História I Remember - O lembrete

Os pés descalços tocavam as pedrinhas no fundo do lago, a água tocava-lhe até um palmo abaixo dos joelhos, o kimono laranja estava preso na parte traseira de seu corpo, nas coxas, deixando suas pernas muito mais expostas do que era permitido para uma mulher. 

Na era feudal, era totalmente incomum ver uma mulher nos lagos, a pescar. Poderia ser julgado como um ato a desafiar o machismo dos homens (de um modo diferente de lutas e palavras grotescas, mais como os achando incapaz de sustentar as mulheres do vilarejo). Mas Rin parecia tão pouco se importar com o "orgulho ferido masculino", pois os olhos castanhos possuíam um brilho infantil, de uma total devoção aquela pequena brincadeira de pescar, apesar de seu corpo ser adulto.

Um cesto artesanal estava na beira do lago, quase completo por diversos tamanhos de peixes, para uma mulher que sempre ia de mãos vazias. 

Aparentava ser jovem, não muito, pois já era considerada uma adulta, mas tinha um traço infantil, porém havia uma sensualidade escondida. Os cabelos eram mais negros do que as noites mais escuras, os olhos eram grandes e castanhos, a pele muito clara, tanto quanto a neve, fazendo com que o kimono alaranjado dar-lhe muito destaque nas partes expostas.

O sol mudava seu curso e se escondia atrás das árvores, indicando-lhe que estava muito próximo da segunda refeição (que a senhorita Kagome chamava de almoço), fazendo-lhe pensar a quanto tempo estivera pescando. Teria de voltar rápido, antes de os machos a incomodarem por ter caçado dois coelhos e muitos peixes. Eles tinham a tendência de serem bem chatos, menosprezando o trabalho que fazia, sem cobrar e muito melhor que eles.

Fora do lago, deixava o kimono cair-lhe sobre as pernas e pés descalços, pegava o cesto onde havia a comida e o segurava por baixo do braço, passando a caminhar em direção ao vilarejo. Poucos metros da estrada principal do vilarejo, olhava dois caçadores afiando suas facas e conversando sobre mulheres, de forma desrespeitosa e vulgar. Empinava o queixo e passava reto por ambos, ignorando-os, mas não fora o suficiente. Ambos viam o cesto abaixo de seu braço e a seguiam.

– Rin-chan - Um deles a chamava. – Ora, ora... 

Os passos se aproximavam, mas não se sentia acovardada.

– Em vez de sair para pegar essas coisas, deveria aquecer algumas camas, sabe? - O companheiro do rapaz ria. 

– Até poderia fazer isso - virava o rosto para o rapaz que havia dito, deixando seu rosto totalmente sem expressão. – mas os dois já o fazem em meu lugar. 

O que parecia mais novo, dava um passo em direção dela, mas era segurado pelo companheiro.

– Agradeça por não a tocarmos, pois é amiga de Kagome-sama... Mas se não fosse... – Não terminava e virava as costas para ela.

Pouco se importava quem fosse seus amigos, nunca os usaria para defendê-la.

Inuyasha e Kouga  ouviam as ameaças feitas à Rin, mas nada poderiam fazer, pois ela os assustava mais que suas mulheres. 

O cabelo branco de Inuyasha estava preso em um rabo-de-cavalo alto, mas a roupa vermelha ainda permanecia a mesma. O cabelo de Kouga estava curto, com as pontas a sobressair-se, as vestimentas ainda eram de lobos.

Eles esperavam até Rin entrar no vilarejo e saiam do esconderijo, onde iam caminhando até o mesmo. Ambos gostavam da companhia de Rin e acreditava que suas mulheres também. Todos a viam como alguém da família.

Kouga não morava no vilarejo, porém algumas vezes passava a maior parte do tempo com eles. Os dois haviam se tornado grandes amigos, embora a rivalidade entre os dois ainda existisse.

Entre uma brincadeira e outra, chegavam a casa onde Inuyasha e Kagome moravam, com seus filhos, onde Rin estava entre as mulheres, com um kimono branco com pequenos detalhes roxos. Em vez do cabelo solto, o usava em uma trança, que estava jogada sobre o ombro.

Rin os notava facilmente, onde inclinava a cabeça em um cumprimento gentil e respeitoso.

– Rin-chan pescou bastante hoje! - Comunicava Sango-san, segurando Midori, sua filha mais nova, no colo. – Ela caça muito melhor que esses homens...

– Cuidado... - Avisava Inuyasha, se sentando perto de Rin e Kagome. O branquelo olhava para Kagome e ambos sorriam, completamente apaixonados. 

Sango-san convidava Kouga a sentar-se, mas o mesmo negava e se escorava na lateral da entrada, resmungando um "estou bem" e "muito cheio". Então Sango soltava sua filha e se voltava para Rin, onde pegava as mãos da mais nova e sorria.

– Ele virá amanhã, Rin-chan! - A lembrava. – Sentirei muito sua falta, mas apenas vá se você quiser, certo? Não porque ele a assusta.

– Ele nunca me assustou. - Rin se recordava da imagem do Lorde e tentava não sorrir.

– Ele me assusta um pouco, mesmo agora. - Dizia Kagome, se metendo rapidamente no assunto.

– Sempre o achei muito bonito, sabe? - Declarava Sango, com um expressão orgulhosa. 

– Miroku gritaria se ouvisse isso. - Pronunciava Kouga.

Todos gargalhavam da maneira de Miroku, que não estava entre eles no momento.