História Ícarus - III - Der Selbstmord.

III

" Der Selbstmord. "

Estou dentro de um quarto, estou em uma sala cinza, estou dentro de uma gaveta; estou numa caixa de fósforos, deitado numa cama, não estou sozinho; estou dentro dos bolsos das pessoas, estou em todos os lugares desagradáveis.

Estou no meio da rua , lojas sem outdoors, casas sem portas, o céu sem qualquer estrela. Eu estou sonhando? Eu preciso acordar ? Isso é horrível, me tire daqui agora!

Estou deitado sob uma maca de hospital, há uma mulher com um bisturi que me olha fixamente.

Uma sala de aula, porque uma sala de aula? Crianças brincando nos corredores, risos. Crianças ?

Acordo.

Ainda alienado com a ligação de ontem a noite, segui, agitado, contra o banheiro, passando água gelada pelo meu rosto cansado, outra noite ruim. O relógio marcava suas sete horas e quinze, o café preto esfriava em minhas mãos enquanto eu olha reflexivamente contra o quadro "Le suicidé" que, bem posto à parede contra minha poltrona, me refletia um ar horrendo e misterioso, pinturas são canções compostas em cores e formas, a melodia, o pincel, a nota, a cor.

Vinte minutos depois a sirene de uma viatura policial soou afrente a janela, desci a escadaria até a porta principal, e adentrei à viatura, o motorista era a imagem padrão de policial americano, rayban estilo motoqueiro, um punhado de pelos faciais abaixo do nariz, geralmente eles chamam isso de " bigode " embora eu não concorde, no porta luvas quatro caixas de rosquinhas, sujeito quieto, expressão séria na face, mal tive coragem de perguntar se posso acender um cigarro.

Meia hora dentro do carro, chegamos à frente de um sobrado não terminado, a rua ligava à avenida principal do bairro, bom ponto de localização, com certeza o melhor lugar para esfaquear uma moça quando não se tem o que fazer.

— Então, onde está? - perguntei me dirigindo ao encarregado de visionar a área do crime.

— Andar de baixo, em seu quarto, aconselho a usar isto - me ofereceu uma mascara, virei o rosto.

Estou na sala principal, lugar grande, sem sinais de arrombamentos em janelas ou portas, sem qualquer sentido, indo mais a fundo, passando pela cozinha que é quase mesclada com a sala, sendo apenas dividida por um balcão de um metro de altura, o quarto.

Sangue;

— Oh, meu Deus, John! - O homem que me segue resmunga.

— Seu Deus não vai te ajudar agora. - respondi, 

O sangue escorria pelos lençóis até abraçar o chão, a garota jogada contra a cama, um corte de quinze centímetros em seu abdome coagulava sangue para fora de seu corpo, em primeira vista não havia sinais de agressão, não houve reação, provavelmente tenha sido um golpe surpresa.

Penny;

Cautelosamente verifiquei seus pulsos, pescoço, pés, cabelo, mas nada, nenhum sinal de luta, com certeza não foi forçada a isso, o cabelo está impecável, nenhum sinal de embaraçamento.

— O que acha? - me surpreende Husson na porta, com a máscara ridícula ant-contaminação, talvez tenham medo de que apareça um corte de quinze centímetros no abdome deles também.

— Suicídio.

— Suicídio, John?

— Suicídio, Chris?- Disse Husson ao mesmo tempo que o homem que me seguia.

— Sem sinais de arrombamento, nenhum traço de agressão ou reação da vítima, a faca era da casa dela, a gaveta estava aberta quando entrei, a poeira passava por cima das colheres e garfos, menos das facas, haviam sido mexidas a pouco tempo, o DVD da sala estava rodando o filme J'ai tué ma mère, pausado,ela desistiu de assistir para fazer algo, uma ligação talvez? Tocaram também no telefone, estava fora do gancho, ela estava desesperada, algo o assustava muito, mas antes ela obviamente ligou para alguém. Obtenha o registro de chamadas e rastreie sua ultima ligação.

Husson apenas acenou com a cabeça e se retirou da sala, logo em seguida, pedi que o homem que me segue também se retirasse, ele optou por usar a porta, mesmo sabendo que paredes não iriam o bloquear. Me encostei contra a cômoda que estava ao lado do quarto, olhando para o corpo de Penny, não foi preciso mais de dez segundos para que voltasse todo o meu passado como um fantasma da moça que estara morta ali, conforme o tempo passa e suas esperanças se esgotam, conforme o fardo de ter que existir fica pesado, sempre aparece alguém que te fara duvidar de que realmente esteja perdido, Penny foi uma pessoa que sempre irá deixar traços na minha personalidade, encontrei nela novas maneiras de continuar, passos novos, alguns dias a mais de conforto emocional, mas tudo simplesmente acabou, e acabou lindamente, como sempre é, melhor que o começo, é o final das coisas, melhor ver algo acabando, que começando, ou você nunca se perguntou por que um cemitério aglomera mais pessoas que uma maternidade?

Não mais que vinte minutos depois Husson volta, estava assustado, engasgado com suas próprias palavras.

— E então, Husson? - perguntei, não muito preocupado com a situação dele.

— Fizemos o rastreamento, ela não ligou para alguém, o individuo ligou para ela, e logo após ela morreu. - suas palavras saiam uma atropelando a outra, estava realmente nervoso, e eu ainda não me importava.

— Ótimo, temos um homicídio à distância. De quem era a ligação? - Perguntei, ironicamente.

Após cinco segundos de silencio, enquanto Husson tentava retomar o ar, ele olhou fixamente contra meus olhos focados, era aparente a dor inexplicável residindo atrás de minhas iris castanhas, o olhar de Husson me condenada.

— A ultima ligação que Penny recebeu foi quinze minutos antes da morte, rastreamos a chamada, a chamada veio da sua casa, Christopher! - ouvi o eco dessas palavras pelo silêncio ensurdecedor que a situação trara a mim.

Acendi um cigarro.