História I-Tec: Contos de Quatro Vidas - Gabriel Cavalcante - O Bosque Perdido

_Mano, QUE LOUCO! –  Gustavo exclamou ao ver a cena em que Link retira a Master Sword do seu pedestal na câmara escondida do Templo do Tempo.

_Putz, Biel! – Eryck falou – Você vai ser o primeiro a testar a Master Sword, cara! Véi... Veião! Muito da hora!

Já eram onze horas da noite e os três estavam jogando The Legend of Zelda: Ocarina of Time desde as duas da tarde, quando Eryck chegou e se empolgou com o fato do Gustavo ainda possuir um Nintendo 64. Passaram a tarde inteira jogando e seguindo a regra quem morrer ou passar de fase passa a manete para o outro. A ideia era zerar o jogo de uma vez só.

Gabriel estava se divertindo sim, aliás, estava com seus dois melhores amigos e, puxa vida, Zelda era realmente um jogo muito legal! Bem que o Gustavo falou! Mas nem tudo estava bem. Na maior parte do tempo, os acontecimentos daquela manhã pareciam apenas lembranças de um sonho ruim. O problema é que às vezes a realidade vinha para batê-lo na cara.

_O Ganondorf é muito viado, cara – Eryck disse ao fim da conversação do jogo – Ele aproveitou que a gente abriu a câmara e tomou o controle de Hyrule com o poder da Triforce! Jogou sujo! Mas agora o Link tá sabendo de tudo e vai ter revanche!

Ela jogou muito sujo! Aproveitou aquele horário em que todos estavam ocupados para fazer aquilo. Achou que ninguém veria, mas o Gabriel viu. Não ia ficar barato. Ninguém poderia fazer uma coisa daquelas.

_O ReDead te matou, cara – o Gustavo pegou a manete – Agora é minha vez.

Ela estava beijando outro cara. Isso fez o Gabriel derramar mais lágrimas do que achou que possuía. Nem conseguia se lembrar como foi acabar na casa do Gustavo. Talvez tivesse pegado algum ônibus depois de fugir daquele lugar. Não podia ser possível.

_Hora de voltar à Floresta Kokiri.

A aula tinha acabado mais cedo naquele dia. Normalmente, o Gabriel esperava até as 11h30min, o horário em que geralmente as aulas terminavam e o seu pai ia buscá-lo, mas naquele doa o pai do Eryck o deu carona. Era 9h30min quando o Gabriel chegou em casa, entrando silenciosamente, como sempre o fazia. Mas aquele não parecia ser o ambiente de casa. Será que ele havia entrado na casa de algum vizinho? Ele não conhecia aquele casal que estava se beijando na sala de estar. Aquele homem alto não era o seu pai, então não tinha como aquela mulher ser a sua mãe.

_Bosta de Bosque Perdido! Morri! – o Gustavo disse ao receber um ataque crítico de um gigante no Bosque Perdido que lhe havia custado todo o HP – Pega aí, Eryck.

_É... Agora que o Ganondorf estragou tudo, o Link vai ter que encarar muita “barra pesada”.

Sua mãe havia estragado tudo! Aquilo era muito barra pesada. Como ela pôde beijar outro cara dentro de casa? Quem era aquele cara? Sua memória falhava quando tentava se lembrar do que aconteceu depois disso que sua mãe parou de beijá-lo e se virou, mostrando o rosto. Sua mãe havia traído o seu pai, tinha o traído, traído a família. Isso sim era barra pesada. Foi o que o seu pai lhe disse quando soube: “Essa situação com sua mãe é barra, Gabriel”, a voz do pai ainda ecoava em sua cabeça, “mas preciso que você seja forte e encare isso. Vamos ter que encarar isso juntos, filho!”

_É, véi... Os gigantes são complicados pra carái – Eryck passou a manete de volta para o Gabriel – A gente escapa de um em um canto do labirinto e o outro mata a gente na outra curva. Essa aí é com você, Biel.

Guiado por Gabriel, Link derrotou dois wolfos – lobos com pele encouraçada – e pulou para a parte de cima das paredes do labirinto. Ali não havia gigantes. Ele estava acima deles. Agora era apenas pular os buracos e chegar à Campina Sagrada, onde estava a entrada para o Templo da Floresta. Link estava acima dos problemas. Gabriel estava acima de tudo aquilo. Acima dos gigantes. Acima da sua mãe. Acima do outro cara. Era só pular.

_Aêêê, caramba! – Eryck deu um tapa nas costas do Gabriel – Você é o cara, véi! Venceu o Bosque Perdido.

A gente vai zerar mesmo! – Gustavo disse animado, embora o ânimo tenha diminuído ao ver a expressão do amigo. – Gabriel, você tá bem, cara?

_Tô sim... – Gabriel respondeu – Venci o Bosque Perdido.