4 anos atrás...
E quando eu finalmente consegui pegar no sono, barulhos vindos do andar de baixo me acordaram e, infelizmente, eu já sabia que o inferno estava lá. Meu pai. Sim, meu pai é a pessoa que transforma essa casa num verdadeiro inferno toda noite quando ele chega do "trabalho" bêbado. Eu não tenho mãe, minha mãe morreu quando eu tinha apenas 7 anos... Acho que foi a morte dela que deixou meu pai assim, já que ele sempre foi um homem extremamente centrado e correto, depois que o câncer tomou todo o corpo da minha mãe e ela não aguentou mais, meu pai também se entregou mas se entregou para as drogas e bebidas. Não me atrevi a levantar, já que na última noite, quando fui acalmá-lo, ele me empurrou e me bateu, o que me deixou com uma forte dor nas costas, mais um motivo para eu continuar quieta no meu canto, enquanto ele quebrava o que restava da nossa casa.
Os xingamentos já eram audíveis, ele gritava, pedindo para que eu saísse do meu quarto. Por sorte, antes de dormir, eu tranquei a porta do quarto. Dessa vez, ele não irá me machucar, eu não ficarei com mais uma marca. Sabe qual é o pior? De manhã, ele não lembra de muita coisa e age como se nada tivesse acontecido. Eu ainda acho que ele tem vergonha do que faz e ignora porque as marcas em meu corpo são evidentes, qualquer pessoa veria e com certeza perguntaria o motivo, principalmente o meu pai. E então, como ele faz, eu também faço, ajo naturalmente, vou para escola e volto para casa para me preparar para os xingamentos e destruições que vem a noite.
Na escola, as pessoas já desconfiam, as professora já me perguntaram o que aconteceu mas todas as vezes eu respondo com o meu silêncio ou um simples "Nada". Os vizinhos provavelmente já ouviram tudo pois quando eu passo por eles, olhares de pena são jogados sobre mim, o que me fazem me sentir pior.
-Isabella! - O homem, totalmente descontrolado, gritou do lado de fora enquanto batia forte na porta. - Abre essa porta!
-Vai dormir, pai! - Pedi, me encolhendo na cama e me contorcendo devido à dor forte.
-Isabella, eu estou mandando você abrir. - Ele falou, mais calmo e como não tinha alternativa, me levantei para abrir. - O que você estava fazendo e por que não abriu a porta quando eu mandei? - Ele segurou em meu braço, me puxando para perto.
-Nada, pai... Eu estava deitada. - Falei e ele me empurrou na cama.
-Então por que você não abriu a porta?
-Porque eu não quis! - Gritei e ele me olhou, incrédulo. Aos poucos ele foi tirando o cinto e eu me encolhendo na cama.
-Eu sou seu pai e você tem que fazer o que eu mandar. - Ele falou, se desequilibrando um pouco. - Você não tem querer. - Ele falou e bateu com o cinto nas minhas pernas, o barulho estalado soou por todo o quarto, junto com meu grito.
Atualmente...
-Isabella! Acorda! - Ouvi a voz do meu melhor amigo, enquanto ele me sacudia. - Isabella!
-Oi, oi! Já estou acordada! - Falei, abrindo os olhos me deparando com o branquelo na minha frente. - Bom dia, Arthur. O que foi?
-Você estava tendo um pesadelo. Mais um. - Ele falou e eu me sentei na cama, passando a mão pelos cabelos. - Vai se arrumar, está quase na hora da aula.
-Arthur... O que você está fazendo aqui em cima? - Perguntei. - Meu pai nunca deixa você subir.
-Ele não está aí... - Ele falou e eu dei de ombros. Me levantei e fui para o banheiro.
Depois de um banho quente e rápido, parei de frente para o espelho, observando as diversas marcas que já viraram parte do meu corpo, toda vez que eu penso que elas vão sumir, à noite mais uma aparece. Prendi meus cabelos num rabo de cavalo e me vesti, saí do quarto vendo Arthur deitado na minha cama, olhando para o teto.
-Vamos? - Perguntei e ele assentiu.
Fizemos nosso caminho para a escola em silêncio e assim que chegamos, já era possível notar os olhares sobre mim, como acontece todo dia. As aulas seguiram normalmente, mais uma professora veio me perguntar o motivo da marca roxa em meu braço e o "Nada" já espontâneo saiu pela minha boca, fazendo com que a professora desse de ombros e saísse do meu campo de visão. Depois das aulas insuportáveis de matemática e física, fomos liberados e eu segui para a minha casa, junto com Arthur. Assim que chegamos, fui direto para a cozinha, fiz algo para comermos e nós subimos para ver um filme.
-Quer ver o que? - Ele perguntou, controlando a Netflix, completamente jogado na minha cama.
-Sei lá, escolhe aí. - Respondi e me joguei ao seu lado. Ele colocou um filme de ação que eu não estava entendendo e rapidamente, eu peguei no sono, encostada em seu ombro. (...)
-O que está acontecendo aqui? - Despertei com a voz embriagada do meu pai, me sentei na cama e sacudi o ombro de Arthur, que também acordou, assustado.
-Nada, pai! - Falei e ele riu.
-Sai daqui, garoto! - Ele falou para Arthur e ele me olhou, assenti pedindo para que ele saísse e ele obedeceu. - Eu não posso sair que você já quer agir como uma puta, Isabella?
-Agir como uma puta, pai? Sério? O Arthur é o meu melhor ami...
-Eu não te perguntei o que ele é! - Ele gritou e eu me encostei na cabeceira da cama, com as pernas encolhidas ao corpo. - Eu não quero mais esse garoto aqui. - Ele falou, sério. - Não quero ninguém abusando da minha menininha. - Ele falou e se sentou na cama. - Você está tão linda... Cada dia você fica mais parecida com a sua mãe. - Ele passou as mãos no meu rosto e eu fechei os olhos, sentindo uma lágrima escorrer por ele. - E está com um corpo lindo também. - Ele falou, passando a mão pela minha perna e eu o empurrei. - Está maluca, Isabella? Eu posso te tocar. - Ele me puxou pelo braço e eu o empurrei novamente.
-Me solta! - Gritei e ele levantou, me empurrando na parede.
-Cala a boca. - Ele falou baixo e eu juntei toda a minha força, empurrando-o na cama e desci as escadas correndo. Abri a porta e corri por ali, corri o máximo que eu pude, forçando as minhas pernas machucadas.
Meu pai é um monstro.
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