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História I Think I Love U - Capítulo 29


Escrita por: LarrySRainbow

Notas do Autor


Saudades do Harry???

Capítulo 29 - Capítulo 29


                       1984

                     Londres 

Louis


Eu estava tentando me acalmar, ser paciente, mas era meio complicado. 


Parado em frente ao prédio do escritório em que eu acabara de sair, abracei a pasta que segurava contra meu peito e respirei fundo, entendendo que não seria tão fácil como eu pensava, levaria um tempo até tudo dar certo. E planejamento, muito planejamento. Mas esse era só o começo, me ocuparia com os documentos e contratos e essas coisas chatas das leis. 


Tinha uma cafeteria do lado do prédio, andei até lá segurando a pasta como um bem precioso e entrei no estabelecimento. Pedi um café, eu havia começado a beber café e acho que estava virando um vício. 


Me sentei na mesa mais distante encostada com os vidros. Eu podia ver o movimento das ruas de lá de dentro. Deixei a pasta na mesa e beberiquei meu copo de café pensativo. 


Avistei um telefone lá dentro que provavelmente era público. Tirei essa dúvida com uma senhora no balcão e ela confirmou me oferecendo fichas. Eu comprei. 


Disquei os números que estavam gravados na minha cabeça. 


  - Alô. - Ouvi a voz de Jay do outro lado. 


  - Oi. - Falei sorrindo. 


  - Louis, oi. - Ela disse animada. 


Nós conversávamos muito pelo telefone. Da última vez que eu vi ela pessoalmente fora quando voltei ao colégio para ver como as coisas estavam e foi nesse dia em que eu contei o que estava querendo fazer da minha vida. Contei a ela que viria para Londres. Os meninos já não estavam mais lá no colégio, e tinham bastante rostos novos no lugar. Por mais que fora um inferno viver naquele lugar, por culpa de Morth e outras pessoas que lá habitavam, eu sentia saudades. 


  - Então, deu tudo certo? - Ela perguntou e eu podia notar ansiedade em sua voz. 


  - Bem, não deu totalmente errado. - Eu dei de ombros, mesmo sabendo que ela não conseguia ver - É só que... É meio complexo, sabe? 


  - Sei, Louis. - Ela suspirou - Eu entendo muito bem.


  - Eu preciso desligar. - Falei depois de um tempo em silêncio - Tenho muita coisa para ler. 


Não tínhamos muito o que conversar já que nos falávamos quase todos os dias. 


  - Tudo bem. - Ela disse doce - Me informe se houver novidades, ok


  - Irei fazer isso. - Sorri. 


 - Tchau, querido. - Ela disse carinhosamente. 


  - Tchau, Jay.


Coloquei o telefone no gancho e voltei a sentar na mesa. Abri a pasta e comecei a folhear todos os documentos ali presentes. Eu precisava ler tudo com muita atenção para depois assinar sem arrependimentos. Eu sei que não me arrependeria, mas era bom estar por dentro de tudo, tudo mesmo. 


Mas estava difícil me concentrar. Algumas pessoas conversavam em uma mesa ao lado. E umas garotas encostaram no vidro do lado de fora, conversando e gesticulando animadas. 

Desisti de ler e fechei a pasta. Eu precisava de conforto e silêncio, não teria nada disso naquela cafeteria. E eu tinha tempo o suficiente para fazer isso. 


Tomei todo o líquido observando tudo ao meu redor, pensando em coisas aleatórias. E alguns minutos depois eu saí do local, me dirigindo até a calçada do outro lado. 


Era começo de ano e as pessoas estavam meio agitadas ainda. O frio também não estava muito calmo, parecia pior a cada ano. E os céus mostravam que água iria cair. 


Apressei os passos para chegar ao meu apartamento que não era tão perto dali. Tentei correr um pouco mas a falta de fôlego não estava ajudando, não era um bom sinal. 


Uma ventania não muito forte atingiu meu rosto e eu usei a pasta para me proteger daquele frio que batia de frente comigo. Não sei como aconteceu muito bem mas segundos depois eu estava no chão com a pasta soltando algumas folhas e um corpo se levantando na minha frente. Ele pedia desculpas o tempo todo enquanto pegava os papéis espalhados pela calçada. 


Eu, ainda perdido com a situação, me levantei rápido e o ajudei com o estrago que ele mesmo tinha provocado. A única coisa em que pensava no momento era não perder nenhuma folha daquela, havia sido trabalhoso conseguir apenas aquilo. 


  - Eu sou tão desastrado. - Ele dizia. 


Não olhei no rosto dele sequer uma vez durante nossa pesca pelos papéis. Mas a voz era um pouco familiar para mim. Imaginei que fosse alguém de alguma boate que eu havia conhecido e conversado por breves minutos naquela minha fase insana. Poderia ser. 


Assim que terminei de pegar os papéis, vi mãos com dedos compridos e com anéis estendendo o bolo de papéis que havia capturado. 


Eu peguei as folhas e sorri agradecendo. 


Assim que ergui a cabeça para agradecer olhando em seus olhos e fazê-lo parar de pedir desculpas eu congelei. 


Meu sorriso sumiu imediatamente e o rapaz também não pareceu esperar por aquele momento. 


Harry. 


Era ele. 


Aquele Harry do colégio. 


Ele estava tão diferente. 


Como era ele? 


Como é que ele havia crescido daquele jeito? 


Minha respiração estava vacilando e meus olhos não conseguiam desviar dos seus, por Deus, eu estava tremendo. E ele... Bom, ele parecia desacreditado assim como eu. Fazia tanto tempo. 


  - Louis? - Ele disse mais para ele mesmo do que pra mim. 


Eu não consegui responder na hora. Não conseguia me recuperar do choque que era ver Harry na minha frente depois de tanto tempo. 


  - Oi. - Eu disse, sem gaguejar, mas minha voz tremeu mais do que deveria. 


Eu estava nervoso. Não sei se ele estava sentindo as mesmas coisas que eu. Tipo desespero. Eu estava desesperado. 


Harry estava enorme. Não sei como, mas eu precisava olhar para cima para poder encará-lo. E se eu ficasse perto dele para medirmos, minha esta bateria em seu queixo. Seus cabelos, acho que ele não tinha cortado desde a última vez em que nos vimos porque estavam no comprimento de seus ombros. 


Harry usava camisa preta por baixo da jaqueta de couro, calça preta surrada e sapatos fechados de cano alto totalmente pretos. Ele parecia um integrande de alguma banda de punk rock. Totalmente outro Harry. 


Mas o seu rosto era o mesmo, ainda sendo perceptível as marcas de que ele estava mais velho, porém, mais novo que eu, ele tinha o mesmo rosto de menino. Não sei, ele parecia um adulto com cara de bebê. 


O mesmo Harry que eu conheci quando ele tinha treze anos e eu quinze. O mesmo Harry que virou meu amigo tão facilmente. O mesmo Harry por quem eu havia me apaixonado, era ele, aquele Harry. Só que agora ele tinha um cabelão e umas pernas enormes. 


Não sei se ficamos parados por muito tempo encarando um ao outro, mas pareceu uma eternidade. Eu só voltei a mim quando senti uma gota forte bater no meu nariz me fazendo torcê-lo pelo ardor. 


  - Oi. - Ele disse e sua voz me fez estremecer. Era mais grossa que antes, mais firme - Nossa, você... Você está diferente. 


Eu não estava diferente. Eu continuava o mesmo, talvez um pouco mais forte que antes, fisicamente. E eu também tinha barba, nada muito exagerado. Eu havia feito ela dois dias antes e estava crescendo de novo. 


  - Você também. - Falei, olhando para suas calças que tinha alguns rasgos propositais. 


Senti outro pingo, no meu ombro. 


  - Bem, eu preciso ir. - Falei apressado olhando para cima. Eu queria correr. 


Harry seguiu meu olhar para cima e pingos fortes começaram a cair. 


  - Está a pé? - Ele perguntou andando na minha direção e parando do meu lado. 


Assenti com a cabeça. 


Harry tirou as chaves do bolso e fez sinal para que eu o seguisse. 


  - Não precisa... 


  - Você vai molhar isso aí. - Ele me interrompeu, apontando o indicador para a pasta cheia de documentos. 


Tudo bem, eu tinha duas opções: Aceitar uma carona de Harry ou deixar os documentos que eu lutei tanto para ter estragarem com a chuva. E pra ser sincero, foi uma escolha difícil. 


Acabei topando e o segui até o carro. 


Aquele mesmo Jaguar preto do ano 1970 que nos buscava no colégio estava estacionado bem perto. Meu coração acelerou quando Harry abriu a porta e entrou no carro, em seguida a brindo a do passageiro para que eu entrasse. 


Nunca havia sentado no banco da frente daquele carro. Só no de trás, junto com Harry. E lá estávamos eu e ele, nos bancos da frente, parados observando a chuva aumentar. 


  - Onde você está morando? - Ele perguntou dando partida no carro. Suas mãos correram pelo volante gentilmente. Ele era cuidadoso, sempre fora, com tudo. E agora ele estava sendo todo cuidadoso passo a passo, na direção. 


  - Pegue a próxima esquerda e eu ensino o caminho. - Foi o que eu disse, tirando meus olhos das suas mãos que mesmo enormes, eram delicadas com todos os movimentos que faziam. 


Observei a chuva durante e caminho e dei todas as informações certas para que Harry chegasse no prédio que eu morava. 


Foi um caminho tão silencioso que eu senti vontade de descer do carro no meio da rua. 


Ele não precisava fazer aquilo, me dar carona. 


Ele nem mesmo perguntou se eu estava bem. Não sei porque eu estava chateado, eu também não tinha feito esforço para falar. Mas eu estava com medo... Medo de que ele me odiasse. Porque ele tinha todo o direito de me odiar. 


Quando paramos em frente ao prédio, Harry me olhou pela primeira vez dentro do carro. Seu olhar era sério mas não parecia bravo. 


  - É aqui? - Ele perguntou ainda me olhando. 


  - É. - Respondi levando minha mão a porta, tateando para abri-la. 


  - Espere. - Ele disse encarando minha mão, depois levando seus olhos até os meus. 


Seu corpo se virou levemente pelo banco e ele apoiou o braço esquerdo em cima do volante, deixando sua mão com anéis estranhos pendurada. 


  - Há quanto tempo está aqui? - Perguntou erguendo uma sobrancelha. Acho que ele se referia à Londres e não ao prédio. 


  - Não muito. - Respondi pensativo. 


Pensativo não com a resposta mas sim com o que estava acontecendo. Harry tinha raiva de mim? 


Harry mordeu o interior dos lábios. 


  - Você está ocupado? - Foi o que ele perguntou. 


Eu estava? 


Bem, eu estava. Precisava ler os documentos, eu tinha tempo, mas precisava fazer isso o mais rápido possível. 


  - Por que? - Respondi com uma pergunta. 


Ele estreitou os olhos levemente. 


  - Quer tomar alguma coisa?


  - Não sei... - Falei olhando pelo vidro do carro observando a água descer por ele - Está chovendo. 


  - Tudo bem, podemos fazer isso outro dia. - Ele voltou a sua posição. 


Eu conhecia ele, mesmo depois de tanto tempo. Ele estava um pouco incomodado, ele não queria só beber alguma coisa, ele queria conversar. Talvez jogar na minha cara tudo que eu havia feito com ele. Talvez ele queria gritar comigo e dizer que me odiava, jogar toda sua raiva em mim e dizer como eu havia ferido seus sentimentos. 


Se eu estava pronto? 


Não sei, mas eu queria que ele gritasse comigo, queria que ele descontasse toda a dor que eu o fiz passar. Eu merecia. 


  - Sobe comigo? - Eu pedi - Podemos tomar algo em casa. 


Harry não pareceu muito confortável, mas ele aceitou. 


O apartamento estava meio bagunçado. Faziam uns três meses que eu havia me mudado, mas nunca conseguia terminar aquilo. Aquelas caixas me davam desânimo. 


Tinham algumas espalhadas pela sala e outras pelo corredor. O apartamento não era grande e nem pequeno. 


Harry me seguiu até a cozinha e se sentou na banqueta em frente ao balcão sem que eu pedisse. 


Deixei minha pasta em cima de um dos balcões do armário e abri a geladeira. 


  - Temos suco de laranja. - Eu falei - Hm... Morango. - Vasculhei a mais a geladeira, eu precisava fazer compra - Também posso preparar um café ou chá. O que prefere? 


Harry estudava o local quando olhei para ele. 


  - Suco de morango. - Ele disse. 


Assenti. 


Por que estava sendo tão complicado lidar com aquilo? Rezei para não tremer enquanto colocava o líquido no copo a sua frente. 


Harry bebeu um gole e deixou o copo no balcão. Eu sentei a sua frente, de costas para a cozinha enquanto ele estava de costas para a sala. E eu podia ver atrás dele as caixas no chão e nos sofás. Que vergonha, eu não costumava ser tão desorganizado antigamente. 


Harry passou a girar o copo com os dedos em mínimos movimentos, encarando o líquido vermelho. 


Ainda com os movimentos ele desviou seus olhos para um pequeno cinzeiro no nosso lado. E tinha um maço de cigarros também. Pois é, eu estava fumando. 


  - O que anda fazendo? - Ele perguntou voltando seus olhos ao vidro que girava contra o mármore. 


  - Bem, eu estou pensando em abrir um orfanato. - Eu disse sem enrolar. 


Harry me olhou um pouco curioso. 


  - É demorado. Tem muitas coisas que eu não entendo muito, mas estou trabalhando nisso e planejando. - Continuei - Vai demorar um pouco, mas eu não vou desistir. 


  - Isso é legal. - Ele sorriu minimamente. 


  - É... - Eu concordei. 


  - Seu apartamento é bem bonito. - Ele falou, olhando em volta. 


  - É. - Concordei de novo - Agora eu tenho dinheiro, posso viver no luxo. Olha como são as coisas. 


Era para descontrair, mas Harry não riu daquilo, nem eu. Dinheiro nunca foi importante para Harry. 


  - Mas e você? - Voltei ao assunto - O que anda fazendo? 


  - Estudando. - Ele disse erguendo os olhos para mim - Música. 


Harry era um amante de música. E quem não era? 


Mas ele tinha uma ligação muito forte com a música, a vida dele não fazia sentido sem música. Não me surpreendeu ele estar estudando o que amava. 


  - Harry, isso é bem legal. - Eu sorri. Foi um sorriso verdadeiro. 


Eu ainda tinha as duas fitas que ele gravara para mim e o walkman. Estavam guardados. 


  - Sim. - Ele retribuiu o sorriso - A London University é muito boa. Uma das melhores universidades e... Estudar música é muito legal mesmo. 


  - Deve ser. - Falei meio vago. 


London University


  - Vou começar o terceiro ano de curso. - Ele disse - O tempo passa rápido. - Ele pareceu pensativo depois de dizer isso. 


Quando ele ia gritar comigo? 


Eu estava esperando o meu troco, estava esperando ele me xingar. 


Saí dos meus pensamentos quando vi Harry se mexer no seu assento, ele estava com sua carteira na mão e a abriu com cuidado. Eu não sabia o que ele estava fazendo, parecia que queria me mostrar algo e de repente a porta do apartamento se abriu. 


Ciara. 


  - Eu não aguento mais isso. - Ela entrou nem percebendo que tínhamos visita - Eu estou por aqui... - Ela parou de falar quando viu eu e Harry sentados a sua frente. Ela também segurava alguns tecidos e cabides nas mãos. 


Bem, Ciara estava morando comigo. Nos encontramos muito antes de eu vir para Londres e tivemos um papo bem legal. Tão legal que decidimos dividir o apartamento quando aconteceu. Ela já morava em Londres há um tempo e estava passando as férias fora quando nos encontramos na mesma cidade em que nos conhecemos. Ela estava agora no último ano e só vivia correndo preocupada. Cursava moda. 


Ela odiava os dormitórios da faculdade, o que era meio estranho porque Ciara adorava farra e lá era o melhor lugar para isso. Ela se desfez do dormitório assim que cheguei em Londres e disse que me pagaria pela estadia. Mas o que eu menos queria era dinheiro. 


  - Harry? - Ela perguntou um tanto surpresa. 


Olhei para ele e percebi que ele havia guardado a carteira. 


  - Ciara. - Ele fez um leve movimento com a cabeça. Ele não estava entendendo nada, mas não fez qualquer pergunta. 


  - Bom ver você. - Ela sorriu e começou a caminhar - Uma pena eu estar cheia de coisa para fazer. - Ela ergueu os tecidos para cima lamentando - Se me derem licença. 


Ela sorria largo mas as rugas de cansaço e preocupação estavam no rosto dela. 


Assim que ela se trancou no quarto, Harry se levantou e pegou as chaves que ele havia posto no balcão. 


  - Acho que já vou. - Ele falou com uma expressão neutra. 


Eu não pedi para que ele ficasse mais. Não pedi porque eu já não estava suportando a presença dele. Doía olhá-lo e não ter coragem de perguntar se estava tudo bem entre nós, não estava e não sei se ficaria bem algum dia. 


Eu não queria ser o primeiro a tocar no assunto já que eu é quem havia o magoado. Queria que ele dissesse o que sentia e o que sentiu quando aconteceu.


Só queria que o sofrimento diminuísse. 



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