História I Saved You - Sol e Lua

-Ai, minha cabeça. - Reclamei antes de qualquer coisa. Me levantei, coçando os olhos. Eu estava um lugar diferente, totalmente desconhecido por mim. Um quarto extremamente bagunçado, a cama grande só estava sendo ocupada por mim, o que me deixou mais intrigada ainda. Onde eu estava? Como eu fui parar ali? E com quem? MEU DEUS, o que foi que eu fiz? Eu lembro do Cadu me chamando para beber. E eu bebi. Aquela bebida estava inexplicavelmente gostosa, mesmo com todo ardor que descia pela minha garganta, era delicioso e libertador. Lembro do Felipe e eu estou começando a ficar com medo dele, às vezes parece que ele sabe mais de mim do que eu mesma... O Rafael me tirou de perto dele e nós dançamos a minha música favorita, seu cheiro é inesquecível e parece ainda estar em minhas narinas. Me recordo de ter bebido incontáveis copos de vodka, como eu disse, era viciante. Flashbacks de uma dança sensual com Felipe passam pela minha cabeça, me deixando extremamente confusa. Eu olhava para aquele quarto tentando ter alguma lembrança. 

   Rafael.

Eu saí de lá com ele, lembro de ele ter me tirado de perto do Felipe. Menos mal, me impediu de fazer alguma besteira mas e se nós tivéssemos feito outra besteira ao sair de lá? Meu Deus, eu não perdi nem o BV ainda, será que não sou mais virgem? Passei as mãos pelos cabelos, começando a ficar nervosa. A Bruna, eu ia dormir na casa da Bruna. Bom, sem dúvidas esse quarto jamais pertenceria à Bruna, já que ela é super organizada, aquele quarto era totalmente o oposto do seu. Rafael. Todas as evidências ou pequenas lembranças giravam em torno dele. E só depois de todo aquele tempo sentada na grande cama, percebi que não vestia meu vestido, pois ele estava perfeitamente dobrado em cima de uma cadeira. Mas eu não me sentia diferente, parece que nada aconteceu. As únicas coisas que me incomodavam eram a dor forte na minha cabeça, o enjoo insuportável e o fato de eu não saber onde eu estava. 

Flashback On

-Eu sei que você jamais faria nada de ruim pra mim. 

-Nunca, meu raio de sol. 

Flashback Off

Aquela voz ecoava na minha cabeça. "Raio de Sol". A única que pessoa que me chama de raio de sol é o Rafael. Quarto bagunçado, cheiro, lembranças. Não tinha mais dúvidas nenhumas de onde eu estava mas a grande questão é: onde ele está? Engatinhei até a ponta da cama e me levantei para pegar meu vestido, quando me virei, tomei um grande susto. Rafael estava dormindo no chão, sua cabeça estava pousada no único travesseiro dali, seus longos cabelos estavam espalhados por ele. Seus pés atravessavam a largura da cama, de tão longa que suas pernas são. Seus lábios perfeitamente desenhados estavam entreabertos, liberando sua respiração calma. Ele estava apenas de calça, o que me fez prender meu olhar por um longo tempo em seu corpo. Meu Deus, como ele é gostoso. Seu cheiro pairava pelo ambiente, principalmente na blusa que eu estava vestindo. Senti mais um incômodo no meu estômago mas dessa vez foi difícil de controlar, tudo que eu bebi ou comi subiu pela minha garganta e eu dei graças à Deus pelo banheiro do Rafael ser dentro do quarto. Imediatamente, corri pra lá e ajoelhei de frente para a privada, pondo tudo para fora. Senti duas mãos suaves pousarem em mim e me senti aliviada. Depois de um tempo ali, me levantei e me virei para Rafael, que me olhava admirado e ao mesmo tempo, sonolento. 

-Bom dia. - Falei e no mesmo instante, caímos na risada. 

-Você está bem? - Ele perguntou, em meio a risadas e eu dei um tapa fraco em seu braço. 

-Isso não tem graça, ok? - Falei, tentando controlar as risadas e fui até a pia, lavando meu rosto. - Eu nunca mais vou beber na minha vida. - Finalizei e ele me entregou sua escova de dentes. - Sério? Eu acabei de vomitar, você quer que eu escove meus dentes com a sua escova? 

-Qual é o problema? Depois de tudo que fizemos de madrugada, isso não é nada. - Olhei-o incrédula. Meu Deus, o que eu fiz? Deus, me ajuda. MEU DEUS, EU NÃO LEMBRO DE NADA, EU VOU ME MATAR. O que eu vou falar pro meu pai? Ao observar a minha reação, ele caiu na risada novamente. - É mentira. Relaxa, nada aconteceu. 

-Rafael. É melhor você correr porque eu vou te matar. - Falei, tentando ficar séria e ele saiu correndo para o quarto. Larguei a escova na pia e corri atrás dele mas, assim que saí do banheiro, não o vi em lugar nenhum do quarto. Olhei em todo o canto e dei um salto, devido ao grito que ele deu. Rafael estava parado atrás de mim, e assim que eu saí, ele deu um grito, me fazendo pular de susto e dar um grito. Comecei a correr mas ele segurou o meu braço e me derrubou na cama. Meus braços estavam juntos, acima da cabeça e ele segurava forte meus pulsos. Suas pernas estavam no meio das minhas, seu corpo estava colado no meu de uma forma que me arrepiava da cabeça aos pés. Seus cabelos estavam caídos em seu rosto, ele tinha um sorriso infantil em seu rosto mas uma malícia em seu olhar. Meu olhar foi automaticamente para seus lábios, onde ele passou levemente a língua, deixando-o incrivelmente sexy. Passei as unhas levemente pelos seus ombros e senti ele se arrepiar com meu toque, ele soltou os meus pulsos e direcionou uma de suas mãos para a minha cintura, enquanto a outra sustentava seu peso. Rafael aproximou seu rosto mas na mesma hora, eu tive uma crise de risos, fazendo ele rir também. - Você está com um bafo horrível. - Falei e ele revirou os olhos. 

-Agora não tem mais clima, poxa. Não posso nem beijar mais a garota que eu gosto. - Ele falou e antes de eu responder, ele entrou no banheiro, trancando a porta. Ele disse que gosta de mim? Foi isso mesmo que eu ouvi? 

Depois de uns minutos, ele saiu do banheiro e eu entrei em silêncio. Escovei os dentes e arrumei o cabelo. Quando saí do banheiro, ele me entregou um short que eu suponho que seja da namorada do Chico. Vesti rapidamente e peguei meu vestido. 

-A sua b-blusa. - Falei, ainda trêmula e ele sorriu. 

-Pode ficar. 

-Mais uma? 

-É... Elas ficam ótimas em você. - Ele disse e eu senti meu rosto queimar. - Quer que eu te leve? 

-Não, meu pai vai te matar. - Ele riu. - Eu estou falando sério. - Ele parou de rir imediatamente e eu sorri fraco. - Eu tenho que ir. 

-Vamos, vou te levar lá embaixo então. - Assenti e nós saímos do quarto. No último degrau pude perceber que toda a família dele estava sentada em volta da mesa na sala. Senti meu rosto queimar e abaixei a cabeça. 

-Bom dia, filho! - A mãe dele disse. - Não me disse que tínhamos visita. 

-Namorando e não conta pra família? - O pai dele disse e meu rosto queimou mais ainda. Como que eu falo que não somos namorados? 

-Bom dia, Bella. Recuperada? - Chico perguntou e no momento eu tive vontade de socar a cara dele mas eu apenas assenti. 

-Bom dia, Bellinha. - Amanda falou e eu sorri. 

-Todos já conhecem a namorada do Rafa e eu não? - A mãe dele se pronunciou e antes de ele responder alguma coisa, ela o interrompeu. - Meu nome é Valéria. 

-Eu sou a Bella. - Falei, baixo. 

-Eu sou o tio João. - Seu pai gritou, ainda sentado na mesa e eu ri fraco. 

-Ela é tímida, deixem a menina. - Amanda falou se levantando e envolveu meus ombros. - Deixa que eu a levo lá fora, Rafa. Vai comer. - Ela falou, tirando um grande peso dos meus ombros. 

-Tchau, raio de sol. - Ele falou e beijou meus cabelos. O que ele está fazendo, meu Deus? 

-Tchau, Rafa. - Falei baixo. - Tchau. - Acenei para todos e eles retribuíram com um sorriso. Saí dali rapidamente, acompanhada de Amanda e eu suspirei. - Obrigada. 

-É complicado, eles são muito legais, não são acostumados com timidez. - Ela disse e eu ri. - Você e o Rafa estão namorando? - Neguei e ela riu.

-Sei... 

-É sério. - Falei. - Nada aconteceu. 

-Mas vocês gostam um do outro? - Ela perguntou e eu abaixei a cabeça. - Sabia! Relaxa, daqui a pouco dá certo. - Ela disse e eu deu um beijo no meu rosto. - Bem vinda a família. - Antes de eu responder, ela entrou. Respirei fundo, me preparando para enfrentar o meu pai e atravessei a rua, caminhando em direção a minha casa. Subi rapidamente e abri a porta, me deparando com a sala vazia. 

-Bom dia, Bella. - A voz da minha mãe soou pelo ambiente, me fazendo dar um salto devido ao susto. 

-Bom dia, mãe. Meu pai está dormindo? - Perguntei e ela assentiu. 

-Por que voltou tão cedo? - Ela perguntou e eu abaixei a cabeça, tentando procurar uma resposta. - De quem é essa blusa, Isabella? 

-É d-do... 

-Rafael. - Ela completou e eu assenti. - Você tem alguma coisa pra me contar? 

-Não, eu juro que não aconteceu nada... Ele só me levou pra casa... 

-Tudo bem, se acalma. - Ela disse, rindo e eu parei de falar. - Eu só quero que me conte o que aconteceu. 

-Eu bebi. - Falei, baixo e ela respirou fundo. - Eu fiquei bêbada e o Rafael me ajudou. Eu dormi na casa dele mas não aconteceu nada. 

-Tudo bem, eu acredito em você. - Ela falou e eu respirei fundo, aliviada. - Agora vai tomar um banho e troca essa camisa. - Ela falou e eu me levantei mas na hora, meu pai saiu do quarto, ainda sonolento. 

-Filha? Chegou cedo... - Ele disse e me deu um beijo na testa. - Que camisa é essa? 

-É-é... É da Bruna... Ela me emprestou pra dormir. - Falei e ele me olhou, desconfiado. - É sério. - Falei. - Vou tomar banho, amo vocês. 

POV Rafael 

-Namorando e não conta pros pais? - Meu pai falou assim que Amanda saiu com a Bella. 

-Ela não é minha namorada, pai. Sério. É só uma amiga. - Falei e Chico riu. - Fica quieto, praga.

-Mas você gosta dela. - Minha mãe disse e eu ri. 

-Quem disse isso? 

-Seus olhos. - Ela respondeu, me deixando sem reação. - Eles brilham, eles clareiam. Seus olhos ficam felizes ao ver a Bella. - Ela falou e eu ri fraco. 

-Vou pro meu quarto. - Falei e subi as escadas correndo. Fechei a porta e me joguei na cama. 

O cheiro. O cheiro doce dela estava espalhado na minha cama e fios loiros ainda estavam pelos meus travesseiros. No meio da noite pensei na reação que Bella teria ao acordar e me ver ao seu lado, do jeito que ela está com esse instinto de lutadora, preferi dormir no chão para não acordar com um soco no meio da cara. Não vou negar que por um bom tempo fiquei observando-a. Observei cada detalhe seu para que eu pudesse gravá-la na minha memória. Cada pequeno detalhe do seu rosto, o contorno dos seus lábios pequenos, a forma que ela dorme com as mãos juntinhas abaixo da cabeça, suas pernas encolhidas em seu corpo e até mesmo como ela mexe o nariz devagar às vezes. Não sei por quê ainda insisto em chamá-la de raio de sol se nessa história toda, ela é a Lua. A famosa lenda do Sol e da Lua. O Sol e a Lua não podem ficar juntos devido aos obstáculos que Deus colocou no meio deles mas os deu o famoso eclipse lunar, simbolizando o beijo, a união dos dois. Na história, eu sou o Sol, alegre, chamativo e a Bella é a Lua, tímida, misteriosa, espetacular, com uma beleza inexplicável e nós dois brilhamos na mesma intensidade, os obstáculos são a timidez da Bella e a minha falta de coragem. Às vezes me pergunto por que eu simplesmente não a beijo, está no brilho dos seus olhos que ela também quer. Ah, aqueles olhos. Aqueles olhos me hipnotizam, me fazem ir longe. Aqueles olhos são como as estrelas, são misteriosos, toda vez que me deparo com eles, sinto vontade de ficar olhando para sempre e tentar desvendar os mistérios naquela imensidão azul. Acho que entendo porque chamo a Bella de raio solar tão espontaneamente. Como todos sabem, um Sol não brilha sem seus raios, eu sou apenas uma bola de fogo e como os raios fazem o Sol brilhar, a Bella me faz querer respirar. A Bella me faz querer acordar todos os dias para fazê-la sorrir mesmo com aqueles olhos pequenos e vermelhos por causa do sono. 

E eu me perguntou o por quê, e principalmente como. Como ela conseguiu fazer com que eu desmontasse tão rápido? Como ela conseguiu fazer com que eu ficasse entregue a ela dessa maneira e como ela não percebe? Como ela não percebe que eu estarei pra sempre com ela? Ela não percebe que quando estamos juntos, é como se fossemos o eclipse, nós cegamos os outros com tanto amor, com tanto brilho, todos percebem, menos ela. Cada toque na sua pele, é como um choque elétrico, cada vez que nossos olhos se encontram, é como se todas as borboletas existentes na minha barriga fizessem uma festa. Eu não sinto minhas pernas, eu perco a respiração. 
 

E ela não percebe. 

POV Isabella 

Por que ele não age? Ele não percebe que eu estou totalmente entregue. Hoje foi mais uma das oportunidades e nós dois deixamos com que a minha timidez nos vencesse. Cada vez que eu olho para ele, sinto vontade de colar seus lábios nos meus, tê-lo perto sempre seria como um sonho pra mim. Deus colocou poucos obstáculos na nossa frente mas são os mais difícil de se enfrentar, principalmente a minha timidez incontrolável. Eu queria poder pular em seu colo sempre que o vejo, sentir seu abraço. Eu fico trêmula toda vez que ele se aproxima de mim, seu sorriso faz com que minhas pernas fraquejem e o encontro dos nossos olhos é como se a Lua encontrasse o Sol mas o famoso eclipse nunca acontece, o que está me deixando extremamente desesperançosa ou até mesmo, tomando coragem. Eu poderia tomar atitude mas quando eu tento, minhas pernas travam com o medo da reação dele. Qual seria a reação dele se eu o beijasse? Se ele me empurrar? Se ele fugir de mim? 

-Bella? - Fui arrancada dos meus pensamentos pela voz da Bruna. Me sentei na cama e ela trancou a porta, logo depois, se sentou na minha cama. - Onde você estava? - Ela perguntou mas antes de eu responder, Jenny e Anaju entraram no quarto. 

-O que é isso, gente? 

-Só responde... Onde você estava? - Anaju perguntou, baixo. 

-Na casa do Rafael. - Sussurrei. 

-O que? Rolou alguma coisa? - Jenny disse, alto e nós a puxamos. 

-Fala baixo, Jennifer. - Anaju a repreendeu. 

-Não, gente. Não rolou nada. - Falei, decepcionada e elas suspiraram. - Nós quase nos beijamos. Eu ia beijar ele. - Falei. - Mas eu não consegui. 

-Bella, você tem que tomar coragem. - Bruna falou e eu me deitei na cama. 

-Eu não consigo. 

-Só tenho uma coisa a dizer: Ele também quer. - Anaju falou e eu sorri fraco. 

-Será? 

-Ah, pode ter certeza. - Jenny disse, se deitando ao meu lado. - Está escrito na testa dele. - Ri fraco e levantei. 

-Gente, eu preciso treinar. - Falei. 

-O que? Mas hoje é sábado. 

-Eu preciso. Sério. - Falei. - Preciso colocar pra fora. 

-Batendo num saco? - Anaju perguntou

-Você prefere que eu bata em quem? Em você? - Perguntei, brincando e elas riram. - Eu estou falando sério. 

-Não, vamos. Nós vamos embora, então. - Anaju falou e eu corri para o banheiro para trocar de roupa. Coloquei um short largo e a blusa de Rafael. - Espera...

-De quem é essa blusa? - Jenny perguntou e eu sorri. - Ah, já entendi. - Rimos e saímos do quarto. 

-Pai! - Gritei e ele apareceu. - Tem como você me emprestar a chave da academia? Eu quero treinar. 

-Hoje? Mas hoje é sábado. - Ele questionou.

-Mas faz tempo que eu não treino. Por favor. - Pedi e ele revirou os olhos, me entregando a chave logo em seguida. - Obrigada, te amo. - Dei um beijo em seu rosto e saí com as meninas. Nos despedimos e eu fui para a academia. 

POV Rafael 

-Rafa! - Minha mãe me gritou e eu saí do quarto. - Tem três meninas querendo falar com você. 

-Três? - Perguntei, confusa e ela assentiu. Fui na direção da porta e a abri, vendo Jenny, Bruna e Anaju com sorrisos maliciosos, que me assustaram. - Jenny? Anaju? Bruna? O que aconteceu? 

-Você é um babaca. - Anaju falou. 

-O que? Por que? - Perguntei e Jenny revirou os olhos. 

-Eu vou te dar só uma pista e eu espero que você entenda. - Ela falou e eu a olhei atentamente. - Ela está sozinha na academia, treinando. - Sorri e elas também. - Não me decepciona. 

-Obrigado, eu amo vocês. - Falei e corri para o meu quarto. Peguei uma camisa e saí correndo, indo na direção da academia do pai da Bella. 

Vai ser agora. Ela querendo ou não.