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História Identidade - "...recesso..."


Escrita por: ISBB5H

Notas do Autor


Tão não a minha maneira de iniciar um capítulo, mas devo desculpas pela falta de atualização nas últimas semanas e preciso explicar que Identidade não foi “abandonada” assim como eu não “esgotei as ideias para a história”, “me perdi” ou “me cansei”. É ainda um pedacinho da minha rotina cuja escrita me causa extrema satisfação e será atualizada sempre que possível. Volto quando puder e espero que compreendam. Beijos e boa leitura. Eu senti a falta de vocês.

Capítulo 21 - "...recesso..."


Fanfic / Fanfiction Identidade - "...recesso..."

Twitter: ISBB5H

 

Era manhã quando os últimos carros deixaram as dependências da universidade. Os corredores estavam vazios, as salas de aula desocupadas e a cafeteria igualmente despovoada. Na secretaria não havia alunos ou funcionários. Dentro dos laboratórios e das oficinas as cadeiras e mesas permaneciam intocadas e os livros das bibliotecas ainda organizados sobre as prateleiras compunham uma visão de dar gosto a qualquer um. A explicação continha sete letras apenas: recesso.

Um a um os estudantes desapareceram, quase todos eles a procura de qualquer destino distante dali, mas no interior do mesmo cômodo em que conhecera a namorada meses antes, Lauren aproveitava as primeiras horas desta que era uma bela manhã. Escolhera fugir da má companhia da família isolando-se no campus agora deserto por confiar ser esta a melhor opção. Despedira-se de Camila durante a madrugada e sentia-se já levemente arrependida de não ter pedido à namorada por pelo menos alguns dias de companhia entre os tantos que teria disponíveis pela frente.  Contudo, sabia que o pedido impediria a latina de fazer algo que a deixava extremamente contente, estar com os pais e a irmã. À luz daquele aspecto poderiam ser mais diferentes?

Lauren aproveitava a quietude para fazer um “comum” que lhe preenchia o tempo e a mente, perder-se entre livros. Sorria com os exemplares em suas mãos, mas tinha o brilho dos olhos ainda refém dos tantos títulos disponíveis e tão próximos. Não era comum que aquela biblioteca transbordasse opções.

Tentava decidir-se quanto a lista de próximas leituras quando o som de cochichos preencheram seus ouvidos. Suas pernas se prenderam firmemente ao chão para que o tronco pudesse girar de novo e de novo enquanto seus verdes olhos buscavam pela origem do incômodo, mas nada encontrou. E aquela não havia sido a primeira vez.

Depois disso concluiu suas escolhas com rapidez e caminhou em direção ao balcão de aluguel com os exemplares colados ao corpo. Pigarreou para que a funcionária lhe desse alguma atenção, mas aparentemente a lixa que aparava suas unhas era um item muito mais importante. – Com licença… – Disse baixo e aguardou. – Com licença? – Aguardou demais. – Ei, você! – Chamou pela terceira vez, agora menos paciente. Deixou que os livros voassem de encontro a madeira do balcão provocando o estrondoso som que ecoou por entre as paredes do recinto. A funcionária, uma aluna, deixou que a lixa caísse ao chão levando as duas mãos ao centro do peito.

A jovem atendente exibia uma expressão nada agradável. Ajeitou os óculos de armação grossa e redonda no rosto e pressionou os olhos negros para melhor encarar a artista. Aproximou-se do balcão com passos lentos, quase teimosos, e tomou os livros para si com rudez. – Nome ou número do registro acadêmico.

Naquele instante Lauren jurou ter escutado o som de cochichos mais uma vez. Virou-se com pressa para voltar a encontrar um grande e gordo nada. Por entre os corredores e por detrás das prateleiras não enxergava ninguém. – Você ouviu isso? – Perguntou para a funcionária zangada.

A garota reposicionou os óculos sobre o rosto empurrando a peça com a ponta do dedo indicador até que a pele exibisse uma marca vermelha.  – Não, mas talvez porque eu tenha ficado temporariamente surda quando você atirou os livros sobre o balcão. – Deu um sorriso amarelo antes de esfriar a expressão. – Nome ou número do registro acadêmico. Eu não tenho o dia todo.

– Sim. Você parecia mesmo muito ocupada. – A artista resmungou baixo. – Lauren Michelle Jauregui. – E agora pensava no que a biblioteca teria de tão estranho. Primeiro discutira com Camila e agora com essa atendente desconhecida. Bom, talvez o problema não fosse o lugar afinal de contas. Riu da própria conclusão certa de que com esta a namorada concordaria em gênero, número e grau. Era uma causadora de pequenas confusões.

Do outro lado, os dedos da funcionária agrediam as teclas do computador na medida em que o nome dito caía como uma válida informação. – Lauren? – Repetiu encontrando na tela dados referentes à matrícula da caloura. – Jauregui.

– Algum problema com a minha ficha? – Lauren estranhou a mudança na postura da atendente.

– N-não. Está tudo certo. – E agora desconcertados, os olhos negros fugiram dos verdes. A jovem voltou a buscar pelos livros, mas dessa vez estudando os títulos com atenção, não como faria para simplesmente registrar um aluguel, mas diferente. – Aqui estão. – Entregou-os pouco depois, deixando por último o comprovante de aluguel. – E aqui está a data de devolução. Eu circulei para você. De vermelho. Vê? – Apontou para o pequeno traçado colorido e tudo o que a artista fez foi franzir o cenho aceitando o que lhe era entregue.

[…]

– “Você está surda, mas eu não estou cega.” – Normani tentava imitar a voz da amiga entre as altas gargalhadas que não conseguia impedir. A companheira de curso também optara por não viajar durante o recesso. A mãe havia partido dias antes para o casamento de um parente distante no estado da Califórnia, deixando a morena com somente duas opções: voltar para casa e ficar só ou permanecer no campus aproveitando a folga ao lado de Lauren e de outros colegas de classe. – Quando a garota perguntou sobre a data circulada à tinta vermelha você realmente respondeu isso? – Limpou as poucas lágrimas acumuladas nos cantos dos olhos enquanto o corpo ainda tremia pelo riso intenso.

– Ela teria merecido a resposta, mas não. Não foi isso o que respondi. – Lauren admitiu enfim. Tinha no rosto um sorriso brincalhão.

– Eu duvido muito que merecesse.

A artista bufou. – O que? Ela começou com a grosseria, não eu.

– Você a assustou quando jogou os livros.

– O que não teria acontecido se ela estivesse atenta ao trabalho. Além disso, logo após a grosseria gratuita começou a agir de maneira estranha folheando meus livros e tudo mais. – Os resmungos prosseguiram. – Pois duvido que os outros atendimentos costumem tomar tanto tempo quanto o meu. Ela estava sendo teimosa. Era proposital.

Normani negou. – Que tal dar algum desconto a garota? É recesso e ela está trabalhando. Quem em perfeito juízo estaria de bom humor nessas condições? – Cutucou a amiga aborrecida. – A propósito, quanto ao recesso, diga-me. Quais são os seus planos?

Para melhor fitá-la foi necessário a artista erguer o braço direito contra o rosto livrando-se do brilho intenso do Sol. Com os olhos quase fechados disse. – Tenho alguns desenhos para concluir e algumas leituras para fazer. Pretendo aproveitar os dias de paz e o fim de toda aquela confusão para adiantar meus trabalhos. Esse é o único plano em mente.

– O fim de toda a confusão, você diz? – Normani lançou-lhe um meio sorriso. – Algo me diz que a verdadeira confusão está apenas começando. – Contudo, a artista nada absorveu da resposta graças a uma nova distração. – Laur?

– Aquelas garotas. – Indicou a direção com discrição. – Estão olhando para nós?

A morena nem ao menos se deu ao trabalho de conferir. Simplesmente assentiu. – Para você, é bem provável.

– Por quê?

– Digamos que tenha se tornado um tanto quanto conhecida desde os últimos acontecimentos.

Negou veemente. – Elas não me conhecem.

– Não. – A morena concordou. – Mas sabem quem você é.

– E quem eu sou?

Normani demorou-se um pouco na resposta que veio tímida e baixa. – A namorada da Karla? – De alguma maneira a réplica não agradou a artista. – Você é obviamente muito mais do que apenas isto, mas essa é a etiqueta que interessa a maior parte das pessoas por aqui no presente momento. E bem, quando as pessoas te colocam uma etiqueta, você sabe… É difícil livrar-se dela. – E disso a caloura entendia muito bem.

[…]

Quando a noite chegou Lauren conversava com Camila ao telefone. A risada leve e despreocupada da namorada fazia com que sorrisse ainda que o assunto lhe pedisse certa seriedade. – Camz!

Tudo bem, resmungona… – Disse a voz do outro lado da linha. – Você diz que as pessoas em sua casa não lhe enxergam por quem sempre foi e agora se queixa que as pessoas na universidade passaram a lhe enxergar por muito menos do que você realmente é. Percebe o problema?

– Justamente! – Bufou inconformada. – Mas, não…

Quem é você, Jauregui?

– Você sabe.

Agora permita que outros saibam também.

– Não é assim tão simples. – Rebateu.

Na verdade é, Lauren.

Cruzou as pernas sobre o colchão e moveu o aparelho até a outra orelha. – O que está me pedindo? Que eu me abra para completos estranhos? Que eu conte à eles detalhes da minha condição? – Camila tentou pedir a palavra, mas a artista não quis cedê-la. – Que eu me exponha? Que…

Lauren! – Elevou o tom de voz para exigir a vez. – Nem tudo precisa ser sobre isso. Quantas vezes mais devo dizer que você é muito mais do que a sua “condição”? E não estou pedindo para que revele esse ou cada pequeno aspecto que te compõe, mas que permita que outras pessoas a enxerguem como eu fiz. Que enxerguem a sua doçura, seu encanto e inteligência. Suas opiniões e sagacidade. Seu discurso. Seu coração e mente. Não foi isso o que fez aquela noite na assembléia? – Lauren escutava-a com atenção como sempre. Era incrível a influência da latina sobre ela. – Sua família é um excelente começo, não acha?

– Eu não sei…

Contou a eles sobre como têm sido os dias na universidade? Sobre as aulas ou sobre os quadros que pintou? Conversou sobre como se sentiu após a visita de Taylor? Ou sobre… Mim?

Naquele instante uma única dúvida pairou sobre a cabeça da mais velha. – Contou aos seus pais sobre mim?

Dias atrás. – Camila declarou sem hesitar. A confissão atingiu a outra como um verdadeiro soco no estômago, mas percebendo o golpe dado sem intenção, Karla tentou reparar o dano. – Pense sobre isso. – Convidou-a sem a pretensão de instigar uma discussão. – Quais livros a senhorita alugou para a temporada? Esqueceu-se de mencionar durante o vívido relato.

– Clássicos da literatura americana. – A voz soava baixa e tímida. Envolvida pela culpa.

Clássicos? Talvez isso tenha chamado a atenção da atendente, não acha, Lo?

– E por quê?

Há exemplares dos grandes clássicos da literatura em todas as bibliotecas. Logo, por que uma aluna de outro núcleo escolheria locá-los justamente ali? No terceiro bloco?

Lauren sorriu diante da resposta fácil que guardava na ponta da língua. – Porque eu gosto daquele lugar. – E sentiu o sorriso da namorada do outro lado da linha também. – Foi onde nos conhecemos.

É. Foi. – A latina respondeu bobamente. – Lembro-me muito bem. Minha garota estúpida.

– Eu sinto a sua falta, Camz.

– E eu sinto a sua, Lolo. – Suspirou. – Droga, é tarde. Nos falamos amanhã?

– Claro. Tenha uma boa noite. – Desejou de todo o coração. – E volte logo.

Logo. – Prometeu. Camila encerrava a ligação quando se surpreendeu com a chegada da mãe que lhe sorria largo. Trazia entre as mãos uma xícara de seu chá preferido bem como o fazia em todas as noites em que viveram sob o mesmo teto.

Sinuhe enxergava na filha mais velha traços de um amor forte e verdadeiro. – Ela sabe? Sua “Lolo”. – Perguntou com animação e conhecimento de causa.

– Não. Ainda não. – A latina mordeu o lábio inferior em uma expressão travessa e com o indicador contra a boca disse à mãe. – Faz parte daquela surpresa.

De volta à universidade, nem mesmo a madrugada trouxe o sono da garota mais velha. Questionamentos e receios povoavam sua mente roubando-lhe a capacidade de raciocínio lógico. De pernas cruzadas Lauren estava assentada do centro do chão do dormitório. Tinha aberto no celular o aplicativo de mensagens onde vez ou outra assistia o nome da irmã, Taylor, acusar disponibilidade. Respirou fundo diversas vezes antes de criar coragem e enviar a primeira mensagem. Um “oi”. Isso foi tudo.

Mensagem de Taylor: Oi.

Mensagem de Taylor: Você respondeu.

Estranhou a rapidez de retorno.

Mensagem de Taylor: Pensei que estivesse zangada. Quero dizer, você está?

Abandonou o aplicativo fechando-o por definitivo. Buscou pelo nome e número da irmã na agenda efetuando a ligação logo em seguida. Dois toques foram necessários até que ouvisse a voz receosa cumprimentando-a do outro lado. – Olá Lauren.

– Oi Taylor.

Você, hum, está bem?

– Sim, estou. E quanto a você?

– Bem, Laur.

Obrigou-se a perguntar. – Papai e mamãe?

Todos bem, eu acho. – Taylor calou-se procurando pelas palavras certas que apenas vieram minutos depois. – Lauren, eu gostaria de me desculpar por…

– Você já teve a oportunidade de visitar outras universidades?

Hãn? – A Jauregui mais nova estranhou a mudança repentina de assunto. Sentia-se pronta para desculpar-se. Devia isso a mais velha e soube desde que voltara para casa após aquele ridículo e vergonhoso encontro.

– Outras universidades. Você as conheceu? É importante manter algumas opções, eu suponho.

Taylor riu esquecendo-se do tópico anterior. – Pensou assim quando esteve em meu lugar?

E Lauren repetiu o riso. – É verdade. Não pensei. Fiquei tão aliviada quando recebi aquela carta de aceitação, lembra-se?

É claro. Pensamos que você havia trazido alguém para o quarto naquele dia. Os pulos, os gritos e os objetos caindo sem maiores explicações. – Suspirou. – Como é a sensação?

– Você saberá em breve, é uma garota inteligente. Conseguirá aquelas vagas e terá boas opções sobre a mesa.

Você acha mesmo?

– Não fique tão nervosa. Vai acontecer.

E a vida na faculdade? Como é, Laur?

– Não posso reclamar. – Comentou. – Mas eu reclamo mesmo assim. – Riram juntas conhecendo o jeito resmungão da mais velha. – O ritmo pode parecer intenso no início, com todos os trabalhos e as provas, mas é fácil se adaptar, prometo. Os dormitórios são bons, quietos e limpos, mas aquele maldito banheiro coletivo é uma verdadeira droga.

Ugh, imagino que sim. Chris já torna impossível a tarefa de dividir o nosso.

Não perceberam quando ou como aconteceu, mas todas as diferenças e receios foram por terra abaixo quando as duas irmãs conversaram com naturalidade. E quem diria que tomaria tão pouco esforço? – As pessoas são… Muitas, mas a maior parte delas é legal. Fará bons amigos quando for a sua vez.

E quanto às festas? Foi a alguma?

– Na verdade eu fui. Camila… – A fala não se esticou, morrendo dentro da garganta.

Camila? A garota que, você sabe. Com quem você estava…

– Karla Camila. – Fechou os olhos para confessar. – Minha namorada. – As palavras fizeram crescer um sorriso involuntário. Não era difícil falar sobre aquela que tanto bem lhe fazia. Pelo contrário, o que nos faz bem escapa fácil por entre os lábios, seja na forma de um sorriso que não conseguimos segurar ou de palavras que falhamos em conter. – Bom, ela recebeu um convite e eu a acompanhei junto de algumas amigas.

Uau, uma namorada. – Taylor estava boquiaberta e não pretendia esconder. – Vocês estão namorando.

– Taylor.

E ela sabe. – Concluiu.

– Taylor! – A Jauregui mais velha tentou alertar mais uma vez. Não queria voltar a se indispor com a irmã de quem sentia tanta falta.

Não, por favor. Não entenda errado. – O que Lauren não sabia é que a irmã mais nova, ainda que não dissesse muito, sentia a sua falta também. A dura verdade é que havia tomado a partida da artista para que todos se dessem conta do impacto de sua presença. – Eu me arrependi das coisas que lhe disse na última vez em que nos encontramos, por isso tentei ligar tantas vezes depois. Sei que agi como uma verdadeira idiota e somos irmãs afinal. Essa não é a relação que desejo ter. Sinto a sua falta. – Lauren mal podia acreditar no que ouvia. Uma lágrima teimosa passeou em seu rosto. – E tenho pesquisado muito…

– Sobre?

Você. Tentei tirar algumas dúvidas com papai e mamãe, mas acho que eles sabem tanto quanto eu. Pouco, infelizmente. Eu só pensei que… Talvez seja uma obrigação, não uma escolha. É uma questão de respeito. Te… Compreender. Eu não fiz isso quando estive aí. Ou durante o tempo em você esteve aqui.

– E você compreende agora?

Estou tentando. – Suspiraram juntas. Aquela era a primeira vez em que a artista tinha conhecimento dos sentimentos da irmã e a emocionava como nunca saber que ao contrário do que pensava em meio a todos os Jauregui que agiam como se não se importassem, havia a pequena Taylor para dar início ao que seria um importante e longo caminho de retratação. Não se pode desdizer palavras ruins, desfazer memórias desagradáveis ou desmarcar na pele as cicatrizes que contam histórias abomináveis, mas pode-se descobrir novas formas de amar e de curar. – E então, como Camila é? É uma boa namorada?

– Ela é e não há ninguém melhor em todo o mundo, acredite. Nunca fui tão feliz ou estive tão bem em toda a minha vida.  

Você parece apaixonada.

– Eu sou. Estou.

A resposta surpreendeu a menor que ainda mais curiosa aprofundou o tópico. – O que faz dela assim tão boa? E o que ela tem que nenhuma outra pessoa no mundo possui?

– A mim. – Lauren confessou decidida. – Ela tem a mim. Camila me tem em tempo integral, Tay. Nas declarações veladas e nas abertas também. Nas respostas curtas que me fazem suspirar e nas longas que me fazem refletir. Camila me tem quando me chama, quando pede atenção e até quando some. Quando me surpreende com sua opinião e quando me nota nos momentos em que mais ninguém o faz. Quando simplesmente abre a boca e quando pisca. Quando está perto e quando está longe. Me tem o tempo todo e tudo o que eu peço é para que ela não me devolva.  

[…]

Era já a noite do terceiro dia do recesso e a artista pretendia passá-la bem como as anteriores, lendo até que o sono lhe impedisse de fazê-lo. Contudo, uma ligação de Karla com um pedido fez com que se levantasse e vasculhasse o armário a procura de algumas peças de roupas grossas para que pudesse caminhar no clima frio da noite. A latina pedira a namorada que usasse a cópia das chaves entregues antes de sua viagem para ir até o seu apartamento certificar-se de que não havia deixado as luzes do quarto acesas.

A artista estranhou o pedido, mas a preocupação da namorada a convenceu a fazer extensa caminhada para tê-la mais tranquila pelos dias de recesso que ainda viriam. Buscando evitar o esforço, levava consigo uma mochila que continha o pijama e a leitura atual. Passaria a noite no apartamento e retornaria ao dormitório somente na manhã seguinte. Pensava que a verdadeira vantagem seria sentir-se um pouco mais próxima da namorada dormindo em sua cama.

Enquanto caminhava pelo campus aproveitou da oportunidade para buscar por um café no refeitório. Surpreendeu-se quando ao chegar encontrou naquele lugar vários dos alunos que não haviam deixado a universidade. Todo o clima usual havia mudado drasticamente dando espaço a uma atmosfera completamente nova, leve e descontraída. Uma pequena banda composta de alunos os quais desconhecia tocava em uma extremidade do ambiente. Todos os outros assentados sobre as mesas e cadeiras conversavam animadamente.

Avançou mais alguns passos quando reconheceu dois rostos em meio a tantos outros. – Mani? Dinah? – Chamou quando bem próxima.

As duas amigas viraram-se. O espanto estampado em seus olhares. – Lauren? – A loira respondeu primeiro. – O que está fazendo aqui?

Cruzou os braços pálidos contra o peito. – Eu deveria lhe perguntar, não acha? Pensei que tivesse viajado.

– Uh, sim. Eu… – A mais alta parecia nervosa. – Resolvi ficar. Foi uma decisão de última hora.

Mas Dinah não a convenceu. – E Camz sabe disso? Porque ela me pediu para ir até o apartamento certificar-me de que não havia esquecido as luzes acesas.

– A Mila ainda não sabe…

– Mas Normani sabia? – A artista pressionou.

– Acabamos de nos encontrar. – Respondeu a primeira coisa que lhe veio à mente. Seus olhos buscaram pelos da morena pedindo que confirmasse a história. – Isso é tudo.

– Bom, já que está aqui isso quer dizer que eu não preciso ir até lá.

Os dois pares de olhos pertencentes às amigas do casal abriram-se em espanto. – O que? É claro que precisa. – Disse a loira. – Precisa ir até o apartamento agora mesmo, Jauregui.

– Você está aqui, o que quer dizer que foi a última pessoa a estar no apartamento.

– Mas não no quarto de Camila. – Tentou rebater.

Os olhos verdes assumiram tom nebuloso. – Eu nunca disse que eram as luzes do quarto. De qualquer maneira, certifique-se de ir até lá quando voltar.

– Mas ela pediu a você. – Normani intrometeu-se. – Não à Dinah.

– Porque ela não sabia que Dinah estaria aqui.

– Lauren, você terá que ir. – A mais alta insistiu. – Eu não posso fazer isso.

– Me dê uma boa razão.

– “Ela não quer encontrar uma Karla nua…” – Normani murmurou baixo, apenas para que a loira pudesse ouvir. 

– Olhe, não andarei até lá se você está aqui e é perfeitamente capaz de atender ao pedido sem a minha ajuda.

– E o que dirá a Mila? Que não quis lhe fazer um favor? Grande namorada.

– Você está aqui! Qual é ponto? – A Jauregui gritou.

– Mas não tenho a chave do quarto dela. – Apresentou novo argumento esperando ser convincente.

Lauren logo lhe estendeu o chaveiro em mãos. – Pois aqui está a chave.

– Não posso aceitá-la.

– Por que não, droga?

– Porque Camila a confiou a você, não a mim.

– Isso é ridículo! – Mas os braços cruzados e toda a postura da mais alta diziam que ela de fato não aceitaria a cópia. – Você está sendo ridícula! Sabe disso?

– Laur…

– Assim como você, Mani! – Interrompeu a amiga ao perceber que ela tentaria justificar o comportamento da loira. – Eu estava sozinha no dormitório enquanto as duas se divertiam aqui fora e agora me farão andar sozinha até o apartamento para fazer um favor a Camila que Dinah poderia muito bem fazer quando voltasse para casa? – Acusou. – Por que não posso simplesmente ficar aqui com vocês? – Normani sendo a mais sentimental, encolheu-se deixando com Dinah a árdua tarefa de dispensar a amiga.

– Desculpe, Lauren, mas Normani e eu… Nós… – Fitou a morena em busca de ajuda, mas a encontrou de cabeça baixa, deixando-a sem grandes opções. – Nós não lhe chamamos ou a convidamos para ficar porque… Bem, é que… Vamos a um encontro? – Normani ergueu-se às pressas. – Isso, vamos a um encontro.

Dando dois passos para trás Lauren encarava as duas garotas como se fossem um par de extraterrestres. – Espere. Isso… – Gesticulou entre elas. – É um encontro? Vocês du-as? Em um encontro? Vocês duas?

Dinah alcançou a mão de Normani cujas pernas tremiam tamanho o embaraço. – Sim. Algum problema?

– Mani? – Ignorou a mais alta e dirigiu-se exclusivamente a amiga.

– É um… – Pigarreou observando os dedos longos e as unhas bem feitas da loira que seguravam sua mão com firmeza. – Encontro. – As peles pareciam prestes a fundir-se. – Encontro gay. Digo, lésbico. – Infantilmente balançou as mãos entrelaçadas. – Entre duas mulheres. – E deixou que os olhos subissem lentamente até o rosto da mais alta que fitava-lhe confusa. – E essas mulheres são Dinah... – Dando-lhe um belo sorriso falso. – E eu.

– Isso é uma piada de mau gosto?

– Boa coisa não precisarmos da sua aprovação, garota misteriosa. – Dinah fingiu ofensa. – Mani, precisamos ir. Pronta? – A morena voltou a fitar as mãos unidas e Dinah preocupou-se se ela estaria prestes a ter um ataque de nervos. – Venha, vamos. Tenha uma boa noite, Lauren. – Puxou-a com cuidado até que a artista as perdesse de vista por entre a pequena multidão.

Deixada com milhões de dúvidas na cabeça, Lauren recomeçou a caminhada ainda sem o seu café. Sequer preocupou-se com as pessoas que lhe olhavam com interesse e curiosidade na medida em que andava. Não parou até sentir seu corpo ser interrompido pela chegada de outro. – Olhos verdes? Você está bem?

– Allyson. – Declarou sem vontade. Estava tão confusa que ignorara até mesmo o instinto de afastar a garota.

– Você não parece muito bem. Algo aconteceu? – Perguntou preocupada.

– Não é nada…

– Não se parece com nada. – Allyson tocou-lhe o ombro para impedi-la de deixar o refeitório. Estava curiosa sobre o que teria provocado o estado de desorientação da artista. Foi somente o seu tom de voz elevando-se que fez com que Lauren despertasse para o que acontecia ao seu redor. – Será que vocês podem calar a boca ou irem cochichar em outro lugar? Sim, essa é Lauren, a garota da assembléia, a namorada de Karla, a tal caloura artista, ou qualquer outro título pelo qual a conheçam. Agora calem a boca, esqueçam qualquer que seja a fofoca mais recente e deixem a garota em paz! Ninguém consegue pensar com tantas vozes na cabeça! – Quem quer que fossem aquelas pessoas, uma a uma desapareceram, deixando a caloura grata pelo silêncio repentino.

– Obrigada.

– Escute, olhos verdes. Se você vai fazer isso precisa aprender a não se importar ou ao menos a assustá-los.

– Fazer o que?

– Destacar-se. – Disse a pequena loira.

– Eu não… Não quero me destacar, não entendeu ainda?

– Pensasse duas vezes antes de se envolver com os diretórios.

– Argh, estão fazendo com que eu odeie essa palavra. Isso é tudo sobre o que falamos nos últimos dias.

Allyson gargalhou. A pobre novata de fato parecia desesperada. – Ok. Deixe o assunto descansar. Por hoje. Você está bem?

Soltou a respiração que prendia lembrando-se das palavras de Camila ao telefone. “Permita que outras pessoas a enxerguem como eu fiz. Que enxerguem a sua doçura, seu encanto e inteligência. Suas opiniões e sagacidade. Seu discurso. Seu coração e mente”, será que a regra se aplicava também a Allyson? Ela duvidava. – Acabo de passar por uma situação… Inesperada. E tenho que caminhar por toda a ala leste do campus até o apartamento de Camila.

– O que? Vai caminhar até lá? Por acaso já viu que horas são?

– Eu não pretendia ter me demorado tanto no refeitório, mas sim, preciso ir até lá. Hoje. – Olhou para a pequena loira que parecia inofensiva. – Camila viajou e precisa deste favor.

– Ok. Deixe-me ao menos lhe dar uma carona, tudo bem? Meu carro está logo ali. – A artista pôde listar em silêncio um milhão de razões para não aceitar a oferta.

– Não, não é uma boa ideia.  

– Olhos verdes, eu sei o que está pensando, mas precisa concordar que não é a ideia mais inteligente do mundo caminhar sozinha pelo campus há essa hora. Pode ser perigoso. – Encarando as passagens escuras e vazias sentiu na pele um arrepio que a fez decidir-se.

– Merda. Não vou atrapalhar seus planos? – A pequena negou. – Irá mencionar essa carona para alguém?

– Não, olhos verdes. Fique tranquila. – Indicou o veículo mais a frente. – Mostre o caminho.

– Allyson. – Abusou da rouquidão. – Promete não fazer piadas estúpidas, mencionar aquelas mensagens ridículas ou fazer comentários impertinentes sobre minha namorada durante o caminho?

A pequena loira revirou os olhos. – Eu prometo tentar. Podemos? – Caminharam em direção ao carro e sentaram-se em silêncio. A artista estava receosa, como se estivesse cometendo um grande erro ao aceitar o favor. Limitava-se a abrir a boca somente para indicar as direções. – Vê? Eu não sei por que não podemos ser boas amigas.

– Porque você não gosta da minha namorada. Porque não compreendo suas intenções. Porque você adora provocar seja com gestos, mensagens ou comentários. Porque…

– Chega, eu já entendi. – Ela deu um sorriso travesso.

– Vê? As coisas não são claras quando se trata de você.

Sem a intenção de respondê-la, Allyson observou a capa do livro que escapava através de um dos bolsos da mochila da caloura. – A época da inocência? – Zombou. – É sobre um triângulo amoroso, que oportuno. 

– Droga, você prometeu evitar as piadas estúpidas.

A loira gargalhou. – Eu prometi tentar. – Argumentou. – Então você gosta de ler?

– Sim. – A cada nova palavra Lauren sentia-se mais e mais culpada por aquele momento. Deveria?

– Romances? Eu não imaginaria.

– Não me importei em lê-los na escola. – Baixou os ombros. – Mas nunca é tarde para dar-lhe uma chance.

– Somos bem diferentes nesse aspecto. Eu nunca me interessei muito pelos livros.

– O interesse surgiu quando comecei a me descobrir através deles.

Allyson negou com um sorriso. – Talvez essa seja também a minha razão.

– O que quer dizer?

– Você diz que se interessou por se descobrir, mas eu não estou neles. – Disse com os olhos atentos à estrada. – Nos livros, Lauren, neles não havia “eu”. Nos livros moram “eles”, todos os outros que fizeram ou fariam diferente de mim. Moram “eles” que viveram os amores impossíveis e morreram de tragédias irrecuperáveis. Nos livros estão as histórias que gostaríamos de viver e que não foram feitas para um “eu” comum, mas para “eles”, apenas. Heróis, monstros, mártires, damas, bruxos e anomalias. – A artista arrepiou-se com o uso da última referência. – Não existe “eu”.

– Há sempre alguém com quem se identificar.

– Não, não há, olhos verdes. Não há nenhuma história igual a outra ou igual a minha. Compreendo aqueles que se interessam pelas possibilidades, que se encantam por vidas que não lhes pertencem ou pelos exemplos que parecem nos abraçar, mas não. Não se engane. Não há nenhum livro que conte a sua história. – A pequena loira parou o veículo. 

– O que?

– Chegamos. – Apontou para fora. – Precisará de carona para voltar?

Tinha em mente que o plano inicial era dormir ali, mas com a volta de Dinah tudo havia mudado e Lauren não se sentiria a vontade em fazê-lo. – Pode esperar?

– O inferno que posso. – Desligou o carro. Abriu a porta e saiu batendo-a com força. – Vou com você.

– Não! – Foi a reação inicial da novata. Havia aceitado a carona, sim, mas levar a loira até o apartamento da namorada soava como o maior dos absurdos.

– Quer a minha carona, mas tenho que te esperar dentro do carro? Poupe-me, olhos verdes. – Passou pela artista caminhando em direção ao prédio. – Não me quer bisbilhotando a casa da sua garota, eu respeito isso. Mas não ficarei sozinha aqui embaixo. Vamos, esperarei junto a porta.

A contra gosto Lauren não viu outra escolha a não ser permitir que a garota a seguisse. Subiram até o apartamento da latina e Lauren usou a cópia da chave para abri-lo. Quando a porta arrastou-se contra o piso a primeira coisa que notou foi a luz baixa das velas que iluminavam a sala de estar. A segunda coisa, porém, fez com que seu coração acelerasse. Um par de olhos castanhos lhe encarando do outro lado do cômodo. Seu par preferido de olhos castanhos. – Surpresa!

E de fato foi. Para Camila. Ao tentar enxergar o que acontecia do outro lado da porta Allyson esticou o corpo por detrás da morena que impedia a sua passagem. O movimento imediatamente atraiu a atenção da latina cujo sorriso morria aos poucos.  

[…]

Após o embaraçoso episódio a latina trancara-se no quarto negando a artista a oportunidade de explicar-se. – Camz? – Tornou a bater contra a porta. – Camz, por favor. – Espalmou as duas mãos contra a madeira pensando em novas formas de tornar claro o que havia acontecido. – Eu precisei da carona, mas eu prometo… Foi somente isso. Uma carona. – Declarou em um fio de voz. Pouco a pouco o desespero crescia em seu peito. – Por favor, diga alguma coisa.

– Qualquer pessoa, Lauren! Qualquer uma! Mas por que ela? – Ouviu o grito e fechou os olhos sentindo-se culpada. Quando as duas mãos pousaram sobre os bolsos traseiros da calça usada foi que lembrou-se de possuir uma cópia da chave. Sacou-a usando-a para adentrar o quarto escuro. Identificou a figura abraçada aos joelhos junto a cabeceira da cama. A cabeça enterrada entre os braços. Camila não se incomodou em fitá-la.

– Eu não sabia que você…

– E aí nesse caso estaria certo? Se eu não estivesse aqui? – Retrucou aborrecida.

– Não, mas… – Lauren tomou espaço no colchão torcendo para que a namorada lhe desse alguma atenção. – Está errado? – Perguntou com sinceridade. Havia um limite. Relacionamentos implicam a existência de muitos deles, certo? Mas qual seria o limite naquele caso? – Há tanto amor entre nós duas, Camz, mas não há nada entre Allyson e eu. Não a enxergo com outros olhos, não a desejo, admiro ou sequer posso chamá-la de amiga. O que é que faz com que seja errado estar em sua companhia?

A latina finalmente deixou que seus olhos saíssem do esconderijo. – Eu não sei.

– Você não gosta dela. Esse é o limite?

Camila soltou a respiração quente deixando que Lauren a sentisse na medida em que se aproximava. – Se eu disser que sim, você se afastaria dela de uma vez por todas?

– Sim.

E baixou os ombros em postura de derrota. – Pois então não. Esse não pode ser o limite. – Brincou com os próprios dedos. – Eu não posso fazer isso. Não posso ter esse poder.

– Mas…

– Não. Não posso ter esse poder, entende?

Lauren compreendeu. – Eu apenas gostaria que isso não te chateasse tanto.

– Tudo aquilo em que a intensidade investe deixa de ser meu. Torna-se tão do mundo, do outro a quem se dirige e particular de uma grandeza que possui pernas próprias. Se há intensidade, não há controle. Tem a forma, a leveza e a textura da fumaça. Não cabe em mãos ou dentro dos limites. Se é intenso, já não é meu e eu apenas sinto, assisto de perto sem poder tocar.

– O que sentimos é intenso. – Lauren concluiu.

– E se essa é a condição de te amar, então eu aceito perder.

A artista sorriu compreensiva. Sentia o mesmo. Sente todo o tempo. A cada novo dia amando Camila sentia-se menos dona de seus sentimentos. O amor era já tão intenso que exigia o “perder”, o abrir das mãos. Não se controla o que se sente, não se controla por quem se sente e não se deve controlar aquele por quem se sente. Sentimentos que são febris, sensações que exalam excesso e memórias que possuem força são exemplos em uma grande lista de tocados pela intensidade que exigem desprendimento. E quem nunca viveu o dia em que sente-se espectador do próprio sentimento, não viveu um grande amor. Aquele que não sentiu-se a criança que assiste seu lindo balão de gás subir e voar ao céu sem nada poder fazer a respeito, amou sem de fato entregar-se. – Eu também aceito a condição.

Endireitando o corpo Camila praticamente pulou sobre a artista. Rodeou a pele pálida e delicada de seu pescoço usando os braços finos e deixou que seus dedos se perdessem entre os fios escuros e longos de seu cabelo. Beijou-a com paixão e saudade. – Garota idiota. – Reclamou entre beijos fazendo com que a caloura sorrisse. Já sabiam que estava tudo bem.

– Garota ciumenta.

Afastou-se para poder reclamar um pouco mais. – Allyson idiota.

– Você se parece comigo quando resmunga assim. – Acariciou o rosto latino com adoração. – Você voltou.

– Era a sua surpresa. – Camila lamentou-se. – Gostaria que tivesse dado certo.

– Não deu? Veja onde estamos agora. – Após mais alguns beijos, Karla aninhou-se ao peito da namorada pedindo por carinho e atenção.

– Como foram os últimos dias?

– Estranhos. – Lauren contava prestando atenção nas reações da veterana enquanto a acariciava. Amava seus gestos, traços e trejeitos. Adorava seus sons e manias. – Cochichos por todas as partes e a conversa com Taylor. Tudo estranho demais.

– Uhum. – Ronronou com o carinho recebido nos cabelos.

– Dinah e Normani.

– O que?

– Elas não estão realmente… Você sabe. – Franziu o cenho imaginando as amigas como um casal. – Ugh, esqueça. Eu nem ao menos quero conversar sobre isso. – Ao terminar de falar o silêncio da noite foi preenchido com o ressonar baixo da namorada. – Camz? – Certificou-se de que ela havia adormecido e tomou-a entre os braços para melhor ajeitá-la sobre a cama. – As coisas estavam estranhas por aqui. A vida corre quando você não está. As horas pesam para que um dia inteiro passe e só percebo que estive correndo quando cada pedaço de mim precisa parar para sorrir por sua causa. A minha vida corre quando você não está e por isso é melhor quando ela caminha devagar se eu te tenho por perto. 

Há pessoas procurando pelo amor em todos os lugares, mas há tanto que o acompanha que algumas delas deixam-no a meio caminho e não é de se espantar. Primeiro experimenta-se o gosto bom da conquista, a paixão que é leve e nada mais. Logo depois outros ingredientes vão sendo adicionados a mistura. Um pouco de desejo, um pouco de admiração e até mesmo um pouco de possessão. É quando a entrega começa a acontecer. Até este ponto tudo é seu, todo o sentimento lhe pertence.

Mas o amor não para. Ele cresce.

É invadido pela tal intensidade que te tira todo o controle e posse. O que é pouco torna-se muito. O que é ruim torna-se terrível. Mas o que já era bom torna-se a mais completa sensação de plenitude. Quando amamos estamos suscetíveis às quedas, mas se é esta a esporádica condição para voarmos, aceite-a e não duvide, para amar e para voar basta apenas abrir as mãos e tirar os olhos do chão.



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