História I Remember You - Armadilha do Diabo

Em 2014...

Poderia ser apenas mais um dia normal em Nova York, na famosa cidade que nunca dorme, se não fosse por um certo ser celestial, vestindo-se com um sobretudo longo de cor grafite, com uma postura altiva, aparentemente confuso e raivoso, olhando parado em frente a uma multidão de pessoas e policiais, ambulâncias, observando uma cena que que certamente era emocionante para todos menos para ele, que continuava com a mesma expressão sombria.

Na aglomeração a frente, havia um homem que protegia o seu filho do assédio das pessoas e olhava em frente, confuso e desorientado, vendo um médico tentando atendê-los, mas ele parecia não importar-se com as suas múltiplas fraturas, só parecia atento ao filho que não tinha um único arranhão e olhava em volta aflito, chamando o nome dela...

O anjo bufou, cruzando os braços, se virando de costas para não ver mais , mas não antes de ver o homem ser carregado a uma maca e a criança ser sedada e encaminhada ao hospital ..

Sua cabeça estava seriamente dando nós. Seu padrão fora perfeito na sua mente! Mas mesmo assim a família dela havia sobrevivido...mas como?

Será que talvez seu Pai tenha interferido...? Não, Seu Pai nunca que poderia imaginar que ''ele'' tinha feito algo fora de seus planos...?

Não é? Aquilo só poderia ser apenas um coincidência...

Sim era apenas uma coincidência, pensou enquanto caminhava para longe, deixando as suas asas surgirem a suas costas, procurando saber, o que aconteceu com ''ela''.

Em 2016...

Como de praxe, Chloe e Lúcifer a levaram a um lugar mais reservado e assim que chegaram á sala de lazer, no andar de cima da boate, Ária encarou a detective, cruzando os braços, batendo nervosamente a sua bota no chão, ignorando seu boss, que parecia mais sério que o normal, se colocando perto de si, como em protecção?

Ao qual ela estranhou esse fato, mas seu coração estava acelerado demais com a possibilidade de uma notícia, uma que fosse para acalmar o que ela cria ser um vazio existencial, para prestar atenção em seu novo chefe.

—Chloe..por favor sem rodeios! -Disse sem paciência, sentindo sua respiração ficar irregular, a medida que via a expressão dela confusa, mordendo o lábio, olhando para Lúcifer como dizendo que ele não devia de estar ali, ela notou ao que sairá sem que ela pudesse conter.

—Acredite em mim, tudo que acontece neste bar...ele saberá...tem uns ouvidos do Diabo...

—Bom uso da expressão, Macária...

Ela arquejara a sobrancelha, olhando para ele bastante séria, ao que ele arquejara por sua vez, a sua própria sobrancelha, virando-se para o bar pegando uma bebida.

A detective lançou um olhar a Lúcifer, como se estivesse avisando para não dizer mais nenhuma piada sem graça e sarcástica, a qual o mesmo a surpreendeu ficando estranhamente quieto, bebendo a sua bebida, então constatando que o mesmo não iria dizer nada ela voltou seu olhar a Ária, com seus grandes olhos verdes e sérios, começando a falar profissionalmente.

—Quando encontramos você, naquela praia a dois anos, você estava com uma bolsa, a qual tinha três objectos...Uma chupeta, uma bíblia e dentro dessa bíblia uma aliança...

—Uma aliança?- Perguntou confusa, sentindo seu coração quase sair pela boca e sua cabeça dando uma latejada forte, como se estivesse em confusão...

—Sim...Uma aliança de casamento gravada com o nome... John na data de 31 de Dezembro de 2006...

John...? John...? Aquela data parecia algo especial...Esse nome parecia tão familiar para ela, mas porque não conseguia puxar de sua mente mais algo...ela sentia que estava perto de algo...sua cabeça começara a doer ainda mais.

Chupeta...? Bíblia...? Sera que ela tinha um filho...? Um marido? Pensara, em meio aos pensamentos confusos, fitando nenhum lugar em particular, tentando se lembrar...mas lágrimas começaram a cair de seus olhos, a dor em sua cabeça estendendo-se por seus sentidos, flashes confusos na sua mente, ela não conseguia reconhecer nada.

—Ária! -Chamou a detective pela terceira vez, a qual a mesma não escutou, parecia que seus pensamentos estavam bem longe. Aproximara-se dela, tocando as suas mãos, mas ela parecia muito absorvida como se estivesse presa na sua cabeça.

—Do-í...

Chloe começara a ficar aflita, olhando para Lúcifer que aproximara-se rapidamente, deixando a bebida sob o balcão, segurara a cabeça dela, tocando as têmporas, fazendo-a olhar seus olhos.

—Calma...está tudo bem...

Ária começara a respirar mais regularmente, mas sentia-se enormemente tonta e sua cabeça ainda latejava.

—Como ...f-ez is-so?

Chloe questionava-se a mesma coisa, mas suspirou olhando para Lúcifer, desistindo de seus questionamentos por agora e o mesmo estava com uma expressão estranha, olhando a moça com...uma expressão que lembrava pena?

Realmente parecia que seu dia não estava sendo dos melhores, primeiro o problema com o Dan e agora mais uma preocupação, com essa moça, que no fundo de seu ser, algo lhe dizia para ajudá-la a encontrar sua família, era algo que tinha ficado insolúvel naquela altura, ela era um autêntico enigma, não havia identidade dela, não tinha registo, parecia que não existia.

—Macária! -Chamou pela ultima vez, e por estranho que pareça dessa vez ela olhou-a, esta sentira certo reconhecimento.—Tudo bem? Você se lembrou de alguma coisa?

Ária ia abrir a boca para responder fitando a mulher, quando Lúcifer falou primeiro a interrompendo.

—Claro que não, né detective! Vamos para a delegacia, precisamos urgentemente ver esses objectos...

Chloe rolou os olhos, pensando que estava bom demais para ser verdade, o Lúcifer intrometido e sarcástico voltara.

Já Ária olhou para ele como se estivesse crescido duas cabeças, em seu chefe. Porque esse ricaço, podre de rico, egocêntrico e estranho, que mal a conhecia estava tão preocupado consigo...?

—Obrigada, parceiro por constatar que não recordei nada...mas de verdade...- Pegara a bebida que ele tinha do lado antes que o mesmo pegasse, bebendo, ao que ele sorrira sarcasticamente.- Eu sei falar...e não precisa vir junto.

—Mas é um enorme prazer ajudar, imaginemos que você é uma pessoa que trabalha na máfia e eu não sei...como fica o negócio?

Ária contivera o riso, olhando para a detective.

—Há pena de morte aqui em Los Angeles?

Chloe fizera a mesma expressão de riso que Ária, dando o passo para a frente para descerem, a qual Lúcifer a acompanhara, ouvindo e fazendo a expressão sacana de sempre.

—Infelizmente...há...

(...)

Lucífer continuava ouvindo as duas, dentro do carro, enquanto Ária ia atrás, ele ia ao lado da detective.

—Queria ver vocês duas tentarem...- Zombando com o fato de elas dizerem que o matariam, ao que as duas reviraram os olhos e o silêncio tomara conta do veículo, ao aproximarem-se cada vez mais da delegacia, Ária por motivos óbvios de ansiedade, os outros dois eram sentimentos diferentes,mas decidiram guardar silêncio.

O processo na delegacia fora rápido, Ária só teve que assinar alguns papéis de retirada das provas, dando seu endereço e documentos novos comprovando sua autenticidade de que era a pessoa do acidente, que Chloe confirmara ao guarda que guardava esses objectos.

—Tem sorte...

—É aparentemente, tenho...- Respondera Ária ao guarda, sentindo a sua ansiedade e mal estar aumentar ao olhar a caixa de cartão.
Chloe e Lúcifer a ajudaram com a restante burocracia..se bem que esse ultimo mais atrapalhou do que ajudou, soltando várias piadas sem graça, sobre ser o Diabo em pessoa e que aquela burocracia era como estar de volta no Inferno, com particulares olhares para Ária, que limitava-se a ignorá-lo, decidira por norma que era bem mais simples.

—Burocracia é melhor que uma Boa morte, não é mesmo?

—Não perde uma chance, não é ..patrãozinho?
Ele rira da expressão enfadada que ela tinha. E a detective só rolando os olhos, com os dois se picando.

—Então Ária...como eu te falei, aqui estão as provas...-Disse Chloe abrindo a caixa de cartão lacrada de plástico em cima da mesa, em uma sala privada da delegacia, onde só estavam os três, para ter mais privacidade.

Macária olhou para a caixa por longos segundos, sem coragem para abrir, voltara o olhar para eles, Chloe com o seu olhar sério de sempre, a única surpresa era que seu patrão aquietara,olhando para ela.

Engolindo em seco, estava recriminando-se pela fraqueza, sentia-se tremer por todo o lado, sempre fora corajosa, desde que se encontrou perdida, mesmo depois de descobrir que não tinha ninguém além de si a procurando, quando saiu do hospital...mas porque o pé atrás agora?

Sempre quis saber o que aconteceu consigo...

"Vamos Ária...coragem! O máximo que pode acontecer é você não se lembrar..." Pensou ela, colocando a mão na caixinha, um pouco tremula e hesitante, abrindo o lacre com cuidado e por fim, dando uma última inspiração, puxando todo o ar que seu pulmão podia, se preparando para abrir a caixa e ver os três objectos, que como a detective falara...

Uma bíblia, uma aliança e uma chupeta...azul.

Chloe olhou para Lúcifer e notou que o mesmo tinha voltado a ficar muito quieto e estava fitando a moça com uma expressão indecifrável, para ela ele continuava sendo um autêntico mistério.

Ao qual, ela caminhou até perto dele e colocou uma das mãos no ombro dele, não entendendo como, mas queria lhe dar conforto...mesmo sem entender bem o porque.

Já em relação a moça, a única coisa que poderia fazer era esperar, ela aprendeu com seus anos na policia, que em casos assim, cada pessoa tinha seu tempo e era melhor não atrapalhar o momento dela agora.

Lúcifer desviou os olhos de Ária e fitou a detective, com seus olhos negros, tentando entender o porque ela estava fazendo aquilo...lhe colocando a mão no ombro, porque isso? Não tinha acontecido nada consigo...

"Porque Chloe estava sendo tão amável...?" Pensara se dando conta, de que os humanos são estranhos, mas foi então que sua atenção foi desviada quando escutou um choro sôfrego vindo de Mácaria, seguido de uma respiração ruidosa e difícil, rapidamente como se fosse em câmara lenta ele a pegou no colo, deixando a mão da detective cair de seu ombro, segurando o corpo mole e sôfrego de Ária, antes que este caísse ao chão.

—Meu Deus, que aconteceu?- Chegara Chloe perto dos dois, rente ao chão, ja pegando no seu celular e chamando a ambulância.

—Pode dizer-se que tudo que aconteceu é culpa dele...nunca devia de ter permitido isso...

—Ninguém tem culpa do que aconteceu com ela, Lúcifer...calma...

Lúcifer olhara para a detective com o típico olhar de que ela não entende, ficando a olhar para Macária, vendo os objectos sobre a mesa, ficando tenso, ouvira o barulho ao lado dele, a detective tinha ido na porta avisar para a ambulância ir buscá-la ali dentro.

Seu olhar não desviou da sua funcionária.

—Porque fez isso? Podia estar não passando por isso...- Sussurrara ao ouvido dela, mas lentamente ele começara a ver que os movimentos em volta começaram a ficar lentos até que pararam, a tensão aumentara de sobremaneira ao ver o resplendor das asas tão conhecidas dele, erguera o olhar para cima, vendo o seu irmão Amenadiel.

—Você está mudando...Luci...- O olhar dele fora para baixo, a sua surpresa estendera-se pelo rosto dele.- É ela?- Lúcifer limitara-se a assentir, com a expressão extremamente séria.- O que aconteceu com ela?

—Amnésia...e ...

—Não aguenta emoções fortes?

—Sim...

—Foi por causa dela que você saiu do Inferno, Luci?

Lúcifer não olhara para ele, mas para Amenadiel não dissera nada e nem falara muito mais, limitara-se a voar para os céus e o tempo começara a transcorrer de igual forma, num ritmo alucinante, Ária fora colocada na maca e levada para o hospital, sob o olhar pensativo e sério do anjo caído que não notava o curioso olhar que Chloe tinha sob ele.

Esta achava bem interessante a preocupação dele com ela. Quem seria ela? Era uma interrogação que não lhe saia da cabeça desde á muito tempo e agora tornava-se fundamental.