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História I Promise To Always Be By Your Side - Prologue


Escrita por: khalyfornia

Notas do Autor


Oi gente
Prazer aí
Mergulhem na leitura

Capítulo 1 - Prologue


Fanfic / Fanfiction I Promise To Always Be By Your Side - Prologue

Mais alguns passos até a morte.

Só mais alguns passos.

Era assim que repetia internamente antes de chegar a meu destino.

Vamos, Lauren, você está quase lá, aguente mais um pouco.

Encorajava-me compulsivamente para continuar ignorando a dor que sentia em todo o meu corpo, principalmente em minhas pernas devido à longa corrida que fazia e mais uma daquelas que levei. Talvez eu seja uma menina de 16 anos sem juízo, que sai de casa em plena madrugada de um sábado para ir em busca da morte. Pode parecer estranho pra você. Uma menina tão jovem querendo morrer? O que há de errado na sua vida para querer uma coisa dessas? Qual a sua história?

A minha história não é a das mais bonitas para serem ouvidas. Quem sabe, vocês não achem que tudo o que irei contar agora não passa de um drama adolescente? Pois é, quem sabe! Cheguei a pensar assim, tudo o que eu estava vivendo era apenas a porcaria de uma fase “aborrecente”, aquela fase onde tudo e todos estão contra você.

Mera ilusão.

Eu sou um espelho quebrado sem conserto que se martiriza e se machuca constantemente tentando juntar meus cacos na esperança de que um dia eu possa ver minha imagem refletida como era antigamente. Na época em que minha era viva.

Quer dizer então você tá querendo se matar só por que sua mamãe morreu? Antes fosse.

Clara Morgado era o nome dela, uma mulher que sempre vou admirar. Abandonada pelo namorado no terceiro mês de gravidez, ela não se abalou e continuou com o sonho de ser mãe mesmo diante das dificuldades que teria que passar para poder criar a criança que carregava. Ela estava sozinha, não tinha família, sem dinheiro e grávida. Como ela seguiria em frente desse jeito? Simples, com muita garra e determinação.

Conseguiu um emprego como garçonete num bar de quinta categoria, onde ganhava muito pouco para sobreviver. O dono do estabelecimento cedeu um quarto nos fundos para que ela pudesse ter onde morar. Por diversas vezes minha mãe dormiu na rua e foi em uma dessas noites que ela estava deitada sobre um papelão com um cobertor que mal a cobria olhando com identificação para os moradores de rua que estavam ao seu lado, Clara chorou compulsivamente por se arrepender tanto de ter caído na lábia de um homem tão desprezível como Michael Jauregui, jogou tudo para o alto para segui-lo e depois ser jogada como se fosse nada, chorou por medo de criar seu bebê naquelas circunstâncias. Graças a Deus, o dono do bar se sensibilizou pela situação de minha mãe dando casa e trabalho. Sou muito agradecida a esse homem que no momento não me lembro de seu nome ou de qualquer feição.

O período de gravidez foi complicado. O deslocamento até o hospital para fazer os pré-natais gastava muito, ainda tinha as vitaminas e remédios no receituário médico que minha mãe precisava tomar. Clara prezava por uma gravidez saudável, ela queria mais que qualquer coisa ser mãe.

Minha mãe amava jazz, principalmente Ella Fitzgerald, devido a isso a cantora é a minha favorita, o que pode lhe render um certo estranhamento. Como uma adolescente em pleno século XXI tem um gosto musical como esse? Respondendo a sua pergunta: Essa é uma das únicas coisas que tenho de minha mãe. Uma foto. Um disco intitulado “O melhor do jazz nos anos 40”. E Ella Fitzgerald.

O parto foi complicado, era uma gravidez de risco mesmo Clara seguindo tudo o que o médico lhe recomendava. Mas tudo o correu no dia do nascimento, do meu nascimento. Clara não quis saber o sexo antes do parto, queria que fosse surpresa até mesmo pra ela. Lembro vagamente que minha mãe me contou uma vez que no dia em que eu nasci estava uma noite estrelada, a lua mais bonita nesse dia e as estrelas mais brilhantes que o normal, isso era sinal de que eu viria pra iluminar esse mundo e que minha felicidade seria plena e singela ao lado daqueles que eu amo, ao lado dela. Infelizmente, Clara estava errada.

Meus primeiros anos de vida foram os melhores como nunca se procederam. A cada aniversário um bolinho, apenas que desse para mim e minha mãe.

– Minha filha, comemore sempre mais um ano de vida – ela me disse essas palavras no meu quinto aniversário. Com um sorriso doce nos lábios mesmo com a baixa iluminação do quartinho, e o bolo a minha frente com uma velinha de número cinco por cima.

– Sim, mama – respondi retribuindo seu sorriso maravilhoso sem entender o real sentido de suas palavras.

Comemorar aniversários é uma maneira de se sentir vivo. Os anos passam e algumas pessoas nem percebem, quando veem estão numa rotina infundada cuidando de filhos e marido, apenas existindo, e não vivendo. Celebrar sua vida, mais um ano para minha e importante, mesmo sendo uma comemoração simples num quarto dos fundos de um bar com iluminação precária e um bolo que mal dá pra duas pessoas. Com ou sem dificuldades a sua vida deve ser comemorada não importa como, porque isso um sinal de que você está vivo e deve gritar e pular de alegria seja com alguém ou bancando o louco sozinho. Você tem uma vida, vivê-la é a opção.

Então foi no meu aniversário de cinco anos que minha mãe desmaiou pela primeira vez. Eu havia notado algo de diferente nela nos últimos dias, os olhos mais arroxeados, a má disposição, vômitos de madrugada e... sangue. Não sabia o que estava acontecendo, pelo amor de Deus, eu era uma criança. Uma criança chorando desesperada se perguntando por que sua mamãe não acordava. Desesperada por não saber o que fazer. Desesperada por estar pensando que sua mãe ficou triste por ela ter escolhido ver desenho animado do que ouvir a boa e velha Ella. São tantas coisas que se passaram na minha cabeça naquele momento que o máximo de reação que tive foi gritar. Gritos incessantes e escandalosos emitidos por uma voz fina de uma menina de olhos verdes que você juraria estar levando uma surra.

Ela foi levada até o hospital enquanto eu fiquei em casa, sendo acolhida por uma cliente que frequentemente ia até o bar, era conhecida de minha mãe.

Dois dias depois ela voltou pra casa como se nada tivesse acontecido, impressionante a capacidade dela de não querer me preocupar com nada, mesmo que pra isso ela tenha que colocar um sorriso largo no rosto quando, na verdade, queria chorar até não aguentar mais.

Os desmaios se tornaram frequentes assim como meus ataques de susto. Na escola, uma vez, uma funcionária tinha passado mal, foi necessário minha mãe me buscar, pois estava tomada pelo medo, parecia que eu estava vendo minha mãe. Isso me assusta até hoje.

Doente, magra e abatida era o estado que Clara se encontrava. Ela sorria sempre como forma de dizer que estava tudo bem, eu acreditava nela. Queria passar a imagem de uma mulher inabalável para mim, ela queria ser forte por nós duas, pois sabia que não podia ficar só, não podia ficar sem minha única família.

No dia 13 de novembro daquele mesmo ano, minha mãe passou dessa para uma melhor, expressão menos impactante para um ela morreu. O câncer havia se espalhado, não havia como salvá-la, o tratamento era caro, então ela não tinha opção a não ser esperar, esperar para morrer. Foi a primeira vez que senti o que era realmente perder alguém, não foi legal ter essa experiência com apenas cinco anos. Não desejo isso à ninguém. Você se sente perdido, sem saber o que fazer, naquele momento eu só queria que minha mãe me botasse pra dormir ao som de Ella, era só o que eu pedia a Deus... acho que ele não me escutou.

Foi um velório simples, sem grande porte, Clara não tinha muitos amigos. Alguns conhecidos ajudaram a pagar tudo.

– Ela está num lugar bem melhor agora – Isso foram as palavras de uma velha senhora que trajava vestes pretas, típicas de um enterro. Olhei-a com um cenho franzido, estava confusa com o que ela disse. Por que minha mãe não me levou pra esse lugar também? Esse era o meu pensamento naquele instante.

Vi aquela senhora se afastar e pela primeira vez levantei os olhos para encarar todas aquelas pessoas que estavam ali no cemitério. Sussurrando baixinho e me olhando com pena, uma pobre criança infeliz, agora órfã. Era pra ter pena mesmo.

O chefe da minha mãe não sabia o que fazer comigo, mas uma coisa era certa, ele não queria ficar comigo até por que ele não tinha nenhuma obrigação, e também, acho que não seria adequado para uma criança viver com um homem que raramente estava sóbrio. Ser um bêbado não muda o fato de ele ser uma boa pessoa, mas a outros olhos não é bem assim.

Fui encaminhada a um abrigo para menores, a assistente social procurava por um parente próximo, eu precisava ficar com alguém que fosse da família mesmo que seja uma pessoa distante que eu nunca tinha visto. Perda de tempo.

Meus dias no abrigo foram corridos, o tempo passava bem depressa a meu ver, acho que pelo motivo de não sair do alojamento com quem dividia com muitas outras meninas. Sempre agarrada à foto de minha mãe e ao disco de jazz, não os largava por nada nesse mundo, é tudo o que me resta. Muitas crianças me chamaram para brincar ou participar de alguma travessura, mas eu recusava todas. A assistente social conseguiu uma vitrola portátil para que eu ouvisse o disco, não podia controlar as lagrimas que rolavam por meu rosto quando aquela voz de Fitzgerald preenchia meus ouvidos, afinal, era a cantora preferida dela, agora, somente minha.

Meus dois meses naquele abrigo passaram voando, tinham conseguido um parente próximo, um primo distante de minha mãe. A mulher loira que veio me dar a notícia estava animadíssima por ter feito um bom trabalho, mas conteve sua empolgação assim que viu minhas feições sem reação alguma. Pra mim tanto faz. Senti aperto no peito assim que deixei o lugar, ainda tinha esperança que minha aparecesse e me levasse pra casa.

Meu tio Travis Smith, posso assim dizer, quando o conheci aparentava ser um bom homem, a barba rala, os cabelos pretos assim como o ralo lhe davam ar de um adulto responsável, a assistente confiou nele logo de cara, não precisou nem de muitos procedimentos para entregar minha guarda a ele. Os primeiros dias foram monótonos, ele não falava, eu também não então ficávamos assim, só olhando pra cara um do outro. Era uma situação bem desconfortável. Depois de duas semanas a assistente deixou de vir fazer as visitas frequentes exigidas pela lei que dava assistência aos menores.

Senti saudades dessa mulher, a presença dela controlava ele, fazia com que Travis se mantivesse na linha para não ter complicações com a justiça. Gostaria de ter ficado com o chefe bêbado de minha mãe, tenho certeza que ele me trataria melhor. Queria estar com Clara, mas ela não podia me defender, estava morta agora, e eu sozinha nesse mundo.

Travis era viciado em jogos de azar, todo o dinheiro que ganhava, ele perdia. Por esse motivo, tivemos que nos mudar, ele perdeu num jogo e não tinha como pagar, teve que fugir. O local escolhido foi um bairro na periferia de Nova Iorque, um lugar perigoso que pra onde você olhava via o somente o retrato das drogas e prostituição. O prédio onde morávamos era uma pocilga, lembro da primeira vez que entrei, vi garrafas de cervejas em cima do balcão da recepção onde havia um homem barrigudo todo suado que tinha hálito de esgoto.

O apartamento era minúsculo, uma sala que fazia ligação com a cozinha, logo vem um corredor que dava direção aos dois quartos e o banheiro. O piso amadeirado rangia a cada passada que eu dava. Não queria estar naquele lugar, era nojento chamar aquilo de lá.

– Fique aí, e não saia até eu chamar – Travis me avisou depois de me jogar dentro do que eu presumi ser meu quarto. Olhei para os lados e havia um colchão velho que dava sinais de que usado inúmeros vezes. Peguei minha mochila rosa que continha minhas coisas e retirei a foto da minha mãe, me controlei pra não chorar, ele não gostava de choros.

Tive que me acostumar àquele lugar, querendo ou não era minha casa agora. Os móveis do meu quarto eram basicamente um armário velho de duas portas sem uma porta, uma cama e só. Não havia nenhum tipo de conforto, ah e aquele colchão que falei anteriormente continua comigo, dormi nele por dias, mas Travis teve que comprar um novo, isso não significa que ele comprou algo de boa qualidade, a madeira da cama carregava traços dos cupins que havia nela, e o meu novo colchão não era tão novo assim.

Meus primeiros anos não foram tão insuportáveis. Tudo começou depois que Travis conheceu algo bem mais viciante que jogos, as drogas e a bebida. No começo não foi tão difícil suportar ele naquele estado tão deplorável, ele chegava em casa e caía morto no sofá da sala. O problema veio depois, ele começou a usar drogas mais pesadas, então aos meus 7 anos levei minha primeira surra dele.

Enquanto ele me batia fiquei pensando onde estava a felicidade que minha mãe me disse que teria. A cada empurrão, a cada tapa, a cada cuspida na minha cara prevalecia a dor de não ter ninguém pra quem correr, não ter ela aqui comigo. Mamãe, por que você me deixou? Por que está deixando que ele faça isso comigo? Mamãe, me ajuda!

As marcas roxas eram intensas no meu corpo, não pude ir a escola por dias, inventou uma história de que eu estava doente.

Eu ia numa escola por perto, era o único lugar que eu podia estar completamente segura. Não dizia que me sentia feliz, mas estava bem, isso era o máximo que eu poderia querer.

Os anos foram se passando e as surras se agravando a cada dia, tinha que inventar inúmeras desculpas quando alguém da escola notava algum machucado. Acho que daria um dicionário todas as coisas que falei. E a tradição de sempre comemorar meu aniversário todo ano não se manteve. Nem tinha por que ou como comemorar.

Por tempos pensei que merecia aquilo, ele me acolheu quando eu não tinha pra onde ir, eu achava que devia a ele. Eu tinha que aguentar, ele estava sendo justo. O que os pensamentos errados de uma pessoa não fazem.

Eu não podia suportar aquilo, todas as agressões e xingamentos, não tinha forças para aguentar mais nada. Eu precisava morrer para me libertar.

E pra isso, eu precisava chegar até a Ponte do Brooklyn. Se eu me jogar da maneira correta, conseguirei que o impacto me mate de primeira. Eu tenho que morrer, eu preciso disso.

Meus batimentos cardíacos acelerados aumentaram mais ainda quando alcancei meu objetivo. Passei a mão em meu rosto retirando os cabelos grudados devido à chuva torrencial que caía, parecia que o céu estava desabando.

Coloquei as mãos nos joelhos tentando recuperar o fôlego da intensa corrida. Eu posso até talvez estar sendo dramática demais, mas você não sabe o que eu passo diariamente, então não me critique, deixe a vida fazer isso, se bem que ela não estava sendo generosa comigo. Então foda-se ela.

Andei a passos certos até a grade, respirando fundo e repetindo a mim mesma que essa era a única opção de viver em paz. Toquei na barra de ferro da grade sentindo meu corpo estremecer com o contato, um raio cortou o céu me fazendo pela primeira vez naquela madrugada pensar no que estava fazendo.

Ignorei tudo e me pus sentada naquela grade, um soluço foi solto da minha garganta enquanto passava minhas pernas para ficar frente a frente com água agitada lá embaixo. Eu só quero ser livre.

Um

Dois

Três

Então, era isso, acabou a minha vida com um simples pulo até água. Todos os meus sofrimentos foram selados, eu estava livre, vou reencontrar minha mãe novamente. Aqui deixo essa vida sem grandes emoções, sem grandes histórias, sem aventuras, somente a dor marcada em sua pele e o desejo de morrer. Uma adolescente problemática que está perdida nesse mundo sem saber onde é seu lugar. Eu queria que alguém visse o que estava acontecendo, mas ao mesmo tempo quero que todos não prestem atenção. Bipolaridade, eu sei. Esse não é meu mundo, eu precisava ir.

Eu iria pra qualquer lugar depois da morte se não fosse pelo fato de braços finos, porém fortes, me puxarem rapidamente antes que o fim acontecesse. Olhei pra trás e encontrei um castanho tão perfeito que eu me perdi facilmente naquele olhar, demonstravam o que eu queria, mas também o que eu não queria. Um rosto tão angelical que fiquei tentada a tocar em seu rosto e sentir o que eu imaginava ser uma maciez naquela pele, seu corpo, apesar da chuva, quente e com cheiro de lar. Pela primeira em muito tempo, me senti segura em seus braços, queria que eles me envolvessem assim pelo o resto da vida. Mas ela não podia ter feito isso, ela não devia ter me salvado. Minha mãe estava me esperando.

– Desculpe, mas não deixarei que faça isso.


Notas Finais


Então é isso, galera
Agradeço desde já


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