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História I Saved You - You're Not Alone


Escrita por: bcausehamavitti

Notas do Autor


Oi, gente. Queria dizer que este capítulo foi um dos mais difíceis que eu escrevi e por mais que (alerta spoiler) tenha um final feliz, eu fiquei péssima ao escrevê-lo. Enfim, eu espero que gostem, eu amo vocês.

Capítulo 20 - You're Not Alone


Fanfic / Fanfiction I Saved You - You're Not Alone

Acordei na esperança de tudo aquilo ter sido um pesadelo. Eu esperava abrir os olhos e me deparar com o teto claro do meu quarto, o cheiro do café da minha mãe entrando pelas brechas da porta do meu quarto, o conforto dos meus travesseiros e lençóis. Mas não. Eu continuava ali sentada naquela cadeira, amarrada e machucada. Foi uma das piores noites da minha vida, eu nunca pensei que demoraria tanto pra dormir como eu demorei na noite passada. Eu fechava os olhos mas a imagem do Marcelo vinha na minha cabeça, e imediatamente eu os abria, assustada. Minhas costas doíam de um jeito inexplicável, eu precisava da minha cama. A cada cochilo que eu dava, era um mini pesadelo com os tapas de Marcelo na minha pele e parecia que os machucados ardiam cada vez mais, como se os pesadelos tivessem sido reais. Eu precisava de um banho também, mas um banho seguro, um banho que eu poderia tomar tranquila, sem ter medo do meu pai biológico entrar e tentar me estuprar, então, infelizmente, no momento, eu estava preferindo ficar suja. Havia escorrido pouco sangue dos machucados mas mesmo assim, estava seco na minha pele, marcando-a e me incomodando. As marcas roxas e avermelhadas já faziam trilhas intermináveis em meus braços, minha cabeça estava latejando, eu quero a minha casa. 

-Bom dia! - A voz de Marcelo me assustou, me jogando para fora dos meus pensamentos. - Como você está? - Me mantive em silêncio e ele colocou uma bandeja com uns tipos variados de comida em meu colo. Direcionei meu olhar para ele e ele riu, falso. - Coma, você deve estar com fome. 

-Não, obrigada. - Falei, desejando que ele morresse. 

-Eu não estou pedindo, Isabella. - Ele falou, me forçando a abrir a boca. Marcelo enfiou uma fatia de bolo na minha boca, e eu mastiguei lentamente. - Olha o que eu trouxe para vermos. - Ele se sentou na cama, ao meu lado e colocou em seu colo, uma espécie de álbum. 

-O que é isso? - Perguntei, baixo. 

-Olhe. - Ele abriu e a primeira foto era da minha mãe e ele no dia do casamento. Minha mãe estava linda, vestindo seu vestido branco e rendado, seu corpo naturalmente definido e os cabelos caídos numa cascata loira pelas suas costas. Ela sorria. Sorria lindamente, ela realmente estava feliz, assim como Marcelo que usava um terno preto e carregava um sorriso que eu nunca esperava ver. - Foi no dia do nosso casamento. Viu como éramos felizes? - Ele perguntou e eu assenti, ainda impressionada com a tamanha beleza da minha mãe. Marcelo virou a folha e ali tinha uma foto deles, provavelmente numa viagem, numa praia desconhecida por mim e novamente, me surpreendi com toda felicidade que estava presente naquela foto. Ele virava as folhas lentamente, me deixando observar cada foto atentamente. - Olha essa. - Ele falou, virando a folha. Minha mãe estava com uma barriga enorme, atrás de uma mesa decorada. Ela estava radiante, totalmente o contrário do meu pai, que mantinha o sorriso forçado. - Repara na minha mudança. - Todas as fotos que passavam durante a gravidez da minha mãe, ele tinha o mesmo sorriso forçado, o mesmo olhar de nojo. Meus olhos inundaram de lágrimas e não foi de emoção e sim, de tristeza. Percebi que no fundo, aquilo tudo era culpa minha, eu acabei com a vida do meu pai biológico só por ter nascido. Ele virou a página, eu e minha mãe. Eu ainda era um bebê, talvez recém-nascida, minha mãe me tinha em seus braços, seu olhar transbordava amor. Ele voltou todas as páginas para a foto de início, a do casamento. Marcelo tirou a bandeja do meu colo e colocou o álbum de fotos ali. - Está vendo, Isabella? Está vendo como você estragou a minha vida? Agora você entende como eu me sinto? - Ele perguntou, com o tom de voz elevado. - Você tirou a sua mãe de mim, e o pior é que eu não pude aproveitar os últimos dias dela porque ela queria ficar com a filha! - Ele gritou, tirou o álbum do meu colo e o jogou na parede, fazendo com que eu pressionasse meus olhos, deixando-me transbordar em choro. - A culpa disso tudo é sua! Apenas sua! Eu tentei, eu juro que eu tentei te amar. Mas eu não consigo! - Ele gritava de novo. - Você é tão parecida com a Ana, - ele acariciou meu rosto - e isso me deixa com uma raiva. - Marcelo segurou forte em meu rosto, me fazendo sentir dor e chorar mais. - Você destruiu a minha vida. - Ele sussurrou, se aproximando do meu rosto. 

-Me deixe ir embora. - Pedi, com a voz trêmula e o rosto molhado. Ele foi para trás da cadeira e desamarrou as cordas que prendiam meus pulsos, depois soltou os meus pés e quando eu tentei, finalmente, me levantar, ele me empurrou novamente na cadeira. Seus olhos estavam ardendo, transbordavam maldade. Eu estava com medo. 

-Eu não vou deixar você ir embora, filha. - Ele falou, baixo e medonho. - Já disse que você não vai vê-los. Amanhã iremos viajar. 

-Eu não vou a lugar nenhum com você, Marce...

-Eu sou seu pai! - Ele gritou, antes de dar um tapa ardente em meu rosto. - Então, me chame de pai. E você vai, eu não perguntei se você quer. Agora, eu vou deixar você dormir mais um pouco. E confortável. Vá pra cama. - Ele mandou e eu me levantei, me jogando na minha antiga cama, em seguida. Ele andou até as janelas, as trancou e fechou as cortinas, deixando tudo mais escuro e depois saiu. Sumiu me deixando sozinha com o silêncio. 

*

-Está na hora de acordar. - Abri meus olhos com dificuldade e logo me assustei com a proximidade de Marcelo. Ele estava sentado ao meu lado, na cama. Me encolhi, encostando-me na parede e ele segurou meu braço. - Não precisa se assustar, não tenha medo de mim. - Seu corpo se aproximou de mim e um flashback da minha última noite aqui, passou ligeiramente na minha cabeça. 

-Sai. - Sussurrei e ele riu, acariciando meu braço. 

-Sabe, você realmente lembra a sua mãe em tudo. Ana tinha um corpo divino. - Ele sussurrou e um arrepio percorreu a minha espinha. Eu estava com muita dor, meu corpo estava fraco, eu não tinha condições de correr e naquele momento, eu só sentia medo. - E eu estou um tempo na seca. - Ele engatinhou na cama, seu olhar era doentio, eu tentava recuar mas não tinha mais para onde ir. Meus olhos já estavam inundados, eu desejava morrer naquele momento. 

-Eu não sou sua fi... 

-Cala a boca! - Ele gritou e me deu um tapa forte na perna, felizmente, coberta pela calça jeans do uniforme da escola. Ele segurou em meus pés e rapidamente tirou meus tênis e eles foram jogados no chão do quarto. Não, não, isso não pode estar acontecendo. - Você é linda, Isabella. Como a sua mãe. 

-Mas eu não sou a minha mãe! Você não tem esse di... - Fui interrompida pela sua mão, que cobriu a minha boca, me impedindo de falar. Eu poderia sair correndo, poderia lhe bater mas eu estava sem forças, então só me restou o choro. Senti os botões da minha calça sendo abertos e tentei chutá-lo mas ele foi mais rápido e prendeu minhas pernas nas suas. 

-Não adianta. Fica quietinha e curte o momento. - Ele falou, baixo e eu ouvi o barulho dos botões da sua calça abrindo também. Eu realmente queria morrer. Por que Deus está fazendo isso comigo? O que eu fiz  de errado? Por que comigo? Pressionei meus olhos, deixando algumas lágrimas caírem, eu estava sendo destruída. Minha calça foi abaixada, eu estava exposta. 

Eu quero morrer. Eu quero morrer. 

Repeti pra mim trocentas vezes. Eu estava sendo violada, invadida, machucada. E ele gemia como se estivesse sendo bom, ele estocava forte dentro de mim, eu mordi o lábio de dor, chorando e soluçando de desespero. Eu quero ir embora, eu quero meu pai, quero meu namorado. 

Meu namorado. Rafael jamais vai querer se aproximar de mim. 

Ele parecia estar gostando e por isso, foi até o fim. Eu estava me sentindo um objeto, um lixo. Eu não queria, eu dizia, ou melhor, gritava que não mas não tinha forças para me desvencilhar de um corpo maior e mais forte que o meu. Eu estava machucada fisicamente e morta psicologicamente. Eu não conseguia reagir, meus gritos foram cessados, eu estava em choque. Gostaria de dizer que gritei e ninguém me ouviu mas não saia nada da minha garganta, até o choro estava preso. Ele gozou, feliz, um sorriso satisfeito em seu rosto nojento. Marcelo se levantou, arrumou suas roupas e eu continuei ali, exposta, deitada na mesma posição, sentindo dor em todos os lugares existentes do meu corpo. Ele andou até o armário, pegou uma blusa grande e jogou para mim. 

-Se veste. - Ele mandou, rude. E saiu do quarto, me deixando sozinha quando eu preferia que ele tivesse me matado. Eu me levantei com muita dificuldade, tirei a blusa do uniforme, e procurei minha calcinha no chão do quarto. Estava rasgada mas mesmo assim eu a vesti. Coloquei a blusa, que ficou grande o suficiente para cobrir meu corpo. E parece que depois de todo aquele pesadelo, a sorte bateu na minha porta. As cortinas e janelas estavam abertas mostrando que a noite já tinha tomado conta do Rio de Janeiro. Olhei para baixo, procurando um lugar seguro para poder pular. Era alto mas alto o suficiente para eu pular e talvez, apenas me machucar e foi o que eu fiz. Por uns minutos me senti livre mas eu ainda precisava correr para não correr o risco de não ser pega e eu corri mas não corri tanto, eu estava com dor. Minha intimidade doía devido a invasão, minhas pernas, braços, pescoço, coração. Tudo doía. Quando já estava longe o suficiente, me sentei na calçada, colocando a cabeça entre os joelhos. E eu chorei, livre. Aliviada, triste. 

POV Rafael 

-Nós precisamos ir atrás da Isabella. - Falei, e todos me olharam confusos. Ficamos o dia todo sentados na casa de Eriberto, apenas telefonando enquanto alguns rodavam pelas ruas próximas dali. Eu estava cansado de ficar parado aqui, cansado. - E se vocês não forem, eu vou! 

-Rafael, foco. - Eriberto segurou meu rosto em suas mãos. - Nós não temos nenhuma informação, não sabemos onde procurar. - E por um estranho momento, senti um flashback do dia em que vi Isabella pela primeira vez passar pela minha cabeça. Ela vinha assustada de uma rua que nós evitávamos passar. Ela parecia ter medo. Provavelmente aquela rua levava a casa do seu pai biológico. 

-Já sei! Eu lembrei! A rua da casa do Marcelo! - Falei, orgulhoso de mim e Eriberto sorriu. 

-Vamos, vamos! - Ele gritou e me puxou. - Fiquem aí! 

-Nós vamos voltar com a Bella. - Avisei, confiante e saí junto com Eriberto. 

-Você tem certeza? - Ele perguntou e eu dei de ombros. 

-Estou seguindo a minha intuição. - Nós olhávamos em todos os cantos da rua, caminhávamos devagar para não perder nenhuma pista ou algo parecido. Já estávamos no final da rua, as esperanças já estavam indo embora, talvez a minha intuição esteja completamente errada. 

-Acho melhor irmos embora. - Eriberto falou e eu neguei. No final da rua, bem escondida e no escuro, encolhida, parecia estar chorando. Tinha apenas um poste aceso e a luz daquele poste me permitia reconhecer os cabelos curtos e dourados da minha namorada. 

-É ela. - Sussurrei e apontei para ela, mostrando para Eriberto. - Isabella! - Gritei e ela levantou a cabeça e quando me reconheceu, imediatamente, ficou de pé. É ela, a minha menina. Ela tentou correr mas suas pernas fraquejaram. Ela estava machucada, então eu mesmo fiz isso. Corri o máximo que eu pude até ela e quando me aproximei, reparei seu olhar assustado, ela realmente estava chorando. Seus olhos estavam avermelhados, seu rosto marcado, como suas pernas e braços. Ela vestia uma roupa estranha, uma blusa masculina que ia até a metade de suas coxas e quando eu estava bem perto, ela se agarrou em meus braços, me apertando contra seu corpo provavelmente dolorido, pois ela gemeu quando nossas peles se colidiram. - Meu amor. Eu te amo. 

-Eu também te amo. - Ela disse, soluçando. Ela estava chorando novamente. - Está doendo. - Ela gemeu, baixo e meu coração apertou. Peguei-a em meu colo e quando percebi, Eriberto já estava ao meu lado. Ele deu um beijo na testa de Isabella, que sorriu, fraco. 

-Eu já liguei pra sua mãe, ela está vindo. Nós vamos te levar no hospital. - Ele falou e ela assentiu, se encolhendo ao meu peito em seguida. Andamos até Emanuelle apareceu com o carro e todo o caminho, Isabella se manteve em meus braços, quietinha. 

*

-Gente, cadê o médico? - Perguntei, andando de um lado para o outro. Não tinha ferimentos graves, eu sei, mas mesmo assim, eu estava preocupado, eu precisava ver a Isabella. 

-Se acalma, ela já está bem, protegida. - Emanuelle me abraçou e eu sentei ao seu lado, enquanto ela acariciava meus cabelos. Todos estavam ali, incluindo a minha família. 

-Família de Isabella Santoni? - O médico apareceu e todos nós levantamos. - Quem quer vê-la primeiro. 

-Pode ir. - Eriberto falou e eu sorri, antes de lhe dar um abraço apertado. Acompanhei o médico até a porta, onde ele me impediu de entrar. Ele parecia preocupado, o que me assustou um pouco. 

-Você é namorado dela, não é? - Assenti. - Conversa com ela com calma, ela está frágil. - Assenti novamente e abri a porta. Ela estava deitada, com a cabeça tombada para o lado, seus olhos azuis estavam mais abertos mas ainda carregavam uma tristeza sem fim. Andei até ela e quando ela me viu, encolheu as pernas, como se quisesse se afastar de mim. 

-O que foi, meu amor? - Perguntei, acariciando seu rosto. Ela não me olhava nos olhos, eu já estava ficando agoniado. - Bella, olha pra mim, por favor. - Pedi e seus olhos encontraram os meus. Eles estavam inundados de lágrimas novamente, seu rosto corado, ela se controlava para não chorar. - O que foi? 

-Rafael... É-é... 

-Pode falar, meu amor. - Falei, segurando a sua mão e ela respirou fundo. 

-É melhor... É melhor a gente.. É-é... - Ela secou uma lágrima e soltou a minha mão. - É melhor terminarmos. 

-Como assim, Bella? Por que? - Perguntei, sentindo minha pele esfriar. 

-Eu não quero que fique perto de mim, eu estou... Suja... - Ela sussurrou, encolhendo suas pernas. 

-Bella... Você quer me contar alguma coisa? - Perguntei e ela negou. - Isabella, eu te conheço, o que aconteceu? 

-Eu fui estuprada, Rafael. Fui estuprada pelo meu próprio pai. Fui invadida, fui violada, fui exposta. Estou suja, nojenta, destruída. - Ela disse, soluçando e eu me assustava cada vez mais. - Não fique perto de mim. Eu estou com nojo de mim. - Segurei em seu rosto, fazendo com que seus olhos azuis, encontrassem os meus.

-Isabella! Isso não vai fazer com que eu sinta nojo de você. Eu não consigo imaginar o que é ser estuprada, eu não consigo me pôr no seu lugar, ou sentir sua dor, sei lá mas isso não faz com que eu te ame menos, isso não vai fazer eu me afastar de você. Eu vou enfrentar isso junto com você, quando você vai entender que não está mais sozinha? - Gritei, segurando seu rosto, enquanto ela chorava e me surpreendendo, ela me abraçou forte, molhando minha camisa com suas lágrimas e eu a apertei em meu abraço. - Eu te amo, meu raio de Sol. 

-Eu também te amo. Muito. - Ela sussurrou e eu a encarei. Ela esmagou meus lábios num beijo molhado e calmo. 

-Nós vamos passar por isso, eu prometo. - Falei e dei um beijo na sua testa. 
 


Notas Finais


Gente, vocês não têm noção do quanto foi difícil imaginar, pesquisar e escrever sobre estupro. Eu tentei fazer o menos detalhado possível, eu realmente não queria. Infelizmente, isso não acontece em fanfic. Essa é a nossa realidade, acontecem com filhas, com esposas, com mulheres em geral e nós temos que combater isso, aprender a lidar. Ainda vivemos num mundo machistas, mesmo tendo direito trabalhistas suficientemente agradável para as mulheres, a violência ainda está presente, sendo fisicamente, sendo apenas por cantadas ridículas que recebemos diariamente quando passamos na rua. E o feminismo tá aí pra isso. Não podemos deixar isso acontecer. Somos mulheres, como qualquer ser humano, deveríamos ter os mesmos direitos e principalmente, não deveríamos ser tratadas como objetos.
Bom, agora virá a parte feliz da fanfic. Tudo voltará ao normal. Eu prometo, amo você, até o próximo capítulo.


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