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História Identidade - "...algo que eu sempre quis..."


Escrita por: ISBB5H

Capítulo 8 - "...algo que eu sempre quis..."


Twitter: ISBB5H

 

Começou com um arrepio. Nasceu de uma brisa suave que vinha de uma boca e ia para outra anunciando a chegada de ventos mais fortes, apenas para culminar em injeção de pura adrenalina. Acelerou as batidas do coração e fez os olhos se abrirem um pouco mais. Deixou as mãos úmidas, a garganta seca e todo o corpo preparado.

E não é assim que todas as coisas boas começam?

– Eu gosto de você. De você Lauren. Não percebe? – Aquele era ainda o primeiro contato. Os lábios macios de Camila deixaram vestígios nos de Lauren, e quando o novo beijo chegou foi como atear fogo nos dois corpos, agora acesos e inflamados. Havia também um meio sorriso perdido por ali. A denúncia de um transbordar de felicidade que tranquilizava a constante inquietude de Lauren, que sem muito tempo para pensar deixou-se levar pelo prazer de receber um terceiro e então um quarto, breve e doce beijo. Poderia outro gesto ser mais valioso do que este? – Percebe? – E como se cobrasse resposta Karla decidiu não aliviar a pressão feita pelas mãos que guardavam o rosto pálido. Seus olhos castanhos sugavam a verdade dos verdes enquanto os corpos voltavam a descansar um contra o outro.

As costas da latina escorregaram de volta para o encontro da grade metálica, mas agora trazendo a maciez de outro corpo junto ao seu, e assim, embaraçadas e envolvidas, sorriram ao mesmo tempo. – Você é maluca. – Mesmo que apenas por um minuto.

– Isso você percebe. – Zombou da observação e viu a morena mais alta corar. – Fui rápida demais? – Karla mordeu o lábio inferior incerta e sem que percebesse cedeu espaço para que a realidade caísse com peso sobre os ombros da mais alta. – Atrevida demais? Talvez?

Lauren a apertou um pouco mais em resposta reflexa. – Talvez. – E Camila a acariciou como pôde.

– Velha rabugenta. – Os narizes tornaram a se encontrar, tamanha era a vontade das duas garotas de voltarem a se tocar. Era o desejo de alimentar uma fome que foi crescendo pouco a pouco, e que ambas sabiam que continuaria a se intensificar. Sentiu um tremor se espalhar pela pele alva e procurou se adiantar.  – Não diga nada, tudo bem? Hoje apenas sinta. Aqui, comigo.

Mas para a total infelicidade e preocupação da latina, nesse instante Lauren foi ligeira ao negar o pedido. – Você se enganou, Camila. – Afastou-se bruscamente buscando recobrar a razão. – Você se enganou. – Foi o que conseguiu sussurrar antes de correr para bem longe dali.

[...]

– Podemos ir com calma? – Camila abriu a boca e tamanha foi a abertura para assustar a amiga. – Que tal um pouco mais de calma? O que me diz? – Um par de horas havia se passado desde a partida de Lauren e agora as duas mulheres conversavam em um dos corredores vazios do terceiro bloco. Karla sentou-se no parapeito de uma das enormes janelas do prédio, enquanto Dinah tinha as costas escoradas contra a parede oposta à da amiga.

– Eu a beijei. – A óbvia insuficiência de informações fez a loira aguardar em silêncio antes de se pronunciar. – Você me ouviu? Eu a beijei. Eu estraguei tudo!

– E foi acusada de fraudar uma eleição, mas quem se importa com isso, não é verdade? – Dinah gargalhou como sempre fazia na presença da amiga. Camila tinha esse poder, o poder de alegrá-la mesmo nas mais adversas situações. A resposta fez a garota menor engolir a seco e assumir posição de derrota. Olhou para a loira com expressão de dar pena e se encolheu um pouco mais. – Sobre o beijo…

– Foram quatro. – Camila engasgou a informação.

– Quatro o que?

– Como “quatro o que” Dinah? Quatro biscoitos, quatro cachorros, quatro socos na sua cara! Foram quatro beijos, é claro! – O grito ecoou através do mesmo corredor e as garotas aguardaram até que o último curioso já tivesse ido espiar parte da conversa que tinham, e quando finalmente voltaram a ficar a sós, ela respondeu.

– O que aconteceu após os beijos?

O rosto assustado bastou para fazer com que a mais alta encurtasse de vez a distância e abraçasse Karla. – Droga, eu estraguei tudo. Eu…

– Nunca foi tão insegura assim, o que está acontecendo?

– Lauren. – Lamentou-se. – Lauren me deixa insegura. Ela, droga, com ela é tudo tão único e intenso. Não posso evitar me sentir uma idiota. Não evito agir como uma perfeita idiota. – Sem saber como ajudar a amiga, a loira apenas continuou a abraçá-la. – Talvez ela não goste de mim como eu pensei que gostasse, sabe? Talvez eu tenha exagerado e penso agora haver uma enorme possibilidade de ter construído toda essa fantasia sobre nós duas, quando a verdade é que não passa disso, uma fantasia.

– Mila, eu não acho que seja esse o caso.

– E como não acha? Eu a beijei e ela disse que eu havia cometido um engano. Foi um engano. Eu não deveria ter feito aquilo. Tê-la beijado foi um grande engano.

– Talvez não tenha sido.

– É claro que foi. Você ao menos está me escutando?! Foi ela quem disse que havia sido um engano.

 – É claro que estou escutando, mas…

– Mas acabou. Acabou. Eu não posso seguir em frente com isso. Lauren não gosta de mim e eu não posso beijá-la. – A latina, ainda abraçada à loira e de costas para a janela, continuou a resmungar frases e palavras negativas até sentir seu corpo ser trocado de posição à força.

– Lauren. – Disse Dinah.

– Não posso mais beijá-la. – Camila respondeu.

– Não, não. Não seja imbecil. Lauren! – Vendo que a latina continuaria a choramingar, a mais alta não teve opção senão segurar seu rosto na direção desejada, fazendo com que os olhos castanhos a princípio muito relutantes, logo encontrassem a silhueta familiar do lado de fora do prédio. – Lauren. Ela está ali. – Camila estava sem reação. Avistou a morena andar em círculos por entre os carros do estacionamento enquanto gesticulava como se ensaiasse um grande discurso. Tinha os cabelos bagunçados pelo vento e vez ou outra colidia com algum dos veículos. – Talvez ela só precisasse de algum tempo, entende? Para processar as novidades. Os beijos. Foram quatro afinal de contas. – Sem reação Camila prosseguiu inerte. – Ok, o que você está esperando?

Agarrou os dois braços da loira. – Meus pés não se mexem. Minhas pernas não funcionam.

– Não seja tão dramática.

– Dinah eu…          

– Está apaixonada. – Completou sagaz. – Muito. Forte. Apaixonada como nunca te vi antes, e compreendo que isso possa ser novo e trazer algum grau de medo e insegurança, mas Mila você precisa ir até lá. Você precisa ir e sabe o por quê? – Karla negou. – Porque aquela garota ali embaixo, a sua garota misteriosa, claramente tem mais medo do que você.

Após mais uma olhada através do grande vidro, Camila encheu-se de toda a coragem que sabia possuir em alguma reserva profunda dentro de si e caminhou para fora do bloco. Pensava, calculava e tentava prever diversos cenários e roteiros para a conversa que logo aconteceria e em pouco tempo alcançou Lauren no estacionamento. Se encararam em silêncio quando próximas e seguiram juntas até a porção mais alta e solitária da arquibancada do campo de futebol, o mesmo em que estiveram mais cedo e onde sabiam poder conversar com privacidade. Aos poucos o Sol caminhava pelo céu, fazendo com o avanço do horário dispersasse a maioria dos alunos de volta para as salas de aula ou para fora do campus. As duas mulheres sentaram-se mantendo intacto o contato visual e deixaram que as pernas procurassem por si só a melhor maneira de se encaixarem. – Queria conversar?

– Sim.

– Tudo bem, aqui estou. – O nervosismo de ambas se notava à distância. – Pode falar. – Mas para Lauren parecia ainda pior. – Lauren? Fique tranquila, por favor. Você pode me falar qualquer coisa. Sou apenas eu, Camila.

Chacoalhando as mãos a dona dos olhos claros começou. – Camila. – Esse era parte do problema. – Você não é apenas Camila. E eu só… Só preciso que você saiba que eu percebo, percebo tudo sobre você e é nisso que se engana. Eu tenho percebido absolutamente tudo desde a primeira vez em que coloquei os olhos em você. – Suspirou demorado. – Cada tamanho, forma e curva dos seus sorrisos, cada trejeito, gesto e manifestação da sua delicadeza e bondade, Camz. Seus hábitos e manias mais aparentes. Percebo o carinho que decorre de você e como nós somos diferentes. A vida que eu levava antes de vir para cá me ensinou a perceber os mínimos detalhes.

– E que tipo de vida você levava antes, Lauren?

– Uma que eu não queria para mim. – Foi sincera. Devia ao menos isso à Karla. – Me perdoe pelo que fiz mais cedo. Foi covarde e estúpido ter ido embora daquele jeito, eu só não sabia como… – Olhou para as próprias mãos sem saber como agir. – Eu nunca me senti assim antes.

– Assim? – Camila quis saber. – Assim como?

– Assim tão vulnerável diante de alguém e por uma razão tão completamente nova. – Olhou fundo nos olhos escuros e notou como esses vinham se tornando familiares com o passar dos dias. Pouco a pouco estes se vestiam de porto seguro para a morena mais alta. – Você é linda, Camila. – Sussurrou quase sem perceber deixando que os sentimentos que a inundavam falassem mais alto. – Você se parece tanto com algo que eu nunca tive. – A confissão era importante e veio como um choque para as duas garotas. Essa era a maior conclusão a qual Lauren finalmente chegara. Camila era o retrato vivo de algo que Lauren nunca teve até então, embora sempre soubesse existir. Era segurança, carinho e abrigo, e tudo de graça, apenas por ser e livre de qualquer pretensão. Era a oportunidade de algo novo através da receita mais antiga de todos os tempos: a receita de um amor. – Você se parece com algo que eu sempre quis.

E mesmo em meio a infinidade de coisas que ainda não sabia, resolveu adicionar mais esta à grande pilha. Não sabia dizer se era certo se envolver com alguém mesmo quando guardava um segredo grande, um tão grande que poderia afastar a latina de seu convívio para sempre. Não sabia se era o certo, mas o fez mesmo assim, pois a queria e queria muito. Não existem limites para os nossos desejos.

Abusou de toda a força que tinha e se inclinou para frente circulando com os braços a cintura fina de Camila, e ao sentir-se pronta puxou-a de uma só vez para o seu colo. Recebeu o peso do corpo menor em cima das pernas e esperou por qualquer reação que lhe dissesse para seguir em frente ou para parar.

As mãos de Camila agora enganchadas no tecido de sua blusa e exigindo-a cada vez mais perto, foi o sinal esperado. Fez o tão aguardado caminho de volta para os lábios cheios e selou-os mais uma vez naquele mesmo dia.  Em poucos segundos sentiu o sorriso de Karla crescendo entre o beijo e fez questão de lhe sorrir de volta, o que apenas fez aumentar a intensidade dos toques entre as duas. Não demorou muito mais para que o beijo tomasse ritmo, e para que a língua de Lauren pedisse permissão para avançar ao contornar o lábio inferior da latina vagarosamente.

Suspiraram baixo e juntas ao provarem de vez do sabor uma da outra. Cada gesto e movimento que Lauren fazia dentro da boca de Camila era carregado de bons sentimentos e delicadeza. Explorou-a devagar, não somente para guardar em si o gosto bom, mas para prolongar aquele que se firmava como o maior momento de prazer que já sentira.

Sim, esse era seu maior momento de prazer. Já havia beijado outras garotas antes, mas nunca, nenhuma vez havia sido como esta. Tão especial. Tinha a garota que bagunçava-lhe os sentimentos e agitava-lhe o coração entre os braços, em seu colo, e sentia as mãos pequenas se perdendo em sua nuca e cabelos ainda mais bagunçados e não sabia como desejar por mais. Sentiu por fim que conforme os segundos passavam, Camila começava a perder o fôlego e se atreveu a ir um pouco além, mordiscando seus lábios, primeiro o superior e em seguida o inferior antes de separar-se. Não eram gestos de habilidade ou de provocação, mas a pura curiosidade de provar da latina de todas as maneiras que lhe fossem possíveis.

– Isso foi… – Karla sentia-se incapaz de expressar em palavras a explosão crescendo em seu peito. Não que o beijo tivesse lhe roubado todo o fôlego, mas a entrega da maior sim, esta lhe roubou absolutamente tudo. O ar, o equilíbrio, as forças e por último, mas não menos o importante, o coração. – Isso foi…

– Eu gosto de você também. De você, Camila. – Lauren não se segurou para dizer. Precisava desabafar o que quer que aquele novo sentimento acabasse por significar à longo prazo. – Não percebe? – A declaração não surtiu o efeito esperado pela maior que logo se alarmou ao constatar tamanha emoção a transbordando pelos castanhos. Com as bochechas vermelhas, os olhos brilhando e o peito cheio era como a menor estava. – E-eu disse algo errado? C-camila?

– Você não se cansa de me surpreender, não é mesmo? – Respondeu emocionada. – É como eu disse antes. Nunca faz como eu prevejo e nunca diz o que eu espero. Você é única, Lauren. Única, surpreendente e especial. – Colaram as testas e cerraram os olhos de maneira já íntima. Era um momento só delas e tão, tão esperado. – Algo mais que eu deva saber? Por favor, diga-me.

– Eu gosto de você. Eu gosto de estar com você. – Aproveitou da posição para abraçá-la mais apertado enquanto respondia. Era estranho sentir-se tão bem e tão Lauren na presença de outra pessoa, mas não reclamaria. Não mais. – Gosto da sua companhia, do seu cheiro doce e de como fala demais mesmo logo pelas manhãs. Gosto da sua firmeza e inteligência, da sua coragem, gosto de como é delicada e gosto de como me trata mesmo quando eu sou rabugenta. Gosto já de tantas coisas em você que às vezes me pego gostando mais de mim quando estamos juntas. – Karla que sorria já tão largo diante de tantas declarações não resistiu a tentação de roubar um novo beijo. – E eu gostaria de… – Aquela não era uma tarefa fácil.

– De?

– Camila, eu queria saber se… – Pigarreou. – Camz, você sairia…

– Karla! – É interessante a forma como as coisas boas da vida possuem regras de fácil compreensão. São intensas, arrancam sorrisos, deixam boas marcas e lembranças, mas por fim, são efêmeras. É simples; Tudo o que é bom eventualmente chega ao fim. As duas garotas há pouco perdidas em um infinito de puro prazer foram trazidas de volta à realidade pelo grito rouco de uma única voz vinda de algum lugar fileiras abaixo da mesma arquibancada. A figura tinha os olhos espertos semi cerrados, os braços fortes cruzados junto ao peito e um sorriso debochado estampado no rosto. – E eu que pensei ter acabado com o seu dia acabei me enganando, não é mesmo? – Jeremy disse.

Karla pulou do colo de morena mais alta e se pôs de pé o mais depressa que pôde. – O que faz aqui?

– Não seja assim tão rude. – Lauren, já de pé, tomou a frente da menor e fechou o cenho. – Sua amiga. – Ele prosseguiu se referindo à morena de olhos claros. – Sua amiga tem um nome? Tem um curso? Ela é nova, não é? Eu nunca a vi por aqui. – Um arrepio gelado percorreu a espinha da latina, pois tudo em si já gritava que Jeremy significaria grandes problemas para Lauren. Para sua Lauren. – E então, quem é essa garota misteriosa?



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