-Tetsu! – chamou sua mãe ao telefone durante o intervalo.
-Okaa-san? – atendeu afastando-se um pouco de onde estava sentado com os amigos em busca de privacidade. Depois da conversa naquela manhã o clima entre eles se tornara estranho, até mesmo seus amigos haviam percebido.
Mas ele e Akashi não contaram. Ainda não. O único que sabia era Midorima, mas ele também parecia distante naquele dia, e nem contestara a decisão.
-Eu, hum, preciso que avise o seu treinador que vai faltar o treino amanhã – disse em uma voz cautelosa. Kuroko culpou-se por aquilo. Se não tivesse puxado o assunto quando estavam em casa, talvez Shiori não ficasse com tanto medo de conversar com ele.
Franziu o cenho.
-Vou dizer a ele, mas eu não sabia que teria que faltar – disse inquiridor. O resto de sua trupe o encarava, tentando pegar traços da conversa (Kise, em especial), menos o ruivo. Ele já sabia do que se tratava.
Shiori respirou fundo do outro lado da linha, tentando juntar coragem para prosseguir a conversação.
-Você passara o fim de semana na casa do Akashi-dono, meu filho.
***
Naquele dia Akashi estava fazendo o máximo para evitar seu “irmão”. E era tão, tão difícil! Mas ele não iria se aproximar de Tetsuya, não como ele queria fazer. Seus sentimentos eram feios e errados, e ele tinha que esquecê-los.
E pra isso, ele deveria afastar-se o máximo que podia do azulado, o máximo que podia...
-Akashi-kun – chamou a voz de Kuroko, fazendo-o saltar. Desde quando o menor estava ali?
Afastar-se o máximo possível.
A expressão no rosto do azulado lhe quebrou o coração – o coração que congelara havia muito tempo, mas que com a volta dele para perto de Kuroko, talvez voltasse a bater. Ele mantinha o olhar baixo e os músculos tensos, e seus pés pareciam não saber se ele devia ficar ou ir embora.
-Tetsuya – a voz de Akashi estava rouca, como se a não usasse há muito tempo. E assim era, pois ele não dizia uma palavra desde a discussão com o pai na noite anterior, em um voto de silêncio auto imposto, em luto pelos sentimentos que assassinara.
Kuroko pareceu surpreso, não esperava que o irmão o respondesse. Respirou fundo.
-V-você pode ir comigo até o Shirogane-sensei? – perguntou hesitante, com medo de o ruivo rechaça-lo. Eles ainda não haviam conversado sobre o tão importante assunto do dia anterior, e nem sobre o que acontecera antes dele ser abordado.
Kuroko estava com tanta vergonha de ter chorado na frente do amigo! Logo ele, que nunca se deixava abalar por nada. E Akashi não dissera nada durante todo o tempo em que chorara até dormir. Apenas ficara lá, sentado, encostado na porta.
Seijuurou continuou olhando-o, analisando e estudando suas reações, e Kuroko lutou para não demonstrar nada. O olhar bicolor de Akashi desnudava-o, parecia olha sua alma, obriga-la a abrir-se pra ele.
-Claro – concordou antes de se virar de costas e sair andando na direção do ginásio. O azulado soltou o ar que nem sabia que estava prendendo e apressou-se para acompanha-lo.
Hesitou, desacelerando seus passos e passando a andar atrás do mais velho. Não conseguia aceitar o fato de serem irmãos – gêmeos, pelo amor de Deus –, e não conseguiria lidar caso alguém os parasse e comentasse como eram parecidos.
Esse movimento não passou despercebido por Akashi, mas ele não comentou. Naquele dia, estava sendo desconcertantemente difícil pra ele ignorar Tetsuya, mesmo com a falta de presença. Os olhos do irmão o chamavam; os cheiro do irmão o atraía; a fragilidade do irmão despertava um lado seu que ele acreditava ter morrido quando mudou-se para a Inglaterra.
Mas, pelo bem do irmão, pelo bem do seu Tetsu-chan, ele faria. Agiria com frieza e indiferença como se o dia anterior nunca tivesse acontecido, como se nunca houvesse beijado aqueles lábios avermelhados...
Tetsuya tem cheiro de baunilha.
...e o prendido na cama. Nunca acontecera, e não significava nada. Ele não sentira nada com aquele pequeno episódio.
Mentiroso, mentiroso, mentiroso.
Então ele ia apenas esquecer, e se comportar como a situação exigia: um irmão, apenas.
A boca de Tetsuya era pequena e quente...
-Akashi-kun? Você está bem? Parece pálido.
Como será seu interior?
Piscou fora de seus pensamentos e virou-se para encontrar Kuroko encarando-o preocupado. Por quê? O que fizera?
Ah.
-Desculpe – voltou a andar. Aparentemente, em meio a seus pensamentos libidinosos, Akashi havia parado de caminhar – só estou com muita coisa na cabeça.
O menor encolheu-se, e ele imediatamente arrependeu-se de suas palavras.
-Sinto muito. Eu não devia incomodá-lo com isso.
Ambos sabiam que ele não se referia àquela visita repentina ao treinador.
-Está tudo bem – abanou com a mão em um gesto de descaso, rezando para a porta do ginásio aparecer logo para ele poder focar sua atenção em algo que não fosse o corpo pequeno movimentando-se atrás de si.
Movimentando-se... Pra cima e para baixo...
Tetsuya é tão pequeno.
Má escolha de palavras. Xingou-se e balançou a cabeça mentalmente como se para espantar aqueles pensamentos. Eles não trariam nada de bom, apenas um momento com a mão no banheiro.
-Não me importo de acompanha-lo – conseguiu concluir com esforço. Estava começando a suar. Controle-se, Akashi.
Tetsuya tem a pele tão branquinha...
-Eu suponho que já sabe do fim de semana – disse o pequeno, tentando não deixar o assunto morrer e dar lugar a um silêncio incômodo.
As marcas que fizer nela serão impossíveis de esconder...
-Sim – concordou flexionando os dedos, lutando para afastar aqueles pensamentos impuros – Meu pai me disse isso essa manhã.
Tetsuya passará dois dias dormindo no quarto ao lado...
Kuroko fez um biquinho e ele precisou segurar-se para não mordê-lo.
-Espero não atrapalhar sua rotina com a minha chegada, Akashi-kun.
Será que ele dorme vestido?
O ruivo abanou com os dedos em um gesto de descaso, mandando seu pequeno amigo lá embaixo se aquietar.
-Não fique pensando em besteiras, Tetsuya. Se meu pai o convidou, ele tem certeza de que quer você lá.
É realmente uma coisa boa que os quartos tenham isolamento acústico, Tetsu...
Aquelas palavras ditas junto com o tom frio não passaram desapercebidas por Kuroko, que baixou os olhos tristemente. “Meu pai o convidou”. Então Akashi realmente não o queria lá.
Você parece do tipo que faz barulho quando geme.
-Entendo – disse cabisbaixo.
Tetsuya tem gosto de baunilha.
Akashi quase gritou de alívio quando viraram uma curva e a porta do ginásio apareceu em seu campo de visão. Apressou o passo inconscientemente. Faria uma visita ao banheiro enquanto Kuroko conversava com o treinador.
A pele de Tetsuya fica linda corada.
-Shirogane-sensei? – disse Kuroko um pouco mais alto que o habitual olhando para os lados em busca do homem de cabelos grisalhos.
-Kuroko-kun? – exclamou o treinador saindo do vestiário com um semblante surpreso. Não era comum ter o jogador fantasma ali naquela hora, principalmente em um dia sem treino – Akashi-kun também? Precisam de algo?
-Vou ao banheiro, Tetsuya – disse o ruivo antes de se afastar a passos rápidos.
Os olhos de Tetsuya brilhariam até na penumbra do quarto.
-Algum problema, Kuroko-kun? – perguntou Shirogane com um sorriso gentil.
O menor pareceu envergonhado.
-Quero avisar que eu e o Akashi-kun não poderemos vir ao treino de amanhã, Shirogane-sensei – disse baixo enquanto olhava para o chão.
O homem ergueu as sobrancelhas.
-Aconteceu alguma coisa? – tenteou ajudar. Kuroko apreciava o gesto, mas não sabia se podia contar a outras pessoas sobre seu parentesco com o ruivo. Nem seus amigos sabiam, parecia errado contar primeiro ao treinador.
-Nada com que precise se preocupar sensei – tossiu, sua voz arranhando. Ela estava assim desde sua última crise severa no meio da noite, três semanas antes. Ele não contara a mãe, ela já tinha coisas suficientes com as quais se preocupar, e também não queria pensar sobre o que aquilo significava – Aconteceram algumas coisas e eu vou passar o fim de semana na casa do Akashi-kun.
Eh? Os olhos do senhor pareciam ter se estreitado um pouco, mas logo desapareceu. Teria sido sua imaginação em conjunto com os olhos cansados?
-Posso ajudar em algo? – colocou a mão no ombro do adolescentes, interpretando mal seu jeito infeliz.
Kuroko logo tratou de levantar o rosto e colocar uma expressão calma e neutra para o outro ver. Bem, era seu semblante usual.
-Agradeço, Shirogane-sensei. Mas não é nada grave, de verdade. Só vim dizer que faltaríamos o treino amanhã.
-Obrigado por avisar, Kuroko-kun.
-Tetsuya! – disse a voz de Akashi e ambos se viraram para vê-lo andar na direção deles com os passos calculados de um leão – Terminou sua conversa?
O azulado assentiu.
-Sim, Akashi-kun – deu um passo pra trás e o treinador tirou a mão de seu ombro com o rosto inexpressivo.
-Ótimo – fez um gesto na direção da porta – Vamos?
Kuroko fez que sim e voltou o olhar para o treinador do clube de basquete, curvando-se em agradecimento.
-Arigato, Shirogane-sensei – disse antes de seguir o irmão para fora do ginásio. O homem os observou sair.
Quando a porta do lugar bateu, Shirogane trincou os dentes com tanta força que foi surpreendente eles não quebrarem, e pescou o celular no bolso traseiro da calça, discando os números tão conhecidos por si com fúria e brutalidade.
-Alô? – disse a voz sonolenta e preguiçosa de Hanamiya Makoto do outro lado da linha.
-Temos um problema.
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