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História I wish I hadn't met you, appa - My house


Escrita por: blueyooncean

Notas do Autor


Eae

Capítulo 54 - My house


Fodeu.

Quando eu digo que fodeu, fodeu real.

Quando você está na mesa de jantar e todos do nada olham pra você e dizem que precisa conversar, fodeu.

Eu sinceramente não queria conversar, já que ainda estou na minha sessão pós coração partido, onde mais de 15 potes de sorvete foram comidos com a ajuda de Jin e Yoongi. Desde ontem pra hoje.

E agora me vem com essa.

– Conversar sobre...? – Eu estou fingindo que nada de ontem aconteceu, que simplesmente tive amnésia. É meu... Mecanismo de defesa. Eu simplesmente finjo que certas coisas nunca aconteceram, como se esquecer fosse me ajudar a ficar bem de novo (e ajuda, muito).

– Sobre os acontecimentos de ontem. – Por que eles não podem simplesmente ser diretos?

– Vocês podem ser diretos, ninguém aqui é tão sensível assim. – Calma Chloe, sem se irritar.

– Eu queria me desculpar por... Bater em você. Eu fiquei muito irritado com o que você falou e com esse vicio que estamos lutando juntos pra superar, e nem soube seus motivos. Você me perdoa? – "Juntos"

– Claro, já tinha perdoado antes. – Dou dê ombros e encosto na cadeira de novo. – Tá tudo bem.

– A gente também queria conversar sobre... As coisas que você falou pro Namjoon. – É, era o que eu esperava.

– O quê? Sobre o dia dos pais? Sobre o bullying? Sobre os corações partidos? Ou sobre o estupro?

– Sobre... – Jin começa e faz uma pausa, como se não quisesse falar a palavra.

– O estupro né? Podem perguntar, eu não me importo.

– Como assim não se importa? – Yoongi pareceu indignado, como se importasse.

– Olha, eu tinha 9 anos, tive que superar sozinha pra não entrar em depressão, tive que lidar com o cara todos os anos no natal, tive que lidar com todas as dores e o caralho a quatro que isso causou no meu corpo. Se eu não superasse, eu já teria cortado meus pulsos na vertical e não na horizontal.

– Mas como que você não denunciou? Como não falou pra ninguém? Como que você simplesmente superou algo assim? – Yoongi, por incrível que pareça, parecia o mais indignado. Um assunto assim... Não queria ter que trazer tudo isso a tona de novo, sabe? É doloroso ter que lembrar daquilo de novo.

– Olha, já é vergonhoso o suficiente estar falando sobre isso agora. É doloroso, tá? Eu não falei pra ninguém por medo, vergonha e ninguém ia acreditar mesmo. Ninguém ia, eu não tinha provas a não ser minha vagina violada. – Dei uma risadinha, não acredito que falei vagina violada no meio desses retardados com caras horrorizadas. – Acham que se eu pudesse já não tinha acabado com ele? Eu fiz boxe por vários anos. Mas não fiz por medo. Superar era a única coisa que eu podia fazer, não posso apagar uma coisa dessas de mim.

– Mas Chloe... Por que? – Hoseok estava com uma cara horrível, como se tivesse envelhecido 10 anos só com a informação.

– O que você queria que eu fizesse? Eu já falei e repito. Eu. Não. Tinha. Ninguém. Mesmo que minha avó acreditasse, ela não acreditaria, mas em uma hipótese, o que ela faria com o desgraçado hein? Ela ia me proteger? Só pra constar, eu só estava sozinha quando ele me "atacou" porque as crianças filhas da puta que eram filhos daqueles riquinhos estavam me isolando e fazendo bullying comigo, xingando minhas roupas, meu corpo e o fato de eu NÃO TER PAIS. Agora, se querem fazer alguma coisa por mim, esqueçam. Eu queria alguém fazendo coisas por mim quando tudo aquilo aconteceu. Queria proteção, queria ajuda, queria a minha inocência de volta, mas ninguém tava lá, não fiquem agindo como se importasse porque não adianta mais.

– Chlo... – Jin começou.

– Não. Não tentem concertar algo que não tem concerto. Com licença, mas queria que esse assunto morresse aqui, antes que minha vontade de deixar isso aqui. – Mostrei meu pulso com cicatrizes. – Pior do que está, volte. Boa noite. – Me levantei da mesa, levando meu prato para a cozinha e depois subindo as escadas até meu quarto, já deixando soluços saírem da minha garganta antes de chegar no quarto. QUE BOSTA. Eu odeio tanto chorar, faz eu me sentir tão fraca. Tá, é retardado pensar assim, mas eu ainda odeio chorar.

– Chloe eu queria... – Namjoon entra no quarto.

– Não precisa fazer isso.

– Mas então eu poderia te...

– Já disse que não adianta me recompensar.

– Mas eu não posso nem tentar? – Alguém arranca a língua do Namjoon pelo amor de Deus? Não aguento mais esse ser falando. Tá, vamos logo com isso.

– Posso te levar a um lugar?

– Po... Depende. – Vontade de dar um berro.

– Pega um boné, uma máscara e um óculos escuros. Aproveita e coloca um moletom, a gente tem que ir andando. – Não acredito que estou fazendo isso.

– Preciso ter medo?

– Se eu tô junto não, não precisa.

[...]

Assim que ele avisa aos meninos que íamos sair, comigo já no lado de fora, começamos a andar.

– Estou reconhecível? – Ele abre levemente os braços, mostrando a si próprio.

– Só se suas fãs loucas reconhecerem você pelas mãos, fora isso tudo okay.

– Ótimo.

E então começamos a andar em direção a minha casa. Sim, minha casa.

Andamos calmamente, um ao lado do outro. Percebo que, de vez em quando, ele me olha de relance, numa pergunta silenciosa de aonde estamos indo. Mas continuo olhando para frente, sentindo uma nostalgia desgraçada de ir por esse caminho todos os dias.

Comecei a sentir os músculos da minha barriga mais flácidos, em questão de ter parado de fazer exercícios. A minha resistência também vem diminuindo, mas creio que é em questão da abstinência de cigarros. Tudo que construí e estabilizei em todos esses anos está simplesmente ruindo e isso é bem desesperador. Eu realmente não queria ter que me adaptar DE NOVO.

– Olha, a partir daqui você ter que andar com a cabeça abaixada, okay? – assim que chegamos na divisa do bairro residencial pro meu bairro, seguro sua blusa pra lhe explicar as regras.

– Não acredito que você tá me levando em um DESSES bairros. Vão atirar na gente!

– Primeiro, essa coisa que eu vou mostrar está lá dentro. Segundo, você está comigo! Todos ali me conhecem e não vão nem pensar em atirar na gente. Já me envolvi em brigas aqui e tenho o respeito de todos. – Me lembro da vez que expulsei um mendigo a pontapés, de dentro do meu prédio. Ele estava mexendo nas minhas coisas!

– Mais brigas? Você não se cuida?

– Pra que eu deveria? – Depois disso, ele abaixou a cabeça e fez o que eu mandei, ficando bem quietinho. Sinto coceira nos dedos pra tirar aquela caixa de som da mochila junto com a garrafinha e ensaiar a minha coreografia até minhas pernas caírem. Estou ansiosa, tão ansiosa que tenho vontade de arrastar Namjoon e seus passos hesitantes até nosso destino.

– Se continuar andando assim vão perceber que você tá com medo. – Digo, em tom irritado. Eee bixo medroso.

Cumprimento alguns dos antigos colegas que sempre via quando passava por aqui. Estão os mesmos, nada nunca muda nesse lugar.

Paramos em uma das pequenas lanchonetes que frequentava e compro uns salgadinhos e balas.

– Cigarros hoje? – O atendende com drads me pergunta.

– Shhhh, hoje tenho escolta. – Aponto pra fora, onde Namjoon está esperando e dou uma piscada para o atendente.

– Entendi. – Ele sussurra, e nós dois rimos. Saímos e seguimos nosso caminho.

Até que viramos a esquina e avistamos o meu prédio e a minha borboleta. Está tudo intacto, achei que tudo estaria apagado e destruído, mas não. Ta tudo igual.

Começo a dar passos mais largos, obrigando Namjoon a me acompanhar. Eu preciso desse lugar. Assim que chego na frente, pulo a janela sem hesitar. Estou na metade do caminho quando vejo que não tem ninguém atrás de mim.

– Ué, você não vêm? – Não recebo resposta. – Tá com medinho, é?

– Tem certeza que é seguro? – Suspirei.

– Tenho, vem logo. – Seguro um "caralho", pra não piorar a situação, apesar de ele merecer um "caralho" bem na cara dele, por estar duvidando de mim.

Depois disso, com a velocidade de um híbrido de tartaruga e lesma (Vai se foder, Warren) ele finalmente entra. Fico irritada e vou direto até a grande sala, que agora tem mais um espelho rachado.

– Alguém entrou aqui. – Suspiro e deixo a mochila no chão.

– Ah, legal hein. – Ele diz, olhando para os lados.

– Para a sua informação, eu trouxe você aqui porque aqui é um lugar muito especial pra mim. Foi o primeiro lugar aqui nessa porra de país que me vez sentir bem. Aqui que eu dançava, que eu me divertia, que eu afogava minhas mágoas e chorava, que fugia de vocês e que era feliz. – Digo, me virando pra encará-lo. – Se não é interessante pra você, saia por onde entrou.

– Desculpa, não foi isso que eu quis dizer. – Ele tentou aproximação, mas assim que viu que dei um passo pra trás. – Desculpa por tudo, desculpa por não ver pelo seu lado. Desculpa por ter sumido, eu fiquei cego pela dor e pela raiva, por causa da... Morte dela, e não pensei no seu lado. Desculpa por ter sido o pior pai do mundo pra você e sei que não tem nenhuma maneira plausível pra você me perdoar e pra te recompensar. Mas por favor, me dê uma chance.

– Eu te dei várias chances, e até agora você falhou em todas. – Cruzo os braços, escondendo um sorriso.

– Só mais uma, eu imploro. A gente pode tentar de novo, agora pra valer. – Ele tentava segurar as lágrimas, meio sem sucesso. Não vou mentir, isso amoleceu meu coração. Não vou mentir também que tudo isso me deixa feliz, não importa quantas vezes diga que odeio eles, eu realmente quero um pai. E ver ele assim, me dá muita vontade de perdoar ele, mesmo não devendo. – Por favor.

– Tudo bem. – Solto os braços ao lado do corpo. – Segunda chance con... cedida. – Dou um meio sorriso e vejo ele avançar e me dar um abraço apertado, sufocante.

– Obrigado. – Ele diz, com um suspiro. Como se tivesse segurado a respiração.

– Eu trouxe comida... Ou você prefere dançar? – Digo lembrando da vez em que vi um vídeo, de 2013 em que dizia que era RAP Monster, e não DANCE Monster.

– Prefiro sentar e conversar. – Ele diz, meio rindo.

– Tudo bem. – Sento com as penas de índio no chão, ligando o celular a caixa de som e colocando uma música baixinha, algum rap aleatório da minha playlist do Spotify. Ele se senta na minha frente e abre um pacote de salgadinhos.

– Sinto falta de vir aqui. – Digo de boca cheia. – Praticar lá na casa não é a mesma coisa.

– Você sabe que não pode voltar pra cá né? – Seu olhar tem pena, e pesar. Não sei.

– Eu sei. – Abaixo a cabeça e continuo mastigando o salgadinho. – Eu trouxe ela aqui pra um encontro, uma vez. Foi a única pessoa que sabia desse lugar. Foi um dia bem especial pra mim. – Depois de mais um tempo em silêncio, com as imagens da nossa viagem até os trilhos e o almoço aqui, que fiz com Max a um tempo atrás.

– Ela? – Como é possível que eu tenho um pai tão lerdo?

– A menina que eu estava... Meio apaixonada. – Porque meu rosto tá quente? Ah vai se ferrar.

– Aquela que foi lá em casa? – Assenti levemente. – E o que aconteceu?

– A gente ficou, lá no meu quarto mesmo e aí, no dia seguinte, ela aparece namorando com um outro menino. – Namjoon para tudo que está fazendo e arregala os olhos. – Eu já tinha até planejado um meio pedido de namoro sabe, mas aí ela chegou no colégio de mãos dadas com ele, falou pra mim como se não fosse nada.

– Sério? Tipo, sério mesmo?

– Não é a primeira vez que isso acontece mesmo. – Digo, dando de ombros e comendo mais um salgadinho, como se aquilo não me afetasse.

– Como assim não é a primeira vez?

– Há um ano atrás, eu tinha uma namorada, essa namorada que me levou pras drogas e pra bebida e todo aquele blablabla. Ela meio que me salvou da depressão e etc. A gente namorou por quase 2 anos. Até que, um dia, um dos meus "amigos" – Disse, fazendo aspas com os dedos. – Me mostrou uma foto dela transando com um cara que vendia drogas pra gente. Ela nem mesmo pediu desculpa, ela só me ignorou. – Pressiono um lábio no outro, fazendo uma linha fina com eles. – Então, poderia ser pior né. Não tenho tanta sorte assim no amor como você teve por conhecer minha mãe.

– Que filha da mãe. – Dou uma risada com a tentativa de Namjoon de xingar a menina.

– Superei. – Digo, dando de ombros.

– Mas como assim, a minha mãe não se importava? – Ele parece desacreditado que a mãe não fosse fazer nada.

– Em primeiro lugar, ela sempre quis parecer rica e sofisticada, sempre preocupada demais com as amigas ricas dela, jantares e etc e aí ela meio que esquecia de mim. – Respiro fundo, lembrando de como odiava e odeio aqueles jantares. – E em segundo lugar, ela poderia até se importar, mas eu sempre fui orgulhosa demais. Por nunca termos dinheiro pra contratar empregadas, era eu que limpava e arrumava tudo, então acabei crescendo muito rápido e aprendi a ser independente. A partir de um ponto, que ela distorcia tudo, eu parei de tentar pedir ajuda e quis resolver as coisas sozinha, mesmo que isso significasse eu quase levando um tiro. – Termino com uma risada, lembrando da adrenalina.

– Mas ela sempre foi super compreensiva e sempre me ajudou a resolver meus problemas e me apoiou até quando... Sua mãe engravidou. Não entendi como ela deixou isso acontecer.

– Ela tinha um pensamento bem arcaico e machista, ela queria que eu fosse uma princesinha. Só que na verdade eu sempre fui o dragão. – Termino de falar e exploro em gargalhadas. Que analogia foi essa Chloe?

– Desculpa por ter raiva de você, e te culpar pela morte dela. – Tá, como você não vai perdoar uma pessoa que parece EXTREMAMENTE arrependida?

– Tá tudo bem, eu também me odiaria se fosse você. – Digo, colocando uma grande quantidade de salgadinho na boca, na intenção de não falar mais.

– Agora é minha vez? – Dou de ombros, mesmo tendo vontade de assentir rapidamente. – Eu conheci a Sook com 15, a gente nunca se deu muito bem. Eu era apaixonado por ela, só que eu não sabia como lidar com isso, então quando ela entrou no reforço em que eu ajudava por pedido do diretor, eu comecei a me aproximar dela. Mas foi ela que começou tudo, já que eu sempre fui meio bocó. Quando eu perdi minha virgindade com ela dois anos depois, eu fiquei muito feliz, mas aí ela acabou engravidando, bem na nossa primeira vez. Por descuido meu, que como bocó inexperiente nem lembrei da camisinha. Mas aí era uma gravidez de risco, mas eu fiquei com ela até o final. A gente namorou 4 meses depois dela entrar no reforço, eu amava ela mesmo não sabendo direito o que significava. A gente namorou por um bom tempo, mas a família dela nunca gostou de mim. Já minha mãe e meu pai amavam ela, ela passava todos os finais de semana lá em casa, ia pra festas com a gente, etc. Quando ela engravidou meu pai já tinha ido embora, se separado da minha mãe. Mas mesmo sozinha ela deu todo o apoio pra ela e pra gente. – Ele olhava pra baixo, lembrando das cenas provavelmente. Eu continuo o encarando, achando essa história mais interessante do que o normal. – Sinto falta dela.

– Gostaria de ter conhecido ela. Talvez eu não fosse tão merda como eu sou hoje. – Sabe quando você joga uma indireta, achando que a pessoa vai te elogiar e negar. Aquele drama básico. Foi o que eu fiz. Queria que ele falasse que não era assim, que eu não sou uma pessoa merda. Mas ele nem mesmo me respondeu.

[...]

Não tive coragem de dançar na frente dele. Então só voltamos pra casa quando já tinha escurecido e fui diretamente pro meu quarto.

Gravei um vídeo mostrando meu rosto e falando que ia acabar o canal, já que as coisas tinham ficado complicadas. Fiz sem cortes mesmo, só um pequeno aviso de que ia desativar, não excluir, o meu canal no YouTube.

Postei assim que terminei de gravar, vendo rapidamente as views subirem e os comentários aparecerem.

Não me arrependo, foi a coisa certa a fazer.

Não ando com inspiração pra nada, tudo que eu fazia antes não me inspira mais, não quero fazer coisas mal feitas. Compor, tocar, dançar, desenhar, fotografar. Não é o momento de continuar com tudo isso, não sinto vontade de mais nada, perdeu o sentido.

E assim terminei o dia, olhando pro teto, preguiçosa demais pra ver uma série ou pegar um livro, arrependida demais pra falar com alguém.

E com uma abstinência ferrasa


Notas Finais


Um grande beijo


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