Kuroko Shiori acordou no meio da noite com tosses altas e sons de respiração engasgada. Todo seu sono se foi em um piscar de olhos e ela atravessou o corredor até o outro quarto. Seu filho nunca trancava a porta, então ela já chegou abrindo-a.
Tetsuya tremia deitado na cama, o corpo convulsionando brutalmente e os olhos revirando pra trás, deixando a vista apenas a parte branca. Sangue enchia sua boca e vazava pelos cantos de seus lábios enquanto ele agarrava a própria garganta. Shiori arregalou os olhos. Ele estava engasgando com o próprio sangue.
A morena correu até o lado da cama e pegou o celular do pequeno. Apertou um botão e logo ele chamava o número do hospital.
-Kuroko-kun? – disse a voz da recepcionista.
-Sou eu. Preciso de um médico! Rápido! – gritou ao telefone, as lágrimas já rolando por seu rosto.
A mulher do outro lado desesperou-se. Conhecia a família Kuroko há anos, vira o pequeno Tetsuya crescer. Não queria que nada de mal acontecesse a eles. Esperava que o garoto fosse curado logo.
-Vou chamar o Midorima-sensei! – correu, largando o telefone.
Shiori sentou-se na beirada da cama e levantou o filho pelos ombros, curvando-o sobre as cobertas.
Uma tonelada de sangue explodiu de sua boca e manchou os cobertores. A mulher colocou uma mão na testa do filho, mas afastou-a rapidamente com o choque de temperatura.
-Você está ardendo em febre! – exclamou. Agora ela não poderia dar-lhe os remédios. Fora instruída pelo médico de Tetsu a não lhe dar nada, nem mesmo os comprimidos, se ele tivesse febre. Ao que parecia, seu corpo podia rejeitá-los, e vomitar naquele momento só pioraria a situação.
-Shiori? – chamou alguém no telefone.
Agarrou-o em desespero.
-Akira! – o médico de seu filho era o pai de um de seus amigos, Midorima Shintarou, que queria seguir os mesmos passos do pai, Midorima Akira – Tetsu está tendo uma crise, e está com uma febre altíssima.
Ouviu o som de papéis sendo revirados enquanto o médico falava consigo.
-Ele esqueceu de tomar os remédios? – disse em tom desacreditado. Tetsuya era tão responsável quanto seu filho, se não mais. Difícil acreditar que ele havia esquecido algo tão importante.
-Disse que tomou no fim da tarde – chorou ao telefone – Devia precisar toma-los de novo apenas de manhã!
O outro lado ficou em silêncio durante segundos desesperadores que mais pareceram horas para a mãe aflita.
-Shiori – começou Akira calmamente – Estou mandando uma ambulância para busca-los. Deve chegar em alguns minutos. Mas eu preciso que fique calma. Pelo Tetsuya – disse andando pelo hospital, arrumando tudo que o paciente precisaria – Pode fazer isso? Pode ficar calma?
A mulher secou as lágrimas e tentou se recompor. Seu filho precisava dela. Não podia entregar os pontos agora.
-Sim – respondeu baixo. Pigarreou e tentou novamente – Sim, eu posso.
A voz do médico era como a flauta de um encantador de cobras.
-Bom. Agora vá para a cozinha e molhe um pano em água gelada.
Shiori o fez.
-Volte para o quarto e coloque-a na testa do seu filho. Servirá para baixar a temperatura de seu corpo.
-Certo – respondeu. Precisava ser forte por seu filho.
-Já está ouvindo a ambulância? – perguntou Akira.
A morena aguçou os ouvidos, e conseguiu ouvir o barulho reconfortante da sirene.
-Sim – respondeu colocando o pano frio na testa do azulado.
O médico suspirou baixinho, aliviado.
-Ótimo. Agora tire o pano da testa de Tetsuya – disse calmamente, não revelando seu conflito interno – Vá para a porta da frente e a deixe aberta. Não importa se Nigou sair. Consegue ver a ambulância?
Shiori olhou para os lados. O veículo do hospital dobrava a esquina.
-Sim – respondeu-o, sentindo a vontade de chorar voltar. Nigou aproximou-se e cheirou sua perna em um choramingo. Sentia a aflição de sua dona – Estão estacionando aqui na frente.
-Isso é bom – tranquilizou Midorima – Saia do caminho para eles passarem.
Uma fila de enfermeiros já conhecidos entrou em sua casa. Sabiam exatamente onde era o quarto de seu filho. Já haviam estado ali muitas vezes durante os últimos anos.
Shiori pegou o filhote no colo, apertando-o em seus braços, a dor no peito mais forte do que nunca. Não sabia se conseguiria manter a compostura se seu filho querido piorasse. Não sabia viver sem seu Tetsu, seu doce menino.
-Shiori? – chamou Akira no telefone, preocupado com o silêncio repentino. Respondeu-o um pouco envergonhada. Esquecera-se que ainda estava chamando – Por favor, quando eles saírem, pegue suas coisas e tranque a casa. Deixe Nigou na casa dos Aomines.
A mulher assentiu, mesmo que o médico não pudesse ver.
Colocou os chinelos e andou até a casa da frente, cujas luzes já começavam a ligar pelo barulho da ambulância. Era a casa dos Aomines, pessoas que sua família conhecia desde antes de se mudar para Kyoto. Seu Tetsu era muito amigo do filho mais velho do casal, Daiki, e Shiori também o adorava, muito embora durante algum tempo tenha acreditado que ele era um rebelde sem causa.
Bateu na porta, e minutos depois essa era aberta por uma mulher de pele escura e cabelos azuis-escuros, além de olhos tão negros quanto ônix.
-Shiori? – perguntou assustada – O que houve? Tetsu-chan está bem?
A srta. Kuroko respirou fundo enquanto tentava se acalmar.
-Suri – disse e estendeu o cão – Vou com o meu filho para o hospital. Pode cuidar do Nigou enquanto estivermos lá?
A morena assentiu rapidamente, pegando o filhote no colo.
-Nunca lhe negaria nada! – olhou por cima do ombro da amiga, para a ambulância estacionada em frente à casa. Era um cenário assustadoramente familiar – O que houve?
Shiori engoliu um seco, mandando as lágrimas não descerem.
-Tetsu teve uma crise durante a noite – explicou breve – Estou com Akira no telefone – mostrou o aparelho.
-Olá, Suri-san – disse o Doutor Midorima. Todos eles se conheciam desde o ginasial e a formalidade não era necessária, mas hábitos são hábitos.
-Akira-kun! – exclamou – Você pode avisar na recepção que mais tarde nós iremos ver o Tetsu-chan? Além de que os garotos devem ir visita-lo daqui a pouco – referiu-se aos amigos de seu filho com uma careta leve.
Mesmo em meio a todo desespero, Akira conseguiu rir.
-Eles não deixariam de visita-lo nem que estivesse apenas com uma gripe – brincou.
Shiori deu um sorriso amarelo e virou-se a tempo de ver os enfermeiros saírem da casa com seu filho em uma maca, sangue coagulado manchando seu rosto, vestes, mãos e cabelos.
-Akira – chamou ao telefone – Estou indo com o Tetsu na ambulância.
-Ótimo – respondeu o amigo, a quem conhecia desde a infância – Eu irei desligar. Suri-san, avise o Daiki-kun e leve algumas mudas de roupa para a Shiori e para o Tetsuya mais tarde.
-Deixa comigo – respondeu batendo continência, observando a outra mulher correr e entrar na ambulância, pouco se importando em deixar a casa toda aberta.
Nigou chorou em seu colo, e a morena acariciou sua cabecinha para acalmá-lo.
-Aconteceu algo? – perguntou seu marido descendo as escadas com a filha mais nova, Aki, no colo, coçando os olhos sonolenta. Aomine Ryo era alto e forte, de cabelos castanhos e sobrancelhas grossas, além de um belo par de olhos azuis-escuros que dera a ambos os filhos.
Suri comprimiu os lábios.
-O filho de Shiori teve uma crise no meio da noite. A ambulância acabou de leva-los.
Ryo ergueu as sobrancelhas.
-Tetsuya não é de esquecer os remédios.
A mulher assentiu andando para dentro da casa para chamar seu primogênito.
-Pensei o mesmo. Shiori não me contou todos os detalhes, mas não acho que ele tenha esquecido – virou o rosto para o marido. Estava sério, sombrio. Ryo engoliu um seco – Temo que a doença dele esteja se agravando, querido.
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