História I Will Follow You Into The Dark - On The Road

Chapter 3 — On The Road

  O País do Relâmpago realmente possuía estonteantes belezas naturais.

   Os raios do sol começaram a surgir por trás das montanhas naquela manhã, anunciando junto com o melodioso canto dos pássaros um belo dia começando. Uma leve brisa percorreu pelo espaço entre as árvores, agitando suas folhas de um vívido verde, como se estivesse de certa forma acordando-as. Toda aquela sintonia perfeita se completava com o som do curso da água em um riacho próximo que trazia uma sensação bastante aconchegante.

   Tão lindo. Era impossível sentir qualquer tipo de estresse ao contemplar aquela vista tão delicada e apaixonante.

 — DESGRAÇADO!

   Ou não.

 — Você me paga, seu maldito! — no meio da relva a mulher gritava para o nada a plenos pulmões, exalando uma fúria tão imponente que fazia os seus olhos azuis claros brilharem quase na mesma intensidade que o sol acima de si.

   Era como se uma tempestade negra e turbulenta estivesse sobre sua cabeça, lotando-a de sentimentos ruins e desagradáveis em contraste com o aspecto do dia. Estava fora de si, irada, em um estado tão caótico que não era capaz de raciocinar qualquer coisa para encontrar a solução do problema onde estava envolvida.

   Só conseguia se sentir furiosa consigo mesma por ter sido tão irresponsável e deixado aquilo acontecer. Logo ela, que carregava a reputação de ser tão esperta, havia conseguido se meter naquela situação embaraçosa. Tudo por causa de alguns goles de bebida a mais que acabaram deixando-a distraída. Como conseguira ser tão burra a ponto disto?

   Não aguentou mais, precisava tirar todo aquele estresse de dentro de si, já estava prestes a enlouquecer. Impulsivamente ela concentrou todo o chakra que conseguiu na mão direita e, em um rápido movimento, desferiu um golpe violento sobre o chão. Um buraco enorme se formou sob seus pés como resultado do impacto, juntamente com um tremor que fez alguns passarinhos pousados nas copas das árvores ali próximas voarem para longe.

   Desejou muito fazer aquilo novamente, em outra ocasião, mais precisamente bem no meio do rosto dos responsáveis.

  Um suspiro longo escapou por entre seus lábios. Levantou-se e sacudiu a poeira que havia ficado em suas roupas e em sua mão, massageando as têmporas para retomar a calma, se é que isto fosse possível.

 — Vamos lá, Natsumi, pense! — disse para si mesma.

   Agora que já havia extravasado, precisava colocar o cérebro para funcionar e pensar em uma maneira de encontrar os ladrões que a haviam roubado e conseguir recuperar o que havia perdido...

   … O que seria um pouco complicado tendo em vista que, por ter exagerado na bebida, só conseguira perceber que fora furtada depois de um certo tempo, quando os autores daquele crime sem escrúpulos provavelmente já tinham se deslocado para bem longe de sua pessoa. E, para completar a situação, rastrear não era lá uma de suas habilidades mais notáveis, então ficaria com certeza mais difícil conseguir encontrá-los.

 — Bom… — a morena ajeitou a mochila pendurada em suas costas, estalando o pescoço e sacudindo os ombros, adquirindo uma expressão determinada. —  Vamos lá, eles não vão se achar sozinhos!

  Começou a correr e avançou para ainda mais dentro da floresta, sabendo que aquele era o único caminho possível que eles poderiam ter percorrido.

  O real problema seria para onde exatamente eles teriam ido depois de ter cruzado toda aquela mata, pois várias cidades e vilarejos eram próximos do local. Teria ela de procurar em cada lugar, um por um? Não tinha tanto chakra assim para ocupar todos os locais com Kage Bunshin.

— Se bem que falar é fácil... — murmurou cheia de desgosto.

  Tinha deveras bastante trabalho pela frente.

[***]

  Para apenas uma mera missão Rank-C como aquela, até que o Time 7 estava tendo um pouquinho a mais de trabalho.

  Os três partiram um pouco mais tarde do que havia sido previamente combinado, já que Naruto não tinha comido naquela manhã e se recusava a ir embora de estômago vazio, fazendo Kakashi e Sakura esperarem enquanto ele comia o mesmo de sempre no Ichiraku. É claro que o genin ainda fizera questão de jogar conversa fiada com o dito cujo, atrasando-os ainda mais, e foi preciso que a rosada arrastasse o garoto dali - não muito gentilmente - para que enfim seguissem viagem.

  Começaram investigando nas cidadezinhas adjacentes a Konoha que haviam sido alvos dos bandidos, pedindo por informações em alguns comércios e estabelecimentos. Em todos os casos a situação era a mesma: os furtos foram realizados de forma rápida, sem deixar qualquer rastro e foram poucas as pessoas que conseguiram identificar os rostos dos autores, que agiam rápido e com maestria, o que indicava que eram profissionais.

  A equipe não conseguira reunir nenhuma informação útil sobre o caso até então, nada que pudesse lhes oferecer alguma pista sobre o paradeiro deles. Mas, quando chegaram a uma pequena lojinha, o último lugar que faltava investigar, a situação passou a agir a seu favor.

— Quando eu percebi o que estava acontecendo, já estavam fugindo. Não sei para onde foram. — a proprietária do estabelecimento, uma senhora, contou para Kakashi — Parece que um deles se atrapalhou um pouco na fuga e deixou isto para trás.

  Ela estendeu um pedaço de tecido preto rasgado para o jounin, que logo guardou no bolso de sua calça. Finalmente uma evidência, que mesmo pequena seria bastante útil, já que continha o cheiro de um deles e facilitaria rastreá-los.

— Obrigado, isso vai nos ajudar bastante. Tem mais alguma coisa que você possa nos contar sobre eles?   

— Não muito… — a velhinha franziu o cenho, fazendo esforço para se lembrar de alguma coisa que fosse útil para aqueles três ninjas — O que sei é que eles são rápidos demais, tanto que só pude enxergar os vultos.

— Kakashi-sensei, será que esses caras são ninjas também? — indagou Naruto quando se retiraram — Pelo que todo mundo disse sobre a forma como agem, fico me perguntando…

— Também tenho suspeitas disso. Não consta nada sobre eles nos arquivos de Konoha e nem mesmo Tsunade conseguiu reunir muitas informações… Então tudo pode ser uma caixinha de surpresas.

— Nossa, isso é realmente bem esquisito! — Sakura não deixou de comentar — Espero que não seja nada tão mirabolante…

— Que isso, Sakura, você colocaria qualquer um pra correr com essa sua super força, não se preocupe. — Naruto brincou com a amiga, que revirou os olhos e deu um meio sorriso. Olhou para o céu cheio de estrelas e rapidamente teve uma ideia — Hm, já tá bem tarde… Podemos dar uma parada por enquanto e ir comer alguma coisa, o que acham? Tomara que tenha um restaurante de lámen perto daqui!

  A ideia de colocar alguma coisa para dentro depois de um dia cheio fez o estômago de Sakura roncar, coisa que não passou despercebida por seus dois colegas de equipe.

— É mesmo, bem que estou faminta. — ela sorriu envergonhada com as mãos na barriga.

— Certo. Vocês dois podem ir comer alguma coisa na cidade, mas não demorem muito. — demandou Kakashi, preocupado com outra coisa que não fosse comida. — Não se esqueçam que estamos no meio de uma missão.

— Não quer ir com a gente, sensei? Você não parou por um minuto o dia todo. — Naruto fez uma cara não muito satisfeita quando viu que o jounin não se juntaria a eles.

— Eu preciso passar o andamento de hoje para a Tsunade-sama. — o filho do Canino Branco de Konoha deu um sorrisinho que pôde ser percebido mesmo debaixo da máscara, já que suas bochechas se levantaram e seus olhos se fecharam. — Podem ir sem mim.

  Sakura balançou a cabeça e Naruto manteve a expressão, ambos partindo em seguida para as ruas movimentadas da cidade à procura de algum lugar para comer.

— Eu duvido — resmungou o loiro enquanto andava ao lado da kunoichi — Aposto que isso é só uma desculpa para ele não ter que tirar a máscara na nossa frente!

— Não seja inconveniente, Naruto.

  Encontraram um restaurante localizado no meio da calçada, tendo o seu exterior cercado por lâmpadas vermelhas que lhe davam um destaque a mais. Estava um pouco cheio lá dentro, mas os dois conseguiram localizar o que seria uma das últimas mesas ao fundo daquele espaço, indo se sentar rapidamente antes que alguém fizesse o mesmo.

— Hmmm, vamos ver o que tem de bom! — Naruto pegou o cardápio sobre a mesa como uma criança hiperativa, passando os olhos pelas palavras ali contidas quase sem lê-las de fato, prestando mais atenção nas imagens das comidas — … O quê? Não tem lámen?!

— Existem outros tipos de comida além de lámen, sabia? — Sakura riu, lendo o seu próprio cardápio — Podemos pedir duas porções de sukiyaki¹, o que acha? E dividiríamos a conta.

  Naruto arregalou os olhos de repente, dando-se conta da situação em que estava. Ele e Sakura, apenas os dois, sem ninguém por perto que pudesse pertubá-los naquele restaurante… Um encontro! Como ele podia ser tão desligado para não ter pensado naquilo antes? Sempre teve uma queda pela garota desde que se entendia por gente, e mesmo que provavelmente nada de romântico estivesse passando pela cabeça dela, o loiro não perderia a oportunidade - que era raríssima - de tentar impressioná-la e esquentar as coisas. Tinha pouco tempo até que tivessem que se encontrar com Kakashi, então precisava agir o quanto antes.

— Nada disso, Sakura-chan! — ele pôs uma mão no peito, dando um sorriso convencido — Sou eu quem irá pagar a conta, pode deixar a carteira guardada!

— Tem certeza? — Sakura arqueou uma sobrancelha — É um pouco caro…

— Que nada! Tenho uma grana de sobra que juntei das últimas missões! — levou a mão ao bolso à procura de seu porta-moedas em formato de sapo, abrindo-o para dá-la a certeza do que tinha acabado de dizer.

  Foi quando a realidade caiu sobre sua cabeça. Não tinha praticamente nada lá dentro, apenas algumas moedas de valor pequeno que não seriam suficientes nem mesmo para pagar a sua metade da conta. Ficou sem acreditar de primeira e até tentou abrir ainda mais o objeto para ver se não tinha alguma quantia extra no fundo. Nada.

  Como sempre… Ele era um idiota.

— Tudo bem, eu posso pagar a mais, depois você me devolve o dinheiro. — as palavras da kunoichi foram amigáveis, mas acabaram acertando Naruto como um raio, levando por água abaixo todo o seu plano de apimentar o clima. Ela nem chegou a perceber o estado deplorável dele e chamou o garçom despreocupadamente com um sorriso simpático nos lábios.

  “Eu sou um idiota…”, Naruto repetia para si mesmo em seus pensamentos.

  Nem sempre a sorte andava ao seu lado.