História I Saved You - I'm so Proud of You

3 dias depois... 

-Boa noite... Eu te amo, ok? - A figura de Rafael era triste na tela do meu computador. Por mais que ele mantivesse o longo e bonito sorriso, seus olhos transmitiam tristeza para os meus, que se controlavam para não chorar. 

-Eu te amo mais. - Respondi, pressionando minhas mãos umas nas outras. A saudade era dolorosa, já são três dias nessa cidade, é como se eu tivesse vindo mas deixei meu coração nas mãos do cacheado. - Boa noite. - E assim finalizamos a transmissão. 

Fechei o computador depois de um suspiro e me levantei, indo na direção da cama. Meu corpo estava exausto, logo assim que cheguei em São Paulo, Ana me levou na academia de dança de José, que é enorme e tem o triplo de alunas que tínhamos lá no Rio. E naquele dia mesmo, eu já comecei o ensaio... Ana não me avisou que seria tão cansativo. São longas 4 horas de ensaio, 2 horas de aula com a professora particular das alunas de lá, não podemos perder o ano na escola, temos que, pelo menos, manter as notas. E mesmo assim, eu tenho que arrumar um tempo pra ouvir meus pais, conversar com as meninas e admirar Rafael. 

Me encolhi na cama, virando para o criado mudo, onde tinham três porta-retratos. Um com uma foto com meus pais, outra com as meninas e uma Rafael. Aquela foto com Rafael foi uma das primeiras, na verdade, foi a primeira. Eu fiz questão de revelar a foto que Bruna tirou no dia que fomos a praia e acabamos dormindo, é uma das fotos mais linda que já vi, e até acho que Rafael tem uma cópia. Lentamente, uma lágrima escorreu pelo meu rosto, a saudade estava machucando. 

Flashback On

O aeroporto estava lotado e faltavam exatos 30 minutos para eu me despedir ali. Serão três meses longe e eu precisava me despedir direito. As garotas não desgrudaram, durante todo o caminho, nos mantemos de braços dados, vez ou outra, ouvia um soluço de Anaju que tentava esconder o choro. 

-Bom, está na hora. - Ana disse, sorrindo e eu suspirei, soltando o braço das meninas. Me virei de frente para todos ali, todos me encaravam com sorrisos orgulhosos e olhares tristes.

Num impulso desesperado, me joguei nos braços de Cadu e Guilherme, que me abraçaram forte e depois me deram beijos na testa. 

-Boa sorte, loirinha. Estaremos te esperando. - Cadu disse baixo e Guilherme apenas concordou. Depois, pulei no colo de Arthur, meu melhor amigo. O moreno tirou meus pés do chão no meio do abraço forte.

-Te amo. - Sussurrei e ele deu um beijo na minha testa. Me desfiz dos braços de Arthur, encarando os donos do meu coração. Eles me olhavam com sorrisos muito orgulhosos, minha mãe não escondia as lágrimas enquanto acariciava sua barriga. Os dois abriram os braços e eu me enterrei naquele amor todo. Meu pai acariciava meus cabelos enquanto minha mãe me apertava em seu abraço. - Eu vou sentir saudades. 

-Nós também. E vamos te ligar todos os dias. - Meu pai disse, firme. Me abaixei na direção da barriga da minha mãe. Não estava grande, muito pelo contrário, estava pequena mas dava para notar a presença da minha pequena ali. 

-Maninha volta, ok? - Falei baixo e dei um beijo ali, me levantando para abraçar minhas amigas em seguida. As três me pressionaram contra seus corpos, enquanto choravam baixo. 

-Nós vamos estar aqui, ok?

-E nós estamos orgulhosas, pequena. - Bruna disse e me deu um beijo na testa. Encarei Anaju, que chorava compulsivamente e a abracei forte. 

-Eu amo você. - Sussurrei e ela concordou. E depois disso tudo, o encarei sentindo as lágrimas brotarem em meus olhos novamente. 

Ele sorria mesmo com os olhos marejados. Encostado em uma das pilastras, ele segurava uma das minhas malas de braços cruzados, apenas admirando a cena. Rafael soltou a mala e abriu os braços, pulei em seu colo, enlaçando minhas pernas em sua cintura, enquanto chorava em seu ombro. 

-Eu te amo, eu te amo muito. - Rafael sussurrou e eu assenti. 

-Eu te amo muito mais, tenha certeza. - Desci de seu colo e acariciei seu rosto macio. Colei meus lábios nos seus, num selinho demorado, sentindo suas mãos afagarem meus cabelos. -Agora deixa eu ir antes que eu mude de ideia. Eu amo vocês. - Peguei a mala e segui Ana até a porta de embarque. 

Flashback Off 

Sequei mais uma das inúmeras lágrimas que escorriam pelo meu rosto durante aquela lembrança. Lembrança que me atormentara durante esses três dias, quebrando meu coração em pequenos e dolorosos pedaços. Me virei de costas para as lindas fotos, me agarrando a um dos travesseiros dali e fechei os olhos na tentativa de dormir, amanhã será um longo dia. 

POV Rafael 

-Eu te amo muito mais. - Isabella disse baixo. - Boa noite. - A transmissão foi finalizada e eu pude fechar o computador. Logo em seguida me joguei na cama, descansando meu corpo. Desde o dia que Isabella foi embora, os ensaios da banda tem acabado comigo. 

A saudade da loira está acabando comigo aos poucos a cada dia que passa, meus travesseiros ainda tinham o seu cheiro, talvez até um poucos dos fios loiros espalhados por ali. Isabella fez questão de deixar duas das minhas blusas aqui comigo, as duas primeiras que eu dei para ela e que ela usava todos os dias para dormir, deixando assim, seu cheiro doce nelas. E depois daquele dia, tive um dos melhores shows da minha vida e senti minha tristeza ser substituída por grande felicidade devido ao sucesso que fizemos. 

E foi ali que eu percebi que acho que o destino quer separar eu e Isabella. Depois de um longo e cansativo show, fui chamado para uma conversa. 

 Flashback On 

-Rafael, posso conversar com você? - Um homem alto e de meia idade me chamou assim que desci do palco. Os gritos eram ensurdecedores e aumentavam cada vez mais o meu ego de guitarrista. 

-Claro, me acompanhe. - Pedi e entrei no camarim na companhia do tal homem. - Pode falar. - Pedi assim que fechei a porta. 

-Bom, eu me chamo Pedro Bittencourt, sou um dos representantes brasileiros da Syco, suponho que você conheça. - Assenti e ele sorriu. - Então, sou um dos amigos de Simon Cowell, e a pedido dele, eu vim para o Brasil a procura de um guitarrista. Na verdade, fomos distribuídos pelo mundo a procura de um integrante para a nova banda que ele pretende formar e assim que fiquei sabendo desse show, eu vim aqui e, pode ter certeza que não me arrependi. Você tem um talento bruto, um dos melhores que já vi. - Sorri orgulhoso de mim. 

-Ok, muito obrigada. Mas onde você quer chegar com isso? - Perguntei e me sentei, fazendo sinal para que ele se sentasse também. 

-Então, a minha proposta é a seguinte. Você vem comigo, depois de amanhã, nós iremos para Nova York, você faz um teste junto com os outros guitarristas, se você passar, você decide se fica ou não. 

-E se eu decidir ficar, tem um tempo? 

-Bom, a turnê irá durar 3 meses. 

3 meses... 3 meses é o tempo que Isabella irá decidir se vai ficar ou não. Minha cabeça virou uma confusão. 

-Até quando eu posso te responder? - Perguntei nervoso. 

-Até amanhã a noite. Vou deixar meu cartão com você e esperarei sua ligação... Lembre-se que é apenas uma vez e é a oportunidade da sua vida. - O homem me entregou o cartão e saiu em seguida. 

Flashback Off 

Uma vez

Oportunidade da minha vida

Essas frases atormentavam os meus dias depois daquela noite, eu sabia o que ia fazer e sim, eu tinha aceitado e a viagem é depois de amanhã mas ainda não contei a ninguém, apenas para os meus pais, que me apoiaram de primeira. Eu estou confuso e me preparando para contar pra Isabella mas no momento, eu preciso apenas dormir e dormir e dormir. Me virei de bruços, abraçando um dos travesseiros e fechei os olhos para tentar dormir. 

*

O sol já incomodava a minha visão, fazendo questão de me lembrar que, mais uma vez, eu tinha esquecido de fechar as cortinas e que mais um dia longe de Isabella se iniciava. Com muita preguiça, eu me levantei e fui até o banheiro, arrastando meu corpo ainda cansado pelo quarto. Depois de ter trocado de roupa e escovado os dentes, peguei o celular e deixei uma mensagem para Isabella, avisando que precisávamos conversar urgente. Agora eu preciso contar aos meus amigos de banda, depois da mensagem que mandei a Isabella, mandei para o grupo que tínhamos, marcando um encontro na sala de ensaio e todos concordaram. Desci as escadas e peguei apenas uma maçã na mesa e avisei aos meus pais o que iria fazer. 

-Finalmente! - Jenny exclamou assim que entrei na sala. Meus amigos esperavam nervosos, talvez ansiosos. 

-Fala logo, Rafael! - Gabriel pediu e eu me sentei no palco. 

-Então, eu recebi uma proposta ontem, um teste em Nova York pela Syco. 

-SYCO? - Jenny se levantou. - Você vai, não é? 

-Vocês querem que eu vá? 

-Claro que queremos, garoto! - Caio gritou. 

-Eu não iria se vocês não quisessem. Eu comecei isso com vocês, sem vocês, eu não teria essa oportunidade. - Falei e eles sorriram. 

-É claro que você vai e nós te apoiamos. - Gabriel disse. 

-Estamos orgulhosos. - Daniela disse, balançando suas baquetas. 

-E amamos você. - Jenny disse e me abraçou. - Como vai ser esse lugar sem você e a Isabella, hein? Ai, meu Deus, eu vou chorar. 

-Para, Jeniffer. - Pedi e ela riu. 

-Vamos cantar um pouco? - Assenti e peguei minha guitarra. 

POV Isabella 

-Vamos, Isabella! - José gritou, mandando eu me levantar. Já era a quinta vez que eu e as meninas ensaiávamos a mesma música, minhas pernas estavam doloridas. - Eu estou confiando em você, loirinha. Todas tem potencial mas eu vi você dançando essa música. Você será a estrela dessa música, levante-se. Depois, Clara, será sua vez. - A mulata assentiu e se jogou no chão para descansar. - Levante-se! Vamos! 

Work Bitch, da Britney Spears soou por toda a sala e imediatamente eu me levantei, junto com as meninas que dançam comigo. Um, dois, três erros e José parou a música, me encarando furioso.

-Qual o seu problema? - Ele cruzou os braços. 

-Minhas pernas doem! - Falei. 

-Isso é normal, vou te dar um spray depois da aula, você vai pra casa, passa e dorme. Amanhã estará novinha! - Ele disse sorrindo. - Agora, dancem! - Revirei os olhos, retomando a dança, controlando o máximo a dor que estava sentindo. - Podem ir. - Ele disse assim que a música acabou. - Clara, pode ir também, deve estar cansada. Levem esses sprays. - Ele entregou as garrafinhas para nós e sorriu. - Até amanhã. 

-Estou morrendo de dor nos pés. - Clara disse e eu assenti. 

-E eu? Ele está me torturando. - Falei e ela riu. 

-É porque você é nova mas está indo bem. - Sorri fraco. - Nunca tínhamos conversado, não é? - Assenti. 

-Você é daqui mesmo? - Ela assentiu e sorriu. - Eu vim do RJ. 

-Sabia, amo sotaque carioca. - Ela riu. - Imagino que esteja morrendo de saudades de lá. 

-Sim, minha família... Meus amigos, meu namorado. - Suspirei. 

-Ah, você namora. Que amor. - Ela disse com uma voz fofa que me fez rir. 

-Sim, morro de saudades dele. - Falei pegando o celular, vendo que tinha uma mensagem de Rafael. - E por falar nele. - Clara sorriu. 

-Vamos marcar um almoço juntas. 

-Claro, vemos amanhã. Beijos. - Acenei para ela, que sorriu e saiu dali. 

"Precisamos conversar, é urgente." 

-Meu Deus... - Sussurrei para mim mesma, seguindo o caminho até o apartamento que ficava próximo dali. 

WhatsApp On

Podemos conversar agora?  18:00 

Claro, liga o Skype. 18:04 

WhatsApp Off 

Liguei o computador, vendo que Rafael já me esperava. Sua expressão não era uma das melhores, ele estava sério e preocupada, o que também me deixou preocupada. 

-Pode falar... 

-Então... Eu vou ser bem direto, ok? - Ele disse e eu assenti, já sentindo minhas mãos suarem. 

-Eu recebi uma proposta para tocar fora do Rio. - Ele disse e meu coração se encheu de esperança.

-É em São Paulo? Meu Deus! Nós podemos morar jun... 

-É em Nova York. - Ele me interrompeu. 

-O que? Tão longe assim? - Ele assentiu, triste. - Mas você vai, não é? - Ele assentiu novamente e meus olhos se encheram d'água. - Quanto tempo?

-3 meses... 

-Tanto tempo, não é? - Ele assentiu, com um sorriso fraco. - Estou orgulhosa de você. A Bruna me mandou um vídeo do show, você continua sendo o melhor. 

-Eu te amo, raio de Sol. - Sorri. - Como está sendo aí? 

-Doloroso. - Ele riu. - É sério. Eu cheguei, tomei um banho e passei um spray que o professor me deu, olha como minhas pernas estão. - Me levantei um pouco, mostrando as pernas pouco inchadas. 

-Que horror, você precisa se deitar. - Ele mandou e eu assenti. 

-Dorme comigo? - Pedi e ele assentiu. Me levantei, carregando o notebook até a cama e Rafael fez o mesmo. O moreno tirou a camisa e se jogou na cama. - Boa noite. 

-Boa noite, meu amor. - Ele disse, baixo e rouco. Fechei os olhos, me entregando ao cansaço, ouvindo pela primeira vez, em três dias, a respiração calma de Rafael ao meu lado.