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História Identidade - "...garota misteriosa..."


Escrita por: ISBB5H

Capítulo 4 - "...garota misteriosa..."


Twitter: ISBB5H

 

Era uma sensação nova, ou assim poderia ser dito. Camila estava inquieta nesta manhã. Nas primeiras aulas não conseguiu se concentrar e agora, no tempo livre, tinha dificuldades em manter o pensamento baixo quando este insistia em voar para bem longe. Ou não tão longe assim. – Estou começando a perder a minha pouca paciência com você. – Dinah disse. Vinha reclamando de maneira nada sutil do estado inerte da menor. – Karla Camila!

– Perdão, o que disse?

A maior tentou sua melhor expressão de impaciência. – Olha, sei que ontem você se divertiu bastante na companhia da sua garota misteriosa, mas agora eu preciso que você se concentre aqui, em mim, neste maldito trabalho, Mila! – As mãos espalmadas sobre a mesa e os olhos fazendo buracos sobre a pele de Camila, que corou furiosamente com a menor menção à presença de Lauren.

Lauren.

O nome não lhe saía da cabeça. Essas seis letrinhas dançavam uma valsa lenta enquanto invadiam cada pensamento do dia, desde o menor e mais inocente ao mais elaborado. Fora uma conexão imediata com a garota dos olhos verdes, um contato direto com outra alma e ela bem sabia que conexões assim não eram impossíveis, apenas muito raras. Mas ainda sim, Lauren lhe despertava um interesse inédito. Mais do que o físico, verdadeira inexplicável fascinação.

Voltou a encontrar a amiga lhe encarando e sentiu-se desconcertada. – Claro. O trabalho. – Pigarreou. – Vamos lá. – Puxou os livros e as anotações para mais perto e forçou a concentração. – Espere!

– O que foi dessa vez?

– Você disse “garota misteriosa”. – Mexeu-se com cuidado sobre a cadeira. – Ela não é misteriosa. O nome é Lauren. – O nome é Lauren e o sobrenome Jauregui. Morena, olhos verdes, brilhantes, pele clara e cabelos escuros. Traços leves, bem delineados e estatura mediana. Personalidade difícil. As lacunas de descrição se preenchiam sozinhas naquela cabeça enquanto Dinah permanecia alheia a essa confusão.

– Eu nunca a vi por aqui antes.

– Porque ela não é daqui. Lauren pertence ao programa de… – Fitou a amiga com desconfiança e quando enxergou o vislumbre de um sorriso no rosto da maior, parou. – Isso não importa. Vamos falar do trabalho. – Não estava pronta para dividir. Não Lauren. Não ainda. “Quero dizer…”, não queria dar a Dinah informações importantes sobre a morena, temia que sua amiga fizesse algo que a envergonhasse. Por hora era melhor manter cada coisa guardada em seu devido lugar. Agarrou um dos livros e começou a folheá-lo. Com pressa tratou de abrir no sumário para procurar pelo número exato da página e do capítulo que desejava consultar e foi então que uma discreta marcação feita à grafite lhe chamou a atenção. Quem costuma passar tanto tempo na companhia de livros, como Camila aprendeu a passar, desenvolve a habilidade de reconhecer facilmente cada pequeno sinal deixado nas páginas, e aquela marcação, definitivamente não era sua.

“Distúrbios Cromossômicos”, murmurou o nome do capítulo destacado. Com um pouco mais de vontade abriu na página indicada e pôs-se a ler, ou melhor, a procurar por mais algum indício suspeito. Seu livro era repleto de rabiscos e grifos que fora fazendo na medida em que estudava, mas curiosamente aquele era um dos poucos capítulos intocados. Não era perita no assunto. Entendia por alto.  

Pois bem, não encontrou mais nada, mas a pequena marca no sumário ainda lhe corroia a ideia. Lembrou-se então de Lauren. Foi a única pessoa, além da própria Camila, a ter aquele livro em mãos. Só poderia ser.

E de novo a dúvida: Por quê o interesse em genética?

Olhou para o relógio no pulso e resolveu arriscar. Iria atrás da morena. Não seria tão difícil assim encontrá-la.

– Onde está indo? – Dinah quis saber. Estava espantada com o comportamento atípico, e errático da pequena amiga.

– Lauren. – Karla mastigou o lábio inferior fracamente. Sabia que aquela não havia sido uma boa resposta pela maneira como Dinah a fitava de volta. – Ela usou este livro. – Levantou o volume que a pouco analisava.

Ficaram neste jogo de desafio por mais alguns segundos, até que a maior finalmente cedeu a inquietude da outra. – Você quer ver a sua garota. Já entendi.

– Não é a minha garota, Dinah! – Saiu bufando de dentro do prédio e resolveu caminhar até o bloco 5, sabendo que ali estariam as chances mais altas de encontrar quem tanto buscava. Procurou não pensar demais no assunto… Que diferença faria afinal? Não importa o motivo que levara até ali, veria Lauren e ponto final. Esperou no estacionamento usando um veículo qualquer como apoio para o corpo e passou a observar o movimento do largo pátio enquanto procurava pela silhueta desejada. “Você precisa parar de ir atrás dela, Camila…”, pensou consigo mesma. Até riu da própria afobação. Alguns minutos depois finalmente enxergou.

Lauren deixou a última sala andar térreo carregando um caderno fino nas mãos e com a mesma mochila de couro nas costas. As manchas da brincadeira à base de tinta ainda colorindo o couro escuro e a mesma expressão de tédio tatuada no rosto. O dia vinha sendo cansativo.

Do outro lado, a menor já caminhava na direção pretendida, torcendo para que a meio trajeto a outra notasse sua presença, mas antes mesmo que Lauren tivesse a chance, Camila acabou trombando em outra pessoa. Diga-se um “velho conhecido” da latina. – Ora, ora Karla… Me fazendo uma visita assim no meio da tarde? – Disse atrevido. – Estou impressionado!

– Talvez nos seus sonhos, Jeremy.

O rapaz se aproximou com um sorriso descarado nos lábios. – Eu acabo de ser informado sobre a “festinha” de boas vindas que você e seus colegas fizeram ontem. Da tal brincadeira com as tintas. E quer saber… Não fiquei muito contente com isso, Karla. – Assim que pensou em uma resposta esperta dar ao monótono Jeremy, Camila percebeu que Lauren já havia notado a sua presença e agora acompanhava a conversa de muito perto. Perto o suficiente para ouvi-los bem. – Sabe qual é o grande problema aqui? É a velha, maldita e injusta distribuição de verbas entre os programas! – O garoto tornou a dar mais um passo em direção a latina, colando os dois corpos. Os narizes empinados quase se tocando. Ele furioso e Camila contida, mas nada impressionada com o pequeno show. – E enquanto vocês são financiados nessa brincadeirinha estúpida, o nosso diretório sofre para arrecadar o montante necessário para a compra de materiais do ciclo básico!

Ao concluir a última frase aos berros, o embate acabou chamando a atenção de mais alguns alunos que passavam por ali. À pouca distância Lauren olhava preocupada para Camila e depois para Jeremy, e de volta para Camila. – Você não sabe do que está falando. – Sabia melhor do que contribuir para a discussão, mas gostava de ser acusada injustamente. – As tintas usadas foram pagas com recursos arrecadados entre os veteranos! A Universidade não contribuiu em absolutamente nada para o evento!

– Como se eu fosse acreditar em você, princesinha! – Puxou um dos lados da saia da latina e nesse instante, sem muito pensar sobre o assunto, agindo por puro instinto, Lauren avançou para se colocar entre os dois. Afastou os braços de Jeremy com força. Tinha os olhos escurecidos, os punhos prontos para bater e exalava fúria. – Ficou maluca, garota?! Quem é você?!

– Ninguém! – Com muita firmeza Camila respondeu antes mesmo que a maior tivesse a oportunidade. – Não é ninguém. Não precisamos fingir que eu tenho algum amigo por aqui, não é mesmo? – Lauren estranhou a fala da pequena tomando aquela como uma ofensa pessoal. Estava confusa e já nem tão disposta a defendê-la. Não achava que ela e Camila já eram boas amigas, mas porque a outra parecia tão aversa à essa ideia tão de repente? – O show aqui já acabou, babaca. E eu já estou de saída. – Camila livrou-se também da proteção de Lauren e marchou para longe daquele bloco.

Conhecia Jeremy já há tempo demais para saber que aquela discussão não acabaria bem. Ele era um dos muitos antigos casos de Dinah cujo final fora amargo, e isso apenas fazia crescer a desavença entre os grupos. Partiu frustrada por não ter tido a oportunidade de falar com a morena de olhos claros.

[…]

Na manhã do dia seguinte Normani e Lauren faziam um lanche rápido no refeitório quando notaram a chegada de Karla ao campus. – Karla chegou. – Esperou. – Você não vai falar com ela?

A de olhos claros continuou a comer como se nada estivesse acontecendo. – Por que eu faria isso? – Tinha mais o que fazer do que dar atenção a quem não merecia.

– Porque você não para de pensar nela. – Foi tão óbvia na resposta que aborreceu a outra.

– Não seja idiota, Mani!

– O que? É verdade! Pensa que eu não notei o clima entre vocês duas ontem? Primeiro no vestiário e depois no bar. Tem algo acontecendo entre vocês, eu sei que tem. – Sentia-se orgulhosa da própria conclusão.

– Não comece a dizer besteiras de novo. – A verdade é que nas duas últimas noites Lauren não havia pregado o olho. Na primeira, por não conseguir parar de pensar e repensar naquele instante que dividiu com Camila no bar. A intensidade foi tamanha que a fez sentir o gosto enérgico da vontade. Não poderia mentir para si mesma que se a canção não tivesse acabado bem ali, talvez tivesse até beijado a latina. Era tão bonita. Tão delicada e alegre. Fazia com que Lauren sentisse todas essas novas emoções e essa atração esmagadora. Mas felizmente a música acabou e ela pôde se recuperar parcialmente, o que não quer dizer que tenha perdido toda uma noite revivendo aquele instante que provavelmente para Karla não significou nada. A segunda noite foi perdida pela lembrança da discussão entre Jeremy e a pequena, e também da desfeita da menor. Sentiu-se atingida. Quase rejeitada. E como doía.

– Quer saber, já que estou dizendo besteiras acho que você não se importará em saber da nova brincadeira de Jeremy, um dos garotos na minha aula de história da arte.

– Por que diz isso?

– Porque pelo que andei ouvindo, Jeremy e seus amigos planejaram algo para Karla.

O coração de Lauren bateu mais forte. – O que? O que você ouviu?

– Jeremy disse aos amigos que precisam aprontar alguma vingança justa contra o diretório da Saúde por terem usado uma verba que deveria ter sido repassada ao nosso programa.

– E quem foi que disse que essa verba era nossa?!

– Isso não importa, Laur. Ele e os amigos já planejaram tudo. Parece que a vítima seria uma pessoa aleatória daquele diretório, mas segundo os comentários mais recentes, Karla virou esse alvo. – A de olhos claros levantou-se apressada deixando a amiga falante para trás e cortou caminho por entre algumas mesas até chegar àquela onde Camila havia deixado a bolsa. Não encontrou a latina por lá, mas uma garota enorme. A mesma que quase sempre acompanhava a pequena.

– Você viu a Camila por aí? – Forçou a voz para que a outra notasse sua presença.

– Garota misteriosa. – Dinah reconheceu com um sorriso de canto. – Mila foi ao banheiro. Deve voltar a qualquer instante. – Lauren olhou nervosa para os quatro cantos do refeitório, procurando por qualquer indício da presença de Jeremy. – Você parece nervosa. Algum problema?

– Lauren? – Ouviu a voz de Camila e se virou a tempo de encontrar a menor com uma expressão confusa. E confusa ela estava. Camila também sentiu o coração bater mais forte ao encontrar Lauren ali. Era a primeira vez que, voluntariamente, a morena havia tomado a iniciativa de procurá-la. – Tudo be… – Teve o braço puxado num pedido mudo para acompanhar a maior. Seguiram juntas em passos apressados e sem nada dizer até que pisaram no jardim externo.

– Jeremy. Camila, ele está planejando aprontar alguma com você.

– O que? Como sabe disso?

– Normani o ouviu mais cedo. Eles fazem algumas matérias juntos, isso não importa! Você precisa tomar cuidado. Sei que não te devo nada, ainda mais depois de ontem, mas seria injusto se eu ficasse calada.

– Como assim “depois de ontem”?

– Depois que eu tentei defendê-la e você…

– Te salvei de uma! Você estava prestes a entrar em uma briga que não era sua. E mais, com alguém do seu próprio núcleo. Eu não sou obrigada a conviver com Jeremy, mas você seria e confie em mim, não quer tê-lo no seu pé pelos próximos anos.

Engoliu em seco. Camila como sempre a ajudando, mesmo que ela não merecesse o carinho. – Por quê?

Karla entendeu perfeitamente a pergunta e sorriu. – Porque você é diferente.

– Eu não sou!

– Você é. – Tocou as bochechas agora rosadas após o grito. – Para mim. – E de todas as vezes em que já haviam lhe dito que era diferente, nenhuma vez soara como esta. Como se essa não fosse uma coisa ruim, um defeito, e sim um elogio. – Uma vez eu li em um livro que quanto mais diferente de mim alguém for, mais real vai me parecer, porque menos dependerá da minha subjetividade. E você, Lauren, para mim, é real demais. Eu não preciso e nem consigo te imaginar, porque no minuto em que você abre a boca não diz nada que eu pudesse esperar. Você não age como eu posso prever. Você é a minha primeira pessoa real, em um longo tempo, e me desculpe se eu pareço já tão apegada a você, mas é que isso simplesmente me fascina. Não quero me distanciar. – Olhou para baixo muito envergonhada pelo desabafo. – Me perdoe a sinceridade, eu só… Só quis dividir o que eu venho sentindo aqui desde que nos conhecemos.

– E-eu acho que essa foi a primeira vez em que eu fiquei contente que alguém me achasse diferente. 

Emocionadas, as duas começaram a sentir o coração acelerar dentro do peito. A excitação, a antecipação de algo muito bom tomando conta. – Então, tudo bem para você?

– O que?

– Isso. – Camila gesticulou para as duas afastando-se um pouco da morena. – Eu e você. Essa amizade. Tudo bem para você se eu quiser ficar por perto?

– Perto de mim?

Se atrevendo um pouco mais, a latina deixou um beijo demorado na bochecha da outra. – Perto de você, Lauren Jauregui. – E depois outro, agora do outro lado. – Tudo bem?

– Eu sou grossa. – Lauren soltou quase em desespero. Seria engraçado se não fosse triste. – Na maior parte do tempo.

– Eu tenho o meu colete à prova de balas, não se preocupe.

Mal esperou que a menor terminasse de falar. – Passo a maior parte do tempo em silêncio. Sou mais observadora do que falante.

– Posso falar por nós duas. – “Claro que pode…”, Lauren pensou em silêncio. Achou melhor não dizer nada do jeito despojado da outra. Até que gostava desse jeitinho.

– Não vou responder a todas as suas perguntas e sei que tem várias delas.

Camila pensou na descoberta sobre o tal capítulo pesquisado por Lauren e sorriu. – Sou mais esperta do que pensa. Posso responder algumas delas por mim mesma.

– Não sei se serei uma boa amiga para você. – Tentou a sinceridade pela última vez.

– Não estou procurando amigos. – Os olhos namoravam sem que percebessem.

– E o que está procurando?

– Nada. – Pegou as mãos pálidas e as apertou com força. – Foi você quem me encontrou, Lauren Jauregui. 



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