Park Jimin caminhava rapidamente pelos corredores do novíssimo e tedioso internato, tentando inutilmente desviar dos olhares direcionados a si. As pessoas lhe encaravam sem o menor pudor, dando risadinhas e sussurros maldosos. Embora aquilo realmente o incomodasse, já estava esperando por algo do gênero, mas não apenas por seu posto de novato.
O aroma natural de café sem açúcar, mais do que evidente, o denunciava ômega. Como o esperado, todos ali presente o lançavam olhares de julgamento contínuo. A sociedade permanecia idealizando ômegas como criaturas frágeis, delicadas e femininas. Absurdo, não? Era o que Jimin achava. Não usaria peças femininas e chamativas somente para agradar parte do corpo social que continuava vivendo no século passado, e, por isso, seria sempre julgado. Todavia, bom, nunca se importou com a opinião alheia e não seria naquele momento que mudaria.
Olhou para os lados, buscando alguém que pudesse lhe ajudar a encontrar seu quarto, porém falhou miseravelmente. Constatou que aquele definitivamente não estava sendo o seu melhor dia.
Suspirou profundamente e permitiu-se encarar o chão por alguns segundos.
— Ei, projeto de anão, sai do caminho!
Estremeceu. Alguma espécie de alfa idiota havia usado sua voz "especial" consigo. Jimin, novo como era, havia involuntariamente adquirido certos estereótipos em sua mente. A seu ver, todos os ditos alfas eram exatamente iguais; babacas, arrogantes. O moreno quase pôde jurar que seu pulso acelerou ao ouvir a bendita voz do alfa. Ao mesmo tempo que isso o irritava, também o instigava. Tons de alfas costumavam soar quase como um estrondo, fazendo-o acreditar que seus ouvidos poderiam sangrar a qualquer instante. Contudo a voz desconhecida mostrava-se uma exceção a essa regra; levemente rouca e grossa, sem causar quaisquer danos em seus tímpanos. Aquele timbre sensual e mandão quase explodiu sua cabeça de dentro para fora, cada sílaba dita percorria todas as extremidades de seu cérebro com uma velocidade impressionante.
Ergueu a cabeça e mirou o indivíduo em sua frente. O garoto poderia ser facilmente comparado a um Deus grego, se a arrogância não estivesse ofuscando sua beleza.
— Já estou saindo. — Park disse, recebendo um sorriso satisfeito em resposta.
Não conseguiu conter o riso. Eram dentes de coelho que estava vendo?
Deu um passo para o lado, como se abrisse um corredor extra para o desconhecido. O sorriso coelhesco aumentou, mesmo que acreditasse ser impossível. Planos mirabolantes rodeavam a cabeça do menor, um sorriso travesso ameaçou surgir em sua face. Talvez — com certeza — fosse uma péssima escolha, mas não poderia deixar a oportunidade passar.
O garoto simplesmente ignorou o novato e seguiu adiante. Em um pequeno deslize, um dos pés de Jimin "escorregou" para frente dos seus. Presenciar um tropeço nunca fora tão engraçado, ao ver do mais velho.
— Desculpe, coelho. — seus olhos lacrimejavam de tanto rir.
Não ganhou um olhar ameaçador, como imaginava, mas surpreso, acompanhado por um sorriso divertido.
O outro levantou-se e tentou se pronunciar, porém foi interrompido por alguém que o mais baixo presumiu ser o monitor.
— Posso saber o que está acontecendo? — indagou, cruzando os braços com uma feição descontente.
— Nada. — Jimin respondeu sem demora.
— Voltem para os seus dormitórios.
O alfa do sorriso engraçado desapareceu velozmente em meio ao longo corredor, assim que o homem terminou sua fala.
— Não sei onde fica o meu.
— Novato?
— Sim.
— Jung Hoseok, monitor. — estendeu a mão para que o moreno apertasse, sendo correspondido prontamente — Te levarei até a sala do diretor.
Passaram a caminhar lado a lado, em silêncio. Durante o trajeto, Park notou uma característica um tanto peculiar no tal Hoseok. O mesmo não exalava cheiro algum.
— Por que você não tem cheiro? — perguntou sem rodeios.
— Senhor Jung pra você, e isso não é da sua conta. — abriu uma enorme porta de madeira ao que terminou sua frase, indicando que haviam chegado em seu destino.
Hoseok praticamente o empurrou para dentro do local.
— Park Jimin, correto? — observou uma cadeira ser girada e avistou um homem sentado na mesma com alguns papéis em mãos, certamente o diretor. Contentou-se em assentir com um aceno — Obrigado, Hoseok. — o homem lançou um olhar sugestivo para o monitor, que sorriu e se ausentou do lugar. Um sorriso sugestivo demais aos olhos de Jimin — Estava à sua espera. Sente-se. — apontou para a espaçosa poltrona em frente, e o outro obedeceu rapidamente — Meu nome é Kim Taehyung, sou o diretor e dono do internato. Pelo que vi em seus dados, lhe transferiram para cá por comportamento inadequado, de acordo com os antigos supervisores. Soube que é um ômega com problemas de gênero.
— Como soube? — o desconforto era claro em sua voz.
— Como responsável, preciso estar ciente de todos os detalhes. Não sente-se confortável em conversar sobre esse assunto?
— Não, ainda é algo complicado. — disse, desviando o olhar um ponto qualquer da sala.
— Sem problemas. Não estou aqui para te julgar ou pressionar, apenas orientar e ajudar no que for possível. Nós não somos monstros, apesar de aparentarmos. Busco servir a todos para que possam sair daqui e encontrarem boas famílias. Se algum dia estiver disposto a falar, sabe onde me encontrar. — sorriu sem mostrar os dentes.
Será que são de coelho, como aquele garoto? — o moreno devaneava.
— Obrigado! — sorriu, fazendo com que seus olhos sumissem.
— Dando continuidade. Tem dezesseis anos e está no ensino médio. Hm... — alisou o próprio queixo, fitando o menor — Tenho uma proposta para lhe fazer.
— Diga.
— Temos somente dois quartos vagos, dos quais um é ocupado por um ômega e o outro por um alfa. Gostaria de tentar ficar com o alfa? Podemos fazer o teste por uma semana. Quero conhecê-lo e entendê-lo melhor.
— Ah, seria ótimo! — suspirou, aliviado. Abominava odores de ômegas.
— Então, tudo certo. O nome de seu companheiro é Kim Namjoon. Vocês têm a mesma idade e participarão da mesma turma.
— Certo. — levantou-se com a intenção de sair do cômodo, mas foi impedido.
— Antes de ir, seu dormitório é o número vinte e cinco. Comporte-se bem, não queremos nenhum inconveniente.
Park apenas concordou e prosseguiu com seu caminho.
Para conseguir encontrar o quarto foi necessário andar bastante. Por estar focado nos números acabou esbarrando em alguém. O sorriso já conhecido.
— Oh, você! — exclamou ao deparar-se com o garoto anterior.
— Sim, eu. — revirou os olhos e virou-se para seguir seu percurso, porém sentiu um de seus braços ser agarrado.
— Espera! Sou novo e não estou conseguindo achar meu quarto. Onde fica o número vinte e cinco?
— Próximo corredor.
— Obrigado... ? — fez uma pausa para que o outro dissesse seu nome.
— Jeon Jeongguk. — retirou a mão alheia com brutalidade e retornou a andar.
— Sou o Park Jimin. Obrigado por perguntar. — sussurrou para si mesmo, revirando os olhos.
Talvez, só talvez, o pequeno grande Jimin estivesse um tanto frustrado com esse Jeon. Não gostava de grosserias. Não que fosse um doce a todo momento, bem pelo contrário, mas um pouco de senso é sempre bom. Por sorte, o complicado e o difícil já nasceram colados a ele.
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