Batidas frenéticas na porta acordaram a imperatriz. Os olhos da bela mulher negra se abriram rapidamente, em um susto por conta do barulho. Ela levou alguns segundos para perceber o que estava acontecendo e de que natureza era aquele som, mas logo se deu conta das batidas urgentes na porta.
Hope moveu-se na cama e jogou a coberta pesada — a única capaz de bloquear o frio rigoroso da cidade — para o lado. Em seguida, colocou os pés delicados no chão frio e procurou os seus sapatos desajeitadamente.
— Pode esperar um minuto? — ela gritou e as batidas cessaram imediatamente.
Finalmente, ela conseguiu achar as suas pantufas e levantou-se. Foi até o seu cabideiro e pegou um robe dourado de cetim, vestindo-o.
Imaginando o que seria tão importante a ponto de fazer qualquer um que fosse ter a ousadia de bater à porta de seu quarto daquela forma, ela andou até a mesma e abriu-a. Um ômega estava parado no corredor, em uma postura que demonstrava respeito para com a imperatriz. Hope passou alguns segundos esperando que ele dissesse o que queria, mas só então percebeu que ele estava esperando uma permissão para falar.
— Diga — ela permitiu.
— Peço perdão pelo incômodo, Majestade, mas é realmente muito importante — ele disse e ela deu de ombros. Se era de tamanha urgência, não havia outra forma de um ômega proceder, se não perturbando-a. — As ruas da cidade estão sendo destruídas por vampiros. Creio que são os recém-transformados da Nova Ordem do rei e da rainha Mencl.
Hope agradeceu pelo aviso e teve pressa em fechar a porta e livrar-se do ômega. Rapidamente, ela pulou até a janela de seu quarto e abriu as cortinas.
A imperatriz pôde ver com os seus próprios olhos. Vampiros fora de suas faculdades mentais estavam correndo desesperadamente nas ruas, jogando objetos em janelas, gritando e ateando fogo em carros e casas inteiras! As placas e postes estavam derrubados e tudo estava depredado. A cidade estava mergulhada no caos.
Hope correu até a porta de seu quarto e abriu-a, colocando a cabeça no corredor.
— Guardas! — imediatamente, os ômegas que estavam guardando os seus aposentos olharam na direção do chamado e se prontificaram. — Mandem preparar um carro, lobos para a escolta e um caminho seguro. Eu estou indo até o castelo dos reis.
[…]
Os pássaros cantavam e mergulhavam no ar do lado de fora do quarto dos reis. Um silêncio harmonioso estava instalado naquele lugar e o delicioso perfume amadeirado de Peter também estava pairando no cômodo. Os lençóis estavam amassados sobre a cama e cobriam os corpos nus e entrelaçados de Christie e Peter.
A princesa não tinha certeza sobre quanto tempo tinha dormido, ou sobre há quanto tempo tinha acordado. Naquele momento, o tempo seria infinito e ela apenas estava com a cabeça sobre o peito de seu marido, deleitando-se com o seu aroma. Havia sido uma noite muito boa para ambos, o que garantia um sorriso espalhado pelo rosto dos reis.
— Bom dia, amor — ele disse, depositando um beijo nos cabelos macios e loiros de Christie. — Acho que eu não posso mais te chamar de princesa.
O sorriso da rainha alargou-se.
— Acho que não — concordou. — Essa noite foi…
— Incrível? — ele tentou e ela olhou-o com dúvida. — Sensacional? Inesquecível?
Ela riu e negou.
— Interessante — ela disse.
Peter arregalou os olhos, surpreso e frustrado.
— Interessante? — ele repetiu, indignado. — Como “interessante”?
Christie não conseguia conter o riso.
— Eu não sei, foi só interessante — respondeu. Ele olhava-a com uma revolta divertida. — Eu estou brincando, seu bobo! A noite passada foi todas as palavras que você disse e um pouco mais.
Ele sorriu e respirou fundo entre os cabelos loiros dela, sentindo o perfume adocicado de alguma flor nativa da região romena.
— Acho que hoje nós teremos um tempo a sós, certo? — ela perguntou e Peter assentiu. — Eu só queria te perguntar o que foi aquilo noite passada? Quero dizer, aquela coisa toda com a vela, a mesa e aquelas quatro pessoas estranhas que não saem da minha cabeça. O que foi aquilo?
Peter suspirou pesadamente e desviou o olhar para qualquer outro canto do quarto.
— Me desculpe por não ter falado com você sobre isso antes de termos ido para aquele quarto — desculpou-se. — Aquilo foi o ritual para quando os vampiros têm um novo soberano. Acho que eu já comentei sobre ele com você, não?
Christie anuiu, lembrando-se de quando eles estavam em Atlântida e ele contou sobre os novos poderes que lhe eram conferidos apenas por ser um rei.
— Então, agora você pode se transformar em um morcego ou um corvo… Eu não tenho muita certeza sobre qual dos dois você escolheu na hora.
— O quê? — Chris interrompeu. — Eu não escolhi nada. Eu só vi aqueles animais passando tão rápido pela minha mente e eu fiquei tão tonta… Eu não escolhi.
Ele sorriu.
— Amor, você escolheu — o rei afirmou. — Não conscientemente, mas você escolheu. E… Além disso, você também pode ler os pensamentos das outras pessoas. Mas… Isso dá realmente muito trabalho e leva algum tempo para que você aprenda como fazer direito.
A rainha riu e abriu a boca para dar uma resposta ácida para ele, no entanto, foram interrompidos por batidas na porta.
— Só um minuto — o rei pediu e as batidas cessaram.
Ambos se levantaram com pressa da cama e procuraram por seus roupões. Levaram algum tempo para se comporem, mas quando estavam finalmente prontos, Peter mandou que quem quer que estivesse batendo na porta abrisse-a.
— A imperatriz dos lobos está esperando por Vossas Majestades no salão do trono — o guarda informou.
Christie e Peter estranharam Hope estar ali àquela hora da manhã. Ela sabia muito bem que era a noite de núpcias deles e não incomodaria nenhum vampiro naquele dia.
— Ela disse o que queria? — Christie perguntou.
— Não, Majestade — o guarda negou. — Mas parece que é bastante urgente.
A rainha agradeceu e mandou o homem embora.
[…]
Hope estava parada bem no meio do salão do trono, olhando diretamente para a entrada do local. Suas mãos estavam levemente inquietas e sua boca estava seca. A terrível notícia que teria que dar aos reis era demais para inaugurar o governo de Christie; ela não merecia tamanha responsabilidade em seu primeiro dia como rainha.
Finalmente, Peter e Christie entraram no salão do trono e voaram até a imperatriz.
— O que foi, Hope? — a rainha perguntou. — O guarda me disse que parecia urgente.
Hope anuiu, seriamente.
— Eu fui acordada por um ômega hoje e ele me disse que a cidade estava um caos — ela contou. — Eu duvidei por um segundo, mas eu vi com os meus próprios olhos.
— O que você viu, Hope? — Peter insistiu.
— Vampiros loucos quebrando a cidade, ateando fogo em casas e deixando tudo de pernas para o ar — disse. — Vocês tem uma revolta.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.