que você goste de frutos-do-mar. — eu disse enquanto afastava a cadeira para que ela se sentasse.

— Eu amo.

Com a reserva, também pude escolher a dedo toda a nossa refeição e esperava do fundo do meu coração que fosse do agrado de Hari.

— Confesso que não estou acostumada a comer em lugares assim, nunca nem imaginei que fosse possível alguém me levar para jantar em um ambiente tão requintado como esse.

— Nem eu…

Disse sem pensar. Hari não precisava saber que eu também nunca havia pisado em um restaurante como aquele.

— Yoongi, espero que você não tenha gastado muito só para me agradar.

— Acho que se você for ficar pensando em dinheiro, não vai aproveitar a comida e a vista agradável que esse lugar tem a oferecer.

Jamais mencionaria o quanto gastei para que Hari tivesse do bom e do melhor, mas não foi nada barato. Não contaria nem mesmo aos meninos, pois iriam acabar comigo se soubesse que estava gastando mais do que ganhava. Mas por Cho Hari, todo centavo gasto valeria a pena.

Pedi um jantar completo, com direito a aperitivos, entrada e sobremesa. Logo de início, comemos o aperitivo. O prato escolhido foi um Bouillabaisse que nada mais era que um guisado feito à base de peixes, vegetais e ervas aromáticas.

Como um bom pobre, sem conhecimento de culinária e ignorante, achei um absurdo pagar tão caro por uma sopa de peixe.

— Isso aqui está dos Deuses! — Hari disse depois da primeira colherada, amava suas reações enquanto comia.

Depois que comemos o aperitivo, fomos muito bem recebidos com a entrada que era um Tartare. Percebi que Hari fez uma leve careta ao olhar para a carne crua.

— Se não quiser comer, podemos passar para o prato principal.

— Não é isso, é que… não tenho o costume de comer carne crua.

Dei uma leve risada.

— Garanto que você vai gostar. Seokjin hyung uma vez preparou para jantarmos quando ele decidiu que queria tentar a culinária francesa.

— E é só carne crua?

Era minha chance de me exibir, Hari não precisava saber que eu era tão ignorante quanto ela;

— Na verdade, Tartare é um prato que consiste em carne crua temperada com azeite, mostarda, cebola e alcaparras. Eu particularmente prefiro com a gema do ovo em cima, como pedi para colocar para nós.

— O ovo é a única coisa que me parece apetitosa.

— Só experimente.

Com muito receio, Hari experimentou o Tartare. Fiquei ansioso, esperando sua reação, e quando ela deu um daqueles sorrisos maravilhosos soltei a respiração que nem sabia que estava segurando.

— Se você esquecer que é carne crua, fica delicioso.

O restante do jantar foi maravilhoso. De prato principal, comemos Canard à l’orange que era um nome chique para um pato ao molho de laranja. Quando reservei, a ideia inicial era comermos apenas frutos-do-mar, mas pensei que eu poderia enjoar de comer apenas isso e mantive os peixes somente para o aperitivo. Nunca havia comido carne de pato e pelo que vi, Hari também não. Ela gostou bastante, disse que nunca havia comido uma carne tão macia e suculenta, o doce do molho deixava uma explosão de sabores na boca. Concordava com tudo que Hari dizia, pois também gostei da experiência.

— Eu me sinto o ratinho daquele filme da Disney.

O garçom tirava nossa mesa, e comecei a me sentir nervoso, pois estávamos muito perto do momento em que eu faria novamente o pedido para Hari. Coloquei a mão no bolso mais uma vez, temendo que perdesse aquelas alianças que foram caras.

Minha testa estava soando e dei graças a Deus que Hari não percebeu, pois, sua atenção estava toda nas balsas que passavam pelo rio.

Enfim, a nossa sobremesa chegou.

— Creme bruleé. — Hari deu um sorriso para mim — Finalmente algo que sei o que estou comendo.

Aquele era o momento perfeito.

Hari já comia a sua sobremesa enquanto eu juntava toda a coragem que tinha. Não era difícil, afinal, eu já havia a pedido em namoro antes, não sei por que estou me sentindo tão inseguro.

Em um impulso, peguei a caixinha de meu bolso e coloquei em cima da mesa, chamando atenção de Hari.

Pigarreei antes de começar o discurso que havia preparado, mas acho que só dizer o que havia em meu coração era melhor do que algo robotizado e menos verdadeiro.

— Sei que já somos namorados e me sinto o homem mais feliz do mundo por ter uma mulher tão incrível como você ao meu lado, mas acho que você merece um pedido mais adequado.

Hari olhava para mim, de olhos arregalados e com a boca um pouco suja de sobremesa. Sufoquei uma risada, não iria rir quando o que eu tinha para dizer era tão importante.

— Cho Hari, desde o momento em que te vi sentada naquele banco olhando para mim, senti que iria bagunçar minha vida. Mas eu não esperava que fosse de um jeito tão bom. Acordo pensando em você, durmo pensando em você. Me senti doente durante um tempo, pois estar longe era torturante e ficava febril. Apesar de eu ter rido e caçoado da sua falta de experiência, me senti tão inexperiente quanto você.

A vi engolir em seco, e repeti imediatamente o ato.

Espero não ter feito besteira.

— Fui um idiota querendo me fazer de difícil, e não percebi que ser orgulhoso estava me afastando de você. Chega a ser vergonhoso eu ter pedido conselhos amorosos para uma pessoa que só namorou virtualmente.

Acho que corei.

— Então, mesmo que você seja minha e eu, seja seu, quero pedir de um jeito mais bonito e digno que você seja minha namorada. Quero ser seu homem, seu melhor amigo, seu maior confidente.

E sem me deixar terminar, Hari se levantou e pulou em meu colo, me beijando como se fosse a primeira vez.

Me senti o homem mais feliz do mundo, mas mesmo que eu tivesse conquistado a mulher que amava e acreditava que ela sentia o mesmo por mim, meu coração ainda estava cercado de incertezas.