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  3. 9, Outubro - 2016

História Ignore. - 9, Outubro - 2016


Escrita por: mxmxmxxn

Notas do Autor


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Capítulo 1 - 9, Outubro - 2016


o dia começou errado.
sabe aquela sensação de que as coisas não estão nos lugares certos?
o céu estava branco, serenava e fazia frio.
ela havia acordado às 06:00 da manhã e pensado "hoje é um dia zicado".
mal sabia ela, que ela tinha toda a razão.
escrever.
sentir-se sozinha.
checar o celular.
escrever.
sentir-se sozinha.
checar o celular.
"nenhuma mensagem ainda" ela estava nervosa "tudo bem, ele chegou tarde ontem, vai dormir até 15:00hrs mais ou menos, e provavelmente vai estar de ressaca quando acordar"
escrever.
"filha, café."
tomar café.
checar celular.
"você está bem?"
"estou ótima, pai."
ela não estava, não. nervosismo, ansiedade, aquela sensação de que as coisas estavam fora do lugar.
deitar.
ficar sozinha.
pensar.
caramba, ele era tão legal, fofo, irremediavelmente interessante e carismático. já havia roubado o coração dela, garoto esperto. ela sabia dos defeitos daquele egoísta, mesquinho, ele era mesmo e ela sabia, mas nem ligava.
"ora, certamente que ele vai ser uma boa pessoa para comigo. nunca houve mais compreensiva, paciente e doce garota na terra"
coitadinha, não?
ela realmente achava que as coisas seriam diferentes com ela.
veja bem, a garota era sempre tratada como um resto, ou segunda opção de garotos confusos. já chamaram-na de maluca, de melosa demais, e disseram ter medo dela.
nunca ninguém havia dito como tinha vontade de beijá-la, nem andado de mãos dadas por aí sem ter medo de mostrar ao mundo os dedos atados uns aos outros, nem nunca olhado para ela daquela forma, quem dirá dedicar uma música no rádio pra ela.
ela divagava nele, viajava, se perdia, ela adorava.
era um sentimento bom, quebrava a sensação de pavor que o domingo frio trouxera na mala.
lembrar dos momentos mais incríveis da vida dela, e mais sinceros também, à deixava em êxtase. era como se fosse a primeira vez.
escrever.
checar o celular.
nada.
ela dorme, os cobertores eram mais confortáveis que os raios gelados do sol lá de cima daquela sacada, que à apanhavam como peixe numa rede. a abraçavam feito a terra abraça o defunto podre de baixo dos pés.
"igreja" o pai dela chama.
ela acorda. "vai dar tudo certo".
checar celular.
mensagem.
"boa tarde"
a tarde seria boa, só porque era ele quem tinha desejado.
a conversa era vaga, distante, fria como o vento naquele domingo.
ela foi tomar banho, estava nervosa de novo, a sensação de alegria que a primeira mensagem trouxera, fora levada embora para o calabouço escuro da indiferença que o bate-papo parecia exalar. era muito densa a desconexão.
o dia definitivamente estava errado.
ela foi pra igreja, nunca foi muito religiosa. mas de uns tempos pra cá veio sentindo falta do papai Deus. e foi procurá-lo, ele estava lá para recebê-la de braços abertos, é claro.
ela orou, ela pediu, ela chorou "papai, me ajude a ajudar o garoto? eu quero que as coisas dêem certo dessa vez, papai. me ajude. fique comigo. me trás o de melhor"
o apóstolo disse "colocai a mão sobre tua enfermidade agora, criança, que o pai vai curar."
enquanto por todo lado as pessoas colocavam as mãos sob ombros, joelhos e costas doloridos, ela as pousou sob o peito, porque seu coração estava doendo feito um diabo.
"pai, tira de mim a mágoa, a confusão, o desespero que pesa, o pânico que quer vir, a ansiedade que desespera. pai, dê-me paz, paizinho. dê-me o teu amor"
o coração dela parou de doer, você acreditando ou não.
ela saiu de lá feliz.
depois da conversa vazia ela estava pensando "vou deixar o garoto pra lá, não vale a pena", mas aí o apóstolo disse "sejamos vós os ligamentos de Deus para com as ovelhas desgarradas desse mundo, sejamos vós a luz para aqueles que os olhos não enxergam" e ela pensou de novo.
"não, paizinho vai me ajudar, serei eu a luz do menino, quando eu chegar hoje vou dizer o quanto ele é querido por mim"
e ela queria isso. ela queria ser a luz do menino.
quando ela chegou na casa de sua mãe, ela estava mais do que feliz. estava um turbilhão de boas emoções, o dia errado não parecia mais tão errado assim.
"olha, vejam só! eu ganhei um violão, ah, padrasto, eu simplesmente não sei como agradecer, eu o amo tanto"
ela ganhou um violão, não tem como a noite ficar melhor.
"vou correndo contar ao garoto"
e ela foi
"estou tão feliz, ganhei um violão"
a resposta foi gelada, rabiscada.
um rascunho mal feito do sentimento que era pra ter ali.
ela deixou pra lá, afinal, "ele deve apenas estar com sono, um mal dia talvez"
ela jantou, trocou a fantasia de moça que havia colocado de manhã por um pijama cheio de furinhos.
olhou o celular.
tinha mensagem.
"o dia está errado hoje"
ela concordou com o garoto e disse "você sabe o que há de errado?"
"não faço ideia"
"amanhã vai ser melhor" a coitadinha ainda tinha esperanças. ah, é claro que pra ela ia ser um dia bom, dia de aula, mas não era por conta da aula que seria bom. era por causa do garoto que ela veria.
"bem, na verdade, preciso te contar uma coisa"
o coração falha uma batida.
"o quê?" a menina pergunta.
pobrezinha.
"essas coisas só se falam pessoalmente"
"tem certeza?"
"não, na verdade"
"me diz logo, não dói"
na verdade dói sim, mas ela não sabia.
"tem outra menina, eu gosto dela, estávamos juntos sem ninguém saber, é isso"
ponto final.
era isso.
acabou.
ela não pensou nada no momento, ela sabia que ia ser assim. bem, não exatamente assim, mas ia ter um fim, e o cravo na verdade, sairia inteiro e a rosa, despedaçada.
e foi assim.
"é, tudo bem"
foi o quê ela disse.
foi a pior mentira que ela já disse, mas foi a chave para outras milhões de mentiras que viriam. ela decidiu nunca mais contar a verdade, nunca mais se entregar, ninguém mais saberia quem ela é, e ninguém mais saberia se ela estava bem ou não.
"eu queria ter contado pessoalmente" ele disse.
"não, foi melhor assim" a menina respondeu, ela pensou que ele não iria gostar de vê-la chorando se fosse pessoalmente, mesmo o mais imbecil garoto se sente culpado por fazer uma garota chorar.
vieram tantas perguntas depois disso. ela queria gritar "então por quê ser tão incrível, por quê me fazer sentir única, por quê me fazer apaixonar, por quê mentir justo pra mim!?"
mas ela não disse nada.
ou melhor, ela disse "sabe, você é legal, e foi legal fazer parte da sua historinha, até mais ver"
e foi só isso, ele nem se deu o trabalho de responder, seja por preguiça, seja por indiferença, seja por culpa demais.
ele não respondeu, e o silêncio dele doeu mais do que o silêncio das estrelas prateadas no céu daquela primavera cinzenta.
era 01:00 da madrugada quando ela decidiu que teria o peito do mais duro aço a partir daquele dia.
"paizinho, eu sei que o senhor não me deixará, pelo menos o Senhor"
os pais nunca abandonam seus filhos. e talvez isso só tivesse ocorrido em reação da oração dela "me trás o de melhor". o melhor podia não ser ele.
fica em paz, garota.
o dia foi de fato ruim, mas "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam." 


Notas Finais


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