Akashi estava sentado em uma poltrona na sala de recreação, com os olhos faiscantes e batendo os pés repetidas vezes no chão quando Kuroko entrou.
O azulado desviou os olhos para seu rosto só para corar como um pimentão em seguida, e procurar encarar outra coisa.
Seijuurou franziu o cenho. O que acontecera?
Midorima surgiu atrás do menor arrumando os óculos com os dedos enfaixados, parecendo despreocupado e um perfeito tsundere, mas todos ali sabiam o quanto o lançador estava preocupado com o amigo.
Kuroko passeou o olhar pelo lugar, tentando nunca encarar os olhos perigosamente sedutores do ruivo, surpreendendo-se com a quantidade de conhecidos na sala. Além dos três adolescentes, Akira estava ali, o rosto retorcido em uma expressão que mesclava resignação e tristeza, e sua mãe, que olhava para a parede, sem nunca encará-lo.
Mas havia outro homem ali, encarando-o com os olhos bicolores levemente divertidos e surpresos, apoiando o rosto na mão e com um sorrisinho e canto.
-A-akashi-san? – perguntou espantado.
-Kuroko-kun – cumprimentou o empresário, a satisfação sempre presente em seu rosto.
-Não esperava vê-lo aqui, senhor – tentou se curvar, como mandava a etiqueta japonesa, mas seus olhos turvaram e ele sentiu o chão sumir de seus pés. Teria caído se Midorima não tivesse esticado os braços e segurado-o pela cintura – Obrigado, Midorima-kun – murmurou baixinho, mas sem levantar os olhos, que pararam no chão e lá ficaram.
Akashi, que quase levantara quando viu o azulado perder o equilíbrio, voltou a se acomodar na poltrona, tentando não pensar que, toda vez que seu Tetsu-chan passava mal, ele nunca conseguia chegar a tempo de ajudá-lo, era sempre Midorima.
-Por favor, não se force, Kuroko-kun – disse Masaomi fazendo um gesto com a mão – Seu médico disse que ainda não de recuperou totalmente.
-Francamente Kuroko – resmungou Shintarou – Eu já lhe disse para tomar cuidado, nanodayo.
O menor abriu um pequeno sorriso.
-Prometo que vou me cuidar melhor de agora em diante.
-É melhor que faça isso mesmo, Tetsuya – disse Akira, pronunciando-se pela primeira vez desde que entrou ali – Shintarou me contou que anda cada vez mais fraco depois das crises.
Os músculos de Kuroko tencionaram e ele olhou para o amigo acusatoriamente, mas o esverdeado apenas deu de ombros e desviou os olhos.
Kuroko olhou para a mãe, que em nenhum momento olhara para ele. Estaria ela chateada? Pensava que ele não tomara os remédios e por isso ficara mal durante a noite?
-Okaa-san? – perguntou indeciso, sem saber se ela realmente falaria com ele. Não gostava de brigar com a mãe.
Masaomin sorriu venenoso quando a mulher não respondeu, apenas encolheu-se em seu canto, como se a voz do filho a machucasse. Kuroko não vira, claro, mas Akashi sim, e estava começando a ficar irritado. Ninguém lhe contava nada, e agiam de forma suspeita. Ele era inteligente, não adivinho.
-Tetsuya – disse Akira, chamando a atenção dos jovens – Talvez você devesse dar um pouco de espaço a sua mãe nesse momento. Ela está passando por muita coisa agora.
Por um momento pareceu que o azulado retrucaria, mas ele apenas fechou os olhos brevemente, em encarando o médico com determinação em seguida.
-O que está acontecendo aqui, Midorima-sensei? Por que estamos todos aqui?
Akira o encarou, sem saber por onde começar. Um suspiro escapou por entre seus lábios.
-Primeiro, Tetsuya, você tem que saber que Shiori não é... Bem, sua mãe.
O azulado nem piscou.
-Eu sei.
Os dois homens o olharam surpresos.
-Você sabe? – perguntou Masaomi. Por aquela ele não esperava.
Kuroko assentiu.
-Claro. Okaa-san e eu não somos nada parecidos, e eu nunca vi foto alguma do meu suposto pai, de quem ela nunca falou. Eu deduzi que havia sido adotado.
O médico piscou antes de soltar uma risada incrédula, passando os dedos pelos cabelos esverdeados.
-Nada foge aos seus olhos, né, Tetsuya? – diz Akashi divertido, cruzando os braços. O amigo lhe dirigiu um sorriso constrangido em resposta.
-E o que tem isso? – perguntou o menor voltando-se novamente para o Midorima-pai.
O divertimento sumiu de sua face e ele trocou o peso de um pé para o outro, desconfortável.
-Então... Hum...
E foi naquele momento que a paciência de Akashi Seijuurou se esgotou.
-Será que alguém pode, por favor, me explicar o que está acontecendo? A começar pelo por que de você estar aqui – apontou para o pai.
Masaomi encarou-o com os olhos frios.
-Abaixe o tom, Seijuurou. Eu não o criei para ser impaciente – falou naquele tom que dizia que o assunto não estava aberto para discussões.
Akashi trincou os dentes, mas calou-se. Sabia que já havia testado a paciência quase inexistente do pai muitas vezes naquele dia, e pagaria por isso quando chegassem em casa.
Os presentes mantiveram-se em silêncio durante e depois da conversa entre pai e filho. Akashi Masaomi sem sombra de dúvidas passava um ar rígido e frio, de alguém que não tolerava imperfeições no que quer que fosse, e depois daquele pequeno diálogo e apesar das poucas palavras, tanto o médico quanto a mulher e os adolescentes tiveram certeza de que a última coisa que queriam era ficar a sós com aquele homem.
-Talvez... – começou Shiori, baixando a cabeça e chamando a atenção dos outros, surpresos pela morena ter se pronunciado – Talvez devêssemos deixar esse assunto pra outra hora, quando Tetsu estiver recuperado.
-Sabe que não pode esconder isso por muito mais tempo, Shiori – disse Akira após algum tempo.
A mulher acenou.
-Eu sei. Mas quero que meu filho esteja bem quando falarmos sobre isso, e o Akashi-chan também está alterado. Os garotos tem um jogo no fim de semana, vamos segurar isso até lá.
O ruivo mais velho tamborilou os dedos no braço da cadeira e olhou para a mulher como se a estudasse.
-Espero que não seja apenas para procurar um jeito de não contar a eles.
Shiori soltou um riso de escárnio que assustou os três naquela sala que a conheciam há mais tempo. Onde fora aquela mulher amável e gentil que ela sempre fora?
Quando falou, sua voz era afiada como uma navalha.
-Não sou você, Akashi-dono. Não tento encobrir as coisas. Apenas acho que não é o melhor momento para revelar algo tão importante – cuspiu.
Certo. Talvez o seu pai e a mãe de Kuroko não se dessem bem. Anotado.
Os segundos que se passaram pareciam intermináveis e desagradavelmente tensos, até que o homem deixou escapar um sorriso de canto e levantou-se espanando uma poeira invisível das mangas do terno.
-Muito bem. Esperaremos até a próxima semana, Kuroko-san. Mas não tente enganar-me. Não gostará das consequências – curvou um pouco a cabeça e virou-se para ir embora – Se despeça de seus amigos, Seijuurou, mas não demore. Estarei esperando no carro.
Akashi observou o pai sair em silêncio antes de se virar para os amigos, que tinham expressões preocupadas. Olhou para o lado a procura do médico, e viu-o afastado conversando com a mãe do azulado.
-Você está bem, Sei... – interrompeu-se abruptamente, o que fez um micro sorriso nascer nos lábios do ruivo ao ver que o amigo quase deixara escapar o apelido carinhoso em público – Akashi-kun?
O divertimento deu lugar à confusão, e Akashi franziu o cenho.
-Eu que devia perguntar. Estas bem, Tetsuya?
-Meu pai disse que estará totalmente recuperado para o jogo de sábado, Kuroko – disse Midorima arrumando os óculos com os dedos – Mesmo assim, deve evitar se cansar desnecessariamente.
O menor corou e baixou a cabeça ao ter os dois olhares preocupados sobre si.
-Tomarei cuidado, Midorima-kun, Akashi-kun.
Seijuurou precisou segurar-se para não atacar o pequeno, e mandou a plantinha de ciúmes que nasceu dentro dele ao ver o esverdeado todo cuidados com o seu melhor amigo parar de crescer. Ele estava passando dos limites. O que fizera no quarto de hospital algumas horas antes era errado, redondamente errado. Sua parte racional gritava-lhe isso nos ouvidos, dizendo que Kuroko era seu amigo e que ele era um merda por ter tantos pensamentos impuros envolvendo o azulado.
Ao mesmo tempo, seu lado mais bruto não suportava ficar longe do seu pequeno Tetsu-chan. Queria que Kuroko ficasse ao seu lado e sorrisse apenas pra ele, e que seus olhos brilhassem apenas ao encontrar o seu.
A vida inteira Akashi orgulhara-se do fato, na hora em que quisesse, ele conseguiria ter qualquer um, fossem homens ou mulheres. Heterossexuais deixavam de sê-lo se ele assim quisesse.
Não, seus dotes a esse respeito não haviam mudado, bem sabia. Era só estalar os dedos e qualquer garoto ou garota daquela escola, cidade ou país cairia de quatro pra ele. Fora assim com Chihiro, seu ex da Inglaterra, e com todos os outros antes dele.
Mas ali, encarando Tetsuya envergonhado e com os cintilantes olhos azuis embaraçados, ele soube que não podia envolver-se com ele. Não podia porque sabia que faria algo errado. Acabaria magoando o menor, e aquilo não podia suportar. Devia manter Tetsu a distância do braço, ou faria algo de que acabaria por arrepender-se.
Então ele apenas despediu-se e foi embora, deixando para trás parte de seu coração.
Nesse momento, Vossa Graça, o destino voltou a seguir seu curso. Seuijuurou deveria ignorar esses sentimentos, fazê-los desaparecer, e ele e Tetsuya viveriam como irmãos, veriam o outro casar-se ou morrer em uma cama de hospital, semanas depois de descobrir a gravidez da cunhada.
Porque esse, Vossa Graça, era o destino dessas crianças. Era o que estava escrito em pedra, o futuro dos meus meninos.
Mas o universo ainda iria descobrir que essas duas almas eram as únicas quais ele não tinha controle. As únicas que desafiavam seu destino, seus familiares ou seu sangue a cada reencarnação.
O universo ainda iria aprender...
Que essas duas almas...
Elas escreviam seu próprio destino.
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