História I Need You, Akashi-kun... - Capítulo 16

  Passara-se três dias desde que Akashi saíra da sala de recreação. Era sábado, dia do amistoso contra Seirin.

  Todos podiam notar o afastamento os garotos, e como ambos pareciam mal com aquilo. Kise, Midorima e até Murasakibara haviam tentado descobrir o que tinha acontecido entre eles, e incentivado o azulado a confrontar o ruivo. Shintarou até tinha penado na hipótese do pai manipulador de Akashi ter contado a verdade a ele, mas logo afastou o pensamento. Podia conhecer o outro a menos de uma semana, mas ele não parecia o tipo de pessoa que ficava remoendo algo, ou evitava falar sobre o isso ou aquilo. Ele ia lá e fazia.

  Aquele fato o assustava às vezes.

  Kuroko realmente tentara perguntar ao amigo de infância o que estava acontecendo, parava ao lado dele nos treinos, questionava durante a troca de professores nas aulas. Mas sempre ouvia a mesma resposta em voz ríspida e olhos gelados:

  -Não é da sua conta, Tetsuya.

  Aquilo acabava por magoá-lo e assustá-lo. Seijuurou estava parecendo a si cada vez mais com o pai, e aquele homem lhe dava calafrios.

  Nunca mais voltaram para a casa juntos. Nunca mais foram tomar milk-shake, nunca mais conversaram ou riram juntos. Quase como se não fossem mais amigos, estavam mais para apenas colegas e classe, ou nem isso.

  Isso deixava-o triste.

 Já Akashi tentava não pensar muito sobre esse fato. Tentava a todo custo não pensa que, com esse afastamento repentino, provavelmente estava abatido. “É para o bem dele”, repetia para si mesmo. “Não quero machucá-lo”.

  O melhor para Tetsuya era ficar longe dele. Akashi não salvava pessoas do afogamento. Era quem as empurrava mais e mais pra baixo, até as últimas bolhas de ar escaparem de seus pulmões. E a única pessoa que ele não queria empurrar era Tetsuya, e muito menos puxa-lo pra baixo consigo. Nunca se perdoaria se fizesse isso com o azulado.

  -Akashicchi? – chamou Kise tirando-o de seus pensamentos desagradáveis – Você está bem? Em estado estranho de um tempo pra cá, todos notaram.

  Akashi precisou se controlar para não falar algo que afastaria o loiro de si, optando por disfarçar um sorriso forçado e dizer-lhe que andava apenas distraído e cansado já havia algum tempo. Ryouta estava prestes a perguntar se tinha alguma coisa a ver com Kuroko, quando Aomine os chamou.

  -Oe, Kise, Akashi, eles chegaram. Parem de trocar figurinhas e tragam suas bundas gordurosas aqui.

  O modelo fez uma cara de virgem ofendida, o que levou os outros membros do time a segurar uma risada.

  -Como você é grosso, Aominecchi!

  O moreno abriu-lhe um sorriso sacana e piscou o olho.

  -É você que ‘tá dizendo.

  A expressão de Kise foi impagável, e os garotos precisaram virar o rosto para não serem pegos rindo da desgraça alheia.

  -Seja um pouco mais óbvio que isso, Aomine-kun, e vai ganhar um prêmio de sutileza – disse Kuroko divertido.

  Esse foi o estopim. Akashi, Midorima e Murasakibara explodiram em risadas com direito até a lágrimas de diversão que só foram interrompidas quando a porta do ginásio foi aberta com brusquidão e uma garota irritadiça passou por ela, os punhos cerrados e as bochechas coradas.

  Midorima arqueou uma sobrancelha ao vê-la passar pelo meio deles e sentar em um banco, murmurando coisas impossíveis de se entender.

  -Momoi. Parece brava, nanodayo.

  Murasakibara apoiou uma de suas mãos enormes em cima da cabeça da rosada e estendeu-lhe um doce, sua forma de conforto, o modo perfeito de agradar uma criança, ou uma mulher de TPM.

  -O que houve Sa-chin?

  A rosada suspirou, aceitando o doce que o maior lhe estendia, apreciando o esforço.

  -Não importa. Só acabem com a raça de Kagami Taiga – bufou, encarando o doce como se quisesse mata-lo com uma colher. Os amigos observavam curiosos e divertidos – Aquele imbecil me irrita.

  Kise pulou para o seu lado, passando um braço por seus ombros e apertando a garota contra si e abrindo um sorriso capaz de iluminar o mundo.

  -Não precisava nem pedir, Momocchi – os sete observaram a porta do ginásio abrir novamente e os treinadores, tanto de Teiko como de Seirin entrarem, seguidos pelo time rival.

  Aomine sorriu de lado maliciosamente.

  -Era nosso plano desde o início.

***

  Quando Momoi Satsuki concordou com o treinador Shirogane em ir receber os jogadores de Seirin, sabia que teria que encarar o ruivo mal-educado do outro dia. Estava tudo bem. Podia ignorá-lo. Aprendera com Kuroko várias técnicas de inexpressividade.

  Mas Kagami realmente não estava cooperando. Insistia em andar ao lado dela mesmo que Momoi o mandasse passear a cada minuto. Puxava assuntos banais que lhe rendiam um rosado olhar mortal, e risinhos mal disfarçados de seus colegas de time, que se divertiam ao vê-lo tentar se aproximar e conversar com uma garota, mesmo não tendo o menor jeito para aquilo. Era um caso perdido.

  O único que ainda não abrira a boca e mantinha um olhar entediado observando os arredores era o novo jogador de Seirin e, determinada a ignorar Kagami, Momoi concentrou-se nele.

  Haizaki Shougo tinha cabelos platinados e espetados, olhos verdes opacos e uma postura relaxada, nada parecida com a de alguém que estava prestes a jogar contra uma equipe que nunca perdera um jogo antes.

  Momoi preocupava-se com ele. Os outros seriam fáceis de cuidar considerando as habilidades individuais e de equipe do seu time, mas sobraria para Kise segurar aquele ali, sozinho. E a razão não era outra senão terem talentos parecidos.

  Se Kise Ryouta era o copiador do time da Teiko, Haizaki podia ser considerado o copiador dele.

  Kise tinha um talento incrível, que era, após ver um movimento apenas uma vez, conseguir executá-lo com uma exatidão quase assustadora.

  Haizaki fazia quase a mesma coisa. Os movimentos ficavam gravados em sua cabeça, mas ele ia ao próprio ritmo, o que acabava por confundir o adversário. Era uma habilidade particularmente irritante.

  -Ei, Momoi? Está me escutando? Parece distraída e... – a fala de Taiga foi interrompida quando ele tropeçou em alguma coisa e ia cair. Em uma tentativa de tentar mantê-lo em seus pés, Momoi estendeu a mão para agarrá-lo. Só que Kagami era milhões de quilos mais pesado que ela, e acabou por leva-la junto.

  Os dois caíram, as pernas entrelaçadas, com ela em cima dele e as mãos de Kagami em um lugar onde definitivamente não deveriam estar.

  Momoi respirou fundo e tentou se acalmar. Foi só um acidente.

  -Poderia, por favor, tirar as mãos daí? – disse entredentes apontando para os próprios peitos.

  Kagami camuflou o rosto nos cabelos e tentou mover as mãos para outro lugar atrapalhadamente, mas acabou apenas por apalpar e apertar os seios da rosada, que corou de raiva e vergonha.

  -Eu sinto muito – o ruivo falso tentou concertar o momento, mas estava nervoso demais para isso – Eu não queria estar fazendo isso, ham, quer dizer – os peitos de Momoi faziam “boing, boing” quando mexia neles, o que acabava por constrange-lo cada vez mais e deixa-la com ainda mais raiva – Não que eu não goste, eu gosto muito, muito mesmo, mas, ham... – ele definitivamente devia calar a boca.

  -OK, pare! – explodiu a rosada. O ruivo tingido ficou imóvel enquanto engolia um seco.

  Rápida mas cuidadosamente a garota colocou-se em seus pés, olhando para o mais alto furiosamente.

  -Você está bem, Momoi? – perguntou o treinador Shirogane aproximando-se e colocando uma mão no rosto da garota.

  -Hai, sensei. Estou bem – tranquilizou-o com um sorriso antes de voltar-se para o garoto ainda caído no chão, e suas feições converteram-se em irritação. Seus olhos faiscaram quando ela falou – Nunca mais me toque, pervertido – e saiu andando a passos duros.

  -É, Kagami-chan – comentou Takao vendo a rosada desaparecer em uma curva – Desse jeito, você vai morrer virgem.

***

  -Era nosso plano desde o início.

  Os dois times se encararam, a rivalidade estalando entre eles de modo quase tangível.

  -Esta é Seirin? – questionou Akashi arqueando uma sobrancelha.

  -São eles – confirmou Aomine.

  Kise acenou alegremente para os recém-chegados, e um garoto de lá devolveu-lhe o cumprimento. O treinador Shirogane acenou para eles se reunirem, mas antes que dessem só um passo, o loiro, com um sorriso brilhante e com a mão ainda no ar, disse:

  -Vamos acabar com esses caras.