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História I-Tec: Contos de Quatro Vidas - Gêmeas Rodríguez - A Festa


Escrita por: IcaroBP

Capítulo 18 - Gêmeas Rodríguez - A Festa


Tudo muito lindo, Dani estava maravilhada. Ela deixou o queixo cair logo quando recebeu o envelope azul com um “E” e um “V” em uma caligrafia prateada linda. Por dentro, um papel com o mesmo tom de azul e a mesma caligrafia prateada convidando-a para a festa de 14 anos de Elliane e Violet Rodríguez, que se realizaria no dia 12 de Março de 2012, o sábado da semana de aniversário real deles, que daria uma quarta-feira, dia 9 de Março. Com o convite, veio uma caixinha vermelha com um anel de esmeralda. Isso significava que ela seria uma “Dama de companhia”, como Elliane gostava de dizer. Dentro do anel havia as iniciais do seu par:  E. F.

Agora ela já estava na festa. Exceto por um “Guitar Hero” num canto do salão, claramente ideia da Violet, Dani se sentia numa festa em um castelo medieval de algum livro de fantasia. A iluminação amarelada combinada aos castiçais e luminárias de cristal pendendo do teto dava a impressão de que a festa estava à luz de velas, embora o ambiente estivesse bem iluminado e climatizado. Havia uma grande variedade de bebidas sendo servidas, nenhuma alcoólica, coisa dos Rodríguez, e os garçons vestidos elegantemente com um fraque preto com gravata borboleta, não deixavam as taças dos convidados se esvaziar e também se certificavam de que não faltasse comida nas mesas. Rosas vermelhas se encontravam por toda parte. Conhecendo sua melhor amiga, Dani sabia que a cor vermelha imperaria de alguma forma.

O cerimonial foi lindo. Os pais delas fizeram uma linda homenagem e todos ficaram espantados com a incrível história do tio André quando não queria perder o nascimento das gêmeas na ocasião em que foi sequestrado por engano na Guerra da NF pelo exército do extinto Comitê Chinês. Dani nunca se cansou dessa história, e as garotas também não. OS olhos da Elliane brilhavam enquanto o tio André falava, e a Violet não escondia o riso quando a tia Helena o xingava comicamente ao relembrar sua preocupação naqueles dias. Só era uma pena que o Marcos Figueiredo não pôde ir. Ele era um dos principais executivos da Rodríguez Consolidated, considerado por muitos como o braço direito do tio André, e também esteve naquela aventura na Guerra da NF. Dani adorava ouvir a versão dele na festa, mas Marcos teve que ir a outra festa de aniversário, a do seu sobrinho, pelo o que comentavam.

Dani fez a homenagem à Elliane, o que a fez derramar algumas lágrimas. Violet não é tão emotiva, mas seu coração se derreteu quando o Ricardo fez sua homenagem a ela. Ah, e é claro que Elliane tocou piano. Clair de Lune, de Claude Debussy... Ela era mesmo filha da tia Helena! Falando nas aniversariantes... Elas pareciam princesas. Os cabelos azuis escuros da Violet estavam presos num coque com cachos, e ela usava um tomara-que-caia longo e rodado de cor azul clara, com o busto reluzente. Quanto à Elliane, seu vestido era ainda mais rodado, porém com um tom pêssego, bel clarinho. Seus cabelos castanhos estavam soltos com cachos nas pontas, e também havia um pequeno topete arrumado por uma tiara cristal.

Mas agora o cerimonial havia acabado... As gêmeas trocaram seus vestidos longos por outros mais curtos e estavam aproveitando a festa. Dani não estava a fim de se sentar com seus pais, e suas amigas estavam ocupadas. Ela ficou parada no meio do salão por uns três minutos, chamando a atenção dos convidados por isso. O que a impedia de passar despercebida era a sua roupa de “dama de companhia”: um vestido longo preto que, além de valorizar suas curvas, apresentava um corte no lado esquerdo que dava um vislumbre de sua perna até a altura da coxa enquanto andava. Usava também um salto vermelho, e deixou seus cabelos negros ondulados soltos. Seus olhos castanho-escuros vasculhavam a área procurando o garoto que foi o seu par, enquanto ela batia os pés e remexia o anel esmeralda no dedo.

“Alvo localizado”.

Eryck Ferreira estava na saída do salão. Seu cabelo bagunçado ao estilo “Corbin Bleu em High School Musical” fazia um enorme contraste com o elegante terno azul-marinho que usava. O anel prateado que lhe chegou no convite ainda estava no dedo anelar esquerdo, algo que Dani achou bonitinho. Ela até havia mudado o anel esmeralda para seu anelar esquerdo quando o tinha visto antes do cerimonial. Eryck estava discando algum número no celular quando Dani o interrompeu:

_Os garçons daqui são ótimos, mas eles não costumam servir quem está tão perto da saída.

_Oi, Daniela – ele esboçou um sorriso tímido.

_Dani. Já disse pra me chamar de Dani. A gente dançou valsa há pouco tempo atrás e você continua com esse excesso de formalidade me chamando de Daniela?

_A gente dançou valsa, mas eu nem fui bem nisso, Danie... Dani. Deevo ter pisado no seu pé umas três vezes.

_Quatro, o que te dá intimidade o bastante pra me chamar de Dani – ela corrigiu – Mas eu não ligo com as pisadas. Dança não é bem o meu forte também, para falar a verdade. Eu me sentiria bem melhor tocando.

Dani era violoncelista e chefe de naipe dos violoncelos na Orquestra Juvenil do CFA. Podia não receber tanto destaque quanto sua amiga pianista, Elliane, mas era excepcionalmente boa no que fazia.

_De qualquer modo, Eryck, o quê que você tá fazendo aqui? Tem uma festa acontecendo, sabia?

_Tô tentando ligar pro meu pai vir me buscar. Eu não tô me sentindo muito bem.

_Mesmo? E o que é que você tem? – Dani fingiu preocupação.

_Eu? É... Bom... Nada – Eryck não conseguia mentir – É que não tô me sentindo muito bem aqui.

_E vai me deixar desacompanhada? Você é o meu par, cadê seu cavalheirismo?

_Desculpa... Mas já é quase uma da manhã e eu não quero ter que acordar ele na madrugada pra me buscar.

_Tecnicamente, já é madrugada... Mas, sem problemas. Você liga pra ele agora mesmo e diz que resolveu ficar mais um pouco, fala pra não se preocupar porque você vai voltar com a sua amiga.

_Dani, não precisa...

_Preciso sim! – Dani foi incisiva – Onde você mora?

_Bairro Amazonas, Contagem, mas...

_Ótimo! Meu pai não vai ter problemas em te levar lá. Agora avisa isso pro seu.

Eryck obedeceu. Ele não ousaria desobedecer com a Dani Kefler olhando.

_Seu pai tem um Chevrolet Cobault, né? – Eryck perguntou, quebrando o silêncio que havia se instaurado ao fim da ligação.

_É... Você gosta de carros?

_O meu pai tem uma oficina, então...

_Ele é mecânico? – Dani se espantou – Ele não era borracheiro?

_Era... Mas o sonho dele era ter sua própria oficina. Finalmente abriu a Auto Elétrica Trilux. Isso foi no mês passado.

_Nossa! Parabéns – Dani deu um abraço apertado em Eryck, que ficou sem graça – Desenhista e gosta de carros, além de ser um gênio da matemática. Vai ser engenheiro mecânico.

_Se tudo der certo...

_Com certeza vai! – Dani disse – Vamos nos formar em quatro anos, e você pode conseguir uma UFMG... Ou até entrar na Cody Baxter, ou, melhor ainda, fazer o curso na Alemanha. Lá tem o melhor curso de engenharia do mundo.

_Espero conseguir a UFMG, mas nem tudo é fácil pra mim como é pra vocês.

_Do que você tá falando? Você é o garoto mais inteligente da turma.

Elliane passou de mãos dadas com Otávio na frente deles. Eryck desviou seu olhar para o chão na hora. Dani se postou em sua frente e perguntou:

_Há quanto tempo você gosta dela?

_Dela quem? – ele ainda não encarava o olhar da Dani.

_Dela quem? Da Elliane, cabeção! Sou a melhor amiga dela, identificar os pretendentes é uma das minhas funções. Aliás... Você disse que não tá se sentindo bem aqui. Já estava imaginando isso depois de você ficar vendo ela dançar valsa com o Otávio Schmidt, aliás, você estava bem distraído quando pisou no meu pé. Mas agora que eles passaram aqui na frente e você murchou... Nossa. Tá mesmo apaixonado pela Elliane. Apostou que seu presente foi um desenho dela.

Eryck ficou encarando Dani com cara de espanto. Ela tinha falado demais.

_Foi mal – ela se desculpou – Quero fazer psicologia. Mas também... O meu pai tem uma empresa de previsibilidade de risco, cresci vendo Watson, Skinner e Piaget nas estantes de livros da minha casa. É um enorme histórico de reforço pra isso... Mas o que interessa é que você tá claramente apaixonado pela Elliane. Não adianta tentar mentir pra mim.

Eryck respirou fundo.

_Chega ser um clichê naquele Colégio. Todos são apaixonados pela Elliane Rodríguez. Mas eu não comecei a gostar dela só porque é bonita, a mais rica da escola, ou sei lá o quê. Quando a gente fez aquele trabalho em dupla no ano passado, eu percebi que ela era diferente. Sei lá... Foi a primeira vez em que não me senti “o pobre no meio dos riquinhos”.

_É.. A Elliane causa esse efeito nas pessoas.

_Mas não importa. Eu não me encaixo aqui... E, de qualquer maneira, ela prefere caras que nem o Otávio Schmidt.

_Eryck.... – Dani usou o seu melhor tom de voz compreensivo – Olha, eu sou a melhor amiga da Elliane desde a primeira série e...

_Eu sei. – Eryck interrompeu – Eu ouvi a história de vocês duas, se conheceram na aula de música e tal, tem a coisa da amizade eterna, Dani e Anny, e etc...

_Pra quem era caladinho você tá falando demais, hein – e lá se vai o tom compreensivo – O que eu quero dizer é que você projetou uma imagem dela como “salvadora da pátria” porque, até então, todo mundo tinha sido babaca com você. Mas ela é uma garota normal, só não é babaca. Ela comete erros, tem defeitos... E também uns defeitos muito irritantes, se quer saber. Ela não tem nada “de outro mundo”. Quer ver? Olha só como ela tá com a Violet agora.  A Elliane é muito emocional, aí o Otávio chegou com umas falas bonitinhas e aí, puf, ela se derreteu todinha. Acha que achou o príncipe encantado dela. A Violet, que é mais racional, acredita que ele só fez a irmã de bobinha. Então, ela não aprova o Otávio.

_Mas anda com o Ricardo...

_Exatamente. Ela é esperta e isso criou um excesso de confiança falsa. Ela acha que é infalível, que sabe escolher as pessoas certas pra não se dar mal. Mas olha... A Elliane sempre puxou muita atenção para si, e teve uma época que a Violet se sentiu “na sombra” da irmã.

_Tá falando da bicampeã de xadrez do Colégio? – Eryck não imaginava a Violet Rodríguez na sombra de ninguém. Ela era boa em tudo que a Elliane não era. O reinado da família Rodríguez estava garantido.

_Sim... Tô falando dela mesmo. Olha... A Violet é muito legal. Aliás, as ideias da máquina de Guitar Hero e da Cabine de fotos foram dela. E ela ainda queria uma escultura de sorvete.

_Isso seria bem legal – Eryck riu imaginando a escultura.

_É... Mas teve uma época em que ela se sentiu como se todos só se importassem com a Elliane, e ficou muito brava. Você não quer ver a Violet brava. O Ricardo nunca se deu muito bem com a Elliane, eles têm uma rivalidade no hapkido e o Ricardo sempre perde. Então ele ia conversar com a Violet sem nem tocar no nome da irmã dela. Por isso, a Violet se sentiu especial e criou um certo afeto por ele. Se as coisas continuaram no ritmo em que estavam, eles devem dar seu primeiro beijo hoje. Se não ficarem hoje, vão ficar logo... Isso eu te digo. E a Elliane não aprova.

_Elas deviam ouvir mais os conselhos uma da outra...

_É... Mas olha pelo lado bom. Você gosta da Elliane e não da Violet. O Otávio não é tão metido assim...

_É só o cara que me disse que tô aqui porque a Elliane tá fazendo caridade.

_O quê? – Dani teve um susto. O Otávio não falaria algo assim.

_Quando eu estava deixando minha mensagem no Livro das Lembranças, ele disse que aqui não é o meu lugar, que eu só fui chamado porque a Elliane tem dó de mim.

_Que babaca! Então ele só finge te tratar bem pra agradar a Elliane... E você levou essa baboseira de caridade à sério, por isso queria ir embora. Eu esperava essa fala do Ricardo, mas não do Otávio.

_Bom... O Ricardo só me chamou de Eryck Ferragem e me mandou trocar o óleo diesel do meu fusquinha.

_Grande coisa vinda do Ricardo Catarro...

Os dois riram muito. Aliás, como assim trocar óleo diesel de um fusca? Ele sabe o que é óleo diesel?

_Presta atenção – Dani disse – Aposto que na sua escola antiga devia ter uns idiotas que se acham também. Isso tem em todo lugar, mas só porque você é um bolsista numa escola particular, tá deixando eles te botarem pra baixo. Se você estuda no Colégio Francisco de Assis, você mereceu. O Conselho da Direção não ficou com dó de você, até porque pra trabalhar na direção da escola você não pode ter coração. Enfim, você conquistou esse espaço. A Elliane não te chamou para esta festa porque tá com dó, é porque ela te considera um amigo. Você conquistou isso. E eu não tenho um pingo de pena de você... Você é o meu par, e conquistou isso sendo quem é. Agora se deixar o Otávio, o Ricardo, ou qualquer outra pessoa disser que você não merece o que conquistou, então você é mais idiota que todos eles juntos.

Eryck ficou parado encarando os olhos da Dani. Ninguém daquela turma nunca havia falado com ele desse jeito, nem a Elliane. Ele observou tudo o que o estava intimidando tanto. Aquela festa chique parou de parecer “do outro mundo”. E daí que ela foi muito cara? Eryck estava lá, foi convidado. As pessoas conversavam com as outras como em qualquer outro lugar. Violet voltava dos jardins de mãos dadas com o Ricardo, Elliane estava conversando com o Alexandre Ocean, diretor do Colégio Isaac Brown – Unidade Minas Metropolitana, o internato de Ensino Médio para o qual as gêmeas se mudariam no próximo ano. Enquanto isso, Otávio conversava com a Amanda. Eryck não estava vendo uma garota de mãos dadas pela primeira vez, e antes de ingressar no CFA, também havia tido uma conversa com o diretor acadêmico. Aquele não era outro mundo. Era o mesmo mundo em que ele sempre viveu.

_Você vai ser uma psicóloga e tanto, hein Dani?! – Eryck sorriu.

Os lábios vermelhos da Dani se abriram num grande sorriso.

_E tá se sentindo mal ainda?

_Não... Talvez eu só não quisesse ficar sobrando aqui... Eu meio que me acostumei a ficar sobrando nessas ocasiões.

_Você é o meu par. Não importa se você é acostumado ou não, eu nunca te deixaria desacompanhado – Dani pegou a mão esquerda de Eryck e passou o dedo sobre o anel prateado – Aliás, você viu as iniciais que estão gravadas na parte interna desse anel?

_D.K. Só não entendi muito bem. Elas gostam de Donkey Kong?

_Seu bobão! – Dani socou o ombro de Eryck – D. K. Daniela Kefler... Sou eu! Minhas iniciais, porque sou o seu par. No meu tem E. F., de Eryck Ferreira. Nossa! Donkey Kong? E você ainda colocou o anel no anelar esquerdo!

_Mas não é aí que as pessoas usam esses anéis? Você também tá usando no anelar esquerdo.

_Porque você tá usando! Eu tinha que combinar! Ah... Olha... – Dani suspirou e abaixou o tom de voz – Quando se usa anel nesse dedo, isso significa uma aliança de compromisso. Então vamos aproveitar e fazer um compromisso agora. Em todas as festas em que nós dois formos convidados, vamos usar esses anéis e sempre seremos um par, certo? Assim nunca vamos ficar sobrando.

_Me parece uma ótima ideia.

_Isso vale pra minha festa de 15 no ano que vem.

_O quê? – Eryck não esperava por essa.

_Sim... Você será o príncipe da noite, então é melhor ir treinando para não pisar no meu pé no meu aniversário... Pra eu te trocar pelo meu violoncelo é questão de segundos – Dani sorriu e passou os braços pelo pescoço de Eryck, forçando-o a olhar diretamente para ela – Mal posso esperar para ver a cara do Ricardo e do Otávio quando isso acontecer.

_É... Mas quer saber? – Eryck se virou e passou o braço pelo da Dani – Já que vou ficar por aqui mis um pouco, que se danem o “Otário” e o “Catarro”.

_Gostei de ouvir isso – Dani sorriu.

_Eu tô com fome, e morrendo de vontade de passar naquela fonte de suco de uva...

_A gente passa na fonte, enche as taças, e vai direto pra cozinha – Dani deu uma risada maléfica – A melhor amiga da dona da festa tem acesso VIP.

_Depois a gente pode passar na cabine de fotos e depois jogar Guitar Hero...

_Que gracinha. Já aprendeu a se divertir. Eles crescem tão rápido!

Os dois riram e foram aproveitar a festa, sabendo que nunca ficariam desacompanhados desde que usassem aqueles anéis.



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