História I See Fire - Reviravolta

-  Miami, 06h35min.

O despertador toca e eu praguejo todas as gerações da minha família por isso acontecer, porque era tão difícil acordar cedo? Porque era tão triste sair da cama exatamente no momento que parece que seu sono ia perfeitamente bem? Sabe aquelas pessoas estranhas que dizem “uma hora acordar cedo fica melhor” ou “vai ter uma hora que você vai se acostumar a acordar cedo” ou aquelas pessoas que acordam pela manhã com um humor matinal maravilhosamente bom como se tivessem transado a noite toda? Eu claramente não era esse tipo de pessoa, das duas, uma: ou eu não era uma pessoa da manhã, ou a falta de sexo estivesse me deixando estressada até com as pequenas coisas.

Bufei me levantando da cama e me dando por vencida, sabendo que teria que levantar de qualquer maneira.
Hoje seria um dia importante na faculdade, não que o primeiro dia de aula fosse dar algum conteúdo importante, mas exatamente porque era o primeiro dia de aula, e eu queria fazer as coisas certas dessa vez, eu TINHA que fazer as coisas certas dessa vez. 

Senti a água gelada tocando meu corpo, eu precisava de um banho gelado pra acordar totalmente se não eu iria babando pra faculdade, e apesar de ser veterana e muitas pessoas já me conhecerem, também teria pessoas novas e eu gostava de impressionar. Vesti minha jaqueta de couro, um óculos rayban de bolinhas, limpa e cheirosa estava pronta pra voltar novamente pra Florida Barry University.

Entrei no meu carro e enquanto dirigia até a faculdade decidi que era melhor não ligar o radio para que eu pudesse organizar as coisas em meus pensamentos. Essas férias fora tudo diferente, todas as coisas que eu estava acostumada a fazer, eu simplesmente sumi do mapa e passei praticamente as férias todas no anonimato, trancada no meu apartamento, lendo meus livros e sem querer falar com ninguém. Não atendi as ligações das minhas amigas, não sai, não fui a nenhum local publico que alguém pudesse me encontrar, simplesmente porque eu não queria ser encontrada. Tudo que eu queria era deixar à velha e inconsequente Lauren para trás, e queria dar espaço para a nova e responsável Lauren se fazer presente. Então eu me tranquei  no meu próprio mundinho, se acomodei e organizei tudo na minha vida novamente, não porque me sentia culpada daquela noite e o que houve antes das férias começarem, não porque tinha raiva ou medo dos meus amigos, mas porque eu decidi que havia chegado ao extremo, ao fundo do poço e se esse era meu fundo do poço eu precisava ter forças para recomeçar. Então decidi organizar tudo em minha vida, aprendendo a viver comigo mesma em tão pouco tempo.

E não é que eu estava gostando dessa nova eu. 

Interrompi  meus pensamentos, um pouco nervosa, pois já havia chegado ao estacionamento da faculdade, e nervosa não por medo das pessoas já que eu sempre fui uma pessoa muito destemida e no meu caso era eu quem causava medo nas pessoas. Decidi afastar qualquer tipo de pensamento e colocar em pratica meus novos hábitos então desci do carro pegando meus diversos livros e minha bolsa já que eu iria caminhando até o prédio principal pegar meus horários novos e aproveitar para sentir o cheiro suave do campus da Barry University. Mas quando eu estava saindo fui impedida de prosseguir quando senti um corpo magro se chocando contra o meu.

 -LAURENZO, aonde você tinha se metido? Eu achei até que você tinha ido pra merda da Rússia estudar lá ou qualquer tipo de lugar no mundo menos em Miami, você tem noção das festas que você perdeu, e dos babados da faculdade, você sabe inclusive que a Nanci tá grávida e que o Cody saiu do time de basquete e......

  - Verônica, cala a boca. Pedi. –Eu não consigo nem ao menos pensar com você falando sem parar desse jeito.

-Arrogante como sempre, isso não muda nunca... Sussurrou a menina mais magra e eu dei um olhar de descrença a ela.

 - Ok, eu também senti sua falta, principalmente das merdas que sua boca fala sem parar, senti falta disso. – Eu disse sorrindo.

-Tá, muito legal suas brincadeiras Jauregui, agora você vai me dizer aonde diabos você se enfiou o verão inteiro, ou vai ficar de misteriozinho? Perguntou verônica com certa ironia.

 Foi ai que eu senti meu dia já começar difícil, eu não tinha uma resposta concreta pra dar à minha amiga, eu se quer tinha uma resposta concreta para mim mesma, eu sabia que as pessoas perguntariam minha mudança repentina e não aceitariam um simples “mudei porque eu quis” eu sabia como insistentes meus amigos eram e eu também sabia que eu teria que explicar o que eu mais queria esquecer.

 -Laur, não vai me dizer que foi por causa daquela noite.... Olha eu... Verônica me tirou de  meus pensamentos.

 -NÃO! Eu disse praticamente gritando com ela. –Não tem nada haver com isso Verônica, eu sumi porque meu avô andava precisando muito da minha ajuda na empresa, você sabe que o sonho dele era que eu assumisse os negocio desde sempre, e eu andei seriamente pensando em ajuda-lo, andei seriamente considerando essa proposta. Eu dizia as palavras tão rápido que nem ao menos sabia se estava pronunciando tudo correto.

Quando terminei de falar apenas esperei a reação de Vero, dando graças a Deus por conseguir falar tudo corretamente sem mostrar meu nervosismo que era evidente. Acho que no fundo eu sentia falta de poder desabafar com alguém, mas quando escolhi mudar eu também sabia que teria que pensar mais antes de falar, que teria que ter novas atitudes e seguir as melhores alternativas e essa era a melhor alternativa, e no momento sair enchendo Verônica de coisas não mudaria nem melhoraria nada na minha vida e eu tinha total consciência disso.

Então eu apenas contei o básico, não contei nenhuma mentira, pois meu avô realmente havia solicitado minha ajuda alguns dias, mas claro que não tinha sido nada que durassem as férias inteiras. Mas eu também sabia que se falasse que passei as férias todas evitando contato com meus amigos, festas e coisas que eu havia sido acostumada a fazer por tanto tempo, eu seria questionada ou até mesmo repreendida por Verônica, e eu tinha certeza que a minha amiga não me entenderia, então resolvi contar somente uma parte.

-Ah então tudo bem. Verônica deu de ombros interrompendo a minha espera e me puxando praticamente arrastando pelo braço. - Vem nos temos muito que conversar e eu tenho muitas coisas pra te falar, mas antes vamos ver nossos horários de aulas você sabe que tudo mudou, novo período, novas mudanças.

-É, novo período, novas mudanças. Repeti, mas acho que era mais pra mim mesma do que para ela.