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História I Saved You - Karina


Escrita por: bcausehamavitti

Notas do Autor


Oi, gente... Eu não vou falar muita coisa pois confesso que estou MUITO triste com esse capítulo. Foi o capítulo mas difícil que eu escrevi, eu chorava com cada palavra, e imagino que será assim com vocês também.Foi o mais triste mas também o meu favorito, já que eu me esforcei tanto que ficou incrível! Por isso me perdoem, não me matem e nem me abandonem, por favor HAHAHA! E olha, eu prometo que vocês vão me amar no final, ok? Ok! Bom, eu amo vocês, boa leitura! Beijos.

Capítulo 47 - Karina


Fanfic / Fanfiction I Saved You - Karina

POV Rafael 

5 meses depois... 

-Rafael, eu estou grávida, não estou doente. - Isabella disse enquanto eu a segurava para descer as escadas. A barriga dela estava tão grande que me assustava. - Rafael... - Ela parou e suspirou. - Pode me soltar. 

-Mas, Bella... - Falei mas ela me interrompeu com um olhar que perfurou até a minha alma. - Ok, mas desce devagar, tá? - Isabella sorriu e assentiu. Lentamente, ela desceu as escadas, segurando no corrimão enquanto eu a supervisionava de cima. Inacreditável como Isabella fica mais linda a cada dia que passa. Minha esposa respirou fundo quando chegou no último degrau e caminhou até a cozinha. Desci as escadas rapidamente, indo ao seu encontro na cozinha. Isabella estava parada na porta da geladeira, com a expressão desapontada. - O que foi? 

-Estou com vontade de comer... Hmmm... Açaí com chantilly e sorvete de abacate. - Ela disse, com os olhos fechados. Ao ouvir ela falando, senti meu estômago embrulhar com a mistura. 

-Como assim, Isabella? - Perguntei, cruzando os braços e ela riu. 

-É isso! Mas não tem aqui... - Ela disse, fazendo biquinho. 

-Meu Deus, é o quinto desejo que você tem em nove meses... Sua mãe disse que o normal é apenas dois! - Isabella abaixou a cabeça, com o olhar triste, fazendo meu coração amolecer. -Ah, tá bom! Eu vou comprar pra você...

-Ah! Eu te amo! - Ela gritou com um sorriso radiante no rosto e me abraçou. - Vou esperar lá na sala. - Ela disse, depois de abrir o microondas e pegar o último pedaço do bolo que Bete tinha feito ontem. 

-Aonde cabe toda essa comida? - Perguntei, caminhando atrás dela. 

-Sua filha come muito! - Ela disse, pondo um pedaço grande de bolo na boca, me fazendo rir. 

-Bete! - Gritei e a mesma apareceu correndo. - Eu vou sair pra comprar as coisas pra Isabella porque ela está com desejo. 

-De novo? - Ela perguntou incrédula e Isabella riu, com a boca suja de bolo. - Qual é o da vez? 

-Açaí com chantilly e sorvete de abacate. - Ela respondeu e Bete fez cara de nojo. 

-Vai lá, filho! - Bete disse e eu lhe dei um beijo no rosto. -E não demora! 

-Vou fazer de tudo! - Falei e peguei a chave do carro e a carteira. - Te amo. - Dei um selinho em Isabella e saí. 

Minha cabeça estava a mil. Fazia exatos dois dias que Isabella completou nove meses de gravidez e nossa filha podia nascer a qualquer momento. Durante nove meses, Isabella teve desejo cinco vezes. Em um deles, Isabella me ligou mais de dez vezes perguntando se eu ia demorar para chegar, e o mais incrível é que depois de comer todas essas coisas estranhas, ela põe tudo pra fora e volta a comer. Não foram meses fáceis, os enjoos foram constantes mas, segundo a Dr. Ana, está seguindo perfeitamente e a nossa filha está surpreendentemente saudável. 

...

-Tem sorvete de abacate? - Perguntei ao dono do sexto mercado que eu fui. O pote de açaí e chantilly já estavam no carro, provavelmente derretidos. Já liguei trilhões de vezes para Isabella, perguntando se servia apenas os dois mas ela sempre grita comigo dizendo que não. O pôr do Sol estava quase no fim e o Rio de Janeiro escurecia aos poucos. Eu estava longe de casa, cansado e com fome. 

-Sorvete de abacate? - O homem simpático perguntou com um sorriso sárcastico no rosto. Assenti. 

-Desejo da minha esposa. - Dei de ombros e ele riu ainda mais alto. 

-Esposa? Tão novo e já casado? - Assenti, encolhendo os ombros. - Bom, nós não temos mas eu conheço uma sorveteria que vende esses sabores exóticos. É daqui há dois quarteirões. 

-Ah, sério? - Ele assentiu, sorrindo. - Ah, obrigada! Obrigada mesmo! Eu estou desde cedo procurando! 

-Vai logo! Antes que a sua esposa surte. - Assenti e saí correndo para o carro. Depois de dirigir rapidamente até a sorveteria, me decepcionei ao ver que estavam fechando. Desci rapidamente do carro e segurei o homem pelo braço. 

-O que é isso? - Ele perguntou assustado. 

-Você está fechando? - Perguntei, desesperado e ele assentiu. - Pelo amor de Deus, me vende um pote de sorvete de abacate. 

-Sorvete de abacate? Esse desespero todo por causa de um sorvete de abacate? - Ele perguntou, abrindo as portas. 

-Ah, minha esposa está grávida e esse é o quinto desejo dela! Da última vez eu não consegui e ela ficou dois dias sem falar comigo. -Ele riu, alto e caminhou até o freezer. 

-Toma, garoto. - Ele disse, me entregando a sacola com o sorvete. Entreguei-lhe o dinheiro depois de agradecer milhares de vezes e voltei para o carro. 

-Finalmente! - Minha comemoração foi interrompida pelo toque do meu celular que me assustou. -Alô? 

-Rafael? - A voz de Bete soou do outro lado. Ela parecia trêmula e nervosa. - Onde você está? 

-Estou voltando pra casa. Por que? Fala pra Isabella se acalmar. 

-Não, não vai pra casa, nós estamos saindo com ela agora... Vai pro hospital. 

-Hospital? Por que hospital? Bete, o que houve? - Perguntei, sentindo minhas mãos suarem. 

-Sua filha vai nascer, meu amor. 

POV Isabella 

-Tem certeza que você quer comer isso? - Bete perguntou quando eu desliguei o telefone pela terceira vez. Rafael não achava o sorvete de abacate de jeito nenhum, mas a vontade em mim não passava. Era como uma necessidade maior, caso de vida ou morte. Assenti e Bete balançou a cabeça, negativamente. A campainha tocou, fazendo Bete largar tudo e ir a caminho da porta. 

-Boa tarde, Sr. Marcelo. - Ela disse, abrindo a porta. 

-Já pedi pra não me chamar de senhor, Bete. -Ele disse, entrando. 

-Sr. Eriberto. -Ela disse e meu pai entrou logo atrás do Marcelo, acompanhados da minha mãe e meus amigos. 

-Reunião familiar? - Perguntei, soltando o pacote de biscoitos. 

-Boa tarde, Isabella. Está tudo bem comigo sim e com você? - Guilherme perguntou e eu ri. 

-Sempre educada. - Bruna disse e me deu um beijo na testa. 

-Me dá a minha afilhada. - Estiquei os braços e Arthur me entregou a Júlia que já estava bem pesada. - Oi, meu amor. - Dei um beijo em seu rosto e a coloquei sentada na minha perna. - E então, como vocês estão? 

-Ótimos! Viemos ver você, já que vocês não saem daqui. - Minha mãe disse e eu dei um beijo na testa da minha irmã. 

-Ah, gente... Eu só consigo andar do quarto até a sala. Essa barriga pesa demais. - Falei e eles riram. - É sério!

-E o Rafael? - Guilherme perguntou. 

-Foi comprar comida pra mim. - Falei e Cadu revirou os olhos. 

-Mais um desejo? - Ele perguntou e eu assenti, encolhendo os ombros. - Qual é a nojeira da vez? 

-Açaí com chantilly... E sorvete de abacate... - Falei e todos fizeram cara de nojo. - Ah, gente! Para que é bom, ok? 

-E você já comeu? - Neguei, rindo. 

-Trouxemos pizza! - Marcelo falou me mostrando as quatro caixas de pizza e eu pedi uma. 

...

-Não! Volta só com esse sorvete! - Gritei pela milésima vez com Rafael, que já me ligava com a voz trêmula. 

-Coitado, Bella! Já vão dar seis horas e ele ainda está procurando esse sorvete! Come a porcaria do açaí com chantilly! - Anaju disse e eu neguei. 

-Ela já comeu metade de uma pizza, nunca que ela vai aguentar esse sorvete. - Minha mãe falou e eu revirei os olhos. 

-Vocês já escolheram o nome? - Guilherme perguntou, se aproximando da minha barriga. 

-O Rafael que vai escolher... Quero dizer, ele escolheu mas não quer me falar. - Dei de ombros e Guilherme riu, encostando o ouvido na minha barriga. 

-Ela chutou! - Ele gritou ao sentir minha filha chutando. - Nossa, mais uma vez. - Ele disse, se afastando. 

-Ai! - Exclamei, sentindo uma pontada forte ou um chute forte demais. - Mais uma vez. - Me levantei mas fui impedida por uma dor insuportavelmente forte, que me fez cair sentada no sofá novamente. 

-O que foi, minha filha? - Meu pai perguntou, segurando a minha mão mas eu só consegui apertá-la para tentar cessar a dor que me fazia gritar. 

-Ai, meu Deus, é agora! - Bruna gritou e se levantou. 

-É agora? - Marcelo perguntou e eu assenti, sentindo as lágrimas brotarem no meu rosto. 

-O que aconteceu? - Bete perguntou, enquanto descia as escadas correndo. 

-Está na hora! - Jenny disse. 

-Ai, senhor Jesus! Eu vou pegar as coisas da bebê! - Bete gritou e subiu novamente. 

-Guilherme! - Chamei-o antes de dar mais um grito de dor. - Chama o Rafael... Por favor, liga pra ele! 

-Está doendo muito? - Cadu perguntou, segurando minha mão. 

-Não, seu babaca! Ela está gritando á toa. - Jenny disse e lhe deu um tapa.

-Dá pra vocês pararem de conversinha e me ajudar a levá-la pro carro? - Meu pai gritou e Marcelo assentiu, me segurando do outro lado. 

-Eu vou ligar pra Dr. Ana! - Minha mãe disse e pegou o celular com a mão trêmula. 

-Eu já falei com o Rafael! - Bete desceu as escadas correndo, segurando a bolsa que tínhamos guardado as coisas da bebê. 

-Vamos, vamos! - Meu pai exclamou e ele e Marcelo me levantaram. 

***

-Eu estava aqui perto, meu amor! - Rafael disse assim que meus pais me colocaram na maca. -Eu consegui seu sorvete! - Ele disse, sorrindo porém nervoso. Rafael pegou a minha mão e eu a apertei tão forte que ele pressionou os olhos. - Ok, você não está nem aí pro sorvete. - Balancei a cabeça, negativamente e ele beijou as costas da minha mão. - Eu posso te ajudar de alguma forma? 

-Não sai do meu l-lado... - Pedi, deixando mais uma lágrima cair. 

-Nunca, meu amor! - Ele disse e deu um beijo na minha testa. 

-Bella! - Dr. Ana apareceu correndo. - O que vocês estão esperando? Leve-na pra sala! - Ela gritou com os enfermeiros, que empurraram a maca. 

-Doutora? Eu posso ir? - Ouvi a voz de Rafael ficando cada vez mais distante. 

-Claro, Rafa! - Dr. Ana disse, me deixando mais tranquila. A dor era, definitivamente, pior que as minhas cólicas mensais, que eu jurava que não teria algo pior. Era como se existissem milhares de bebês me chutando. Minhas pernas estavam dormentes e o suor escorria pelo meu rosto freneticamente. 

POV Rafael 

-Toma! - Dr. Ana me entregou uma máscara e eu a coloquei. Minhas pernas tremiam. Da entrada já dava para ouvir os gritos da Isabella, que me faziam estremecer cada vez mais. 

-Vai dar tudo certo, não vai? - Perguntei para Dr. Ana, com os olhos marejados. 

-Vai. Nós vamos fazer de tudo! - Ela disse, pondo a mão no meu ombro. - Agora vamos. - Assenti e ela abriu a porta. Isabella estava deitada, com as pernas dobradas e vários enfermeiros a sua volta.

-Sente-se aqui. - Um dos enfermeiros me mostrou a cadeira ao lado da maca e eu me sentei, passando a mão pela testa suada de Isabella, que sorriu, pressionando os olhos. 

-Está n-na hora... - Ela sussurrou, segurando a minha mão. 

-Shhhh... Não fala nada... - Pus o indicador nos seus lábios mas me afastei quando ela deu mais um dos gritos. - Eu estou aqui. 

-Eu t-te amo. - Ela sussurrou novamente e eu assenti, secando uma lágrima que insistiu em cair. 

Os gritos da minha esposa não cessavam. Ela apertava a minha mão ainda mais forte e chorava compulsivamente, me deixando mais nervoso a cada minuto que passava. E nada de ouvir um suspiro ou um choro da minha filha, nada de comemoração, nada! Os sons ali eram apenas da máquina ao lado que mostravam os batimentos cardíacos dela, e os enfermeiros e Ana mandando ela fazer mais força e respirar mais fundo. 

-Vai, meu amor! Você consegue! - Falei e ela se inclinou, dando um grito ainda mais alto. 

-Vai, Isabella! Você consegue, princesa! Eu já estou a vendo! - Dr. Ana gritou e eu me levantei. - Senta aí, Rafael! - Ela mandou e eu me sentei novamente. 

-Doutora? - Um dos enfermeiros a chamou e sua expressão mudou, do nada. 

-Tem algo errado... - Ela disse e eu segurei a mão da Bella mais forte. - Bella, por favor! Faça toda a força que você conseguir! - Ana gritou, desesperada. - Eu não sei como mas o bebê está todo enrolado no cordão umbilical, inclusive no pescoço! Você precisa fazer toda a força que você conseguir para que a sua filha viva. - Meu coração, que já batia aceleradamente, foi parar na garganta ao pensar na possibilidade da minha bebê morrer sufocada. 

-Você consegue, raio de Sol! Dê a vida a nossa filha! - Pedi e ela assentiu, impulsionando o corpo para frente. Nossas mãos estavam unidas e molhadas de suor. O rosto de Isabella ficava cada vez mais pálido, me deixando agoniada. Seus lábios rosados ficavam sem cor e sua mão gelava. 

-Eu não v-vou... - Isabella disse, balançando a cabeça negativamente. - Dói muito! - Ela disse, acompanhado de um grito e mais um aperto forte na minha mão. 

-Batimentos caindo... - Um dos enfermeiros disse. 

-Ai, meu Deus! Tira ele daqui! - Dr. Ana pediu e o enfermeiro me puxou. 

-O que? Eu não vou sair daqui! - Gritei, empurrando o enfermeiro. 

-Você precisa sair, senhor. - Ele disse, calmamente. 

-Senhor é o caralho! Eu não vou sair de perto da Be... 

-Rafael! Sai agora e me deixa fazer o meu trabalho! - Dr. Ana gritou e o enfermeiro me empurrou para fora, fechando a porta em seguida. 

-Eu prometi que não ia sair de perto dela! - Falei, sentindo as lágrimas descerem compulsivamente pelo meu rosto. 

-Rafa, vem! - Meu pai envolveu os meus ombros, puxando-me para a sala de espera. 

-Eu prometi, pai! - Falei e ele assentiu. 

-Eu sei, filho! - Meu pai me abraçou, deixando com que eu chorasse em seu ombro. - Vem... 

-O que aconteceu? - Emanuelle se aproximou, nervosa. 

-Eu ouvi... - Sussurrei. 

-Ouviu o que? 

-Eles falaram... Batimentos caindo... - Falei, com os olhos fechados. - Eles falaram... 

-A minha filha. - Manu desatou a chorar. 

-Calma, meus amores! Vai dar tudo certo! - Minha mãe falou, com o rosto molhado de lágrimas, e segurou a minha mão. - Vai dar tudo certo, filho... - Meu olhar não desgrudava do corredor da sala de parto. A porta podia abrir a qualquer momento. As lágrimas já se tornaram incontroláveis e acabou que eu nem percebi que eu chorava muito. Eu já não sentia mais nada, como se eu tivesse em choque. Meu coração batia tão forte que pensei que ia parar a qualquer momento. 

E como eu pensava... A porta se abriu.

De lá, saíram quatro ou cinco enfermeiros, empurrando a encubadora. Me levantei quando ouvi o choro alto da minha filha mas me sentei novamente quando Dr. Ana saiu da sala com uma expressão triste. Eu senti meu coração parar por segundos enquanto ela se aproximava. 

-Como elas estão? - Emanuelle perguntou e Dr. Ana abaixou a cabeça. 

Narrador POV

Bruna chorava, nervosa e agarrada a Arthur, que alternava os olhares entre a porta da sala de parto e o carrinho onde Júlia dormia. Jenny manteve a cabeça abaixada desde o momento que Rafael apareceu e Cadu orava mentalmente pela vida da amiga e da sua respectiva filha. Guilherme, como sempre, permaneceu quieto e com o olhar distante, preferia não pensar em nada, já que sabia que se parasse pra pensar na situação, pensaria numa coisa ruim. Anaju chorava compulsivamente porém, em silêncio, não queria deixar todos ainda mais nervosos. Marcelo estava longe de todos, rezando para que Deus deixasse sua filha ali com eles. Emanuelle e Eriberto não se desgrudavam, o pai de Isabella mantinha a postura forte para poder sustentar o desespero de Emanuelle, que não suportaria a perda da filha, com toda certeza. Bete orava mentalmente assim como todos ali, enquanto brincava com a Nina, que olhava para todos os lados, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo ali. 

Rafael continuava em choque desde a hora que sentou ali. Ouvir que os batimentos cardíacos do amor da sua vida estavam parando, o deixou num desespero interno que ele tentava lutar contra. Ele lutava contra todos os pensamentos relacionados a perder Isabella, só de imaginar sua vida seu o olhar azul da sua esposa, sentia seu mundo desabando, talvez até preferisse a morte. A cabeça do garoto estava tão confusa que nem o melhor dos psicólogos conseguiriam explicar. Até a porta da sala se abrir. As pernas dele ganharam tanta força e confiança que ele se levantou, o choro da pequena - que estava sendo levada para uma série de exames - lhe deu força. 

E novamente, Rafael caiu sentado. Dr. Ana carregava um olhar triste, culpado, doloroso que foi como vários tiros perfurando o peito de Rafael. A cada passo seu, era um suspiro assustado e medroso de Rafael, que desejava sair correndo e sumir pra sempre. 

-Como elas estão? - Emanuelle perguntou, sentindo a esperança em seu coração depois de ouvir o choro estridente e alto da neta. Dr. Ana abaixou a cabeça, desapontada consigo. Ela tinha prometido que tudo daria certo. 

Mas não deu... 

-Nós tentamos. - Dr. Ana disse, baixo. - Nós tentamos reanimá-la de todas as formas. Ela teve uma hemorragia que conseguimos controlar... Mas seu coração estava fraco, tentava bombear sangue de todas as maneiras e não conseguia. Ela teve um infarto. O bebê estava preso de alguma forma, o cordão umbilical estava enrolado no seu pescoço e o útero já não se contraía de forma espontânea. - a essa altura, Emanuelle já estava num desespero sem fim, enquanto chorava, ajoelhada no chão, agarrada a Eriberto que tinha perdido a pose e estava em estado de pânico.

 Guilherme chorava silenciosamente mas seu coração estava dividido em milhões de pedaços. Jenny, Cadu, Bruna e Arthur, choravam alto e abraçados, afinal, tinham perdido a melhor amiga. João e Valéria, choravam igual a todos ali, mas tentavam ouvir Dr. Ana e por incrível que pareça, o único que se manteve firme, foi Rafael que olhava para Dr. Ana focado no que a médica falava, para tentar entender o que tinha acontecido de fato. 

-Foi aí que aconteceu a hemorragia. Ela mesma tentava empurrar a criança para fora. - Dr. Ana olhava para seus dedos, tentando controlar o choro. De todas as pacientes que teve em anos de trabalho, Isabella foi uma das que ela mais se apegou. - E conseguiu. Ela fazia força, tirava de onde não tinha mas ela conseguiu e nós conseguimos salvar a bebê, tirando o cordão do pescoço rapidamente para que ela não sufocasse. - Rafael assentiu, sentiu até alívio ao saber que o fruto do amor dos dois estava ali. - Depois de todo o esforço, o coração da Bella cansou... Enquanto tentávamos controlar a hemorragia, ela começou a infartar. Foi a causa da nossa perda. Me desculpem... - Ana disse, entregando-se a tristeza, deixando todo choro sair. Rafael se levantou e a abraçou forte, mantendo o pensamento de que teria que ser forte. - Ela foi uma heroína... A mais forte que eu conheci. Quer ver a bebê? - A doutora perguntou, secando as lágrimas e Rafael assentiu. 

-Mãe? Vem comigo? - Rafael pediu, estendendo a mão para a mãe, que a segurou, secando as lágrimas. 

-Me acompanhem, por favor. - A médica pediu e eles o seguiram pelo longo corredor branco do hospital. O cheiro de dor e desespero preso as paredes do local, deixavam Rafael ainda mais fraco mas, ainda assim, ele se manteve de pé, caminhando atrás da médica até a ala do berçário. 

-Perfeita e saudável. - A enfermeira saiu do berçario, tirando as luvas das mãos com um sorriso no rosto. - Respiração, batimentos, pressão, tudo perfeito. Não vão precisar ficar aqui. Só uma noite para ficar em observação. - Rafael assentiu, tentando sorrir. A infermeira notou o desconforto no rapaz e se afastou o mais rápido que pode, evitando mais constrangemento. 

Dr. Ana sinalizou a entrada para os dois, que caminharam até a entrada. Voltaram a segui-la até o berço, que estava distante, quase no final da grande sala lotada de berços e bebês. Todos em silêncio, era possível ouvir a respiração dos pequenos seres. Alguns recém-nascidos, outros em encubadoras, precisando de recuperação. Mas Rafael procurava apenas uma. A sua filha. Dr. Ana parou ao lado do berço e apontou para ele. Rafael fechou os olhos, tinha medo e não sabia de quê. Depois de um longo suspiro, seu olhar pousou na pequena criatura de pele branca. Rafael hesitou mas levou sua mão até a da sua filha. Rafael tinha acabado de perder a esposa, qualquer pessoa estaria num eterno desespero mas Rafael sorriu. Rafael sorriu ao sentir a pequena mão da filha envolver seu dedo indicador num movimento lento e delicado. Ela tinha poucos traços de Rafael, na verdade, ainda não dava para distinguir mas as pintas abaixo dos olhos fechados e apertados eram nítidas. 

-Suas sardas. - Valéria disse, emocionada ao ver o rosto da primeira neta. Rafael assentiu, sem tirar o sorriso do rosto. 

-Posso pegá-la? - Rafael perguntou e Dr. Ana assentiu, sorrindo em meio às lágrimas. 

Rafael inclinou seu corpo e segurou a filha, levantando-a lentamente, até a acomodar perfeitamente em seu colo. A pequena se ajeitou no colo do pai, soltando um pequeno e baixo gemido, demonstrando uma enorme necessidade de horas de sono, nem abriu os olhos para olhar o mundo, ou olhar o pai, a preguiça era enorme, ela tinha apenas horas de vida. Uma vida inteira para olhar para a cara de pai babão que Rafael carregava. 

O pai, pelo contrário, não tirava os olhos da filha. Suas orbes amendoadas brilhavam, não sabia-se se era de encanto ou emoção. Seu dedo continuava envolvido pela mão aquecida da filha. Rafael prestava a atenção em todos os detalhes, desde a forma que ela apertava os olhos - como Isabella - até a sua barriguinha subindo e descendo conforme ela respirava calmamente e preguiçosa. 

-Qual vai ser o nome? - Valéria perguntou, envolvendo os ombros do filho. 

-Depois eu conto... - Ele disse, hipnotizado com a beleza da recém nascida. - Isabella vai ser a primeira a saber. - Valéria recuou um passo e olhou para trás, quando a porta se abriu. Bete estava com o rosto avermelhado e molhado de tanto que chorou até conseguir manter o controle, e enfrentar o que precisava. - Arruma ela pra mim, mãe? - Valéria assentiu e Rafael se inclinou para entregar a filha para a mãe. 

-Você quer vê-la? - Rafael abaixou a cabeça e assentiu, dando um sinal para Rafael sair, em seguida. 

-Te amo. - Ele sussurrou e deu um beijo na testa de Bete, saindo da sala para finalmente, encarar a realidade. O silêncio continuava o mesmo, Rafael nem quis olhar para a sala de espera onde seus amigos estavam, entrou direto no elevador que o levaria até Isabella. 

O caminho parecia ser o mais longo de todos que Rafael já fez. Sua cabeça tinha voltado a ser uma eterna confusão, ele nem sabia se queria mesmo vê-la, não tinha coragem, achava que, na verdade, nunca teve. Se achava covarde, queria correr e chorar pro resto da vida. Mas no meio de toda a confusão que sua mente tinha se tornado, Rafael sabia que agora, ele não era mais um menino que tinha medo do trovão, ou até mesmo de beijar uma garota na academia. Agora ele é um homem, agora ele é pai e tinha consciência disso, sinal de que tinha amadurecido, e sentia orgulho disso. Sentia orgulho de ter se mantido firme na frente de todos, mesmo querendo se entregar completamente a dor. Talvez, tenha sido ali que ele parou de se achar um covarde. 

Ele cresceu e aceitou. 

"Sou um homem" Repetia para si mesmo, mentalmente, enquanto seguia a médica. Ela parou na frente da porta com número 2506, que por uma coincidência ou uma peça pregada do destino, era a data do casamento de Isabella e Rafael. Ele encarou a placa indicando a numeração e pressionou os olhos, a data nunca sairá da sua mente, foi um dos dias mais importantes da sua vida. E seguindo o pensamento "Sou um homem", Rafael tentou avançar mas foi impedida. Dr. Ana segurou seu pulso e a encarou, séria. 

-Permita-se sentir. Você foi forte mas chegou a hora de aceitar. - Ela disse e Rafael assentiu, sentindo as lágrimas já em seus olhos, mesmo que ele lutasse contra. - Chega de se provar, Rafael! Agora vai. 

Dr. Ana deu um passo para trás e Rafael pôs a mão na maçaneta gelada. Depois de um suspiro longo e pesado, Rafael a girou e sem olhar para frente, entrou no quarto. Ele tinha voltado a ser o menino covarde com medo dos trovões. Não tinha coragem de se virar e encará-la mas mesmo assim foi. O único e maior amor da sua vida estava ali naquela cama. Suas estranhas pareciam dar nó conforme ele se aproximava da cama onde o corpo sem vida de Isabella estava pousado. Sua pele estava mais pálida como a neve que cobria as árvores do Central Park, lembrava perfeitamente das tardes que ficava sentando ali, encarando a saudade que sentia de Isabella. E tinha medo, medo daquela saudade que sentiu, agora a saudade que seria eterna. Ele estava com medo de tudo, no momento, sentia até medo da vida. 

A vida que ele teria que levar sem Isabella. 

Tudo girava, sua visão estava turva devido às lágrimas, que impediam a sua visão mas mesmo assim, ele continuou se aproximando até ficar cara a cara com Isabella. Ele ainda torcia para ela abrir os olhos e suas orbes azuladas encontrarem a sua. E depois um sorriso. Depois um toque e um beijo. Mas no fundo sabia e procurava aceitar que aquilo nunca mais aconteceria. E ainda assim, sentou ao seu lado e abriu a boca, sua voz se recusava a sair porém, o garoto fez força para que ela saísse, e pela última vez, ele falasse algo com Isabella. 

-Eu só fui comprar seu sorvete, né meu amor? - Ele disse, deixando as lágrimas serem despejadas como lentas cascatas. - Você salvou a nossa filha, sabia? O fruto do nosso amor. É clichê mas é verdade, não é? Você foi a coisa mais intensa que eu vivi. Não sei se vou conseguir superar, sabe? Você me ensinou a ser forte - Rafael suspirou e pegou a mão da esposa, tão gelada quanto a maçaneta da porta - você me ensinou a enfrentar a vida. E eu vou fazer isso. Por você e pela nossa filha. Eu vou te amar pra sempre, meu raio de Sol. Desde o amanhecer até a madrugada. 

Rafael permitiu-se chorar e abraçar o corpo de Isabella. Faltava-lhe o ar e os soluços eram audíveis, nada seria capaz de acalmar seu coração. O desespero lhe fez perder o resto da sanidade que tinha. Implorava justiça a Deus. Por que com ele? Por que a Bella? Sua metade estava morta, sentia-se morto também. Ele desejava gritar mas lhe faltava a voz, lhe faltava ar, lhe faltava força, lhe faltava tudo que Isabella lhe deu durante todo esse tempo. Quem estivesse do lado de fora, ou caminhando pelo corredor, saberia que o sofrimento estava instalado no quarto 2506. O choro de Rafael era alto o suficiente para isso. 

Lembrando-se da última coisa que deveria falar a Isabella, Rafael levantou a cabeça, com a visão ainda embaçada devido às lágrimas mas encarou a palidez da face da esposa, depois a acariciou e molhou os lábios antes de depositar um beijo demorado em sua testa. 

-Eu sei que irá nos proteger onde quer que esteja. - Rafael colocou a mão no bolso da jaqueta, a procura da caixa tão preciosa para o mesmo. Ele tinha comprado depois de umas semanas após o casamento e quando Isabella estava no final dos oito meses de gestação, ele passou a andar com a pequena caixa guardada no bolso da jaqueta preta. Rafael a abriu, a correntinha era pequena, caberia apenas no pulso da filha. Ele pegou o a mão de Isabella e depois de um pequeno esforço, enrolou a pequena pulseira em seu dedo e a fechou, como um anel, deixando apenas o "pingente" à mostra. Era como uma pequena plaquinha, com o nome escolhido. Depois de minutos analisando a corrente dourada e delicada enrolada no dedo da esposa, sua voz voltou ao normal. - Significa pureza... Amada, querida, protegida. É o que ela vai ser sempre, meu amor! Tanto por você, nosso anjo da guarda, quanto por mim. Nossa Karina será uma mulher maravilhosa, assim como você foi. 

 


Notas Finais


:(


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