História I-Tec: Contos de Quatro Vidas - Gêmeas Rodríguez - Amor

Ela tentou assistir suas séries, desenhos animados, filmes... Tentou jogar videogame, ler um livro, e tentou até estudar. Tudo o que Violet conseguiu foi se fechar no quarto e deixar as lágrimas e soluços saíram. Era mais forte que ela. Parecia que seu coração estava envenenado, e o veneno pegava carona na corrente sanguínea para se espalhar por seu corpo. Dor. Nunca ante em sua vida ela havia sentido tanta dor. Até então, Violet sempre achou que os autores românticos fossem exagerados, afinal, as pessoas sofrem decepções amorosas todos os dias e continuam saudáveis. Agora sabia que a dor era real e era pior que qualquer dor que ela houvesse sentido até então. Violet não conseguia se mover com perícia, sua respiração estava descompassada, e as lágrimas com os soluços a controlavam.

_Violet! – sua mãe entrou no seu quarto – O que é que foi, minha linda?

Quando Helena a abraçou, o choro se manifestou com maior intensidade, com muito mais violência. Violet percebeu que estava segurando até aquele momento. Ela se sentia ridícula. Chorando tanto por causa de um garoto. Violet escondeu o rosto no colo da sua mãe.

_A mamãe ama você, Vi – Helena beijou a cabeça da Violet – Eu tô aqui.

A dor continuava, mas sua respiração começou a se estabilizar.

_Foi o Ricardo, mãe – Violet conseguiu finalmente falar, mesmo com a voz totalmente embargada – Eu achei que ele gostava de mim, sabe? Achei que ia dar certo... Que tava evoluindo, mas...

_Ah, Violet – Helena abraçou a filha com mais força enquanto ela voltava a soluçar.

_Acho que ele só queria ficar, mãe.

O choro violento da Violet voltou quando ela verbalizou esse pensamento. Ricardo e ela eram muito amigos desde pequenos, e ao longo dos anos forma ficando cada vez mais próximos. Ele fazia com que ela se sentisse especial, única. Estar com o Ricardo era como sonhar acordada. Mas do que adianta tudo isso se o Ricardo só a via como uma garota qualquer? Violet imaginava um futuro ao lado dele, e ele provavelmente só a imaginava como uma forma de driblar a própria carência. Ele podia dar uns beijos na Violet Rodríguez quando quisesse. Que patético!

_Eu sei como você está se sentindo, filha – Helena disse – Infelizmente os garotos da sua idade costumam ser uns bobões mesmo. Quando eu tinha 15, namorei um menino da minha escola. Deu muito errado, ele não queria nada sério, achava que era só diversão, que não precisava se preocupar com meus sentimentos ou problemas. Dizia que me amava, mas era da boca pra fora.

Isso Violet não entendia. Era algo que a revoltava e fazia com que todas as lágrimas se carregassem de uma raiva intensa. O Ricardo já havia dito que a amava várias vezes. Dizia todos os dias. Eles brincavam planejando seu casamento, filhos... Isso fazia com que Violet realmente pensasse em um futuro com ele. Como alguém se atrevia a dizer “eu te amo” sem amar? Por que invocavam palavras tão fortes sem se importar com as consequências? E o pior é que o Ricardo sabia que a Violet o amava de verdade. Cada “eu te amo” dela foi sincero, verdadeiro, cheio de sentimento. Mesmo sabendo disso, Ricardo continuou a alimentando com mentiras. Que idiota! E mesmo se ele a visse como uma amiga, não deveria ter dito essas mentiras. Mas eles não eram amigos... Ele não teve nem consideração... Ele tentou mesmo... Ele tentou...

_Ele tentou ficar com a Elliane – Violet conseguiu dizer – Com a Elliane!

_E o que aconteceu?

_A Elliane mandou ele ficar longe de mim. Eu disse pra ele ficar longe de nós duas.

Helena percebia o quanto sua filha estava sofrendo, mas não deixava de sentir orgulho das duas. Elas se protegiam. Isto é o que André e ela sempre ensinaram às suas filhas. Uma família deve permanecer unida.

_Parece que vamos precisar de um abraço de família – André estava à porta do quarto com uma Elliane de olhos tão inchados e molhados quanto os da Violet.

André e Elliane foram até a cama e abraçaram Helena e Violet.

_Nós amamos vocês – André disse às duas filhas.

Elliane e Violet deram as mãos naquele momento. Em meio a tanta tristeza e raiva, um facho de alegria e amor as inundaram. Violet sabia que elas não estavam sozinhas. Estavam juntas. A família toda estava junta, e eles se amavam. Amor de verdade. É o que importa.