História I Need You, Akashi-kun... - Capítulo 2

  Depois que se conheceram aos seis anos, Akashi e Kuroko tornaram-se melhores amigos. Eram inseparáveis.

  Seijuurou contou a ele sobre os pais. O patriarca, Akashi Masaomi, o cobrava demais. Queria que seu filho fosse perfeito. A mãe, que morrera já faziam dois anos, era quem o salvava às vezes, aliviando o peso que o marido colocava sobre os ombros da criança.

  Tetsuya contou-lhe sobre a mãe, sobre que acreditava ter sido adotado, sobre a doença e os amigos que deixara em Tóquio quando se mudou para Kyoto em busca de um melhor tratamento.

  Eles eram melhores amigos. Não escondiam nada um do outro. Também eram incrivelmente parecidos. Milk-shake era sua paixão. Cães eram os melhores animais que existiam. Eles até faziam aniversário no mesmo dia!

  E foi assim por quatro anos, até que as crianças atingiram os dois dígitos de idade.

  Aí tudo começou a desmoronar.

  Kuroko estava sentado no banco em que se conheceram. Era como seu ponto de encontro. Akashi sentou-se ao seu lado em silêncio, as duas crianças com mente adulta observando o parque que se estendia a frente delas.

  Tetsuya não o forçou a falar. Não era de seu feitio. Apenas ficou lá, esperando.

  -Tetsu-chan eu... - começou, mas o azulado o interrompeu.

  -Vê aquilo? - ele estava encostado no banco com a cabeça jogada pra trás, observando o céu.

  Akashi o olhou por um momento antes de deitar a cabeça e olhar na mesma direção que ele.

  -O que? - perguntou curioso.

  -As nuvens - respondeu simplista - Eu as invejo - disse o garoto.

  Seijuurou franziu o cenho.

  -Tem inveja... das nuvens? - confundiu-se.

  Tetsuya riu brevemente, um riso infantil tão raro que Akashi ficou desconcertado por um momento.

  -Elas são tão livres. Não se prendem a nada e a ninguém. Ficam apenas voando por ai. Queria ser como elas - falou sonhador.

  Seijuurou o observou. Seu amigo estava mais pálido que de costume, e seus lábios estavam arroxeados e tremiam levemente, além de que olheiras fundas enfeitavam a parte debaixo de seus olhos azuis, dando-lhe um aspecto quase cadavérico.

  Xingou-se. Estava prestes a jogar seus problemas sobre o garoto que já tinha mais coisas para se preocupar do que muitos adultos por aí.

  Então Tetsu virou-se para ele, e Akashi não conseguiu mais se mexer, preso pelas orbes azuis e brilhantes do amigo.

  -Você pode me levar pra voar com você um dia, Sei-kun? - perguntou o azulado com um sorriso gentil e olhos compreensivos.

  Akashi sentiu a garganta trancar e os olhos se encherem de lágrimas. Seu amigo estava morrendo e ele estava preocupado em se mudar de país? Que tipo de monstro insensível ele era?

  Kuroko abraçou-o, e ele chorou em seu ombro, apertando o azulado como se para ter certeza que ainda estava ali. Não reclamou mesmo que provavelmente estivesse doendo, apenas acariciou seus cabelos rubros com carinho.

  -Está tudo bem, Sei-kun. Vai passar.

  Seijuurou balançou a cabeça em negação quase freneticamente.

  -Eu vou embora, Tetsu-chan - choramingou. Se seu pai o visse agora, provavelmente choraria de desgosto. Era um Akashi. Não podia perder tempo alimentando mágoas e tristezas - Meu pai quer abrir uma filial da empresa na Inglaterra e nós vamos nos mudar pra lá - chorou - Vou embora.

  A mão do azulado travou por um instante e Akashi o sentiu hesitas, mas logo ele continuou com o carinho.

  -Vai ser pra sempre? - perguntou com calma, mas Akashi a muito tempo aprendera a decifrar o amigo impassível e notou uma nota tensa e de apreensão em sua voz - Você nunca mais vai voltar?

  Akashi desesperou-se.

  -Vou! Vou voltar e levá-lo para voar, Tetsu-chan!

  -Então não preciso me preocupar, não é?

  Seijuurou afastou-se e olhou nos olhos do amigo chocado. Estava mesmo ouvindo aquilo?

  -Tetsu... chan...

  O azulado parecia prestes a falar algo, mas foi acometido por mais um acesso de tosse e colocou a mão na frente da boca. Akashi sentiu o pânico brotar forte em seu peito e secou as lágrimas, puxando rapidamente a inseparável mochila e dando dois comprimidos roxos ao pequeno. Kuroko tossiu mais algumas vezes antes de acalmar-se e limpar a boca e as mãos manchadas de sangue.

  -Sinto muito por isso, Sei-kun - disse o azulado baixando a cabeça - Você tem coisas suficientes para se preocupar. Não preciso ser mais um item na sua lista.

  Seijuurou levantou seu rosto com um carinho que nem sabia que tinha. Olhou dentro dos olhos do amigo com uma gentileza tremenda brilhando em suas orbes heterocrômicas.

  -Tetsu-chan - chamou com uma doçura não característica - Você ocupa o primeiro lugar dela. Me preocupo com você mais do que imagina. Não posso ir embora se você ficar triste.

  Tetsuya sorriu levemente.

  -Me prometa que vai voltar pra casa um dia - disse.

  Akashi assentiu com entusiasmo, embora seu peito ardesse de tristeza.

  -Eu prometo - e juntou seus lábios com os do outro garotinho em um selinho breve, mas que deixou ambos vermelhos como pimenta. Era estranho, mas ele vira as pessoas fazerem isso nos filmes quando iam embora - Vou voltar logo.

  Kuroko sorriu brilhantemente, um sorriso incrivelmente raro que iluminou seu rosto e fez ruguinhas aparecerem no canto de seus olhos. Quem o visse naquele momento nunca acreditaria que aquela criança tinha uma doença que poderia tirar-lhe a vida a qualquer momento.

  -Acredito em você, Sei-kun.